quinta-feira, 12 de maio de 2022

Etnia dos russos e ucranianos

Daniel Strutenskey de Macedo

Não há diferença entre russos e ucranianos. Eles têm a mesma origem étnica, os mesmos costumes, a mesma religião e a mesma língua. Também nunca existiu uma língua ucraniana, mas russa com pequenas diferenças de sotaques nas diferentes regiões da Rússia.

Os jornalistas falam em etnia e língua e com isto produzem opiniões erradas, falsas, sobre a identidade dos russos e dos ucranianos. Até os jornalistas que apoiam os russos falam de etnia e com isto mostram que pouco ou quase nada sabem, de fato, sobre a cultura russa e ucraniana. Menos ainda sobre as disputas comerciais que foram sempre o motivo de divergências e conflitos entre russos vermelhos (de Moscou), russos brancos (Bielorússia) e russos ucranianos (da região da Ucrânia).

A diferença não é étnica, mas de cidadania. Os russos, antes e ainda no século dezoito e dezenove, invadiram outras regiões não russas para expandir seu domínio, sua economia e seu comércio, a exemplo do Cazaquistão, da Geórgia e outras tantas regiões da Ásia. Nesta época todos os russos estavam sob o mesmo governo, tanto os russos brancos, como os russos vermelhos e os russos ucranianos. Numa região ocupada, a administração central era russa, bem como o comando das tropas militares, do judiciário e da polícia. Se o russo tivesse um filho no outro país, ele teria a nacionalidade daquele país e isto, no futuro, teria implicações, pois a nacionalidade é fator de união e força política. Por esta razão, de domínio político, econômico e militar, todos os filhos de pai ou mãe russa passaram a ter cidadania russa, mesmo tendo nascido em outro país e tendo um dos genitores de outra nacionalidade.

No caso dos países europeus, foi diferente, pois a Rússia não invadiu, mas foi invadida por vários países europeus ao longo de muitos séculos. Ela reagiu às invasões e onde ela ganhou a guerra passou a dominar o país para explorá-lo econômica e comercialmente. É para isto que um país invade outro, para explorá-lo.

A Suécia invadiu a região russa várias vezes. Inclusive tomou a capital russa que na época era Kiev (berço onde nasceu a Rússia e fundada pelo Rei Russ, daí o nome de russos para o povo). A Lituânia também invadiu a Rússia e tomou uma parte da Pequena Rússia. Era assim que a atual Ucrânia era conhecida, por Pequena Rússia. Esta região russa foi partida, cortada e por isto passou a ser chamada de Ucraína, pois ucrai é o verbo cortar, partir. A Lituânia conseguiu dominar toda a parte ocidental da Ucrânia atual, lado esquerdo (ocidental) o Rio Dnipro, rio que corta a região de norte a sul e desagua no mar Negro. Ela também tomou a Polônia e depois passou o controle da região tomada para a Polônia, que anexou a parte ocidental da Ucrânia à Polônia e obrigou os russos a falarem polonês em público e ensinou polonês em todas as escolas. Substituiu todos os professores russos das faculdades por professores poloneses. Enfim, tomou conta da região ocidental da Ucrânia. A outra parte, a parte leste continuou russa. Esta situação permaneceu até a Segunda Guerra, quando a Rússia venceu a Alemanha e retomou a região que estava sob domínio da Polônia. É preciso esclarecer que a Polônia pertencia ao império Austríaco, o qual controlava econômica e militarmente outros países do leste europeu, inclusive a antiga Iugoslávia, agora dividida em Sérvia, Bósnia, Eslovênia, Macedônia. É também preciso esclarecer que a Áustria é germânica e ficou ao lado da Alemanha nazista na Guerra. É preciso esclarecer que os ucranianos que moravam na região ocidental foram obrigados a servir nas forças armadas controladas pelos austríacos e alemães. É preciso ainda esclarecer que os alemães prometeram a independência aos ucranianos se eles ajudassem a Alemanha a entrar na Rússia para dominá-la. E os ucranianos do ocidente não tiveram como recusar. O pai do meu avô foi recrutado pelos poloneses e austríacos na Primeira Guerra, num mutirão, sem qualquer convocação ou aviso, ele foi retirado da família e enviado para frente de combate. Seu filho, meu avô, foi saber onde o pai tinha sido enviado e acabou recrutado com apenas 16 anos de idade, enviado ao front e preso pelas forças italianas.

Eu aprendi a falar ucraniano com meus avós, minha mãe e tios e tias. A falar e a escrever. Meu pai é brasileiro e aprendi português porque nasci aqui. Quando fui aprender o russo numa escola russa vi que o russo é igual ao ucraniano que eu aprendi com meus avós, com pequenas diferenças de sotaques e algumas palavras polonesas, pois meus avós estavam na Ucrânia dominada pela Polônia. Sempre acompanhei a TV ucraniana e a Russa e elas falavam a mesma língua. Por isto é muito estranho que se diga que exista uma língua ucraniana.

A verdade é que a 160 anos atrás houve uma tentativa de independência de Kiev da Rússia e um poeta chamado Tarás Tcheuchenko inventou uma língua ucraniana utilizando o sotaque dos russos que viviam nas regiões campesinas, mas que tem os mesmos verbos, os mesmos adjetivos e os mesmos substantivos. Difere apenas em algumas palavras. Nas regiões dominadas pelas grandes cidades como Kiev e Moscow a letra “o” é pronunciada como “a” se o acento não for no “o”. Se o acento tônico for no “o” então continua “o”. Exemplo: Vodá é água, mas numa região é vodá e em outra é vada com a, mas se escreve com “o”.

O poeta foi preso e assassinado. Além de ele inventar a língua com o propósito de estabelecer uma outra identidade linguística, ele também trouxe de volta a história dos cossacos que num passado muito antigo tinham conquistado o poder na região da Ucrânia. Isto ainda na idade média. Os cossacos eram uma mistura de povos turcos vindos da Ásia e que se estabeleceram em algumas regiões russas e foram absorvidos pela cultura eslava. Eram livres e guerreiros, intrépidos, e isto serviu para que o poeta os transformasse em valentes heróis guerreiros que lutavam pela liberdade. Uma fantasia, é claro, mas que serviu para adornar o sentimento pátrio dos russos ucranianos que queriam a independência. Os russos também se utilizam destes símbolos guerreiros dos cossacos em suas hostes militares. Os cossacos foram contratados pelos Tzares para invadir outras regiões. Na época da Revolução Bolchevista eles ainda faziam parte da guarda do Tzar, mas durante a guerra civil eles se bandearam para o lado comunista.

Os ucranianos atuais, nacionalistas, consideram os valores cossacos para incentivar seus soldados e sua população a lutar pela independência.

É preciso compreender que os ucranianos, os bielo-russos e os moscovitas são o mesmo povo, têm a mesma origem étnica e linguística, a mesma religião, os mesmos costumes. Existem variações regionais, mas elas não configuram nacionalidades diferentes. A disputa é, portanto, de caráter político em função de disputas comerciais e econômicas das elites das referidas regiões. Minha compreensão é de que a região da Ucrânia tem o direito de lutar pela sua independência, mas errou ao atacar os cidadãos russos e as regiões separatistas russas. Os russos têm o direito de se defenderem, mas erraram em invadir a Ucrânia. As duas elites políticas e que disputam poder comercial e econômico não pensaram em seus povos, não foram flexíveis politicamente para negociarem e chegarem a um acordo. Os russos porque são uma potência militar. Os ucranianos porque tiveram o apoio de outra potência, os EUA, e de vários países da Europa.

Os europeus erraram e continuam agindo de maneira torpe ao incentivar os ucranianos a lutarem. Deveriam ter auxiliado os ucranianos a negociar e não a se armar para lutar uma guerra que não poderão vencer.

Os EUA estão ainda mais errados. Querem manter um poder mundial e para isto tentam restringir o poder russo e de outros países. Já ameaçaram apoiar regiões chinesas contra o governo de Pequim. Já ameaçaram a China com sanções.

Os povos estão sendo manipulados pelas elites econômicas e militares. Os jornalistas que não conhecem a História nem os países em conflito se colocam emocionalmente de um lado ou de outro sem conhecimento de causa. No caso do jornalismo brasileiro é uma vergonha, pois apenas repetem o que os americanos e os europeus dizem.

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