quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A importância dos debates presenciais no STF e a Revisão da Vida Toda

João Badari *

O Supremo Tribunal Federal (STF) desempenha um papel fundamental na estabilização das normas jurídicas e na definição dos rumos do ordenamento brasileiro. Quando se trata de temas de grande repercussão social e econômica, como a Revisão da Vida Toda, a relevância dos debates presenciais entre os ministros se torna ainda mais evidente. O pedido de destaque recente do ministro Dias Toffoli, que remeteu essa discussão ao plenário presencial, reforça a necessidade de uma deliberação aprofundada e qualificada sobre a matéria.

O julgamento no ambiente físico do STF permite a construção de um debate rico e aprofundado, no qual os ministros podem confrontar argumentos e enriquecer suas decisões com análises interdisciplinares. O embate jurídico presencial proporciona uma troca de ideias que transcende o aspecto meramente técnico, incorporando considerações constitucionais, processuais, de direito material e, sobretudo, o impacto social das decisões.

A jurisprudência do STF influencia diretamente a vida de milhões de brasileiros e, portanto, requer uma apreciação ampla e minuciosa.

O debate presencial permite que os ministros, ao longo de suas manifestações, não apenas exponham seus entendimentos, mas também absorvam e ponderem argumentos apresentados pelos colegas, reavaliando seus próprios posicionamentos à luz das discussões.

A composição do STF reúne juristas com profundo conhecimento não apenas do Direito Constitucional, mas também das nuances do Direito Processual, do Direito Material e das consequências práticas de suas decisões na sociedade.

O julgamento presencial viabiliza que essa expertise seja exercida de forma plena, permitindo que cada magistrado agregue ao debate sua visão particular, oriunda de uma trajetória acadêmica e profissional singular.

Além disso, o colegiado, ao atuar conjuntamente e interagir em tempo real, promove uma análise mais sensível às implicações sociais das decisões judiciais. Esse aspecto é essencial para garantir que a justiça não seja apenas técnica, mas também socialmente equilibrada.

A Corte Suprema não pode ignorar os impactos financeiros, estruturais e sociais de seus julgamentos. O consequencialismo jurídico é uma abordagem que considera os desdobramentos das decisões para além do caso concreto, analisando os reflexos sistêmicos na Administração Pública, na economia e na vida dos cidadãos.

No caso da Revisão da Vida Toda, há um intenso debate sobre o impacto financeiro que a decisão pode gerar para o regime previdenciário. Estudos do impacto econômico trazido pela decisão apontam um custo total de cerca de R$ 3 bilhões, ao longo de 10 anos. Também se deve ponderar o direito dos aposentados que contribuíram sobre salários mais altos antes de julho de 1994 e que hoje recebem um benefício menor devido ao critério de cálculo imposto pela Reforma Previdenciária de 1999.

A equação entre viabilidade fiscal e justiça social exige um debate minucioso, que apenas o julgamento presencial pode proporcionar de forma plena.

A decisão do ministro Dias Toffoli de levar a Revisão da Vida Toda ao plenário presencial reforça a seriedade e a complexidade do tema.

O Brasil, como sociedade, ganha com esse aprofundamento das discussões e com a consolidação de um sistema judicial que, além de técnico, seja sensível às reais necessidades da população. A Revisão da Vida Toda é um exemplo emblemático de como a análise presencial qualificada pode levar a um desfecho mais justo e equilibrado para todos os envolvidos.

* o autor é advogado especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados 

 

NOTA DO BLOGUEIRO:

Sou um dos brasileiros ludibriados pelo Estado, com as frequentes "reformas da previdência" implementadas pelos governos, tanto no período da ditadura como nos posteriores, notadamente as reformas de FHC e de Temer/Bolsonaro. Contribuí por mais de 12 anos, como trabalhador que era, pelo teto de 20 Salários Mínimos, entre os anos 1970 e 1980. Nos anos 1980, acho que no governo Sarney, acabaram com esse teto, que voltou para 10 SM e assim permanece até hoje. Na época do teto de 20 SM dizia-se que seria para "melhorar" a renda dos aposentados, mas quando pedi minha aposentadoria aquelas contribuições não foram levadas em conta, e só valeram as contribuições a partir de 1994, sob o argumento de que a nova moeda, o Real, que ficou estabilizada.

Foi uma mentirinha... Quando calcularam o valor do meu benefício ficou na metade do teto máximo, mesmo tendo sido feitos sempre pelo teto de 10 SM. Ou seja, depois tem ministro do STF que fala que a "vida toda" nunca existiu... Claro, para ele não vale nada disso, o valor da aposentadoria dele é pelo teto do que ele ganhou em vida quando ministro...

 

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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Já, já, o blog chegará a 4 milhões de visitantes

Richard Jakubaszko

Dentro de poucos dias, talvez ainda esta semana, este blog atingirá a inimaginável marca de 4.000.000 de visitas, acumuladas em 18 anos de atividades. Levamos quase 5 anos para atingir 500 mil visitas, em fevereiro 2013, e depois cerca de 3 anos para chegar ao 1º milhão. Agora vamos chegar a 4 milhões de visitas!
Obrigado a todos!

Como prêmio ao internauta visitante de nº 4.000.000 enviarei um de meus 4 livros, devidamente autografado, sem nenhum custo. O livro do ganhador pode ser escolhido na aba lateral deste blog, é só correr a barra de rolagem à direita.

Para ganhar o livro, basta o internauta conferir o “counter" aí ao lado, clicar na tecla "print screen", depois colar no Paint e salvar como imagem jpeg em baixa resolução; aí, envie e-mail com esse arquivo em anexo para richardassociados (arrôba) yahoo.com.br identificando-se e fornecendo o endereço completo para remessa do livro escolhido.

Também para os visitantes que enviarem o print do 3.999.999 e da tela do 4.000.001 enviarei um exemplar de um dos livros (livre escolha). Portanto, prêmio triplo! Dentro de poucos dias, este blog atingirá a inimaginável marca de 4.000.000 de visitas, acumuladas em 18 anos de atividades.
Obrigado a todos! 

ET
Na madrugada do dia 17 de janeiro de 2025 este blog ultrapassou a marca dos 4.000.000 de visitantes. Como ninguém enviou um print referente à passagem, lamentavelmente não terei de enviar um exemplar de meus livros. A próxima será nos 5 milhões, aguardem.


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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

POR QUE O ANO COMEÇA À MEIA NOITE DE 1 DE JANEIRO?

Evaristo de Miranda  


Uma das contribuições mais significativas da civilização cristã e ocidental à humanidade é a contagem do tempo e o atual calendário. Foram séculos até o Ocidente criar e adotar o calendário atual. No início do cristianismo, havia três calendários: judaico, romano e litúrgico. Nenhum satisfatório.

O calendário judaico era essencialmente lunar. Os nomes dos meses são de origem assiro-babilônica, assimilados no exílio na Babilônia, no século IV a.C.. São necessários ajustes complexos para encaixar-se no ano solar e para a Páscoa acontecer sempre na primavera. Os anos são contados desde a “criação do mundo”, 5.784 anos atrás. Um planeta bem rejuvenescido.

O calendário romano ou juliano era solar e herdado dos sacerdotes egípcios. Eles estabeleceram um ano de 365 dias, por volta do ano 2800 a.C. Os anos eram contados a partir da fundação de Roma, o ano 753 a.C. A data de início de cada ano era fixa, no primeiro dia de março. Passou por evoluções. Ainda é utilizado pelos cristãos ortodoxos, como calendário religioso.

Nos primeiros séculos, a referência principal do calendário litúrgico cristão era a Páscoa, data da morte de Jesus. Com as divergências entre o calendário judaico e o romano, havia várias datas para o início do ano e a Páscoa.

No século V, o Papa João I decidiu dar fim às “querelas pascais”. Para ajustar o calendário litúrgico, o lunar judaico e o solar romano, ele designou o monge Dionísio, um erudito, canonista, tradutor, astrônomo e matemático.

No ano 525, ele sugeriu ao Papa a revisão completa da divisão do tempo e sua contagem não mais na morte, mas no nascimento de Cristo. E tomou essa data como início da Era Cristã: 25 de dezembro do ano 753 do calendário romano. Encerrou a Era dos Césares. O conceito do Ano do Senhor, Anno Domini (A.D.) está em vigor até hoje. Agora, A.D. 2025.

A Igreja Católica arbitrou e definiu para início do ano, 1 de janeiro e não 25 de dezembro, por razões religiosas. A vinculação oficial de Jesus ao seu povo e a Deus ocorreu no dia da circuncisão, da apresentação no templo, de sua primeira manifestação pública e quando recebeu seu nome.

Só por esse deslocamento de data, Jesus já teria nascido um ano antes do ano 1 da Era Cristã. Não havia ano zero no cálculo. O ano 1 a.C. foi sucedido pelo ano 1 d.C.. O primeiro século da Era Cristã teve 99 anos. Esse e outros fatores levaram Dionísio a um pequeno erro. Jesus nasceu entre os anos 3 e 6, antes da Era Cristã. O Papa Bento XVI mostrou esse erro na obra “A Infância de Jesus”.

Sob o calendário juliano, com imprecisões e deriva temporal, os equinócios se distanciaram da data real em 10 dias no século XVI. Por determinação do papa Gregório XIII, matemáticos e astrônomos jesuítas das universidades de Salamanca e Coimbra trabalharam nas bases de um novo calendário. Em 24 de fevereiro de 1582, pela bula Inter gravíssimas, o papa lançou o Calendário Gregoriano, adotado em Portugal, Espanha e Estados Pontifícios. Logo nos países protestantes e, hoje, no planeta.

O calendário gregoriano é o padrão internacional de registrar o tempo, reconhecido pela ONU e pela União Postal Universal, tanto pelo peso da tradição ocidental, quanto por sua precisão astronômica. Ele estabeleceu até uma ISO específica para se datar: a ISO 8601.

Existe um discurso Woke, politicamente correto, associado à cultura do cancelamento e da censura, onipresente na Internet, sobre o calendário e a marcação do tempo. Ele busca eliminar as referências a Cristo no calendário. Anacrônicos, esses canceladores e censores ideológicos apontam as datas estabelecidas pela Igreja ao longo de séculos como arbitrárias.

As datas do atual calendário foram arbitradas, e não arbitrárias, com os melhores critérios em seu contexto histórico. Inúmeras questões necessitam de arbítrio. Não há livre arbítrio no calendário. Nem há receita bíblica para calcular o tempo. Ele foi arbitrado várias vezes, com recurso aos melhores cientistas de cada época, por uma das maiores autoridades temporais, a Igreja. O Tempo Ocidental se impôs aos do Oriente e alhures.

O calendário universal é Ocidental. Na vida civil e civilizada, ele substituiu outros calendários (muçulmano, judaico, chinês, juliano...), limitados hoje a usos religiosos e tradicionais. Quem regula voos de aviões, satélites, tratados internacionais, GPS de máquinas agrícolas, pagamento de boletos e o cotidiano de bilhões de pessoas é o calendário cristão e romano, criado e estabelecido progressiva e cientificamente pela Igreja.

 

 

 

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sábado, 21 de dezembro de 2024

Aquecimento Global Catastrófico: Ciência, Política ou Ideologia?

Roberto Lobo *

Recebi um convite de um colega para comentar um artigo que faz uma extrapolação dos níveis de CO
2 na atmosfera para períodos muito anteriores à nossa época. Certamente a intenção desse colega foi a de provocar minha reação diante da evidência de que a quantidade de CO2 na atmosfera, medida para épocas remotas, oscila muito e indica, em algumas delas, concentrações muito superiores desse gás àquelas que temos hoje em dia. Apesar de haver muitos outros fatores envolvidos, a quantidade de gás carbônico e a temperatura da Terra têm forte correlação na história de nosso planeta, embora a relação direta de causalidade seja, aparentemente, complexa.

Esta relação do CO
2 com o efeito estufa e sua influência no aquecimento do planeta já havia sido proposta há dois séculos por pesquisadores como Tyndall, Watt, Fourier, etc. Provavelmente, a provocação foi motivada por comentários que emiti sobre o que considero o exagero do "pânico generalizado com o aquecimento global".

Esse tema foi lançado com estardalhaço na sociedade a partir do documentário com Al Gore, "Uma Verdade Inconveniente", de 2007. Al Gore foi vice-presidente de Bill Clinton e candidato à presidência dos EUA em 2000, tendo sido derrotado por George Bush em uma discutida apuração no estado americano da Flórida.

O documentário levou o político americano novamente para as manchetes e gerou inúmeros convites para conferências que fez sobre o tema que o fizeram ser escolhido para receber o Prêmio Nobel da Paz no mesmo ano. Gore, um parlamentar ambientalista, reuniu evidências científicas sobre a modificação do clima da Terra pela ação humana, principalmente na era industrial, e extrapolou estes dados para o futuro, gerando um clima de urgência, pânico e profundo sentimento de culpa em grande parte da humanidade, na mesma época em que crescia, na mesma época, um sentimento de revolta na sociedade contra preconceitos e discriminações. O rancor latente foi em parte orientado contra os "poluidores" do ambiente e contra as grandes indústrias petrolíferas. O assunto transbordou a área das ciências do clima e se tornou uma bandeira social e uma arma de luta política e ideológica. Embora a exagerada poluição seja um mal para o nosso bem-estar e o combate a ela, feito de forma equilibrada e avaliado constantemente em sua eficácia, deva ser uma política de estado, as extrapolações de Al Gore criaram previsões catastróficas no curto prazo, mobilizando órgãos nacionais e internacionais que investiram grandes recursos no financiamento de pesquisas voltadas ao estudo do previsto aquecimento global. Houve a perigosa mistura de política, ciência, oportunismo e interesses econômicos de todo tipo.

A grande maioria da imprensa, que adotava teses progressistas de inclusão social, abraçaram cegamente as teses de Al Gore: "fora as indústrias petrolíferas!", "fora a derrubada de florestas!", "fora produtos que se valessem do comprometimento do meio ambiente!", etc. Desde o início deste movimento, houve várias denúncias de que dados estivessem sendo "ajeitados" para comprovarem as teses de Al Gore. Nem todos, no entanto. A poluição gerada pela industrialização é verdadeira. CO
2 gera o efeito estufa, mesmo!

Está havendo, realmente, redução de gelo em partes do planeta. As atividades humanas vêm causando um aquecimento extra no clima da Terra. A questão que aponto é a escala de tempo e as proporções previstas sem considerar outras variáveis. Um exemplo: é bem sabido que a população da Terra vem aumentando rapidamente, como previsto por Malthus, mas embora exista miséria e fome, não há uma fome generalizada, sendo as crises alimentares restritas a regiões mais pobres do globo. A tecnologia aumentou a produção de alimentos em escalas inimagináveis nos tempos de Malthus. Hoje, não é tanto a produção de alimentos o problema, mas sua distribuição desigual. A tecnologia superou a estatística.

Outro exemplo: se a população apresentasse o mesmo crescimento ocorrido nos últimos 200 anos, e continuássemos a contar com o cavalo como nosso principal meio de transporte, nossas cidades estariam imundas e malcheirosas pelas fezes equinas, mas veio Henry Ford, que no brindou com os automóveis, solução maravilhosa, que trouxe, como em tudo na vida, sua contrapartida negativa - a poluição da queima do petróleo. E assim caminha a humanidade... sempre encontrando novas soluções para seus problemas e gerando outros problemas como subprodutos. Para confirmar suas pregações, os defensores do aquecimento catastrófico utilizam muitas vezes gráficos e estatísticas que, embora não estejam erradas, apresentam somente uma parte da realidade, parte essa que é extrapolada para o futuro pintando um cenário ainda mais dramático.

Isso quer dizer, por exemplo, que se um fenômeno que oscila ao longo do tempo for apresentado somente no trecho crescente e continuado a partir daí, se terá a impressão de que ele crescerá indefinidamente; se um parâmetro que varia do valor 1 para 2 for ligado em um gráfico linear, dependendo das escalas dos eixos horizontal e vertical ele pode parecer fortemente crescente (quase vertical) se a escala horizontal for reduzida, ou quase estacionário (quase horizontal), se ela for estendida. Ou seja, a forma de apresentar uma escala induz a uma certa conclusão, em especial aos leigos.

Há ainda a recordar o fato de que o clima é basicamente um fenômeno termodinâmico, a ciência que lida com o calor, e suas equações usam a escala Kelvin, que tem a mesma gradação da escala Celsius, mas cujo zero se situa a aproximadamente -173ºC. O calor emitido ou absorvido por um corpo, como a Terra, é medido nestas unidades. A temperatura de 33ºC corresponde a 310ºK. A mesma variação de um grau é uma mudança relativa de 1/310 ou 0,3% na escala Kelvin. Medida em graus Celsius seria uma variação de 1/33, ou 3%, que na escala Celsius parece uma variação grande. A mesma variação de temperatura, dependendo da escala adotada pode dar a impressão ao leigo de ser maior ou menor. A escolha da apresentação pode variar de acordo do que e a quem se pretende convencer. No que diz respeito ao CO
2 e à posição de Al Gore, embora haja bastante verdade no que disse em 2007, muitas previsões, principalmente as mais catastróficas, não se realizaram e muitas não se realizarão tão cedo ou, mesmo, jamais, dependendo de nossa capacidade de inovação tecnológica. Exemplos (dentre outros): 1- "Milhões de pessoas morrerão por causa do calor no futuro próximo". Mas, no caso do aquecimento, muitos deixarão de morrer de frio - atualmente, quatro vezes mais pessoas morrem de frio do que de calor. 2- "Ursos polares estão em extinção" - na verdade, as medidas de proteção aos ursos polares e a proibição da caça fizeram a população destes animais crescer. Hoje existem entre 20 e 30.000 destes lindos animais no Ártico. 3- "Até 2013 haveria 75% de probabilidade de que os oceanos se elevassem a até 7 metros, tornando inabitáveis certas regiões". Na verdade, os oceanos têm subido cerca de 3 mm por ano, o que levaria cerca de um século para aumentar somente cerca de 32 cm. Os cálculos de Al Gore se basearam na hipótese que ele levantou de que, em 2015, não haveria mais neve no Polo Norte no inverno e essa massa de gelo se liquefaria e elevaria o nível dos oceanos, tese que se mostrou claramente equivocada, pelo menos nessa escala de tempo.

Que climatologia é uma ciência complexa, ninguém contesta. Que os modelos matemáticos de previsão são difíceis, também não. Esforços para prever o clima no futuro podem ajudar a sociedade a encontrar formas de minimizar impactos negativos, mas a geração de pânico, como o Aquecimento Global Catastrófico, não vai ajudar a encontrar soluções para os problemas que estão aí e os que ainda virão no futuro. Esta radicalização só tem servido para acirrar a polarização política, colocar no ostracismo cientistas competentes (alguns Prêmio Nobel como Ivar Giaever que, de tão revoltado com a censura política ao debate, abandonou a Sociedade Americana de Física), que, de boa-fé, questionam os atuais modelos e suas extrapolações (muitas vezes incompetentes e maliciosas por uma parcela da imprensa e de alguns cientistas sendo marcados como "negacionistas") e, geralmente, acompanhada de insinuações sobre pagamentos a estes cientistas pela indústria do petróleo. É importante que tenhamos claro que quando se atribui uma alcunha negativa a algum segmento, já se está discriminando seus componentes. A grande imprensa quase sempre desqualifica em seus textos as pessoas que põem em dúvida suas "verdades científicas" que ela segue religiosamente sem sequer saber, de fato, suas origens e o que realmente significam e o que foi incluído, extrapolado ou abandonado nas hipóteses e conclusões.

Como disse o grande físico Freeman Dyson nos primeiros anos deste debate, "O aquecimento moderado poderá contrabalançar seus malefícios, criando campos florescentes na Suécia, na Noruega Islândia e Rússia, além do norte dos EUA e Canadá". A moderação e a objetividade ainda são e sempre serão nossos grandes aliados e, juntamente com a ciência e a tecnologia, vão nos ajudar a construir um futuro melhor para a humanidade.

* o autor é PhD em física pela Purdue University, foi reitor da USP e é presidente do Instituto Lobo

Publicado originalmente no Estadão: https://www.estadao.com.br/educacao/roberto-lobo/aquecimento-global-catastrofico-ciencia-politica-ou-ideologia/

Obs do blogueiro, autor do livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?":

A presença de CO2 na atmosfera não causa o aquecimento do planeta, como se fosse um efeito cobertor, um gás de efeito estufa (GEE). Essa foi a hipótese, e não uma teoria, de um cientista irlandês, John Tyndal, em 1859. Ele afirmou que gases como o dióxido de carbono e o metano aprisionam a radiação infravermelha, criando o chamado efeito estufa, hipótese que, por não ter evidências científicas, não se consolidou e foi abandonada por muitos anos, mas os cientistas do IPCC abraçaram a ideia e a "modernizaram" em 2007. Tyndal, em verdade, contrariou o que o francês Jean Baptiste Fourier afirmou, com base em cálculos, que a Terra seria muito mais fria se não existisse a nossa atmosfera. Comprovou-se então que a temperatura média do planeta era de +15ºC. Caso não existisse a atmosfera seria de -18ºC.

 

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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Redução de R$ 327 bilhões nos gastos fiscais não combina com a nova Taxa Selic de 12,25% a.a.

Richard Jakubaszko
  

Tem alguma coisa muito errada na cachola  da mídia brasileira e do chamado “mercado”, que anda muito estressado nos últimos meses.

O Governo Federal tem discutido publicamente os cortes a serem feitos para reduzir o déficit fiscal. Chegou à meta de economizar R$ 327 bilhões, entre 2025 e 2030, mas o “mercado” considera esse volume de corte insuficiente, daí que o dólar sobe em ritmo acelerado, mas as bolsas permanecem estáveis. Significa que R$ 54 bilhões por ano é pouco nessa economia de enxugamento de despesas, mesmo considerando futuro aumento do PIB e também do aumento na arrecadação de impostos. Ora, o que o ”mercado” deseja, no final das contas?


Simples, o “mercado” deseja um freio no aumento real do salário mínimo, e cortes drásticos nas despesas previdenciárias, além de outras providências.


Com isso, reduziria o déficit no orçamento. Se houvesse cortes nas aposentadorias altamente privilegiadas, diz o “mercado”, como de militares, juízes, membros do judiciário e do legislativo, que se aposentam com benefícios integrais ao que recebiam quando trabalhavam, é possível que a redução do estouro fosse maior do que o pretendido, e que já tem causado muito chororô.


O objetivo do “mercado”, em verdade, trata-se de uma lógica linear e clara. Se o Governo Federal estourar o déficit fiscal, conforme previsto pelo andar da carruagem, o Tesouro só poderá pagar, em primeiro lugar, os benefícios dos aposentados, depois os salários do funcionalismo, e a partir daí passa a pagar as demais despesas, se sobrar dinheiro, como despesas de custeio (aluguéis, por exemplo, saúde, educação), de investimentos, e dos juros pagos aos bancos e rentistas pela enorme dívida pública existente. Se não sobrar verba suficiente, depois de pagar os aposentados e funcionários ativos, o governo não paga as demais despesas, conforme está na Constituição de 1988. Ou seja, o “mercado” projeta que esse risco é real e está muito próximo de acontecer, daí o estresse.


Ocorre que o “mercado” é muito “esperto”, conforme já sabemos. Com o dólar alto, a inflação acelera. Com a alta inflação o Banco Central aumenta a Taxa Selic (hoje aumentou 1%, chegando a 12,25% de juros ao ano). É importante saber que, nos últimos 12 meses, o Tesouro pagou aos bancos e rentistas a bagatela de R$ 875 bilhões em juros para amortização da dívida, e de que cada 1% de juros na Taxa Selic representa R$ 48 bilhões por ano aos cofres públicos só em pagamento de juros, sem amortizar a dívida total. Se o Governo Federal aprovar no Congresso o corte de despesas planejado vai “sobrar” líquido no caixa do Tesouro R$ 6 bilhões por ano...


Não é uma vergonha o que faz o Banco Central? E o que dizer da chantagem do “mercado”, tão anônimo e impessoal como sempre, mas idolatrado pela mídia, que é acrítica no assunto...
 

Entre outras coisas, precisaríamos fazer uma auditoria pra valer na chamada dívida pública interna. Tem muito “gato” nesse angu. Outros países (Grécia, Turquia) já fizeram auditorias em passado recente sobre o valor real de suas dívidas e chegaram a reduções notáveis no valor real. Evidentemente que se necessita recalcular os valores dos altos benefícios pagos a funcionários públicos, como militares e membros do judiciário, e não de colocar um garrote no pescoço de quem ganha Salário Mínimo. E tem de colocar um fim na festa que o Congresso anda fazendo com as verbas públicas das emendas anônimas e secretas.


A propósito, necessita-se fazer uma reforma política no Brasil, para equilibrar a representatividade do voto do povo. Hoje, um deputado federal eleito e bem votado, com mais de 1 milhão de votos, leva no seu vácuo pelo menos 8 a 10 deputados que tiveram menos de 15 mil votos, deixando de dar posse a deputados que tiveram 80 ou 100 mil votos, o que é um descalabro. Temos mais de 30 partidos políticos, e cada um deles tem seu puxador de votos, sejam cantores, jogadores de futebol, apresentadores de TVs, além de “famosos”, e por aí vai. Essa farra tem de acabar, porque ela só incha o Centrão chantagista. Não representa o povo, isso é claríssimo.


Necessita-se também acabar com a cota de 3 senadores por estado. Cada um deles, tem 1 voto, e são 81 senadores, e estados com menos de 5 milhões de eleitores elegem também 3 senadores, o mesmo que São Paulo, Minas Gerais, Bahia ou Rio de Janeiro, que possuem de 4 a 7 vezes mais eleitores. Essa é uma das heranças malditas deixada pela ditadura, e que precisa acabar urgentemente. Particularmente tenho uma ideia ainda melhor, e que seria a de acabar com o Senado, pois não precisamos de uma segunda câmara para referendar o que a Câmara de Deputados já votou. É redundância que os ingleses inventaram, para dar status aos Lordes que votam sempre com a monarquia, que não são eleitos, e sim nomeados, e que nem o Senado Romano ousou criar, pois era uma coisa só...

Definitivamente, redução de R$ 327 bilhões nos gastos fiscais não combina com a nova Taxa Selic de 12,25% a.a.

Quem se habilita a acabar com essas barbaridades?

 

 

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terça-feira, 26 de novembro de 2024

Carrefour faz retratação

Richard Jakubaszko

O Grupo Carrefour publicou hoje pela manhã (26/11), o comunicado de retratação após a treta sobre a importação de carne do Mercosul, o que incluía o Brasil, de acordo com nosso post de ontem.

No texto, publicado no site da rede varejista francesa, informa que "lamenta que a nossa comunicação tenha sido interpretada como forma de colocar em causa a qualidade da carne brasileira e a nossa parceria com a agricultura brasileira e uma crítica a ela".

Conforme dirigentes do setor de frigoríficos ouvidos pelo blog, o fornecimento de carne para o Carrefour no Brasil será normalizado após a retratação pública.

Entretanto, não tenhamos dúvidas, novas encrencas virão dentro em breve, enquanto o agronegócio não se posicionar adequadamente frente às questões ambientais.

O Brasil vence mais uma batalha!

 

 

 

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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Carrefour queria boicotar o Brasil e acabou em xeque, está boicotado aqui. Mas precisa mais boicote nosso.

Richard Jakubaszko

Acordo já está aprovado. Agora é só chororô. 
A grande mídia revelou esta semana a decisão de boicote do grupo francês Carrefour que anunciou na França que irá parar de comprar carne do Mercosul, inclusive do Brasil, por conta de supostos “descumprimentos sanitários”, o que provocou um enorme repúdio das autoridades brasileiras, a começar pelo ministro da Agricultura Carlos Fávaro, ao mesmo tempo apoiando um contra-boicote da indústria brasileira de carnes vermelhas (inclusive de frangos), à filial brasileira da rede Carrefour. Vai ser interessante acompanhar essa treta.

Pela primeira vez o agro brasileiro se mostra com coragem para contestar as “frescuras ambientais” da França e da Comunidade Europeia, que discutem com enorme hipocrisia a aprovação e regulamentação do acordo Mercosul-Mercado Europeu, que está encrencado há cerca de 30 anos, sempre atrapalhado pelos interesses, de um lado, dos ambientalistas, e, de outro, pelas indústrias europeias e pelos produtores rurais franceses. Houve a aprovação em 2019, mas ainda falta a regulamentação. O acordo vai ser regulamentado e deve sair ainda este ano, mas sem os aplausos daqueles que sempre foram contra.


A ação do Carrefour, em verdade, é uma ação política de apoio ao governo francês, e, ao mesmo tempo, uma jogada de marketing para com seus clientes na Europa e fornecedores do agro francês. No início dos anos 2000 o Carrefour prometeu em campanhas publicitárias a “rastreabilidade” de todos os produtos vendidos pela rede. Houve um sucesso enorme entre os clientes, mas o Carrefour foi obrigado a terceirizar os processos de rastreio, devido à dimensão que a promessa mercadológica alcançou, e que eles nunca conseguiriam cumprir sozinhos. Outras redes de supermercados europeias abraçaram a ideia e foram juntas na ação de marketing, conforme revelo em meu livro “CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?” Veja aqui: https://richardjakubaszko.blogspot.com/2022/05/saiu-3-edicao-do-livro-co2-aquecimento.html

No livro, demonstro como seriam as ações “diplomáticas” e “políticas” da Europa contra o agronegócio brasileiro, na verdade o foco principal do interesse no acordo: protecionismo puro, através de normas alfandegárias que inviabilizem um concorrente como o Brasil na produção de alimentos.

Em agosto de 2019 publiquei aqui no blog, uma carta aberta ao presidente da França, Emmanuel Macron, sobre as tretas francesas e europeias a respeito das queimadas na Amazônia. Pedi a ele para que intercedesse no Parlamento Europeu para exigir a proibição de importação de madeira ilegal do Brasil, pois isso resolveria 90% dos problemas de abate de árvores, e, consequentemente, das queimadas. Leia aqui: https://richardjakubaszko.blogspot.com/2019/08/carta-aberta-ao-presidente-da-franca-sr.html

No contra-boicote brasileiro, em minha opinião, outras áreas do agronegócio precisam aderir, sejam produtores de frutas, hortaliças e legumes, além de laticínios, pois a indústria de alimentos brasileira não irá tomar nenhuma iniciativa. Vejam que a Danone e o Grupo Tereos (Açúcar Guarani), investimentos franceses no Brasil, já aderiram ao boicote do Carrefour.

Como pano de fundo temos a questão ambiental, o aquecimento e as mudanças climáticas, a maior mentira do Século XXI, e atrás disso os europeus, especialmente os franceses, manipulam de forma dissimulada toda a questão. O Brasil (principalmente o agronegócio) necessita debater a fundo as intenções dos grupos de interesse do IPCC, em cujas mentiras os franceses agora se apoiam para tomar decisões.


Assim, tenhamos comprometimento, e sem medo de ser feliz.

 

 

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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Poema sobre a Velhice

José Saramago

Quantos anos eu tenho?
O que importa isso?
Tenho a idade que escolho e que sinto!
A idade em que posso gritar sem temor o que penso,
fazer o que desejo sem receio de errar,
pois trago comigo a experiência dos anos vividos
e a força inabalável das minhas convicções.

Não importa quantos anos tenho,
não quero saber disso!
Alguns dizem que estou velho,
outros afirmam que estou no auge.
Mas não são os números que definem a minha vida,
não é o que dizem,
mas sim o que o meu coração sente
e o que a minha mente dita.

Tenho os anos suficientes para gritar minhas verdades,
fazer o que quero,
reconhecer velhos erros,
corrigir rotas e valorizar vitórias.
Já não preciso ouvir:
“Você é jovem demais, não vai conseguir”,
ou “Você está velho demais, o seu tempo já passou”.

Tenho a idade em que as coisas são vistas com serenidade,
mas com o desejo incessante de continuar crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos
podem ser tocados com os dedos,
e as ilusões se transformam em esperança.

Tenho os anos em que o amor,
às vezes, é uma chama ardente,
ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão.
Outras vezes, é um porto de paz,
como o pôr do sol que se reflete nas águas tranquilas do mar.

Quantos anos eu tenho?
Não preciso contar,
pois os desejos que alcancei,
os triunfos que obtive,
e as lágrimas que derramei pelas ilusões perdidas,
valem mais do que qualquer número.

O que importa se fiz cinquenta, sessenta ou mais?
O que realmente importa é a idade que sinto,
a força que tenho para viver sem medo,
seguir meu caminho com a experiência adquirida
e o vigor dos meus sonhos.

Quantos anos eu tenho?
Isso não importa!
Tenho os anos suficientes para não temer mais nada,
e para fazer o que quero e sinto.
A idade? Não importa quantos anos ainda tenho,
porque aprendi a valorizar o essencial
e a carregar comigo apenas o que realmente importa!

 

 

 

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sábado, 9 de novembro de 2024

Amanhã, 10/nov/24, tarde de autógrafos na Martins Fontes da Av Paulista do livro CO2

Richard Jakubaszko


Estarei amanhã, 10/nov/24, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista, 509 - para autografar o livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?, tanto da 3ª edição em português como da edição em inglês.

Se vc vai estar em São Paulo, apareça para um bate-papo e um cafezinho comigo e outros amigos.

Será assim:
Data: 10/11/2024 - Horário: 15h às 18h

Local: Livraria Martins Fontes Paulista - Avenida Paulista, 509 - Térreo

Evento: Sessão de Autógrafos do livro "CO2 Aquecimento e Mudanças Climáticas: Estão nos Enganando?"

Participante: Richard Jakubaszko (autor)



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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Amazônia: estonteante dependência do Saara

Luis Dufaur *

Poeira fertilizante do Saara todo ano passa por cima do Atlântico e sustenta a vida na Amazônia e no Caribe

Amazônia é a maior floresta tropical úmida da Terra. E o Saara é o maior e mais quente deserto do mundo.

Na aparência, nada de mais diverso e sem relação um com outro. Uma imensa selva verde úmida no coração da América do Sul, e um infindável areal, composto de poeira e pedra, onde sopram ventos ardentes no norte da África.

Porém, se, por ventura, os dois estivessem vitalmente unidos? Se o mais pleno de vida dependesse do mais morto para sobreviver, quem ou o quê poderia ter criado essa inter-relação?

Por certo, uma interdependência tão profunda foge à imaginação do homem e a qualquer instrumentalização ou fabrico também humano.

Também fugiria às regras da teoria da evolução de Darwin, segundo o qual tudo o que há procede de uma realidade pré-existente, e essa de outra, por uma série intérmina e jamais demonstrada de mutações atribuíveis ao azar e à necessidade.

Há, porém, um fenômeno que envolve ventos e minérios sem vida e que sustenta a vida vegetal e animal na maior floresta tropical úmida do planeta.

Amazônia: estonteante dependência do Saara criada por Deus

Chegando no III milênio a ciência com seus mais avançados instrumentos pode documentar e mensurar esse fenômeno colossal.

Dito fenômeno une essas duas imensas realidades geográficas tão dissemelhantes passando por cima de um oceano.

Pela primeira vez um satélite da NASA mensurou em três dimensões a quantidade de poeira do Saara trazida pelos ventos por cima do Atlântico.

E calculou não só a poeira, mas também o fósforo que vem no meio dela: 22.000 toneladas de fertilizante puro, do qual a selva da Amazônia depende para existir.

A equipe comparou o conteúdo de fósforo da poeira do Saara na depressão de Bodélé com dados das estações científicas de Barbados, no Caribe, e de Miami, nos EUA.

Os resultados do estudo foram publicados na Geophysical Research Letters, revista da American Geophysical Union, segundo divulgou a NASA (vídeo embaixo).

O líder do trabalho foi Hongbin Yu, cientista da atmosfera da Universidade de Maryland que trabalha no Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland. Yu e sua equipe fizeram os cálculos com base em dados coletados pelo satélite Calipso, da NASA, entre 2007 e 2013.

Yu e sua equipe estudaram a poeira que provém especialmente da Depressão de Bodélé, no Chade. Trata-se de um antigo lago seco cujas rocas compostas por micro-organismos mortos estão carregadas de fósforo.

Esse é um nutriente essencial para o crescimento das plantas e a vegetação depende dele para florescer.

O estudo analisou especialmente a depressão de Bodélé de onde sai boa parte do fósforo fertilizador








Os nutrientes são escassos no solo amazônico e alguns deles, como o fósforo, são lavados pelas chuvas. Sem os fosfatos (sais do fósforo), a floresta da Amazônia estaria condenada à morte.

Porém, segundo Yu, o fósforo que chega do Saara, estimado em 22.000 toneladas por ano, equivale aproximadamente à mesma quantidade levada pelas chuvas e pelas enchentes.

Esse fósforo é apenas 0,08% das 27,7 milhões de toneladas de poeira do Saara depositadas anualmente na Amazônia.

No total, os ventos do deserto africano levantam cada ano 182 milhões de toneladas de poeira. O volume encheria o volume de carga de 689.290 caminhões. O pó viaja 2.800 quilômetros sobre o Atlântico até cair na superfície arrastado pela chuva.

Perde-se uma parte pelo caminho. Chegando à costa do Brasil, ficam ainda no ar 132 milhões de toneladas. Por fim, 27,7 milhões de toneladas – capazes de encher 104.908 caminhões – caem sobre a superfície da bacia Amazônica. Outros 43 milhões de toneladas seguem para o Caribe.

É o maior transporte de poeira do planeta. Há importantes variações segundo os anos, dependendo dos ventos e de outros fatores.

Desta maneira o deserto morto sustenta a vida na exuberante floresta amazônica tropical e úmida. Sem o Saara a mata da Amazônia não existiria.

Vídeo: Amazônia: estonteante dependência do Saara criada por Deus

Quem desejar assistir o vídeo no Youtube (áudio em inglês), clique neste link: https://www.youtube.com/watch?v=ygulQJoIe2Y

Quem teria imaginado algo tão extraordinário funcionando há milênios de anos como uma engrenagem supremamente sábia? 




Há certos fenômenos naturais que nos obrigam a reconhecer um Criador de uma sabedoria e de um poder infinitos.

Isso apesar de uma intensa propaganda que chega ao absurdo de dizer que o ecossistema do planeta depende decisivamente de nós.

Sem o homem saber, desde que o Saara e a Amazônia existem o pó fertilizante do deserto africano chega na dose certa, mas colossal, todo ano, por cima do Atlântico.

Quem tem a sabedoria para imaginar esse processo sustentador de uma floresta como a amazônica da qual depende a Terra toda, a outros títulos?

Quem tem o poder para criar e depois garantir esses processos em sua regularidade constante há milênios?

Sem dúvida a ciência presta um inestimável tributo com uma descoberta como esta que postula a existência de um Deus criador e sustentador do céu e da terra.

* Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs.

Publicado em https://ecologia-clima-aquecimento.blogspot.com/2024/10/amazonia-estonteante-dependencia-do.html



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sábado, 12 de outubro de 2024

A criança interior ainda vive 1

Daniel Lino de Miranda 2
 

Eu tenho síndrome de Down. Para mim, bebês são fofos, doces e meigos.

Sempre fazem tudo para chamar a atenção de suas famílias. Mostram interesse pelo mundo gigante onde moramos, cheios de esperança e sonhos lindos. O Dia da Criança nos recorda: o bom de ser como criança é que isso não vem da faixa etária. Vem do acreditar naquilo que nos faz felizes, como boas crianças. Em qualquer idade.

Nosso verdadeiro destino e felicidade estão em nossa origem, em nossa infância. Adélia Prado, em uma poesia, pede a Deus a cura de ser adulta: Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande... Como ela, todos podem viver esse desejo profundo, explícito no Dia das Crianças: acriançar nossos gestos e palavras, acriançar a vida e voltar à origem.


Todos podem fazer esta oração nesse dia: Deus, cura-me de ser grande!

Eu pergunto: vocês também têm uma criança querendo sair de vocês? Essa criança interior deve continuar na idade adulta. Ela pode ensinar como se divertir, mesmo sendo grandes. Para alguns, a criança retorna quando se tornam avós. Para outros, os filhos são a possibilidade do retorno à infância.


Cada momento conta muito, quando vivido com seus filhos e netos. Essa magia da pureza nunca morrerá.


Na natureza tudo muda e permanece, sempre. As diferenças ajudam a definir as decisões, sobre nós mesmos. Além da criança em nós, outras neste mundo não têm para onde ir. Abandonadas, sem família. Essas crianças precisam de sua ajuda. Então, diga sim para essa ajuda.


Primavera é tempo de piracema. Os adultos, no Dia das Crianças, deviam fazer como os peixes. Eles nadam contra a correnteza dos rios na piracema. Voltam para trás, buscam as águas cristalinas do nascimento, do princípio. A vida adulta lhes ensinou o caminho rumo ao mar, rio abaixo... Foram ficando cegos de tanto ver passar paisagens, portos, pessoas, aventuras e desventuras. Um dia, para viver de verdade, eles sabem: é necessário voltar ao princípio, aos arquétipos. À infância.


A sabedoria na idade adulta - e ainda mais na velhice -, consiste em abrir de novo os olhos, abandonar a cegueira da experiência e retornar às origens, aos horizontes da infância. Ao ponto de partida.


Como Down, eu digo: a criança adormecida dentro de nós pode acordar e nos despertar. E o fará com sua inteligência leve e suave. E não pesada ou racional, como a dos adultos. Às crianças pertence o Reino dos Céus (Mt 19,14). A criança em nós é um chamado de alegria e ascensão. Como disse o profeta Isaías: “... uma criança pequena os guiará” (Is 11).


1 Colaborou na edição Evaristo de Miranda, pai do Daniel. Correio Popular, 12/10/2024 (proposto a publicação).

2 Youtuber, criador do Down News ( https://www.youtube.com/c/DownNews21 ) um canal de notícias especiais sobre as competências das pessoas com Síndrome de Down e seus relacionamentos, familiar, escolar, profissional, social e outros.

 

 

 

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