quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Hóspede inesperado
Richard Jakubaszko
Apareceu de repente e se instalou em minha casa, mesmo sem ter sido formal ou informalmente convidado. Ainda não sei seu nome, nem sei é macho ou fêmea, até porque isso não é o importante na história, apenas é um simples hóspede totalmente inesperado e inusitado.
No primeiro dia em que o vi estava cabisbaixo, com olhos tristes, caidinho, e notei que arrastava a asa esquerda quando caminhava. Confidenciei a meus botões que o pombo instalado em meu florido jardim estava com a asa quebrada e preparava-se para morrer. Destino inevitável de todos os seres vivos. Pois assim é a vida.
O instinto fez com que o pombo procurasse um refúgio seguro no jardim daqui de casa, em meio a roseiras, azaleias, alamandras, primaveras, comigo-ninguém-pode, pimentas, palmeirinhas, flores silvestres e outras espécies da nossa flora, das quais nem sei o nome. Pois o pombo estava tentando evitar os ataques noturnos dos gatos, habitantes contumazes tanto do bairro do Bixiga como de certo de todos os bairros da cidade. Na impossibilidade de voar e ir instalar-se no telhado de alguma casa, teve de mudar seus hábitos e estabeleceu ninho residente provisório onde lhe foi possível e onde achou que seria mais seguro.
No primeiro dia coloquei uma tigela com água e outra com pão picado.
No dia seguinte, logo cedinho, abri a porta da rua e dei bom dia ao pombo, recebendo a interatividade de um olhar vivo e interessado, mas sem receios. Um olhar dócil e meigo, porém atento aos meus movimentos. Ficamos nos olhando por alguns momentos. Ele sentado confortavelmente e eu o tratando com a intimidade e reverência de um hóspede bem-vindo, apesar de inesperado.
A tigela de água estava emborcada, assim como a de comida. O local já mostrava pontos de sujeiras típicas de pombos atrevidos, mesmo sendo hóspede inesperado e não-convidado. Providenciei mais água e coloquei um pedaço de maçã e pão. No dia seguinte a decepção: nem foram consumidos, pois o pombo saiu de novo, talvez para passear, foi dar um rolê, sacou? A pé, evidentemente, puxando a asa, meio desengonçado, já que voar não faz parte, temporariamente, de suas possibilidades. Mas andava sem dificuldades, o pescoço mexendo-se pra frente e pra trás, como anda todo pombo que se preze.
À noite, quando cheguei em casa, ele já estava lá, confortavelmente aboletado e encolhido em seu cantinho, atrás do vaso de imensas espadas de São Jorge, com quase metro e setenta de altura.
O hóspede e visitante, já faz uma semana isso, mantém hábitos regulares, durante o dia sai para passear e explorar os arredores – com sua asa arrastando –, à noite retorna. Provavelmente sonha com plena recuperação, na expectativa de voltar a voar e poder ir dormir em locais mais altos e seguros, longe dos gatos do Bixiga.
Não tenho nem ideia de quanto tempo vai durar isso. Se ele (ou ela) fica bem e volta a voar, ou se um gato o descobre antes disso.
Por enquanto é um simples e simpático hóspede inesperado, apesar de muito bagunceiro. Há ainda uma coisa interessante e inteligente, ele não arrulha, é tremendamente silencioso, talvez tenha receios de denunciar seu estratégico esconderijo aos gatos do Bixiga. Quem sabe? Pode ser uma artimanha de pombo inteligente.
Nota: na primeira semana de março, inesperadamente, o hóspede sumiu. Sua asa ainda não estava recuperada. Na manhã da partida, trocamos a tigela com ração do pombo, e mais a da água, mas 3 ou 4 insólitas penas de pombo rolavam no chão pelos arredores de seu local de dormida. Um gato o encontrou, conforme previsto? Difícil saber. Se assim ocorreu, houve um trabalho limpo, profissional. Foi-se, e ficamos na "saudade", sua ausência preenchendo uma lacuna. Minha mulher pegou gosto, passou a dar ração a alguns pombos do pedaço. Diariamente 3 casais de pombos chegam em nosso jardim para procurar almoço e jantar, além de um casal de pombinha rola. Fazem uma festa!
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Apareceu de repente e se instalou em minha casa, mesmo sem ter sido formal ou informalmente convidado. Ainda não sei seu nome, nem sei é macho ou fêmea, até porque isso não é o importante na história, apenas é um simples hóspede totalmente inesperado e inusitado.
No primeiro dia em que o vi estava cabisbaixo, com olhos tristes, caidinho, e notei que arrastava a asa esquerda quando caminhava. Confidenciei a meus botões que o pombo instalado em meu florido jardim estava com a asa quebrada e preparava-se para morrer. Destino inevitável de todos os seres vivos. Pois assim é a vida.
O instinto fez com que o pombo procurasse um refúgio seguro no jardim daqui de casa, em meio a roseiras, azaleias, alamandras, primaveras, comigo-ninguém-pode, pimentas, palmeirinhas, flores silvestres e outras espécies da nossa flora, das quais nem sei o nome. Pois o pombo estava tentando evitar os ataques noturnos dos gatos, habitantes contumazes tanto do bairro do Bixiga como de certo de todos os bairros da cidade. Na impossibilidade de voar e ir instalar-se no telhado de alguma casa, teve de mudar seus hábitos e estabeleceu ninho residente provisório onde lhe foi possível e onde achou que seria mais seguro.
No primeiro dia coloquei uma tigela com água e outra com pão picado.
No dia seguinte, logo cedinho, abri a porta da rua e dei bom dia ao pombo, recebendo a interatividade de um olhar vivo e interessado, mas sem receios. Um olhar dócil e meigo, porém atento aos meus movimentos. Ficamos nos olhando por alguns momentos. Ele sentado confortavelmente e eu o tratando com a intimidade e reverência de um hóspede bem-vindo, apesar de inesperado.
A tigela de água estava emborcada, assim como a de comida. O local já mostrava pontos de sujeiras típicas de pombos atrevidos, mesmo sendo hóspede inesperado e não-convidado. Providenciei mais água e coloquei um pedaço de maçã e pão. No dia seguinte a decepção: nem foram consumidos, pois o pombo saiu de novo, talvez para passear, foi dar um rolê, sacou? A pé, evidentemente, puxando a asa, meio desengonçado, já que voar não faz parte, temporariamente, de suas possibilidades. Mas andava sem dificuldades, o pescoço mexendo-se pra frente e pra trás, como anda todo pombo que se preze.
À noite, quando cheguei em casa, ele já estava lá, confortavelmente aboletado e encolhido em seu cantinho, atrás do vaso de imensas espadas de São Jorge, com quase metro e setenta de altura.
O hóspede e visitante, já faz uma semana isso, mantém hábitos regulares, durante o dia sai para passear e explorar os arredores – com sua asa arrastando –, à noite retorna. Provavelmente sonha com plena recuperação, na expectativa de voltar a voar e poder ir dormir em locais mais altos e seguros, longe dos gatos do Bixiga.
Não tenho nem ideia de quanto tempo vai durar isso. Se ele (ou ela) fica bem e volta a voar, ou se um gato o descobre antes disso.
Por enquanto é um simples e simpático hóspede inesperado, apesar de muito bagunceiro. Há ainda uma coisa interessante e inteligente, ele não arrulha, é tremendamente silencioso, talvez tenha receios de denunciar seu estratégico esconderijo aos gatos do Bixiga. Quem sabe? Pode ser uma artimanha de pombo inteligente.
Nota: na primeira semana de março, inesperadamente, o hóspede sumiu. Sua asa ainda não estava recuperada. Na manhã da partida, trocamos a tigela com ração do pombo, e mais a da água, mas 3 ou 4 insólitas penas de pombo rolavam no chão pelos arredores de seu local de dormida. Um gato o encontrou, conforme previsto? Difícil saber. Se assim ocorreu, houve um trabalho limpo, profissional. Foi-se, e ficamos na "saudade", sua ausência preenchendo uma lacuna. Minha mulher pegou gosto, passou a dar ração a alguns pombos do pedaço. Diariamente 3 casais de pombos chegam em nosso jardim para procurar almoço e jantar, além de um casal de pombinha rola. Fazem uma festa!
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2 comentários:
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Muito legal, Richard. O pombo e os gatos do Bixiga. Só faltou uma foto dele (ou dela).
ResponderExcluirGente, olha as sutilezas e ironias da vida, aí na aba deste blog, nos anúncios do Google, tem um anúncio vendendo tinta repelente pra pombo...
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