Pena
que você já morreu Barbosa, porque, se estivesse vivo e ainda que nunca
apagasse de sua memória a derrota que sofremos para o Uruguai no Maracanã em
1950, depois do futebol-desastre apresentado pela seleção brasileira diante da
Alemanha na Copa do Mundo de 2014, também no Brasil, sentiria que a tua
tragédia parecerá pequena.
Por que pelo menos, até onde sei, jogamos bola naquele dia em que você sofreu o gol de Giggia faltando pouco mais de 10 minutos para sermos campeões do mundo.Ontem, terça-feira, 8 de julho, no Mineirão, só jogamos bola nos primeiros 10 minutos de jogo. E um pouco no segundo, talvez porque a Alemanha não precisasse mais se importar com uma marcação mais forte.
A derrota pôs fim a uma campanha fraca, possivelmente a pior de todas as copas – mesmo em comparação à de 1994, quando fomos campeões nos pênaltis contra a Itália de Roberto Baggio.
Ontem, os canarinhos estavam mais perdidos do que cego em tiroteio... Não jogaram para o Neymar; não jogaram para a torcida, não jogaram para as crianças (#jogapramim); jogaram para os alemães. Facilitaram a vida deles, incompreensivelmente. Esqueceram-se de que estavam diante de um fortíssimo adversário. Esqueceram-se de que a Alemanha – assim como fez a Holanda sobre a Espanha na primeira partida do Grupo H, ganhando de 5x1 – pratica o futebol-nocaute. Sim, aquele em que o time se aproveita da fraqueza do outro e liquida o jogo com uma sequência de golpes certeiros.
Tomamos 5 gols em 18 minutos; 4 gols em 6 minutos... Nunca havia se visto, numa semifinal de Copa do Mundo, um primeiro tempo terminar em 5x0 para alguma equipe... Depois, já relaxados (mas não desatentos), no segundo tempo, os alemães marcaram mais dois gols, para nosso desespero. Por que, uma vez constatada a incapacidade de reação para diminuir a diferença significativamente, a preocupação passou a ser a humilhação... Mas não teve jeito. Felizmente, numa das poucas jogadas de ataque de Oscar (uma das grandes decepções desta seleção, que só jogou bem a primeira partida), fizemos o chamado gol de honra. Era o mínimo, para não aumentar ainda mais a nossa vergonha.
E olha que o goleiro Neuer, um dos melhores (se não o melhor) desta Copa, ficou bravo com o gol que tomou!
Não dá nem para dizer que a torcida presente ao estádio usufruiu de uma partidaça de futebol, com tantos gols. A facilidade com que os alemães marcaram os cinco primeiros gols foi revoltante. O primeiro, então, foi de uma facilidade inacreditável. O atacante Muller, goleador, perigoso, hábil e tudo o mais que possamos acrescentar de qualidades, ficou sozinho na área, sem marcação qualquer, enquanto quatro jogadores brasileiros se amontoavam à sua frente. Usando de certa maldade, até o Jô marcaria aquele gol... Ou, destilando ironia, era o gol que o Fred sonhava fazer...
A falta de marcação sobre os alemães foi tamanha que até dá para desconfiar... Por qual razão a seleção brasileira marcou em cima em todos os outros jogos – principalmente contra o Chile e a Colômbia, adversários bem menos perigosos – e deixou a poderosa Alemanha jogar à vontade? Será que o Felipão não deu essa orientação ao time? Não é possível. Fala-se, agora, em “apagão”...
O que não dá para negar é que a ausência do quarto zagueiro Thiago Silva, capitão do time até então, foi mais danosa para o time do que a ausência de Neymar... Contra a Alemanha, não tomar gols era mais importante do que tentar algum, dada a superioridade tática e de qualidade dos adversários. A atuação de Dante foi absolutamente desastrosa. Pareceu-me perdido em campo. E David Luiz, nosso herói na partida contra a Colômbia, com um golaço de falta, além de outro contra o Chile (na verdade, foi gol contra), infelizmente achou que poderia continuar sendo o super-homem e ir para o ataque e tentar resolver o jogo; ajudou a aumentar o buraco da defesa, que também teve em Fernandinho outra decepção. Sem falar em Maicon, que, no mínimo, deveria ter esticado a perna desesperadamente para tentar evitar o 16º gol de Klose...
É, talvez tenha sido melhor assim. Afinal de contas, teremos de aprender com os erros, convencer-nos de que não é possível um time de futebol se apoiar num só jogador, ainda que seja o craque do time. De que não dá para jogar bem sem um meio de campo entrosado e eficiente; de aprendermos a jogar quando marcados sob pressão (o México que o diga); de termos mais preparo emocional para jogar em casa; e, finalmente, de que não pode dar certo um time onde os defensores é que marcam os gols e os atacantes ficam na defesa...
* o autor é jornalista, editor-executivo da revista DBO
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