sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Fatores antinutricionais nos alimentos

Daniel Magnoni *
Dieta mediterrânica é rica em nutrientes (Bolonha, Centro Vecchio))
O alimento é nossa fonte de energia. É a partir dele que podemos obter os nutrientes e outras substâncias necessárias à manutenção de uma boa saúde, garantindo a nutrição adequada fundamental ao aprendizado, à capacidade de trabalho, desenvolvimento físico e funcionamento normal do organismo. Por outro lado, algumas substâncias denominadas antinutrientes, pouco conhecidas pela população em geral, são responsáveis por diminuir o teor nutritivo dos alimentos e reduzir a qualidade de nossa alimentação.

Estes compostos, também chamados de fatores antinutricionais, estão presentes em alguns alimentos de origem vegetal, como hortaliças, leguminosas e cereais, e podem interferir nos processos de digestão, absorção e utilização dos nutrientes. Quando ingeridos em altas concentrações, podem reduzir sensivelmente a biodisponibilidade de aminoácidos essenciais e minerais, além de também estarem associados a lesões do trato gastrointestinal e consequente perda de sua capacidade funcional normal. Os antinutrientes estão distribuídos em diversas classes, agindo de diferentes maneiras sobre o metabolismo de proteínas e minerais.

Polifenóis (taninos)
Os taninos são compostos fenólicos encontrados nas plantas, capazes de formar um complexo com as proteínas, tornando-as insolúveis. Esta reação inativa as enzimas responsáveis pela quebra deste macronutriente e, portanto, dificulta sua absorção pelo organismo. Além das proteínas, os taninos também parecem interferir na absorção de ferro e influir na cor e sabor de alguns cereais e leguminosas. Apesar disso, o potencial antioxidante e terapêutico dos taninos tem sido evidenciado em alguns estudos, sendo necessário maiores aprofundamentos a respeito do seu real papel na nutrição humana.

Fitatos
O fitato ou ácido fítico, é a principal forma de armazenamento de fósforo nas plantas, estando presente principalmente em leguminosas, cereais, sementes, oleaginosas e nozes. O fitato acumula-se nas plantas durante o período de maturação e é considerado um importante agente antinutricional, já que inibe a absorção de minerais essenciais como ferro, zinco, cálcio, magnésio e manganês.

Oxalato
O oxalato também é uma substância frequentemente encontrada em vegetais, principalmente em folhas verdes, mas também produzida endogenamente pelo organismo. Este composto não pode ser metabolizado pelo organismo humano e quando em excesso, pode ocasionar sérios danos à saúde. Sua capacidade de quelação com o cálcio possibilita a formação de oxalatos de cálcio (complexos insolúveis indisponíveis para absorção), que além de prejudicar a metabolização normal do mineral, propiciam maior risco na formação de cálculos renais.

Nitrato
Por sua vez, o nitrato é uma substância naturalmente presente nos vegetais devido ao uso de fertilizantes na agricultura, sendo responsável por fornecer o aporte de nitrogênio necessário ao desenvolvimento normal das plantas. Seus níveis variam de acordo com as condições de cultivo, colheita e armazenamento. Também está presente em alimentos de origem animal, mas na forma de conservante.

O nitrato em si presente nos vegetais não é tóxico ao ser humano, por outro lado, quando presente em quantidades excedentes, seus metabolitos como nitritos e nitrosaminas podem ocasionar consequências severas ao organismo, incluindo o câncer. Por isso, a Organização Mundial da Saúde OMS, junto ao Food and Agriculture Organization - FAO, fixou valores para a Ingestão Diária Aceitável (IDA) de nitrato para 3,7 mg/kg/dia.

Inibidores de proteases e lectinas
Os chamados inibidores de proteases são componentes capazes de inibir a ação de enzimas como a quimiotripsina e tripsina, impedindo a completa hidrólise das proteínas provenientes de oleaginosas e leguminosas. A redução de atividade destas enzimas induz uma resposta compensatória de produção e secreção excessiva pelo pâncreas, ocasionando futuramente danos ao órgão, como a hipertrofia pancreática.

Já as lectinas são glicoproteínas que se ligam às células da mucosa intestinal e aderem às microvilosidades, dificultando o processo de digestão, absorção e utilização de nutrientes.

Apesar do fato de que estes antinutrientes encontram-se amplamente distribuídos nos alimentos de origem vegetal, é importante destacar que o tratamento térmico e outras formas de processamento, como uso de atmosfera controlada e até mesmo a técnica de remolho para leguminosas, são bastante efetivas na redução destes compostos. Além disso, estudos genéticos têm sido realizados no intuito de desenvolver vegetais com menores quantidades de fatores antinutricionais. Portanto, com exceção de pacientes renais no caso dos oxalatos, não é necessário realizar restrição alguma quantos a estes alimentos. Uma dieta equilibrada e de boa qualidade abrange todos os grupos alimentares, desde que haja moderação e consciência em nossas escolhas alimentares.

Nutrientes para a Vida
A Nutrientes Para Vida (NPV) é uma iniciativa que tem por missão inovadora informar a população sobre a importância dos nutrientes para as plantas e para os seres humanos. Sua atuação está baseada em informações científicas, de forma a explicar o papel essencial dos fertilizantes na segurança alimentar, tanto na quantidade como na qualidade do alimento produzido. O uso do fertilizante está alicerçado nos aspectos sociais, econômicos e ambientais.


• Daniel Magnoni, consultor da iniciativa Nutrientes para a Vida (NPV), diretor de Serviço de Nutrologia e Nutrição Clínica do Hospital do Coração – Hcor, Mestre em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP; especializado ainda em Clínica Médica, Nutrologia e Nutrição Parenteral e Enteral pela Associação Médica Brasileira – AMB / Conselho Federal de Medicina – CFM

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terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Tacadas torturantes

Henrique Paul Dmyterko


 CO2 = $$$$$$$$$$$$
 
Em seu livro Heaven and Earth: Global Warming, the Missing Science, o Prof. Ian Plimer, geólogo e climatologista australiano, citado em artigos anteriores, refere-se aos modelos climáticos computacionais por diversas vezes e nunca de maneira lisonjeira. Numa delas, ele diz: “[] Esses modelos nada têm a ver com ciência ou empirismo, mas sim com a tortura dos dados, até que estes finalmente confessem”.

Um dos mais notórios e infames modelos climáticos resultou num gráfico que ficou conhecido como o “Taco de Hóquei” (Hockey Stick). Seus autores, uma equipe liderada pelo cientista americano Michael Mann (condenado recentemente por um tribunal do Canadá por falsificação), quase que imediatamente ganharam fama, dinheiro e prestígio: publicado em 1998-99, foi incorporado ao terceiro relatório do IPCC-ONU, em 2001. De lá para cá, o tal modelo já foi refutado e desacreditado diversas vezes e por vários cientistas. Na verdade, talvez tenha sido o documento “científico” mais refutado da história da ciência. Acontece que esse gráfico/modelo computacional é peça chave da estratégia de desinformação dos interessados em obter vantagens políticas e financeiras do alarmismo infundado sobre o aquecimento global antropogênico (AGA). Prova disto é que agora em setembro de 2009, o Dr. Mann lançou um “novo” gráfico, em mais uma tacada fraudulenta. Afinal, por que desistir de uma má ideia se ela é lucrativa? O absurdo foi rechaçado de imediato e o leitor pode ler mais sobre esse relançamento da fraude aqui (em inglês).

Nessa altura, porém, imagino que algum leitor possa estar a se perguntar: “Afinal, o que é um modelo computacional, para que serve, como funciona, por que tanta refutação a esse Taco de Hóquei?”

Para responder a essas e outras perguntas importantes, recorri a dois especialistas brasileiros, em áreas distintas. O primeiro é o Prof. Dalton V. Kozak, Professor Adjunto-II da PUCPR, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA (1983), Mestre em Ciências pelo ITA (1992), [quando desenvolveu software (modelo computacional) para simulações na área de gasdinâmica], Doutor em Engenharia pela UFPR, consultor de informática em desenvolvimento de softwares de engenharia, engenheiro responsável da IPE Aeronaves e da Planair Ind. Aeroespacial. Foi também engenheiro de propulsão na Avibrás Indústria Aeroespacial (S.J. dos Campos - SP), pesquisador visitante no Instituto de Aeronáutica e Espaço (S.J. dos Campos - SP), analista de sistemas na Trevisan Software (atual Synchro) e coordenador e gerente de projetos na Polo de Software de Curitiba.

Na UFPR, desenvolveu um trabalho na área de simulação (modelo computacional) de escoamento de gases rarefeitos (doutorado sob orientação do prof. Felix Sharipov - http://fisica.ufpr.br/sharipov/ ), onde as equações do contínuo não são válidas, e o cálculo do escoamento é feito diretamente pela simulação dos choques entre as partículas constituintes do gás, ou seja, simulação do modelo físico. Tal técnica de simulação se denomina DSMC - Direct Simulation Monte Carlo ( ver http://en.wikipedia.org/wiki/Direct_simulation_Monte_Carlo ). No Brasil, há poucos especialistas nesta área.

Com essas qualificações, eis o que o Prof. Dalton V. Kozak diz a respeito de modelos computacionais (os grifos são meus):

Modelos são abstrações de uma realidade (simplificações, digamos) dentro de um contexto existente e válido num dado momento. Como exemplo bem simples, podemos imaginar um problema clássico da física, que é a determinação da trajetória de um projétil lançado a uma determinada velocidade. Para determinar esta trajetória criamos um modelo físico que expressa as forças que atuam neste projétil e que governam seu movimento. Num primeiro momento, se queremos uma análise não muito exata, podemos assumir que apenas a força da gravidade atua sobre o projétil e, com as leis de movimento e da gravitação de Newton, podemos então derivar um modelo matemático que permite descrever a trajetória deste projétil. Este modelo matemático, por sua vez, pode ser adaptado para ser resolvido em computador com essa ou aquela técnica de resolução numérica, transformando-se em um modelo computacional.

Em relação a este mesmo problema, se queremos melhorar o resultado, é preciso verificar se o modelo físico realmente descreve a situação real do fenômeno. Se o lançamento do projétil é realizado no vácuo, então não existe resistência ao avanço, e apenas a força da gravidade atua: o modelo físico é bom. Porém, no lançamento em uma atmosfera, o ar oferece resistência ao avanço do projétil. Assim, para melhorar nossa análise, esta nova força deve ser incluída no modelo físico e, como consequência, os modelos matemáticos e computacionais devem também ser atualizados.

Mas tudo isso está ocorrendo no seguinte contexto momentâneo: o de que as leis de movimento e de gravitação de Newton são válidas. Se deixarem de ser (não é o caso aqui, certamente), todos os modelos acima deixam de ser utilizáveis.

Portanto, por trás dos modelos existem teorias e paradigmas que sustentam todo o arcabouço de conhecimento que servem como base para elaboração do modelo: se eles falharem, também falham os modelos.

Todos acreditavam até o século XVI que a Terra era o centro do universo, e modelos foram elaborados baseados nesta teoria para descrever o movimento dos corpos celestes, os quais não resistiam às observações. Pouco depois veio o modelo heliocêntrico (devido a Copérnico) na crença de que o Sol era o centro, mas também não resistiu a observações. Na sequência, Kepler e Tycho Brahe foram responsáveis pela elaboração do modelo de movimento de corpos celestes que resiste até hoje, descartando a teoria geocêntrica e heliocêntrica.

No final do século XIX Ludwig Boltzmann propôs a teoria cinética dos gases (teoria que descreve o comportamento dos gases como função das velocidades de suas partículas), a qual tinha como pressuposição que os gases eram compostos por partículas, como átomos e moléculas. Nesta época a existência do átomo era muito controversa, e como resultado da pressão da comunidade científica da época, cética em relação às suas teorias, e o fato de Boltzmann sofrer de problemas depressivos, ele acabou por se suicidar em 1906. Porém, na mesma época, Einstein, através de seu célebre trabalho sobre o movimento browniano, acabou por confirmar as suspeitas de Boltzmann, cuja teoria cinética é utilizada até hoje no campo do estudo dos gases.

Com esses fatos em mente, é preciso saber se as teorias vigentes hoje sobre a evolução do clima são a última palavra sobre o assunto (ou seja, se já se atingiu “o estado da arte”), ou se ainda é preciso esperar que mais elementos da realidade sejam capturados e entendidos para formar um quadro final.

Em outras palavras, bons modelos para solução de um determinado problema são abstrações adequadas da realidade, mas esta, por sua vez, deve ser bem compreendida e estabelecida para que os modelos sobrevivam. Em cada interface (realidade-modelo físico, modelo físico-modelo matemático, modelo matemático-modelo computacional) é possível haver deturpação, intencional ou não, do fluxo de informações (perdas, adulterações) de tal forma que o modelo computacional final apresente resultados não satisfatórios, ou apresente resultados tendenciosos. Assim, a melhor forma de avaliar um modelo computacional não é através da "verificação dos casos" que ele pretende descrever, feito pelos próprios autores, mas sim através de técnicas de refutação feitas por terceiros, procurando descobrir situações onde o modelo falha em sua previsão.

Os modelos matemáticos climáticos são, em regra, descritos por sistemas de equações diferenciais não-lineares no tempo (sistemas dinâmicos) que, dadas as condições iniciais (o "clima" no tempo 0), podem estimar a evolução do clima no tempo. Mas sistemas dinâmicos não lineares, quando resolvidos numericamente através de um modelo computacional, são muito sensíveis às condições iniciais à medida que o tempo da simulação avança: a própria limitação de precisão da máquina digital é suficiente para causar problemas em longo prazo.

E foi justamente na simulação de um modelo climático simples realizado por Lorenz em 1963 (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta ) que se detectou a grande sensibilidade destes tipos de modelos às condições iniciais, fato esse que deu início a tão falada Teoria do Caos, da descrição do "efeito borboleta" e do aparecimento dos famigerados "atratores estranhos". O que se vê nisso tudo é que existe uma complexidade e uma não exatidão inerente na solução de tais modelos matemáticos/computacionais que, juntando com modelos físicos ou teorias às vezes não unânimes, apontam para um nível de incerteza que muitas vezes não permite obter respostas categóricas em relação aos problemas em estudo.

Portanto, qualquer consideração sobre resultados de tais modelos sempre deve ser criteriosa, e creio ser muito difícil poder afirmar que esse ou aquele modelo computacional climático possa se colocar como a palavra final em termos de previsão. Modelos são modelos, nada mais do que modelos.

Especificamente sobre o “Taco de Hóquei”, recorri ao trabalho de outra especialista, a Geógrafa e Doutora em Geografia Física pela USP, Daniela de Souza Onça, através do artigo A controvérsia do Taco de Hóquei, publicado pelo site FakeClimate, cuja leitura integral (15 páginas de ricas informações) recomendo enfaticamente. Para o propósito deste artigo, reproduzo apenas alguns trechos do trabalho da Profª Daniela Onça, que julgo bastante esclarecedores, especialmente para o público leigo. Novamente, os grifos são meus:

“RESUMO: Neste artigo, abordamos uma das mais acirradas controvérsias sobre a hipótese do aquecimento global: a publicação, no terceiro relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em 2001, do gráfico de Mann et al (1998,1999), popularmente conhecido como “taco de hóquei” (em alusão ao seu formato), que mostra a evolução das temperaturas no hemisfério norte ao longo do último milênio. De acordo com os autores deste gráfico, as temperaturas registradas no século XX e, mais acentuadamente, na década de 1990 e no ano de 1998 são anormalmente elevadas no contexto do último milênio, denotando fortes evidências do processo de aquecimento global induzido pelas atividades humanas.

Após ter se tornado um ícone da propaganda do aquecimento global, o taco de hóquei foi desmentido em 2003 por Stephen McIntyre e Ross McKitrick, que descobriram graves falhas na seleção de dados e na programação do gráfico, falhas estas que são as verdadeiras responsáveis por seu formato característico. De acordo com os revisores, as temperaturas registradas no século XX não são anômalas nem nos valores e nem na variabilidade, pois são superadas em larga medida pelo Optimum Climático Medieval

Figura 1 – Estimativas da evolução da temperatura média global ao longo do último milênio (IPCC,1990, citado por Daly, 2000).

A curva acima reflete a existência dos dois períodos climáticos distintos já descritos neste trabalho, o Optimum Climático Medieval e a Pequena Idade do Gelo. A evidência da curva é bastante clara: o Optimum Climático Medieval, aproximadamente entre os anos 1000 e 1300, foi mais quente do que o século XX – com o pequeno detalhe de que, àquele tempo, não só o desenvolvimento industrial não era exatamente comparável ao de hoje, como não há evidências de que esse aquecimento tenha sido acompanhado por qualquer alteração na concentração atmosférica de gases estufa. Dessa forma, o período atual, que pode ser considerado uma espécie de “retorno à normalidade” após os rigores da Pequena Idade do Gelo, foi precedido por um período ainda mais quente sem a interferência do presumido efeito estufa antropogênico (LEROUX, 2005, p. 207-208).

O inconveniente dessas considerações é bastante óbvio: se temos na história recente um exemplo de um período de cerca de 300 anos mais quente que o atual sem a interferência de gases estufa antropogênicos, como poderemos ter certeza de que o aquecimento supostamente verificado no século XX é devido a esses gases e, o que é mais grave, como poderemos rotular esse suposto aquecimento de “incomum”? Tais perguntas representavam uma verdadeira ameaça ao futuro da visão catastrofista das mudanças climáticas globais.

Figura 2 – Anomalias de temperaturas do hemisfério norte relativas à média de 1961 a 1990 (vulgo “taco de hóquei”). Em azul, a reconstrução por dados indiretos; em vermelho, dados diretos; em cinza, as margens de incerteza (IPCC, 2001, p. 134).

A curva de Mann et al, chamada no meio climatológico de “taco de hóquei” (hockey stick), por causa de seu formato, exibe as variações de temperatura da superfície do hemisfério norte ao longo do último milênio (1000-2000). A curva faz simplesmente desaparecer os contrastes do Optimum Climático Medieval e da Pequena Idade do Gelo e os substitui por uma tendência mais linear, de um leve resfriamento interrompido por volta de 1900, quando se inicia uma gritante tendência de aquecimento sem precedentes nos nove séculos anteriores. (LEROUX, 2005, p. 208).

Construído dessa forma, o taco de hóquei ignora uma grande quantidade de pesquisas extensas e sérias que atestam a ocorrência em todo o planeta dos dois períodos climáticos diferenciados do último milênio e faz o aquecimento do século XX parecer realmente dramático e incomum (LEROUX, 2005, p. 210). Para o IPCC, tanto o Optimum Climático Medieval quanto a Pequena Idade do Gelo configuraram-se como mudanças de temperatura bastante modestas, fenômenos isolados, concentrados na região do Atlântico Norte, e não podem ser consideradas mudanças climáticas em nível global”.

Do exposto acima, em linguagem simples, o que o leitor tem é a oportunidade de ver as “tacadas torturantes” reduzidas a petelecos de moleques pseudocientistas. Lamentavelmente, a riquíssima máquina de propaganda do IPCC-ONU continua a todo vapor, requentando fraudes que ainda nos custarão muito caro, tanto financeiramente quanto em termos de perda de nossas liberdades e, possivelmente, da soberania nacional. A disseminação de informações fidedignas é, por enquanto, a nossa única defesa, a nossa única arma. E se ainda resta alguma dúvida quanto ao crescente número de céticos, confira este site: http://www.petitionproject.org/index.php

* o autor é Engenheiro Mecânico pela UFPR, 1987, tradutor e escritor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Recital em melancolia - madrugada sem Deus

Carlos Eduardo Florence *  
Memoro por quê? Pois, pois é. Barafustei doutor, explicativo e desditoso, por estes pormenores intrincados e agora assim repergunto no versado, incluso cismo, se concordaria ao ouvir tudo, tudo, até os diminutivos aumentados? Espere então, diferentemente despropositado em alguns versados e incluso improcedências, ao prosear delongas desmerecidas e importunar vosmesse, doutor. Mas se atendeu concordar, se vamos. Os que não forem se clareando nos principiados se melhorarão nos descaminhos, pois. Atente majoritário, Deus nos acompanha e, Soberano, a vida traça, Ele, em correições por serem.

Não, nem sei, mas vêm nestas ideias desacomandadas, outras incorretamente demais, como procederiam se atentassem como preferiria, carentemente, mas assumo assumidas e desmeditadas para não provocar tormentos descabidos. Preocupa não se não desproceder de início, pois meus inconscientisados que enxofro amargado, delegam vindouros de outros desvãos diversos, atrapalham os legados e falseiam os corretamentes. Se dá, veja! Não por intenção, mas por limitantes da cabeça inversada que marejo. No começo é igualmente seja qual potro redomão meus pensados, empaca nos encruzilhos destinados, mas depois que desarremeda pega passo e não furtiva mais, sim, não confunda.

Penso diminuto, meio pelo perverso, no procedente, imbuído de desfaltado e inseguro, por medíocre de ideias, para desdizer o que disse, pois é, sim, amedrontado, do eu mesmo ao vivo de viver, amomentados atuais sendo, como me comporto vindo tudo do que sobrou dos acontecidos ao achego e clareio no estampido mais acalmado para conferir ao achegado do aqui com o doutor remeto, porventura. Meço e repito, proponho ao senhor esperar pelos adiantadamentos dos depois e entenderá corretos os fins. Se aguardar os concedidos e proseados, os permanecidos ficam por minhas competências.


No desagravo, ocorre até os contraditos das impertinências miúdas minhas intentar, reticenteio provisório antes, para não errar depois. Asseguro como cabresteado se dessem os receios, pois é igualadamente se achegando ao tronco, mesmo como potranca no cio, arrodeando cercas a cata de cavalo inteiro. Poderia começar pela intuição pensada, seguir palavra sozinha, depois verter a sentença e por ultimado parir o sentido. É como o pensador maduro tange o verbo agir, mas desfaço de seguir as ocorrências. Prefiro o desmereço deste desconflito e direteio já no provento para clarear o incomodo e não ejacular anarquias da minha mente conflitada, bisonha de restolhos desmerecidos e ficar atrelado eu no pretérito dos ditos pelo detrás.

E tudo pairando nos indefinidos antes dos seus entendidos completos se darem em ser, paciência, mas prossigo. Ficam mais sugeridos os tais para, sem desavença, contar do princípio. Posso? E já desrespeitoso do autorizado antes pelo senhor firmar o sim, vou terminando o verbo e respondendo de pronto sem as anuências devidas. Coisas das sofreguidões que me desaguam nas melancolias lá das minhas terras e dos atrevimentos. Adesculpe, mas permeio.

Apitou no soturno, noite minguando, dia nascendo, maquinista fardado, imponência incluída no garboso e ajustado nas mesuras inúteis, revidei trajando angústia, desbotado de pretensão e motivo. Luzes apequenadas do meu lugarejo já dispostas a se desfazerem por descarência. Era, pois. Desconjurado eu emudecido no banco, só, do vagão. Partiríamos nas desventuras dos horários. Encolhido, amuado no meu eu capengando cismado, assim reverberando desespero na saída, muito sozinho fui ficando, calado, exatamente, viu (?) mas nem desperguntei para eu mesmo se queria assemelhado como no correto deveria, sim ou não? Mas se deu tal, se deu por se dando e empenhou de se dar, sem solução diferente, deu-se.


Falta de manejos, outras conjecturas alteradas de mudanças, nem desfiz fé de descer ali de novo, intentar volta à plataforma ainda embaixada de mim, aquietada, e, nos impraticados, fomos desprazerando. No decidido nem retruquei por ciência, partiu molengando o trem misto e se fez chacoalhando. Cargueiro e gente, destino, fumaça. Castigado no provento preparei os insólitos, no vagão quedado, sem desistência, mas também nada afeito aos empenhados, mas já apito dado nos rumamos, fomos nós. Sem solução alternada, solvemos na espicha. Era um puta que partir, partir sentido ao sempre, ao só, por jamais e outras terras. Me proteja Senhor e fosse o que Deus quisesse, mesmei. Escute e atente, moço. Nos demos eu e comboio, a sorte reverteu para sofrer de conjuntura sem folga ou intervalo e não reversava contar agora, de novo, pro doutor, se não tivesse angustiado de prosear os aborrecidos que vieram marmanjos a se darem adiantadamente nos seguidos que foram.

Achegaram corretos aprontamentos dos esperados e saída. Foi trem estradando moroso, nós no conjunto. Assim deu-se e apitou, por princípio viageiro, em novamente. Conto. A fuligem grossa da lenha queimada, tanto que o evaporado da caldeira ferventando resfolegados sujos visitou quem despedia dos embarcados, das plataformas acenando, em pé acompanhando os vagões puxados de per si um a um, a tristeza embarcada comigo, ao poente, a tiracolo.


Comboio procurando tino, indo nós, sequenciamos. Triste, traste, trem. Adeuses demos, eu sem provérbio ou motivo, a alma sofrida, ao nada de ninguém na estação por nós, comigo, e não podia ser diferentemente outras formas de ser, pois tudo por ausência de simpatias e afetos que restassem para adeusar. Os demais a despedirem se permaneciam em tais gentios seus apropriados, sinalizando adeuses, a cuspirem seus intuitos, limparem as desnecessidades encarvoadas das roupas sujadas, assuarem lágrimas fingidas ou sinceras nos lenços agitados, simbólicos, como ensinam as novelas velhacas, e tudo se desfez antes de sentirem saudades das ingratidões ou das justas. Perfez enxabida na estação uma porventura sem sentidos, olhando acabrunhada o desaparecer da solidão sumindo sumida sumiceira, apequenando miúda na perspectiva.

Na perspectiva mesmo igualmente a que o pintor desenha por horizontes desavistados ao desbotar no azul grená do fundo do seu quadro, como o resto era similar dos trilhos de não proceder mais enxergar de tão desmerecido restou desavistado, assumiu, sumiu, apitou, pois era como lhe garanto só trem de ferro e solidão.

Retirados os vagões sequenciados um por um atrás do outro, diminuindo, diminutos, um nada, definhando, confundidos nos chiados do resfolego enfumaçado como se nem existissem mais de existir, desfiguraram longe da estação parada no esquecimento. Ainda, esta última vez em que se fez afastar a máquina comboiando comigo embarcado, repelido, se pôs a me adverbiar para longe, para o indeciso, indefinido mesmo, cruel. Madrugada, certo? Perguntei sem repostado. Nem desanuviei no infinitivo e prosseguimos. Justo por ela adentrando o amanhecer, se me permite chamar por correto os aproximados das cinco horas, se tanto, este espaço etéreo e promíscuo da luz titubeada, mesquinha de plenitude a se ver ainda sem enxergar, brotando pávida no nascedouro das serras, esquecendo pelas tangentes os ilimitados dos frontões soberbos para desavistarem os aléns inacabados.


Hoje é memória, pode se dizer, repetida, do que se deu e sobrou cá comigo bem depois, amargurada era e deu-se exato ao contado como foi, escute só doutor. Refrega dolorida. Transcorreram as recordações ficadas e dou testemunho acabrunhado por se fazer hora de ser, tristura brava. Descidadeniei encarquilhado sem figuras de alegrias da minha terra naqueles justos, contragosto e nem pecado grosso confessava cometido, por descarrência e justiça, digo, fugi. Desertava de mim mesmo mais das razões sem fim corretas, só para desaprender a sofrer menos majorado de agonia. Ideava amiudados medos medonhos, mais menores, mas propus enxabido, neste então, destinar desacompanhado comigo.

Adiantando outros mais, encerrados os intempestivos da partida, avisado e ponha a saudade na algibeira, repito, na partida, relembro saindo, tanto se deu das estrelas derradeiras ainda intentarem minimizadas de proveitos e nortes, se estes existi-vessem nos firmamentos por mandos do Criador e tal se puseram a ser por descabidas das vistas enxergarem, pois encolhendo amedrontadas se fizeram pelo tamanho do sol guloso querendo estuprá-las fugitivas, começando a...., nem descrevo exato para não chorar molhando àquelas melancolias misturadas no fundão da porventura e das dobranças.


Exatamente como estava sendo, o sol espreguiçando pelos nevoeiros escondidos em seus infinitos nem pedia reparo de tanto se fazendo acalorado. E elas, estrelinhas, a se desmerecerem miúdas se deixaram ultimar em sobras, dormilitando apoucadas pelos colos do Senhor e ali infinitivas, devaneadas nos sonhos apagando, quedaram sumindo, lentas se puseram. Embarcamos meus juntados e eu, juntos, apoucadicos de penúria de quase nada eram e outras também amiudadas tiquiras de graças quase anuladas por desserventias, desdigo, comigo se puseram a ir. Trouxe a par, tudo em pencas de portantos, inúteis a bem dizer, se permite, dos quais não me descarreguei nunca por impotência, masoquismo, além de outros perfazimentos de poucas cismas e provimentos. Hábito de rebeldia abobada. Ameados, em conjunto, vinham na matula gorda de melancolia, o farnel dos desatrativos e mais umas circunstâncias grudadas.

Todavia não pôde se dar de não me desfalcar e vir junto, as angústias mais arrecheadas, a saudade de Leizinha, o último beijo, contragosto, o punhado de apreensões. Fartura de despropósitos? Penso que sim! Era. Creia doutor. Despropositei, ao partir, do loro, que vizinho acarinhava, o gato que se acomodaria quem chegasse ao abrigo, pois é dos intimados dos bichanos, e o cachorro Deus gostava dele e a rua acataria sem estorva ou desproceder. Por tudo embornado carregava ao lado, naquele dia, na mesma bruaca de desespero e no despedido e nos jamais, nem desconcorde ainda, mão apertada, peito desmedido, entravado completamente os por-motivos da moça do nunca mais, ela, a querer me ver. Vaticinou o finado. Os nãos, sem surpresa, por Leizinha se ficaram no passado, no sonho, saudade e desmeço de despalavrear mais por descarência certa de não querer lembrar no mote do sofrimento atentado. Veja o senhor.

Amargurou, confesso sem pejo, o trem apitou novamente, novamente outra vez e assim se viu o carcará, no provável de ser o que era quase impossível, pela distância afastada de tão longe de enxergar, amiudar das vistas garantidas e despontar alongada, a ave bonita, mas perversa nas cadências, sobre os seus imprevistos a cata das intransigências suas predadoras, carecia. Era gavião e se fazia para tanto, belo, definitivo, cumpridor das manhas da natureza mãe. Saga, voou baixo para caçar mais ajeitado e remoto, bonito, creia, lembrei que não sabia enfeitar o destino eu, como se dava a ser a destreza da ave, para fazer sorrir Leizinha.


A verdade se deu em sendo, cruenta, imperdoável, tanto sim que até a merda do bom senso vencera o não-sei-por-que-causa-das-razões (?) e ela, Leizinha, desfizera qualquer possibilidade de seriamos, seremos ou até..., esquece, agora se deu. Nem um talvez ou um futuro mesmou mais, no quem sabe, desdisse seca como aroeira brava, calou. Conjugou ela, marcando sinas, os verbos na voz passiva, cruenta, tempo intransigente sem subjuntivo, tempo dela do desencanto a me magoar, como ordena a gramática inútil do desamor, implacável, sem contradições prestáveis para desandar sonho e somente os esvaziados prover.

Alguns por si, em particípios presentes, irregulares e malditos, como são sempre e há de serem os fins, os verbos, as falas, o fado. Ela, em si, postada no alpendre, maldito, que a desapareceu na noite engolfada pela intransigência, renovou todas as declinações como eram as latinas mortas para selar as línguas sumidas e se fantasiou muda de nada. Sequer temperou ou melindrou com: um dia pode ser, quem sabe, ou aquele quiçá, petulante, cínico que fosse, mentirosamente mesmo, se a tal se desse um pode ser..., com o até quem sabe, provisório, um, por favor. Mas no repente agarrou-se no em-vão, não, não. Fechou a porta no infinitivo, acenou com o jamais, estipulou método, mania, tranca, porta serrada e caso encerrado.

Exatamente como desdigo agora, memorado, apitou o trem, me avisando o fim, o fato, o foi, desobediente, sinistro, indiferentemente partiu a partida, ponteou para o desatino sem ser outro diferenciado do sempre seu, meu eu junto, saudades de Leizinha e ele resfolegando como fazia saber bem. Gesticulou praieiro indo despreocupado, como são as ignorâncias dos trens de ferro, em desamores sempre, apitando agudo como só ele atende com sapiência os deméritos de acordar o silêncio. Vagueou ameno pelos arrabaldes eternos de seus destinos, transitando à frente, desfeito de artes, portando melancolias, sem arrogados ou paliativos. Se deu por ser, trajetando meta enfrentada, vascolejando pelos trilhados meeiros, visita catingas mesmas, velhas e amuadas, escuta o pio do nambu acomodado na tristonha dolência, mira o foco e brinca nos vargedos.


Por ser prudente e cansado das impertinências, altera os acomodados nas agruras subidas mais amolengado de sina e pelas descendentes desmiola afobando os passos aligeirados com o folego desatenuado, pois tem destino, trem segue. Era uma viajada viageira de princípio e raça, desforra deixada e eu indo. Acuda. Aponha cisma doutor, me atente. A vida, nos rasqueádos ritmados dos batentes começou a se desconstruir desexplicado nos meus a sós: blau-blatau, blau-blatau choramingavam as rodas nas emendas ruins dos trilhados e por se fazer a frente, seguiu, seguiu pelo pretérito imperfeito atrás conjugado na saudade de Leizinha restada.

Confesso que desprezado pelo cargueiro, indiferentemente, desconsiderado na soberba mesmada, ficava o amor, ficava ela, eu indo o vagão levando e conto triste assim mesmo do jeito que foi doutor. Fugia eu, as teimosias minhas, ela sobrou no só da camada grossa da melancolia minha, que debitei para a injustiça. Desadornei no realmente e batia um formigado subindo dos fígados para os desesperos que habitam remanchando perto do coração. Era um acuda sem socorro, sem pelo amor de Deus e só, e se dava só o trem, blau-blatau, blau-blatau, adeus, adeus, oh Deus, blau-blatau, oh trem, atrás, atroz, traz, ah! Trem.

Mas o tempo do verbo gente, do eu sem catimba conjugada ou métrica, nos fomos de sofrimento em procissão e fuga, amor em sempre de desejo e só vendo doutor o verde fora que não surtia efeito de me deslagrimar das saudades. O tal do que me consigo aqui dizer, de imediato, recontando as teimas pro senhor, não transpassa confirmar que sou um presente desmerecido que se desafina do que foi no passado, tanto como do que virá nas frentes a ser nesta cabeça endoidada de doido e como é comigo sempre sendo quando penso o que penso imitando ainda do que penso agora. Imagina. Persigo no persisto e aflijo. Creia. Creia, doutor. Para dar-se, nos resumos, tudo cala igual no atoleimado da mente e não sei se o que se foi é ou era? Se o que será é ou foi? E para não desmerecer o endoidecido, do agora, se era sendo ou sido, se o que foi será ou o que será seria? Doutor é e era nestes cipoais gravetados que meus desatinos desmereciam antes e desmerecem já agora.


E o trem cutucava as cataplasmas das minhas dúvidas, cismadas mesmas, e um vento amanhecido de orvalho tiquira fugindo para as serras tateou até amansado de enxugar minhas lágrimas, mas não ajudou por desmerecido de proventos. A teimosia e ou a tristeza ouviram o trilhar, blatacan-blatacan, moroso do sentido trilhando rumo, rodas surdas, eram do trem, despreocupas, acudiram meus tresloucados verbos do pensamento corricando passado. Com certeza repuxando ideias desmedidas, repetidas, grudadas, secas dos passadiços, atentavam no presente, voltejavam ao futuro, desesperançavam desassossegos, gestavam sem vicissitudes. Aponha prudência.

E o trem se fazia desobrigado de proventos. Apreciava mordiscando os lábios para chorar minguado, escondendo nos disfarces os olhados sem atentos nas delongas encurvadas margeando o gado solto, quebradas de picotos ganhando suas serras e estas pastejando reses inacabadas em camparias infinitas sem finados das medidas e ansiedades. Vidro esfumaçado da fresta da janela, brisa alongada das solidões sisudas, engarupando verdes desmedidos enfrentado os sós dos torneios sumidos lá para os confins dos sopés das vistas perdidas.


E o desplante desacomodava acomodando nos murmúrios das tristezas amargas, mas se pontuava melhormente nas restingas quebradiças das grotas faceiras e Deus não improcedia, mas no então nem mesmo descomandava. Invadiam os indefinidos, estes, desesperos meus. Ponha fé, por enquanto, no quanto desembolso o lenço. Atentava o apito que se fazia repetir por motivos seus, do maquinista, do Senhor e das curvas cismadas. Briosa, despreocupada e sorridente, confundindo-se com o além do imaginário e serras, bate pelo lado de fora da fresta uma angústia alvissareira. Mastigo o imaginário na ponta do solfejo, deslumbro e meço a porventura. Acato-a por incompetência e hábito, abro a janela, mas ela prefere descer pelo mesmo teto de onde não se arredam subjetivos meus. Junto, do além-inconsciente, Leizinha, que se faz em si, pronta e bela, por ser sempre, atentando ao meu lado da agrura, promíscua, apeia na cadeira e enfeita a frente aparada à ansiedade e mesura. Se dá e veja! Parelha de sobeja e paradoxo desarticula o verbo e desentrosa os motivos.

Atento nos desatentos por falta de envergadura e corretivos. Acomodo a paixão imaginária às fantasias entre a minissaia grená, meu desejo, banco frontal, no meados da angústia sorridente acalorada e da demência despreparada. Colorido nos olhos esgarçados sorriu-me saindo Leizinha encantada do sumiço como se o pretérito não houvera. Mudara o imaginário, tanto que quando me mandou desistir, alisou o cachorro ao lado, arrumou os cabelos longos, puxou a minissaia para insinuar as pernas nuas, lindas, e envolta em sublime e desejo não se propôs ou condescendeu desenroscando do meu desespero. Mas sem pejo ou conceito, nem não pergunto por que encarnara do infinito, acomodou sorriso, se fez a mesma, incrustada em minha angústia e azul. O apito chama a atenção de uma roça rala de milho seco no compasso de quebra sem pressa e, juntado a par, como são os havidos nos cerrados, por contas dos acontecidos, desvia para o provável esquerdando, sem meditados, um veado campeiro a cata de seus outros portantos.

Cismei das imagens vistas chegando de atropelo nos meus exatos e os nãos das turras intimadas, minhas, da cabeça descompassada e vadia e não sabia o que merecer mais atentos, se seriam os proventos na angústia, magrela, mordendo fundo, Leizinha me acossando para não mascar o freio, o veado, infinitivo, indefinido no provável dos motivos próprios e transmudados nos delírios, enquanto o trem sinuoso trilhava mais outros tantos para aconchegar minhas melancolias. Afogueou o provérbio e me perdi destemperando. Justo assim sendo, repito senhor, não duvide, pois se davam os dados. Não discordei, jamais interroguei por descabimento e sobrosso, creia doutor ou postergo os ditos. O maquinista apita suave, tentando me restabelecer em algum finito. Pouso em ponto morto.

Trem não desmente ou discute, transita. Segue. É trem, só trem, trem trilha entre trilhos. Perguntaria até, permitiria invadir-me se não me agradecesse e agradasse em detalhes e solfejos. Não é, mas existe, pois quando não existia, estava nos compensatórios sem saber que iria acontecer. Não descobriria até porque e como começaria adorar a loucura e acarinhar a demência.


Atento e saúdo o imaginário das ideias, ou me proíbo e desfaço da mulher juntada ou acaricio a fêmea caramelada em minha doce suave alienação? Para esquecê-la teria de me desfazer, contrariado, da insensatez aparceirada? Nem pense. No vazio das soluções preferi me apegar ao infinito e solicitude, acomodando o deixa para lá e ver o trem balancear na cadência meus divagados e seja o que o destino cumprir nos seus intentados e imprevistos. Arremedo e pontuo sem prerrogativa. Uma brisa competente e sorrateira sussurrou-me, ou doido ou cínico, pairado escutei sem resposta, nem apavorei. O blatacam concordou em trilogia e nós seguimos como o tempo insistia. Olho bem aos fundos dos azuis celestes e se Deus não apareceu é porque levou as estrelas menores para repousar Prossigo.

O trem não desmerece e investe caminho e reta. Nasceu trem por destino, competência e sina. Pensei, prazer? Respondeu moroso, Blatacam, blatacam, carinhoso, me desconcertava. Divago, esqueço os trilhos, as estrelas, Deus. Acamo a angústia no espaldar da poltrona dura, seca e, por proverbio ou providência, atento para as displicentes pernas lindas, empertiga os seios do corpo esbelto, saudades, desejo, era ela inteira e sonho. Me excitam gestos displicentes, provocar queria, quis, proveu, insinuou, fingiu que não ouvia meus delírios, se fez, Leizinha, sim e era, foi-se, permitiu-se integral e a despi nua, para engravidarmos os infinitos e aos ledos irresponsáveis. Quem diria que não estaria em lá e em mim. Se músico retornaria em ré, (atrás) para o sol iluminar-me em mi (mim). Pensamentinho medíocre, doutor. Prosa de desgovernado. Solfejo meus indecisos e afino o arbítrio. Penso, logo existo, Descartes. Devaneio, logo persisto, qualquer alguém. Eu, por absurdo, não sei se sou ou enlouqueço, logo não desisto. Converso em inconscientes desfigurações e Leizinha traduz em indecifráveis libras nossas parábolas inexistentes concretas, enquanto eu estiver apaixonado, demente, ela ausente.

Fomos. Creia. O trem se ganha no rastejar molenga dos interstícios indiferentes, mas responsáveis pelos passos e prováveis. Ninguém advinha o que nos espera, nem o trem, o maquinista só ponteia, sequer Leizinha, eu nem diga. O veado fincou altivo no provável e voltou para o imaginário. É lindo. Não distingo os intangíveis, veado, o imaginário, sol afrontando, Deus nos infinitos, Leizinha transitando entre o absurdo, o passado, no banco da frente, com as alegrias do inexistente e as pernas dos meus desejos. O trem apita para me pedir sorriso ou pleonasmo. Esgarço um premonitório displicente. Conversamos atabalhoadamente, Leizinha conosco, eu comigo, ela com meus arbítrios, ninguém assume, ficções, meus sonhos. Outra vez e ainda o apito transluz meditativo que a curva da ponte carece aviso e que posso derrapar para a esquizofrenia. Melindro o que será do gato que larguei na minha casucha. Felinos são mais inteligentes e pragmáticos, se apaixonam pelas circunstâncias e lugares, desmerecem as almas, os sonhos, as amantes.

O provável que me acossa para instigar o futuro se faz inteiro, por não existir, fingindo, irônico, que pode acontecer. Louco me acalanto simplesmente no imperdoável, embora sempre faça questão de considerá-lo fiel, confiável e ainda imutável, pois creio ao infinito no provável como na gravidade ou em milagres. Sou um idiota crente profundo de fé, perseverança e autofagia mental incrédulo. Não interessava nada no então, caso contrário pediria para as rodas retornarem à estação e com certeza não soubesse nem para que.

Doutor, mais dois dedos de prosa e folgo o senhor. Sem saber dos porquês, instigava Leizinha meus intrincados pejorativos e indesejados. Assim foi e com cadência de eternamente iguais me puseram a desacorçoar. Acredite e ponha tento. No paragrafo seguinte anotei na solidão, por justificativa e método, bem no ameiado do lenço agitado no adeus colhido, uma gota de lágrima inteirinha que dividi ao meio. A lágrima-meada da ponta de cima, tão nobre quanto, foi repartida igualzinha para engravidar-se do azul e ver se pariria um retorno. A metade sobrante figurou guardada, sem presteza, para remarcar a impotência e até envelhacou amarfanhada para não deixar a saudade secar. Foi em sendo bem assim mesmo, até que me dei por só, chorando e sumindo de mim e o trem encarrilhou sem soberba, como sempre, neste fim de linha da capital. Juntado eu junto vivo por estas beiras. Vim como vim eu mesmo nestes acontados que lhe propus por conta ir desfazendo, mais para me desafogar do que por pertinência de merecer juízo.

Só para finar os encerramentos, reconto que partiu tudo acarregado, dos que trouxe comigo, embornado, como detalhei nos minuciosos, da estação ficada na angústia, onde se é de ser a outra ponta desta estrada e destas rimas, o fim-de-linha de Desafogo do Pontão, nascedouro meu e, no então, juntado ao nunca-mais, se Deus dispusesse, como dispôs. Lá descamba ainda, salvo se pelos ameados de desconhecimentos meus se puseram diferentes, Leizinha, suas indiferenças, latitudes desapegadas, meus desconsolos e os desmerecidos. Foi e é.

Agradeço e fecho os atentamentos do senhor para meus despropósitos. Tome o café, que vai esfriar, diferentemente de como renegam minhas manias, por favor, doutor.

* o autor é
economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.

Publicado em https://carloseduardoflorence.blogspot.com/2020/01/recital-em-melancolia-madrugada-sem.html


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domingo, 26 de janeiro de 2020

Índio tá virando gente, não, ele quer apito, ai, ai, ai...

Richard Jakubaszko 
Polêmica das bravas essa do Bolsonaro imbecilizado dizer que índio tá virando gente. Índio, então, era bicho? Ora, entre correntes a favor e contra das imbecilidades presidenciais, o Brasil entra numa discussão estéril. Pra mim, índio é um ser humano. Como foi evangelizado e "civilizado", o índio passou a querer outras coisas como seu "objeto de consumo". Mas continua índio, pelo menos aqueles que permaneceram em suas terras, independentemente de suas posses de modernidades.

De outro lado, as ciências pouco aprenderam com a história dos índios, suas culturas e inteligências, e os saberes deles perdem-se no tempo.



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sábado, 25 de janeiro de 2020

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Maiores temperaturas registradas pelo NOAA nos EUA: o aquecimento é mentira!

Richard Jakubaszko 
O mapa abaixo comprova a mentira generalizada divulgada pela mídia de que o planeta está aquecendo, e de que os anos 2000 são os mais quentes da história. Veja no mapa abaixo que apenas 2 recordes foram registrados nos anos 2000 nos EUA. Demais estados mantêm recordes desde muito tempo. Em cada estado no mapa o leitor encontra registrado a data do recorde vigente. Os dados são do satélite NOAA, que desmente o IPCC e a Nasa.

Portanto, chega da catastrofismos!

Dados do satélite NOAA:


Fonte:
https://electroverse.net/historical-data-destroys-the-global-warming-myth/

Quer saber mais sobre essa mentira do século XXI, a maior fraude da história, leia o livro: “CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?”. Na obra você vai saber quem inventou essa história, quem financia, quais os interesses políticos, econômicos e geopolíticos. Você saberá anda quais os objetivos do grupo que lidera essa campanha no IPCC.

Junto a cientistas céticos, brasileiros e de diversas nacionalidades, você vai se esclarecer o suficiente para nunca mais ser enganado pelos catastrofistas e ambientalistas, os que acreditam no apocalipse, e só querem ganhar o seu dinheiro, e que ainda esperam o seu aplauso por lutarem por uma “causa nobre”, que defende o meio ambiente.

Para adquirir o livro escreva e-mail para co2clima@gmail.com para receber instruções de como comprar o livro e recebê-lo em casa, autografado pelo autor. Custa R$ 40,00 mais despesas de correios, em média de R$ 9,70 para qualquer ponto do Brasil.

Se você é daqueles que acreditam nessa mentira do aquecimento e das mudanças climáticas, mas não gosta de ler livros, ou não tem tempo, visite minha página no Youtube, onde há depoimentos e entrevistas, que ajudarão você a compreender melhor esse imbróglio: https://www.youtube.com/channel/UCQQ9UrbYg9OYhRaVem81-JA/videos

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Fux atropela Toffoli e, na prática, revoga o “juiz de garantias”

Fernando Brito *

A decisão do ministro Luiz Fux, no exercício interino da presidência do STF, ter revogado a decisão do presidente efetivo do tribunal, Dias Toffoli, que adiava a aplicação da lei que criava os “juízes de garantia”, separando instrução judicial e julgamento, significa, na prática, que o grupo “morista” da Justiça usurpou o papel do legislador e, na prática, invocou para si o papel de Executivo (o direito de vetar) e o do Legislativo, porque derruba uma lei.

Explico: ao adiar, sem prazo determinado, a vigência de uma lei e definir que o Supremo só se manifestará sobre ela quando ele próprio, como relator, disser que o caso está pronto para a deliberação plenária quando ele próprio, relator das ações de inconstitucionalidades, assim o decidir.


Fux, no caso do auxílio moradia dos juízes e promotores, mostrou como sabe “sentar” sobre um processo, assegurando três anos de gratificações imorais às corporações.

Agora, pelo menos, garante a suspensão do dispositivo que impedia a tirania de um juiz único sobre um processo ao menos até setembro, quando assumirá. Mas só deixará a posição e relator se quiser e igualmente só se desejar o colocará em pauta.


Como ficará dois anos no posto – durante os quais dois ministros serão nomeados por Jair Bolsonaro – isso significa que está em suas mãos a lei entrar em vigor somente em fins de 2022 ou… nunca.

Trata-se, é óbvio, de uma usurpação de poder ante a qual Fux não hesitou.

Arbitraria e monocraticamente revogou uma lei, decretando que “não vale” a decisão do poder Legislativo ou a sanção presidencial.

Como com Luís XIV, a peruca real orna a cabeça de outro que proclama que “L’Etat c’est moi“.

* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço.
Publicado e http://www.tijolaco.net/blog/fux-atropela-toffoli-e-na-pratica-revoga-o-juiz-de-garantias/ 



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