Recebi hoje de Virgínia Knabben, biógrafa de Ana Maria Primavesi, a notícia que transcrevo abaixo na íntegra, sobre o falecimento do mito, mãe de meu amigo Odo Primavesi. Ao Odo e à sua esposa Ana Cândida, à neta Camila, à filha Carin, com quem residia em São Paulo, e demais membros e amigos da família, minhas mais profundas condolências pela perda inestimável desse ser humano notável que foi a Dra. Ana Maria Primavesi.
Dra Ana, RIP. Essa, a senhora tirou de letra.
Camila, Odo, Ana Maria Primavesi e Maria Cândida (arquivo de família) |
Um jatobá que tomba, centenário
Nossa querida Ana Maria Primavesi faleceu hoje, aos 99 anos de idade. Quase um século de vida, cerca de 80 anos dedicados à ciência no e do campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro.
Afastada de suas atividades desde que passou a morar em São Paulo com a filha Carin, Ana recolheu-se.
Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela.
Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai. Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que destacou-se por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.
Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.
Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da vida. E dos saberes que ela disseminou.
Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer. Essas mudas somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.
Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.
Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas.
Como diz nosso querido amigo Fabio Santos, parafraseando Che Guevara: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a Primavesi inteira.”
O velório e o enterro ocorrerão no cemitério de Congonhas. Velório a partir das 10:00. Enterro às 16:30. Rua Ministro Álvaro de Sousa Lima, 101 – Jardim Marajoara São Paulo capital.
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Dra. Ana Primavesi... Pessoa maravilhosa. Tive o prazer e a honra de te-la levado para a revista A Granja, nos distantes anos 70, para a qual escreveu diversos artigos. Quando a Editora Centaurus, que editava a revista, lançou livros, sentei-me com ela e pedi-lhe um livro para os pecuaristas, que fosse mais simples que o Manejo Ecológico do Solo. E ela entregou-me o original do Manejo Ecológico de Pastagens. Desde nossa primeira conversa, creio que em 1977, ela tratava-me por "senhor". Nossa... Senhor Emerson... Eu, um pirralho de 24, 25 anos, sendo tratado por ela como senhor. Inesquecível! Conversamos até muito, mas infinitamente menos do que eu gostaria de ter conversado. Quando desandei a andar - ops - pelos sertões do Brasil, lembrei-me de um de seus ensinamentos: "Senhor Emerson, quando ando pelo sertão levo sempre comigo uma garrafa térmica com chá quente, sem açúcar. É a melhor bebida que existe para a gente não ter sede no meio do cerrado, embaixo do Sol." Nunca esqueci... Mas, envergonhado, confesso que nunca levei uma garrafa térmica com chá quente. Descanse em paz, Dra. Ana. De seu amigo, aluno, admirador, o Senhor Emerson.
ResponderExcluirMeu caro amigo Richard que noticia triste para nós.
ResponderExcluirUm abraço grande para ti.
Luiz Fernando Coelho de Souza
Minhas Orações irão para ela. Respeitava a Natureza, é por isso que seguia a Lei maior de Deus!
ResponderExcluirGrato e abraço
Caram
Meus sentimentos e orações por ela e familiares.
ResponderExcluirPrezado Richard,
ResponderExcluirObrigado por registrar a triste noticia da perda da Ana Maria.
Ela percebeu a vital importância da vida do solo uns quarenta anos antes da maioria dos agrônomos. Meu primeiro encontro com ela foi no escritório da Swift em SPaulo, com o finado Job Lane. Ela e o marido estavam dando consultoria na fazenda Swift no sul do Pará. Os dois eram tão entusiasmados que falavam incessantemente, os dois ao mesmo tempo! Mais tarde ela deu a palestra de abertura do VIII Encontro de Plantio Direto no Cerrado, no ano 2004 e entusiasmou a audiência com sua perspicácia e conhecimentos.
Eu mantive contatos com Odo Primavesi quem fez umas pesquisas importantes mostrando que a redução do abate de 36 para 26 meses reduziu a emissão de Gases de Estufa por 33% por quilo de carne. Será que tens o email dele, pois o da Embrapa não responde mais?
Parabéns pelo trabalho, e um abraço,
John