John
N. Landers *
Conheci Eng. Agr. Fernando Penteado Cardoso e seu filho Eduardo P. Cardoso nos anos 1970, quando este trabalhou comigo no Projeto de Sementes Forrageiras da International Plant Breeders, em Matão, São Paulo. A ele devo todo o sucesso profissional que alcancei, na promulgação do Plantio Direto no Cerrado. Realmente é ele que deve levar o credito do grande sucesso dessa tecnologia na região do Cerrado, que quebrou os paradigmas seculares de arar a terra. No país inteiro, isto tornou a agricultura brasileira a mais sustentável do planeta, com 35 milhões de hectares implantados hoje, desta tecnologia tropical e sub-tropical tupiniquim.
Eduardo tinha presenciado o meu primeiro Plantio Direto (PD) em Matão-SP, no ano 1976, com milho, em vários relvados de leguminosas forrageiras perenes, usando a plantadeira pioneira “Rotacaster”, fabricada pela empresa FNI – Fábrica Nacional de Implementos, de S. Paulo, Itapecerica da Serra, onde obtivemos resultados positivos. O objetivo era de fornecer um tutor para as leguminosas treparem e aumentar a sua produção de flores e sementes, incidentalmente reduzindo o custo de produção das sementes leguminosas pela venda do grão do milho. A partir de 1977, eu me tornei produtor de soja em Morrinhos, Goiás; alguns anos depois, sabendo do meu sucesso com PD na lavoura de soja em Morrinhos, introduzindo o SPD em 1982, Eduardo contou ao pai.
No ano de 1988, Eng. Agr. F.P. Cardoso me chamou para a sede de sua empresa, a Manah S.A, em São Paulo e quis saber do Plantio Direto. Expliquei os fundamentos e ele escutou atentamente. Por ser um pensador desprendido de preconceitos, não somente aceitou, mas apreciou o potencial do sistema, principalmente no controle da erosão e conservação da umidade no solo. Anunciou-me que queria financiar um projeto piloto para aprimoramento dessa tecnologia. Então, a Manah S.A. outorgou à minha empresa J.L. Associados Ltda., financiamento de três anos para um projeto piloto em Morrinhos-GO. Naquela época contava-se nos dedos da mão os adotantes de PD e, tanto a pesquisa quanto a extensão, não davam qualquer apoio oficial e chegavam até mesmo a apregoar o seu fiasco.
Com esse apoio, implantei sessenta parcelas, de um hectare cada uma, em duas fazendas em Morrinhos. Essas parcelas foram conduzidas com equipamento comercial adaptado para o PD, envolvendo as mais variadas culturas e consórcios, além de diferentes modos de plantio, de adubação e do uso de herbicidas. A principal inovação foi de semear uma leguminosa forrageira na linha de milho. No ano seguinte, dessecou-se a leguminosa e foi plantado milho dentro de relva morta de leguminosa, que logo brotou da raiz e forrava o chão, fixando nitrogênio. Não foi adiante essa técnica porque não tinha herbicida para controlar leguminosas em soja, a cultura coqueluche na época. Hoje, com RR seria possível fazer sucesso imediato, especialmente com pequenos agricultores.
Outras inovações testadas na parceria com a Manah S.A foram as sobressemeaduras de milheto e Brachiaria decumbens em soja, os testes de distribuição de sementes com a Vicon, o pastoreio de restevas com cerca elétrica neozelandesa, o semeio intercalado de gergelim em soja e de colonião em milho, a seleção de linhagens de milheto, a gessagem de toda a área e a produção de sementes de diversas coberturas, principalmente o milheto.
A experiência acumulada entre os anos de 1988 e 1992 permitiu o lançamento de cursos rápidos de Plantio Direto. Eng. Agr. F.P. Cardoso inaugurou o primeiro curso em Morrinhos no ao 1988. A fundação da Associação de Plantio Direto no Cerrado – APDC, ocorreu durante o segundo curso realizado em Santa Helena de Goiás, na fazenda Santa Fé, de Eng. Mec. Ricardo Merola, eleito como o primeiro presidente da APDC. Até 2005 foram treinados 1.200 técnicos da região de Cerrado e da CATI em São Paulo e tínhamos 47 Clubes Amigos da Terra, ou equivalentes, associados à APDC.
Com a falta de informações de pesquisa, foi lançado, com patrocínio da Manah, do Banco do Estado de Goiás e empresas do Agro, o “Fascículo de Experiências de Plantio Direto no Cerrado”, manual prático que subsidiou milhares de agricultores na adoção do PD. Tudo graças ao “start” dado por Eng. Agr. Fernando Cardoso e a Manah S.A. Em 1996 foi lançado o jornal “Direto no Cerrado”, com tiragem de 10.000 exemplares, que circulou até 2010, sempre com a “Coluna do Cardoso e com o apoio financeiro da Manah e outras empresas do Agro.
Em Morrinhos, utilizamos o adubo Fosmag, idealizado por Eng. Agr. Fernando Cardoso, que continha todos os principais macro e micro-elementos que a planta necessitava, nas proporções corretas. Uma pena que os sucessores da Manah S.A. descontinuaram a produção desse fertilizante. Ele era mais caro, mas proporcionava maior retorno sobre o investimento.
Durante os eventos de divulgação de PD, organizados pela APDC e uma coligação de empresas do agronegócio, incluindo a Manah, por toda a região do Cerrado, uma das presenças mais assíduas era do Eng. Agr. Fernando Cardoso, sempre interessado no desenvolvimento de uma agricultura sustentável. Seu legado é um Brasil exportador de alimentos, longe de um Brasil importador da época da fundação da Manah. Diga-se de passagem, que Colin Landers, meu tio, quando gerente de fazendas da empresa inglesa Fazendas do Cambuhy, em Matão-SP, comprou fertilizantes de Eng. Agr. Fernando Cardoso durante os anos 1940 e 1950.
Assim, com os 15 milhões de hectares em PD na região hoje, do Cerrado, relato, de forma elogiosa, as atividades pioneiras que se derivaram do apoio da Manah e do Eng. Agr. Fernando Penteado Cardoso, e do Grupo de Plantio Direto das empresas de agroquímicos. Este elogio seria incompleto ao não mencionar a grande contribuição à genética da raça Nelore que foi feito no aprimoramento da linhagem Lemgrüber, hoje continuado pelo seu filho Eduardo. Com essas e outras iniciativas múltiplas, culminando com a criação da Fundação Agrisus – que apoia projetos práticos de pesquisa e desenvolvimento na área de solos e conta com o patrocínio da família Penteado Cardoso – Fernando se tornou um grande incentivador do progresso da agricultura moderna no Brasil. Sua mente brilhante continuou contribuindo, aos 105 anos, debruçando sobre como melhorar a técnica da agropecuária brasileira. Essas palavras são parcas e insuficientes para descrever a imensa contribuição à agropecuária moderna do Brasil, do epigrafado, Fernando Penteado Cardoso.
Brasília, 9 de setembro 2021
* o autor é O.B.E. e Doutor Honoris Causa (UFG).
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