Clichê pra você quer dizer o quê? Uma frase chavão e repetida por todos em determinadas situações?
Pois antigamente, até a década de 60, era um artefato feito em uma chapa grossa de chumbo, em alto relevo, onde se gravavam as imagens e textos de um anúncio, e que o jornal usava para gravar nas chapas que iriam para as rotativas imprimir o jornal.
Os clichês eram gravados espelhados, ou seja, a imagem que se via estava invertida, só se podia ler o que estava escrito se colocássemos o clichê contra um espelho, eram pesados (os office boys sofriam um bocado para transportá-los até os jornais, eu mesmo ganhei diversos calos nas mãos naquela época em que fui boy na JWT, escritório de Porto Alegre), e muitas vezes tinham um suporte de madeira, com 2 cm de espessura, no tamanho exato deles, onde o clichê era fixado, para evitar deformações ou que entortasse.
Para economia dos custos de produção das campanhas, em algumas situações os clichês eram retirados de um jornal para serem entregues em outro, e apesar de previamente limpos sujavam os coitados dos office boys, mãos, braços e roupas, com uma tinta preta dificílima de sair. Clichês não davam boa impressão, e os jornais da época também sujavam de preto as mãos de seus leitores.
Com o tempo, ainda década de 60, vieram os clichês de plástico enrijecido, vermelhos, mais baratos, mais leves, que aliviaram o trabalho dos boys, e logo em seguida apareceram os fotolitos, depois rotofilmes, e até desses a modernidade já vai se desfazendo, com o uso dos materiais digitais e virtuais, entregues via Internet banda larga num piscar de olhos, ou via CD. Simples, prático e eficiente.
Contei isso porque outro dia mostrei a amigos, alguns deles jovens jornalistas, um folheto relativo a um prêmio de jornalismo existente na década de 70 e cuja capa tinha como ilustração uma foto de um clichê dourado, em relevo, sem a imagem invertida. Alguns perguntaram o que era aquilo, comprovando que aqueles jovens não conheciam clichês, até porque nasceram todos depois da sua extinção.
Daí prá contar as pegadinhas da época foi um pulo, como a de mandar os estagiários ou boys novatos em caráter de urgência ao departamento comercial do jornal para buscar a calandra. Explico que a calandra era justamente a máquina onde se colocavam os clichês, lado a lado com outros clichês e com os textos das notícias para gravar, sob alta pressão, a imagem dos clichês em uma chapa para depois irem para as rotativas. As calandras eram máquinas que pesavam toneladas...
O pessoal dos jornais levava na gozação a ignorância dos estagiários e boys e ao invés de “entregar” a calandra, conforme solicitado, mandavam o estagiário voltar com um pedido de esclarecimento, se a calandra era quente ou fria, e este retornava depois, ofegante, era quente, mas ainda teria que esclarecer se com tinta ou sem tinta, e depois qual a cor, o que provocava umas 4 ou 5 viagens do pobre infeliz. No fundo, eram brincadeiras sadias, que acabavam ensinando o jovem inexperiente. Com o tempo a expressão clichê tomou outro sentido, deixou de ser substantivo para ser adjetivo.
Caro Richard: espero que sua viagem de volta para casa tenha sido boa. Já dei uma passada de olhos em seu blog. Gostei! Visitá-lo-ei amiúde. Quando puder, apareça no Cloaca News. Grande abraço!
ResponderExcluirAh! Esqueci de dizer: também fui "boy" de agência de propaganda, em São Paulo. Cansei de carregar clichês pela cidade, nos tempos do DIPO, do Diário de S.Paulo, da Gazeta Esportiva, do Shopping News... Nunca fui vítima das pegadinhas, mas, certa vez, fizemos um novato ir ao Estadão, na Major Quedinho, retirar uma rotativa. Entregaram para o coitado uma caixa cheia de pedras! Esse mesmo cara também foi incumbido de ir comprar um "fotolito de vidro para silk screen" e um "medidor de área branca". Éramos malvados...
ResponderExcluirO link para o blog Cloaca News é
ResponderExcluirhttp://cloacanews.blogspot.com