Richard Jakubaszko
Não há necessidade de ser leitor contumaz de jornais para perceber que a imagem do produtor rural anda uma verdadeira lástima entre a chamada opinião pública. Essa imagem, na verdade, nunca foi das melhores. O produtor rural brasileiro já foi confundido, em passado recente, com o Jeca Tatu. A síndrome do Jeca Tatu é herança de uma personagem na ficção do genial escritor e nacionalista Monteiro Lobato, que nos legou uma obra literária de inequívoca criatividade e altíssimo valor cultural, plenamente reconhecida.
A referida obra foi adaptada e distorcida, chegando ao cinema nos anos 50 e 60 com grande impacto. Com isso incentivou um viés de interpretação na chamada intelectualidade brasileira e entre os jornalistas urbanos, como formadores de opinião, na medida em que associou e materializou uma imagem pública do produtor rural brasileiro típico ao simplório, inculto, matreiro, caipira e tabaréu personagem Jeca Tatu. A distorção de imagem persistiu até o início dos anos 2000, quando se iniciou um desvanecimento desses sintomas em função do espetacular crescimento da agricultura brasileira, que trouxe repercussões notáveis na geração de renda, no crescimento do emprego e nos superávits da balança comercial.
Excluídos desse perfil de imagem destrambelhada sempre estiveram os usineiros, grandes pecuaristas e também os antigos barões do café. Faziam parte da elite e da nobreza, desde o império. Algum tempo atrás, e aos poucos, já na década dos 90, incluiu-se nessa relação de exceções os citricultores, e a esses se juntaram sojicultores e cotonicultores. Com riquezas circulando e exibindo-se despudoradamente deu-se ao setor a alcunha de agronegócio. No início dos anos 2000 houve momentos em que existiu boa imagem do produtor rural perante a opinião pública. Era visto como sujeito trabalhador e empreendedor, responsável por 40% do PIB brasileiro.
Entretanto, o encarecimento dos preços dos alimentos e as questões de renegociação de empréstimos e das demandas ambientais mudaram a imagem dos produtores rurais. Agora o produtor rural é sinônimo de caloteiro, é ganancioso e, além de tudo, de destruidor de florestas, que depreda o meio ambiente e está sempre pendurado nas tetas do governo.
A mídia e os ambientalistas acusam os produtores por queimadas na floresta, de contaminar o solo, os rios, e por intoxicar os alimentos com excesso de uso de agrotóxicos e fertilizantes. Na imagem urbana e da mídia é o bandido da moda e da vez. A péssima imagem é atribuída aos produtores pelos ambientalistas com apoio total da grande imprensa, e de alguns políticos oportunistas. Triste e deturpada imagem, sem dúvida alguma.
A principal causa disso tudo é a ação e o discurso de algumas das lideranças rurais, de mentalidade ultrapassada, e que representam os produtores em algumas associações, entidades e federações. Ou essas lideranças mudam ou precisam ser renovadas. Deve-se colocar em seu lugar gente com uma visão moderna, focada na solução não apenas dos problemas em curto prazo, mas a médio e longo prazo.
Aos produtores cabe boa parte da culpa, por haver falta de união, por não ter associações representativas, e por se deixar liderar por sindicalistas profissionais que se locupletam em federações estaduais ditas da agricultura. São lideranças sem expressividade ou projeção nacional, cuja arrogância e rompante espanta aos mais crédulos. Atraem, com isso, a antipatia da mídia, estimulada pelos ambientalistas. Essas “lideranças” têm em sua companhia alguns deputados e senadores pertencentes à chamada bancada ruralista, e esta também se tornou alvo preferido da mídia, por representar os mais “tenebrosos” interesses capitalistas do “agronegócio”. O agronegócio, na visão da mídia, só visa o alto lucro.
Chegaram, produtores e parlamentares, a ser chamados de vigaristas pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Este, apesar dos berros e reclamos de senadores e de deputados, não caiu. O governo federal, na maioria das vezes, por não conseguir identificar de forma clara e adequada quais as causas dos problemas rurais, apresenta soluções ou encaminhamentos a estes problemas e às políticas públicas dentro daquilo que pensa ser o mais correto. Invariavelmente erra porque é mal assessorado e mal aconselhado pelas chamadas lideranças que atuam no cenário rural.
Sem dúvida alguma, é tempo de mudar isso. E só há um caminho: união! União através de um associativismo profissional e transparente, como exigem os tempos modernos. O amplo espaço dedicado pela grande imprensa, que repercute opiniões de ambientalistas radicais, cada vez mais irá fortalecer e consolidar uma péssima imagem do produtor rural perante os brasileiros.
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