terça-feira, 10 de maio de 2011

A "democracia" americana matou Bin Laden

Richard Jakubaszko
Fim de festa, e Bin Laden já é notícia velha. É coisa mal explicada da democracia americana. Os EUA são os xerifes do mundo. Só nesse caso de Bin Laden, cometeram três infrações graves: obtiveram informações de um preso em Guantânamo, através da prática de tortura, depois invadiram território paquistanês, e ainda executaram, sem qualquer julgamento ou defesa, o suposto terrorista, além de alguns inocentes porque familiares, incluso crianças. Nada mal para a politicamente correta democracia americana. O jornalista Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo de hoje, expressa magistralmente parte dos meus sentimentos a respeito.

Além do caçado
Jânio de Freitas
Terrorismo deu reeleição a Bush e é arma de Obama para se reeleger; interessantes as eleições ditas democráticas.

O pinga-pinga de versões que corrigem versões, sempre provenientes do círculo presidencial, denuncia o uso da execução de Bin Laden para manipulação eleitoreira da opinião pública por Barack Obama. Mas se presta também a proteger o governo dos Estados Unidos de acusações por mais execuções e outros crimes cometidos pelos seus soldados no ataque ao terrorista. E contra pessoas não necessariamente comprometidas com terrorismo, umas, e outras inocentes com toda a certeza.
primeiras versões do acontecido no casarão de Bin Laden, foram ligeiras e divergentes as referências à presença de outras pessoas, inclusive crianças. Uma mulher foi usada como refém, depois não houve refém, haveria um irmão, citado ainda algumas vezes e sem clareza, e crianças, em número não indicado.

As poucas indicações além dessas partiram de pessoas do poder paquistanês. Sem repercussão no governo e sem relevância nos meios de comunicação dos EUA. No fim da semana passada, afinal, o ISI, serviço de inteligência do Paquistão, decidiu tornar-se mais loquaz. Com o mesmo tratamento nos Estados Unidos, e não muito melhor, do ponto de vista jornalístico, fora de lá.

Além da mulher de Bin Laden, baleada na perna, foram encontradas na casa outras duas mulheres (uma seria a filha que acusou a execução do terrorista depois de rendido, e diante dos parentes).

Além delas, três mortos, sendo dois homens e a médica de Bin Laden. Não encontrado na casa, o corpo de Hamza, filho executado de Bin Laden, foi levado pelos soldados com o pai.

Além dessas seis presenças, "oito ou nove" crianças.

Quatro pessoas, portanto, não sentenciadas nem por vontade apenas do governo dos EUA, e sem indício de autoria de crimes, foram executadas, sendo que só a um dos homens as versões norte-americanas atribuíram a autoria de um tiro (inútil) de defesa. Muito mais do que a resposta dada ao inimigo número 1.

Foi o que no Brasil chamamos de chacina, a execução coletiva, mas em território nacional alheio e invadido, feita por militares autorizados e sob a bandeira do país chacinante.

O que foi feito do corpo do filho morto de Bin Laden, presume-se que detentor do direito a um funeral como prescrito pelo islamismo? Por que e para onde o cadáver foi sequestrado? Sumiu das versões por tratar-se de objeto incômodo na discussão sobre o caráter criminoso, ou não, da operação norte-americana, e sobretudo impróprio para a exploração eleitoreira do episódio.

E as crianças, "oito ou nove" na informação paquistanesa, inocentes com toda a certeza, inocentes até de estarem na companhia de Bin Laden, o que foi feito dessas pequenas testemunhas da chacina de seus familiares? E o que será delas, portadoras de tais testemunhos?

Os informantes paquistaneses indicam que a mulher de Bin Laden está sob interrogatórios seus e de norte-americanos. Sabe-se o que os dois grupos entendem por interrogatório. Mas as crianças também viram coisas, ouviram muito, sabem.

Pelo visto, porém, não há instituição ou entidade humanitária interessada no que se passa com essas crianças deixadas à disposição de facínoras oficiais.

O terrorismo deu a reeleição a Bush e é arma de Obama para a reeleição. Que interessantes são as eleições chamadas democráticas.
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