Richard Jakubaszko
Está publicado
abaixo, ancorado no Youtube, o documentário "O veneno está na mesa"
roteirizado e dirigido pelo cineasta (?) Silvio Tendler, lançado ao final de
2011. Foi dividido em 4 módulos, os quais apresento abaixo, e que o visitante do
blog poderá assistir sem sair do blog (média
de cerca de 10 minutos para cada bloco).
O documentário,
em minha mais honesta opinião, tem falácias e conotações ideológicas, opiniões
até mesmo emocionais e ridículas, distorcidas pelo roteirista e diretor. Ao
mostrar as entrevistas de alguns dos depoentes a pieguice desanda a maionese.
Abaixo de cada
bloco, comento e contesto os depoimentos apresentados por alguns dos
entrevistados do documentário. Em todo o documentário os responsáveis parecem chamar os produtores rurais de idiotas, por usarem agrotóxicos ou OGMs e outras tecnologias, como fertilizantes. Não se atrevem a tanto, mas usam o novo palavrório destes modernos tempos de inquisição ambiental.
Recomendo assistir primeiro cada bloco do
documentário, e depois ler os meus comentários, que procurei sintetizar ao
máximo possível.
Parte 1
Parte 1/4
O vídeo inicia
com uma chamada espalhafatosa no início do documentário “O veneno está na mesa”, e procura
respaldo numa estatística deturpada, a de que “desde 2008 o Brasil é o Campeão Mundial no uso de agrotóxicos”. Na
sequência, afirma de forma mentirosa que “cada brasileiro consome em média 5,2
litros / quilos de agrotóxicos por ano”.
Ora, pegaram o
total de todos os quilos e litros de agrotóxicos fabricados ou importados,
inclusive baraticidas, formicidas e raticidas, de uso urbano, somaram tudo e
dividiram pelo total da população, afirmando, portanto, de maneira escandalosa,
que cada brasileiro consome esses 5,2 kg ou l, sem considerar uso urbano ou
ainda que houve nas lavouras perdas por volatização, ou que metade desse volume
depositou-se no solo, foi lavado pela chuva ou irrigação, se decompôs pela luz
solar (fotodecomposição), enfim, diluiu-se na natureza, inclusive rios e lagos.
A afirmação não
considera, ainda, que boa parte desses produtos químicos são lavados pelas
donas-de-casa antes de serem consumidos. Evidentemente que é impossível
projetar-se em um cálculo simplório como esse o quanto de agrotóxico chega à mesa dos
brasileiros. De toda forma, eu arriscaria dizer que, se tanto, menos de 1 quilo
ou litro per capita / ano de agrotóxicos chega incorporado aos alimentos até o
comércio varejista, em toneladas de alimentos os mais diversos, antes de ser
higienizado nas residências ou restaurantes. Mesmo assim, é um exagero
estatístico, com mera intenção de alarmar a população.
Na sequência,
aparece a figura simpática do escritor, jornalista e humanista uruguaio Eduardo
Galeano, que faz a apologia política e ideológica das lutas dos países e povos
sul americanos na perda de seus recursos naturais, do roubo feito por países
estrangeiros e multinacionais das riquezas de países como o Brasil e outros da
América Latina. Após um corte suave, Galeano vai ao assunto proposto pelo
documentário, e critica os países progressistas, como o Brasil, que permitem o
uso dos agrotóxicos em nome da produtividade. Ora, e o que ele deseja? Que as
populações desses países, inclusive o Brasil, passem fome? Que paguem mais
caros pelos alimentos que faltariam à população? Há incoerência, na minha
modesta opinião, nas afirmações de Galeano, em que ele mistura política e
ideologia com abastecimento alimentar.
A seguir aparece
uma locução dramática com outra mentira que já desmenti aqui no blog, no artigo
“Tudo o que você precisa saber sobre agrotóxicos”, de nov/2011: ( http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2011/11/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre.html ). Diz a locução: “são vários princípios
ativos proibidos e banidos em vários países do mundo, que circulam impunemente
no Brasil, porque o lobby é muito
forte, e por isso somos o campeão mundial de agrotóxicos, e nenhum outro país
usa tanto agrotóxico quanto o Brasil”. Na sequência, dramatiza, como se falasse
com uma criança de 10 ou 12 anos, e diz que "a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, a ANVISA, fica amarrada com as injunções jurídicas impostas pelas
multinacionais".
Dá como exemplo a pretendida (e obtida) proibição de venda no
Brasil do inseticida Metamidophós, tema que tratei em outro artigo aqui no
blog: “A Anvisa, a quem serve?” ( http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2011/07/anvisa-quem-serve.html ) e
que até hoje a Anvisa não se deu ao trabalho de responder do porque levou mais
de 30 anos para tomar essa providência, ou melhor, ao menos 15 anos, pois esse
é o tempo de existência da Anvisa, e tampouco se deu ao trabalho de explicar
porque ela, Anvisa, autorizou a fabricação e o uso durante todo esse tempo, e
depois “mudou de ideia”. Afinal, a Anvisa, juntamente com o Ministério da
Agricultura (MAPA), mais o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, Ibama,
integra os 3 órgãos federais responsáveis por analisar, aprovar e autorizar a
fabricação e o uso dos agrotóxicos no Brasil. A leitura dos dois artigos em que
coloquei o link é fundamental para entender essa patacoada da Anvisa e do
documentário em causa.
Na sequência, o
documentário ataca o setor rural, ou o “agronegócio”, como se fosse um
palavrão, usa a mesma linguagem do Movimento dos Sem Terra, sem nenhuma
criatividade, critica o que chama de “a promessa da revolução verde”, que
proporcionou comida a custos baratos aos brasileiros, que gera empregos a 1/3
da população ativa, e que permitiu ao Brasil tornar-se o segundo maior
exportador de alimentos do mundo, sendo que somos os primeiros exportadores em
carne, açúcar, suco de laranja, etc., gerando mais empregos e divisas. Acusam,
sem saber do que falam, de que a revolução verde impôs o monocultivo, cultivado
em extensas lavouras. É rizível a afirmação. Monocultivo de quê? Só se for de
cana, café, laranja, soja, milho, gado, arroz e feijão, e tudo o mais que se come e exporta. Pergunto
aos autores do crítico e falacioso documentário se seria possível produzir
alimentos em áreas pequenas para o tanto de gente que existe nas populosas
cidades brasileiras? Será que os “brilhantes” roteiristas do distorcido
documentário em causa teriam alguma fórmula miraculosa de produzir alimentos em
pequenas áreas para tanta gente?
Mas a revolução
verde teve sucesso, apesar da torcida e "do somos contra" desses urbanos. Isso foi mérito
dos agrotóxicos? Não, não foi, mas estes fizeram a sua parte, aliás, uma parte
importante nessa vitória, juntamente com o emprego de sementes de alta
qualidade, máquinas agrícolas adequadas, tecnologias e do uso de fertilizantes,
do eficiente manejo das lavouras, criadas pelas ciências agronômicas no Brasil,
adaptadas ao sistema tropical em que vivemos, que é muito diferente do clima
temperado acima do Equador.
Os transgênicos
são também atacados, logo os OGMS, que reduzem o uso e quantidade de
agrotóxicos, pois é uma tecnologia, segundo o documentário, "temerária", e que
leva riscos aos seres humanos. Ou seja, o documentário faz a apologia do medo,
acusa, desmerece e desqualifica. Afirma
que o uso dos OGMs generalizou-se, como se náo fossem apenas soja, milho
e algodão as únicas lavouras que usam OGMs. Para os incautos espectadores,
manipulados pelo roteiro e pelo texto infantilizado do documentário, fica a
impressão de que todas as lavouras hoje em dia são OGMs, seja feijão, arroz,
batata, verduras e frutas. O jargão-palavrão “transgênico” é repetido como se
se falasse da invasão dos habitantes dos infernos em nossa calma e pacata
vidinha urbana.
Após registrar o
medo dos OGMs, o documentário envereda pelo caminho tortuoso de reescrever a
história da química, e esquece que nas farmácias brasileiras (e do mundo) existem
milhares de remédios, ou “homotóxicos”, todos também regulados pela Anvisa, e
que nos fazem muito mais mal do que podem fazer os agrotóxicos, pois são
consumidos vergonhosa e livremente pela população em grandes quantidades,
exceto pelo controle fiscalizado inadequadamente de antibióticos e
psicotrópicos. Sobre a história das guerras não vou comentar, e muito menos
defender as acusações, especialmente das ações de uso inapropriado feitas pelo
exército americano com produtos químicos, seria o mesmo que criticar os
fabricantes de aviões (e culpá-los por isso) pelo uso inadequado deles durante
as guerras.
A primeira parte
do documentário panfletário continua com o depoimento de alguns produtores
queixosos, que admitem que antes produziam 40 ou 50 sacos de milho por hectare,
mas hoje produzem mais de 100 sacos na mesma área, agora com boas sementes,
gastando muito menos, mas acham ruim porque não podem reproduzir as sementes.
Patético, na minha opinião. O que querem? Produzir sem pagar direitos de uso?
Reproduzir as sementes sem pagar nada? Só os roteiristas podem acreditar num trabalho beneficente de empresas que investiram tempo e dinheiro em pesquisas.
Aí, antes de
encerrar o primeiro ato, aparece a doutora Letícia, gerente de regulamentação da
Anvisa, notória e declarada inimiga do uso de agrotóxicos, porque, conforme ela
mesmo me afirmou, em alto e bom som, tem um filho alérgico. Não justifica, pois
eu também sou um tremendo de um alérgico. Assim, afirma ela que os alimentos mais
contaminados são o pimentão, pepino, morango, abacaxi, uva, que seriam os
alimentos que causam a maior preocupação. Na opinião dela a população nem
deveria consumir esses alimentos. Ou seja, é um agente do Governo Federal, mas
agita política e ideologicamente a população, leva pânico às pessoas, ao invés
de regular de forma profissional e ética a fabricação e o uso de produtos que
estão sob sua razão direta de existência. Afirma a doutora Letícia, no seu
linguajar cheio de tecnicalidades, que os alimentos são produzidos com uso de
produtos proibidos (o que é uma falácia e uma enorme deturpação) e que se
produz alimentos com uso de “produtos sem conformidade”, conforme pesquisa da
Anvisa.
É importante
registrar que a pesquisa da Anvisa, “replicada” em 2011, pois havia sido
divulgada também em 2010, teve seus desastrosos resultados contestados por este
blog (Ler artigo “A Anvisa, a quem serve?”, indicado acima), por diversos
cientistas e até mesmo pela mídia, como a revista Veja de 4-1-2012, edição
2.250. Mas o documentário faz a apologia do medo e do pânico, pois os
especialistas em comunicação aprenderam a “trabalhar” com percentuais sem nenhum referencial. Estes,
citados de forma contextualizada, seriam ótimos, mas a forma como o
documentário “informa”, ou seja, “descontextualizada”, pode assustar as
criancinhas. Ao final, a doce criatura Ana Maria Primavesi, agrônoma, avó
preocupada e ecologista, mãe do meu amigo Odo Primavesi, mostra sua preocupação
com a produção de batata, que no passado não muito distante já foi a lavoura
campeã no uso de agrotóxicos, mas hoje nem aparece na lista dos alimentos
“criminosamente” contaminados, segundo a Anvisa.
O campeonato mundial de uso de
agrotóxicos, e não apenas estas, mas outras tecnologias, deveria ser
motivo de orgulho para todos os brasileiros, mas o diacho da cultura do cachorro vira-lata,
que lambe os pés de todos os superiores, acredita que é uma vergonha ser
campeão nisso também.
Parte 2
Parte 2/4
A segunda parte
do documentário segue fazendo inúmeras denúncias publicadas na imprensa e ainda
colhendo depoimentos de produtores da agricultura familiar que se queixam de
terem sido contaminados por venenos, sem nunca exercer uma autocrítica do uso
incorreto desses venenos, ou mesmo da forma como os utilizaram, invariavelmente
sem senhum cuidado e sem uso de equipamentos de proteção, apesar das recomendações expressas nos rótulos. Ao final desta parte
o documentário requenta uma denúncia de 2011 feita por uma estudante do Mato
Grosso que, orientada por um professor da UFMT (um tal de Pignati), mal
intencionado, especula sobre a contaminação do leite materno em mães de Lucas
do Rio Verde, inclusive pelo temido e proibido DDT. Já ficou provado que o
estudo citado carece de qualquer base científica, foi feito às pressas, usou
equipamentos laboratoriais obsoletos, e contém deturpações de análise
científica e acadêmica de estarrecer qualquer pessoa de bom senso. Mas o
documentário, mais preocupado em aterrorizar, repete a ladainha.
Parte 3
Parte 3/4
O terceiro bloco
do documentário é patético! Continua a lenga-lenga de denúncias de
contaminações de trabalhadores rurais, depois mostra cenouras, pimentões,
tomates, e lista os benefícios de seus usos, mas relaciona agrotóxicos usados, e autorizados, e cita
não autorizados (eles queriam dizer proibidos...), ou seja, de novo, dados da
pesquisa da Anvisa, já desmentida, desconstruída, e já provada como alarmista,
porque há “falta de conformidade”.
Há um patético
depoimento de um possível agente da Anvisa, ou sabe-se lá de onde é, pois o
depoente não é identificado, apenas sua voz aparece, em que reclama de
“pressões jurídicas” das indústrias, feitas em resposta às tentativas de
proibições praticadas pela Anvisa. Ora, a Anvisa, primeiro liberou, autorizou a fabricação,
venda e uso, juntamente com o Ministério da Agricultura e o Ibama, e depois
voltou atrás, aparentemente reanalisou o assunto, e sem explicações tenta
proibir o que ela própria autorizou, e ainda assim não desejava ser legalmente contestada?
Parece que desejam
ser “autoritários” sem nenhuma contestação... Interessante a ótica da
democracia vigente na Anvisa, como dizia Millor Fernandes: “quando eles mandam
é democracia, quando os outros mandam é ditadura...”, ou pior, quando são
contestados, de forma legal e democraticamente, é porque o “inimigo” exerce
pressão, inclusive judicialmente...
Parte 4
Parte 4/4
No quarto bloco o
autor e diretor do documentário mente de forma vergonhosa. Primeiro cita que
70% dos alimentos dos pobres são frutas, legumes e hortaliças cultivados pela
agricultura familiar. Primeira mentira, porque a base da comida do pobre é
arroz e feijão, mais carne ou frango, e alguma coisa de frutas ou saladas,
estes menos frequentes se o dia do pagamento do salário foi mais de uma semana antes.
Depois, a mentira maior, quando afirma que "todos, ou pelo menos a maioria dos
agricultores", são “obrigados a trabalhar com transgênicos, além de inseticidas
e outros agrotóxicos, pois sem isso não teria créditos em bancos para financiar
o plantio”. A ignorância do autor e diretor do documentário em relação ao que
fala e escreve é evidente, pois desconhece que apenas soja, milho e algodão são
alimentos transgênicos. Ou seja, frutas, legumes e hortaliças, no Brasil e no
mundo, ainda não possuem sementes transgênicas. Lá fora até já houve estudos com
tomate, o “longa vida”, mas que não sobreviveu comercialmente, além de pequenas
áreas de batata OGM para uso industrial (cola, amidos), colza, sorgo, e encerra-se
por aí a lista. O que o autor deseja é o terrorismo, só pretende amedrontar a quem
assistir seu documentário com denúncias sem nenhum fundamento, mesmo que
falseie, invente, minta de forma descarada, e ainda defende e induz o
espectador a ter pena dos agricultores familiares. Será que não há ideologia
por trás de tudo isso?
Na sequência
desta quarta parte o autor desembesta enlouquecido pela citação de números estatísticos
que vai “criticando” com moralismo escoteiro, sem apontar fontes, dados como o
de que “a saúde do trabalhador custa 58,1 bilhões aos cofres públicos”, ou
ainda de que “1,8% do PIB é gasto com doenças”, e que “a química introduziu o
câncer na dieta do brasileiro”!!! Ora, mas já não está provado que três mil
anos atrás os egípcios e gregos já tinham câncer? O tresloucado e mentiroso,
mas inventivo redator, investe a favor das sementes nativas, e cita que “híbridos
foram transformados em transgênicos”! Quase caí da cadeira ao escutar isso, “tadinhos
dos agricultores”, o redator nem sabe o que é um híbrido, mistura alhos com
bugalhos, questiona e inventa, e afinal, o que é que tem a ver o urubu com as
garças, pois nem sabe do que fala...
Depois, o
documentarista mentiroso mostra um produtor (Adonai) a quem chama de criativo,
por ser produtor de orgânicos e não usar transgênicos, e que tem a coragem de
enfrentar as “criminosas” multinacionais. No depoimento do entrevistado, em que
ele próprio afirma ser “obrigado” a mostrar ao banco as notas fiscais do que usou de
insumos, para comprovar que aplicou o dinheiro do crédito rural na lavoura, e
não para comprar um carro, ou para se divertir no boteco, o documentarista
“sub-entende” que o banco "obriga" os produtores a usar venenos e transgênicos.
Não, o banco, e esse banco é o Banco do Brasil, financiando o Pronaf – Programa
Nacional de Agricultura Familiar, não obriga ninguém a nada, apenas pede que o
financiado comprove onde aplicou o dinheiro, mas depois de emprestar, e depois
de o produtor familiar ter investido o dinheiro altamente subsidiado naquilo que o
ajudaria a produzir.
Como o colono
Adonai deixou bem claro, caso contrário o Proagro (seguro) não cobre os
prejuízos de um possível desastre da lavoura. Com essa lenga-lenga o
documentarista queria o quê? Ele não explica que alguns pequenos produtores da
agricultura familiar tomam dinheiro emprestado pelo Pronaf, em que o banco é
apenas agente repassador, e que alguns desses pequenos agricultores usam o
dinheiro para comer (compram no supermercado a comida...), ou pagam dívidas, e depois
alegam que plantaram e que não colheram nada, e ainda querem receber o seguro
do Proagro, sem ter feito nada. Na verdade, o dinheiro do Proagro seria para ressarcir
ao banco da dívida contraída, e sem possibilidade de receber, já que o
agricultor não obteve renda. É óbvio ululante que o produtor precisa comprovar que
plantou a sua lavoura, e para isso gastou o dinheiro comprando sementes,
adubos, máquinas e até agrotóxicos. Mas os documentaristas são contra isso,
acham que a burocracia está protegendo as multinacionais, como se não houvesse
empresas nacionais nessa área...
O documentarista,
ainda na entrevista com Adonai, preconiza o uso de sementes nativas de milho,
que produzem 1.000 kg por hectare, ou menos ainda, contra 10.000 mil/ha ou mais dos híbridos no mesmo
hectare, e não se pergunta a razão de nenhum agricultor usar mais as sementes
nativas... Pois o documentarista parece desejar a volta aos tempos dos tataravós, e mostra isso com o
trabalho de tração animal, arando a terra (aração que a Dra Ana Primavesi proibiria...), o que é um exemplo inequívoco de
quem não entende de fome de gente. Fôssemos produzir alimentos com esses
recursos e morreriam 2 bilhões de pessoas por ano, por absoluta falta de
comida.
Na sequência,
antes de finalizar, o documentarista traz novamente a figura da Dra. Ana
Pimavesi, que coloca em debate e critica os usos inadequados de algumas
tecnologias, sem especificar quais, e sugere o trabalho do solo, mantendo-o em equilíbrio, com matéria
orgânica, por exemplo. Seria um bom debate agronômico, mas como não se explica
nada no documentário, e não é essa a intenção, o que se deseja são denúncias
vazias, o depoimento da Dra. Primavesi é cortado abruptamente. O diretor deixa no ar a
impressão de que ela só é favorável aos orgânicos, o que não é verdade, pois
ela é uma especialista em solos e no uso harmônico dos recursos que a própria
natureza permite aos homens, como o plantio direto, por exemplo, onde não se ara a terra. Mas o
documentarista acha que esse debate é inapropriado, por isso o corte é feito
sem maiores explicações... E segue reapresentando todos os demais depoentes, em
frases “humanistas” e “poéticas”, para tentar sintetizar a opinião de que
alimento orgânico é o melhor pra todo mundo. Só não explica porque os orgânicos
custam tão mais caro... E não revela que os orgânicos mataram algumas dezenas
de pessoas na Europa higienizada, agora em 2011, por terem comido broto de
feijão orgânico, contaminado com Escherichia
Coli.
onde demonstro a
impossibilidade de se plantar alimentos para alimentar 7 bilhões de pessoas
apenas com orgânicos. Isso não é poesia, é utopia! Plantar lavouras diversificadas
de legumes, frutas e hortaliças, em áreas pequenas ou médias, é possível, e
até pode dar lucro para alguns produtores. Dá muito trabalho, e só compensa se o
preço pago pelo consumidor for muito maior quando comparado aos produtos
convencionais que usam modernas tecnologias. Já em grãos é impossível! E sem grãos, como
soja e milho, por exemplo, teríamos de ser vegetarianos, pois frango e porco se
alimentam exclusivamente de grãos, gado de leite também, e hoje em dia até gado confinado
precisa de suplementos com ração à base de grãos. Para criar animais que
forneçam carnes à dieta humana, sem grãos não é possível. E, para plantar
grãos, necessita-se de áreas mais extensas, onde ecossistemas deixam de
existir, como explico no artigo “Agricultura é poluição”, e passa a ser
agrossistema. Neste, para colher alguma coisa, rentável ao trabalho dos
produtores rurais, só com o uso de tecnologias, especialmente agrotóxicos, o resto é conversa fiada de
ambientalista urbano ou de documentarista mal informado e mentiroso, talvez
mesmo mal intencionado e cheio de ideologias que interessam apenas a seus verdadeiros patrocinadores.
Finalmente, entre outras
coisas, o que mais me deixa contrariado, ou, mais do isso, me irrita de
verdade, nas propostas dos ambientalistas, é que desejam e sugerem um mundo despoluído com
todo mundo feliz, alimentando-se saudavelmente de orgânicos. Entretanto, nunca debatem
que o problema dos alimentos existe porque há excesso de gente no planeta
(somos 7 bilhões, e seremos 9 bilhões em 2015), e que todos precisam comer
alimentos baratos, condizentes com o que ganham. Eles, os ambientalistas, não
explicam, de outro lado, que com as técnicas de produção orgânica, se estaria
praticando as perversas recomendações de Thomas Malthus, matemático e religioso que viveu
no século XVIII, que apregoava deixar os pobres entregues à propria sorte, pois
se matariam em guerras e morreriam também de fome, pois o planeta não teria
como prover a eles todas as suas necessidades. Era o que Malthus sugeria aos reis e
príncipes daquela época, e que agora os biodesagradáveis desejam sugerir com
outro discurso, uma conversa idealizada e poética dos orgânicos.
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