Richard Jakubaszko
O cooperativismo
não será capaz de enfrentar sozinho o que vem aí pela frente, pois será uma
verdadeira guerra mundial, e sangrenta, ninguém tenha dúvida disso. Teremos uma crise de
restrição de alimentos – e de fome – em muitos países, pois os preços tendem a
se elevar ainda mais dos que os praticados hoje, agora catapultados não apenas por
uma seca nos EUA, mas também pelo aumento de demanda asiático e por causa da
especulação financeira que transformou alimentos como soja e milho em prosaicos
“derivativos”, levando neste pacote a avicultura e a suinocultura.
Esse panorama,
num primeiro momento, pode prenunciar bons lucros aos produtores de grãos. Os
bons lucros, entretanto, vão se reduzir na medida em que os insumos subam de
preços, bem como o transporte, o armazenamento e o custo da terra. Como os
estoques mundiais andam muito baixos, isto vai provocar guerras, rebeliões e
migrações, governos democráticos serão depostos, assim, como outras ditaduras.
O tabuleiro de xadrez onde se desenrola esta guerra, encontra os agricultores brasileiros, especialmente eles, desprotegidos de toda sorte de políticas públicas, onde se destaca o seguro agrícola, um dos temas abordados nas páginas da Agro DBO 38, de outubro 2012, em circulação desde o início deste mês, e que poderá ser lida através do nosso site: www.agrodbo.com.br
Nesta Carta
Aberta nos dirigimos a todas as cooperativas brasileiras produtoras de grãos, e
seus respectivos presidentes, e, em especial às maiores do setor:
CAROL – José
Oswaldo Galvão Junqueira
COAMO – José
Aroldo Galassini
COCAMAR – Luiz
Lourenço
COMIGO – Antônio
Chavaglia
COOPAVEL - Dilvo
Groli
COTRIJAL – Nei
Mânica
Só o
associativismo salva os produtores brasileiros, especialmente os pequenos e
médios. Como os agricultores não têm representatividade política em nível
nacional, quem vai atuar em nome deles e de seus interesses? O que vimos na
aprovação legislativa sobre o Código Florestal é uma pequena amostra grátis do
que vem aí pela frente face às discussões que vão ocorrer pela sociedade urbana
quando os preços dos alimentos subirem: se subir é porque há perigo de faltar,
e, na sequência, surgirão propostas de confisco dos alimentos, até mesmo taxas
sobre exportação, para garantir o abastecimento interno, multas e prisão para
quem estiver mantendo estoque dos grãos, enfim, não é difícil imaginar as
dificuldades que possam surgir se os preços subirem acima do suportável, pelos
governos e pela população.
Somente o associativismo
pode salvar os produtores de grãos brasileiros, especialmente os pequenos e médios.
Preços cada vez mais altos
O mais recente
relatório divulgado em setembro último pela FAO, o órgão das Nações Unidas para
a Alimentação e Agricultura, revela que a elevação no preço dos alimentos
chegou a níveis críticos, principalmente para os países pobres que necessitam
importar alimentos para dar de comer às suas populações.
Segundo os dados
da FAO, nos últimos meses os preços do trigo registraram alta estratosférica de
até 80%. O milho, um aumento de 40%. Uma perversa combinação entre crescimento
de demanda, especulação financeira, secas, e produção de energia a qualquer custo, está entre os
fatores causadores dessas altas. Afinal, as quebras nas safras de dois gigantes
na produção de grãos, EUA e Rússia, ocorreram em virtude dos efeitos de secas
prolongadas. O relatório da FAO afirma que 22 países já enfrentam uma crise
prolongada com altos índices de fome mesmo antes dessa forte alta. Portanto,
além do agravamento da situação desses que já enfrentam uma crise alimentar,
deve-se esperar que novos países se juntem ao contigente de esfomeados.
Mesmo assim, o
preço desses alimentos tem estado em constante alta, pois além do prato dos
humanos, essas commodities alimentam animais e os veículos abastecidos por
biocombustíveis.
Outro problema
apontado por economistas da FAO é a especulação orquestrada pelos mercados
futuros. “A financeirização por meio de manobras especulativas contribui para
elevar os preços dos alimentos”, afirma a entidade.
Nesse clima, fica
a pergunta: de que forma as cooperativas poderiam atuar na defesa de seus
interesses e dos seus cooperados? De nenhuma forma, respondemos nós. Nem na
grande mídia haveria defensores dos agricultores, pois representam a opinião
dos urbanos, e estes, como sabemos, andam com inédita antipatia pelo
agronegócio. Assim, prevemos que nem mesmo a Frente Parlamentar Agropecuária,
de cunho essencialmente político, mostraria a cara para defender os produtores,
na hipótese de subida desmedida dos preços pela ameaça de faltar alimentos.
Só o
associativismo, com forte atuação política, seria capaz de apresentar a defesa
dos agricultores em situação como estas. De outro lado, enquanto esse prognóstico
não se confirma, existem muitas batalhas e demandas de interesses dos
produtores que estão sendo perdidas pela falta de interlocutores preparados, ou por atores que não
possuem representatividade, mas falam em nome dos produtores, diariamente, nos
meios de comunicação.
Outro exemplo
gritante das diferenças e problemas enfrentados pelos agricultores está
expresso em artigos da edição 38 da Agro DBO, dos colunistas Daniel Glat e Rogério
Arioli, ambos agrônomos e produtores rurais, quando relatam a tranquilidade dos
agricultores americanos diante de uma seca perversa que, se ocorresse no
Brasil, jogaria milhares de agricultores em negociação de dívidas ou quebraria
a quase todos. Lá existe seguro (de renda) rural aos produtores, enquanto aqui no Brasil
temos um seguro que garante apenas aos bancos de receberem o que emprestaram.
Em outro artigo, também na edição 38 da Agro DBO, o cafeicultor Luiz Hafers já
se antecipa no alerta sobre cotas e impostos, ou melhor, confiscos.
A questão é que a
ganância estúpida do mercado nos tempos modernos busca colocar o consumidor em
sua condição de “pagante”. Só assim dá para entender a inversão de prioridades
ao se colocar em limitação o uso de novas áreas na futura produção dos
alimentos, tal como prevê o Código Florestal.
O fato é que se
deixarem as coisas como estão pode-se esperar o registro de novas revoltas ao
redor do mundo, semelhantes as que têm ocorrido cada vez com maior frequência
em diferentes regiões do planeta, em destaque o mundo árabe, mas também na Ásia e na África. Muitas das
manifestações entre os árabes tinham também como motivação a escassez ou a alta no preço dos
alimentos, mas o agravamento da situação atual não será bom conselheiro na hora
de pedir calma aos revoltosos. Afinal, se não for possível comprar comida para
colocar no prato das famílias, não haverá bom senso e bons argumentos capazes de
evitar atitudes não civilizadas.
A união só pode vir através das cooperativas
É tempo de as
cooperativas liderarem a instalação de uma associação nacional, de cunho
técnico, com atuação política, que seja representativa, que seja forte, e que
expresse os verdadeiros interesses da agricultura. Para defender os
agricultores dos futuros e breves ataques, que surgirão de
todos os lados. Para buscar equilíbrio nas decisões de governo que se destinam
a regular o mercado, sempre em favor dos consumidores, nunca beneficiando os
produtores. Para que se evolua com o seguro rural. Para que se tenha uma lei de
CLT (Consolidação da Lei Trabalhista) ajustada ao meio rural, que é diferente
do urbano. Para que se obtenha segurança jurídica na posse da terra e nas
relações com os mercadistas. Ou as cooperativas, e seus líderes, acreditam que
poderão defender os seus cooperados sob o manto das cooperativas? Nem antes, nem hoje e
nem no futuro. Não é essa a função do cooperativismo, mas apenas de um associativismo.
Que se estabeleça
o associativismo, sob as bençãos e liderança do cooperativismo, para dar
sustentabilidade aos agricultores. Não há outro caminho: só o associativismo
salva a agricultura. Só o cooperativismo tem recursos suficientes para essa empreitada, e só o cooperativismo pode provocar o senso gregário dos produtores rurais, hoje inexistente no Brasil, ao contrário do que se verifica nos EUA e Europa.
Aos cooperados
que concordam com nossa proposição sugerimos conversar com os presidentes de
suas cooperativas, pedindo que pensem a respeito.
.
PARABÉNS.
ResponderExcluirEXCELENTE ARTIGO!
QUE DEUS E TODOS ESSES DIRIGENTES TE OUÇAM.
EVARISTO DE MIRANDA
É isso aí, meu caro!
ResponderExcluirRoberto Rodrigues