domingo, 7 de outubro de 2012

O temerário endividamento do brasileiro


Rogério Arioli Silva *
O assédio creditício a que têm sido submetidos os brasileiros não é desprezível e suscita dúvidas e indagações.
Estará acontecendo aqui nos trópicos o mesmo processo que levou os norte-americanos aos altos índices de endividamento e que acabaram mergulhando aquela economia numa incômoda e duradoura recessão? Não há unanimidade entre os economistas. Aqueles mais ligados ao sistema financeiro afirmam que não, porém os mais cautelosos alertam que a luz amarela já acendeu.

Muitos são os números capazes de comprovar esta ou aquela teoria e certamente a polêmica seguirá posta. Vamos a eles.  Na análise do endividamento em relação ao PIB, os brasileiros estão, de fato, muito mais tranquilos que os norte-americanos. Estes já atingem dívidas 200% acima do PIB enquanto aqueles estão recém chegando aos 50%. Ao observar os dados de comprometimento da renda a situação muda de figura: 23% da renda do brasileiro estão vinculadas ao pagamento de dívidas enquanto que, apenas 15% da renda do norte-americano encontram-se comprometidas.

Importante lembrar que a renda média mensal nos Estados Unidos é de U$ 4,4 mil enquanto no Brasil de apenas U$ 700,00. Também importa salientar que o comprometimento da renda, no caso do Brasil, concentra-se mais nas classes menos abastadas, atingindo 43% na classe C, que hoje representa mais de 100 milhões de pessoas.

Em relação ao número de famílias com dívidas, houve um pequeno recuo de 62,5% em agosto de 2011 para 59,8% em agosto deste ano. Como fato preocupante, sabe-se que o cartão de crédito é a principal fonte de endividamento das famílias brasileiras, seguido pelos carnês das lojas e, logo após, pelo financiamento de veículos. Vejam aqui uma das principais diferenças do endividamento das famílias norte-americanas em relação às brasileiras: lá as maiores dívidas são relacionadas a imóveis e aqui os bens de consumo duráveis e veículos são mais presentes.

No caso específico dos cartões de crédito percebe-se que existe uma bomba relógio armada para estourar no colo dos usuários menos desavisados.
Através da cantilena do “pagamento mínimo”, o futuro endividado mergulha insanamente num juro explosivo que poderia chegar a 238% ao ano, mas agora, graças à diminuição das taxas, atinge apenas 122%. Ou seja, é o inverso da antiga promoção varejista de “pague um e leve dois”. Configura-se, esta cilada financeira, num verdadeiro “pague dois e leve menos de um”.  No caso dos Estados Unidos os juros situam-se em torno de 2 a 5% ao ano, podendo chegar, a 17% numa situação-limite.

A agressividade da oferta de crédito é tanta que, segundo o Sistema Financeiro Nacional, a cada segundo são aprovados quinze novos financiamentos acima de mil reais no país.  Este fato demonstra que havia, de fato, um consumismo represado no Brasil, resultante dos anos de galopante inflação e baixo poder aquisitivo da maioria da população.  Bastou haver a estabilização econômica e este poder de consumo latente aflorou de maneira robusta e irreversível, segundo os mais otimistas. Melhor para as redes varejistas que viram seus faturamentos seguirem trajetórias ascendentes.

De todo modo, ficam evidentes as diferenças entre o endividamento dos norte-americanos em relação ao dos brasileiros, mas também existe um fator que não deve ser negligenciado: a falta de planejamento financeiro. Neste aspecto, a tomada de decisões brasileira escora-se na assertiva de que a prestação cabe no salário, na maioria das vezes sem considerar-se os juros e prazos de pagamentos. E aí se percebe nova armadilha: as lojas ofertando produtos com o mesmo preço à vista ou em doze parcelas. Esta “pegadinha” funciona muito bem por aqui, pois a matemática não faz parte da rotina nacional.

Por fim, importa comentar sobre pesquisa realizada há pouco tempo onde há evidente correlação positiva entre aqueles que sofrem “stress” por questões financeiras e o desenvolvimento de problemas de saúde. Importante que se diga que ficar doente também afeta diretamente o bolso, causando ainda mais problemas de endividamento, num círculo vicioso temerário e potencialmente nocivo.

* O autor é Engº Agrº e Produtor Rural no MT
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Um comentário:

  1. Banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies
    Thomas Jefferson

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