Richard Jakubaszko
Em dezembro de 2007 publiquei aqui neste blog o post "Sinais do fim do mundo? As abelhas estão sumindo." Esse artigo havia sido publicado, antes disso, em diversos sites, inclusive no Observatório da Imprensa, Peabirus, Agrolink, Envolverde, e em diversos sites ambientalistas. Publiquei ainda o referido texto, de forma resumida, na revista DBO Agrotecnologia, de março/abril/2007. Houve muita repercussão, inúmeros comentários etc. e tal. Mas a grande mídia não deu qualquer importância para o assunto, exceto uma ou outra nota.
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19/agosto/2013 |
Dias atrás, recebi da AENDA, Associação da Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas, e-mail anexando um fac símile da capa da TIME de 19/AGO/2013, em que essa prestigiosa a publicação deu matéria de capa sobre o assunto com 8 páginas (fotos abaixo, clique nas mesmas para ler o texto no original) recheadas de depoimentos, fotos, infográficos. Acho que agora a grande mídia internacional começou a acordar, e talvez desperte a mídia cá no Brasil...
e o leitor ainda pode comparar a matéria da TIME com o meu texto, para constatar que não houve nenhuma novidade acrescentada pela revista; apesar de ser matéria de capa, ou seja, o problema continua se agravando, e ninguém sabe exatamente o porque. Abaixo uma tradução da matéria, que foi encaminhada pela AENDA, através de seu diretor executivo, Tulio Teixeira de Oliveira.
A situação crítica das abelhas melíferas
As mortes em massa nas colônias de abelhas significam o desastre para agricultores, e para suas comidas favoritas.
Por Bryan Walsh. Segunda-feira, 19 de
agosto de 2013.
Você pode agradecer a Apis mellifera, melhor conhecida como abelha melífera européia, por uma a cada três porções de alimento consumidas por dia. Desde os pomares de amêndoas do centro da Califórnia – aonde cada primavera, bilhões de abelhas vindas de todo os EUA migram com o objetivo de polinizar a cultura multibilionária – aos campos de mirtilo do Maine, as abelhas são os operários não remunerados e anônimos do sistema agrícola americano, adicionando mais de US$ 15 bilhões à produção agrícola a cada ano. Em junho, a loja Whole Foods em Rhode Island, como parte de uma campanha que destacava a importância das abelhas melíferas, retirou, temporariamente, da seção de hortifrúti todos os alimentos que dependiam de polinizadores. De 453 itens, 237 foram retirados, incluindo maçã, limão, abobrinha e outras cucurbitáceas. As abelhas melíferas “representam a cola que mantém o nosso sistema agrícola unido,” escreveu a jornalista Hannah Nirdhaus em seu livro em 2011, The Beekeeper’s Lament.
E agora, a cola está
falhando. Em meados de 2006, os apicultores comerciais começaram a notar algo
estranho: suas abelhas estavam desaparecendo. Os apicultores abririam suas
colmeias e as encontrariam cheias de favo de mel, cera, e o próprio mel, porém
desprovidas de abelhas.
Como os relatórios
vindos dos apicultores estavam cada vez mais numerosos, os cientistas
inventaram um termo apocalíptico apropriado para o mal misterioso: Desordem do
Colapso das Colônias (DCC).
Subitamente, os
apicultores se encontraram em meio aos holofotes, o público foi cativado pelo
mistério da DCC. Sete anos depois, as abelhas melíferas continuam morrendo a
uma escala nunca antes vista, e as razões continuam misteriosas.
Um terço das
colônias de abelhas melíferas dos EUA morreu ou desapareceu durante o último
inverno, um aumento de 42% em relação ao ano anterior, e muito acima da média
de 10% a 15% de perda que os apicultores estavam acostumados a cada inverno.
Embora os apicultores possam repor as colmeias mortas com o tempo, as altas
taxas de perda estão impondo fortes pressões sobre a indústria e a agricultura.
Havia apenas a
quantidade suficiente de abelhas viáveis nos EUA durante essa primavera para
servir a polinização vital de amêndoas na Califórnia, colocando em risco uma produção
que vale US$ 4 bilhões. As amêndoas representam um grande negócio –
elas são as exportações agrícolas mais valiosas da Califórnia, valendo mais que
o dobro que as icônicas uvas para vinho. E as amêndoas, totalmente dependentes
das abelhas, são as referências de um problema ainda maior.
Para frutas e
hortaliças tão diversas como a meloa, cranberry e pepinos, a polinização pode
ser a única chance do agricultor de aumentar sua produtividade ao máximo. Sem
as abelhas melíferas, a agricultura seria permanentemente diminuída. “A
mensagem para se pensar é que estamos muito próximos do ápice,” diz Jeff
Pettis, o pesquisador líder do Laboratório de Pesquisa de Abelhas do USDA.
“Agora, é um lance de dados”.
É por isso que
cientistas como Pettis estão trabalhando duro para solucionar o que está
comprometendo as abelhas. Os pesticidas agrícolas são obviamente suspeitos –
especialmente uma nova e popular classe química, conhecida como
neonicotinoides, os quais parecem afetar as abelhas e outros insetos mesmo em doses
que deveriam ser seguras.
Outros pesquisadores
focaram em pragas matadoras de abelhas, como o cientificamente nomeado Varroa
destructor, um ácaro parasita que destrói colônias desde que foi
acidentalmente introduzido nos EUA durante os anos 80.
Outros focam em doenças virais e bacterianas
A falta de um
culpado claro apenas aumenta o medo e o mistério, anunciando o que alguns
ambientalistas chamam de “a segunda primavera silenciosa,” uma referência ao
best-seller de Rachel Carson de 1962, que foi amplamente reconhecido por lançar
o movimento ambientalista. Uma citação que é frequentemente atribuída a Albert
Einstein se tornou um slogan: “se as abelhas desaparecerem da superfície do
globo, os homens teriam não mais de quatro anos de vida.” Uma questão:
especialistas duvidam que Einstein tenha dito essas palavras algum dia, mas
essa não atribuição é característica da confusão que rodeia o desaparecimento
das abelhas, na consciência de que nós matamos inadvertidamente uma espécie que
cuidamos e da qual dependemos há milhares de anos.
A perda das abelhas
melíferas deixaria o planeta mais pobre e mais faminto, mas o que é realmente
assustador é que o temor de que o que está acontecendo com abelhas seja apenas
um sinal do que está por vir, um símbolo de que algo muito errado com o mundo
está ao nosso redor. “Se não fizermos algumas mudanças logo, veremos o
desastre,” disse Tom Theobald, um apicultor do Colorado. “As abelhas são apenas
o começo.”
Efeitos
sub-letais
Se a abelha melífera
é vítima de uma ameaça natural como os vírus, ou artificiais como os
pesticidas, vale lembrar que a abelha por si só não é um habitante natural do
continente. A espécie foi importada para a América do Norte no século XVII, e
resiste até hoje porque encontrou um nicho perfeito em um sistema alimentar que
pede por culturas cada vez mais baratas, em quantidades cada vez maiores. Isso
é um ecossistema mercantilista e artificial que não vem sendo bom somente às
abelhas e aos apicultores, mas também denota a estabilidade dos negócios e uma
grande revenda aos supermercados e armazéns.
Jim Doan cria
abelhas desde os cinco anos, mas o gene apiário em sua família é ainda mais
antigo. O pai de Doan custeou sua universidade com os rendimentos de sua
apicultura em meio período, e em 1973 ele desligou seus elos com os negócios
para cuidar das abelhas em tempo integral. As abelhas estão presentes até no
brasão inglês da família Doan. Contudo, Jim frequentou a universidade com o
objetivo de se tornar um professor de agricultura, a atração dos negócios com
apicultura era muito forte.
Por muito tempo,
esse negócio seguia muito bem. A família construiu sua unidade operacional na
cidade de Hamlin, no oeste de Nova York, fazendo dinheiro a partir da venda do
mel e de contratos de polinização com os agricultores. No ápice dos negócios,
Doan estima que foi responsável por polinizar uma a cada 10 maçãs cultivadas em
Nova York, administrando aproximadamente 6.000 colônias, umas das maiores
operações desse tipo no estado. Ele não se importava com os inevitáveis ferrões
– “você tem que estar disposto a ser punido”- e ele podia suportar as primeiras
horas. “Nós fizemos muito mel, e fizemos muito dinheiro,” disse ele.
Tudo isso acabou em
2006, o ano em que a DCC alcançou o clímax, e as colônias de Doan não foram
poupadas. Nesse inverno, quando ele retirou as capas de proteção sobre suas
abelhas – alertado por um amigo apicultor que experimentou um dos primeiros
casos documentados de DCC – Doan não encontrou nada. “Havia centenas de
colmeias no quintal e nenhuma abelha dentro delas,” disse ele. Nos anos que se
sucedem, ele vem passando por perdas repetidas, suas abelhas crescem doentes e
morrem. Para repor as colmeias perdidas, Doan precisa comprar novas rainhas e
dividir as colônias que restaram, o que reduz a produção de mel e coloca uma
maior pressão sobre as poucas abelhas saudáveis que ainda existem.
Eventualmente, isso se tornou insustentável.
Em 2013, após
décadas dentro dos negócios apiários, Doan desistiu. Ele vendeu os 45 hectares
da sua propriedade que estava guardando para vender após sua aposentadoria – e
planeja também vender seus equipamentos de apicultor, se encontrar alguém para
comprá-los. Doan ainda cuida de algumas abelhas nesse meio tempo, mantendo um
fluxo de receitas enquanto considera suas opções. Entre as opções, está
trabalhar na rede Walmart.
Doan e eu caminhamos
pelo seu jardim, que está empilhado com caixas de abelhas que se assemelhariam
a um armário de arquivos, se as gavetas não zumbissem e vibrassem. Doan me
emprestou uma jaqueta de proteção e uma viseira que cobria meu rosto. Ele
caminhou lentamente por entre as caixas – em parte porque ele é um homem grande
e porque as abelhas não apreciam movimentos bruscos – e espalhou fumaça, que
mascara os feromônios de alerta das abelhas e as mantém calmas. Ele abriu cada
caixa e removeu as armações – as telas estreitamente espaçadas onde as abelhas
constroem os favos de mel – checando como está uma nova população que ele
importou da Flórida. Algumas armações estão cheias de células com abelhas
andando, fluído de mel e ninhadas saudáveis, cada célula contém uma cria.
Porém, outras armações parecem abandonadas, até com a cera dos favos de mel se
desintegrando. Ele coloca essas caixas – conhecidas como mortas - em seus
lugares.
Ele costumava amar
checar suas abelhas. “Agora, chegou a um ponto em que quando cada semana que eu
observo as abelhas, eu me assusto,” disse ele. “Será um bom dia, elas estarão
vivas, ou eu encontrarei apenas um monte de porcaria? Isso me deprime
profundamente.”
Doan não é o único
que está abandonando esse infortunado trabalho. O número de apicultores
comerciais caiu ¾ nos últimos 15 anos, e enquanto todos concordam que esse
grande esforço já não vale mais a pena, eles diferem quanto quais são as
possíveis causas que merecem culpa. Doan afirma que são os pesticidas neonicotinoides e há um forte argumento a ser feito contra eles.
Esses compostos
químicos são usados em mais de 140 diferentes tipos de culturas assim como em
jardins domésticos, isto é, inúmeras chances de exposição para qualquer inseto
que pouse sobre as plantas tratadas. Doan me mostrou estudos de amostras de
pólen retiradas das suas colmeias que indicam a presença de várias substâncias
químicas, incluindo os neonicotinoides. Ele prestou declarações perante o
Congresso sobre o perigo que as substâncias impõem e está envolvido em um
processo judicial, juntamente com outros apicultores e grupos ambientalistas,
que pede a suspensão de pesticidas pertencentes a classe dos neonicotinoides à
Environmental Protection Agency (EPA). “Os impactos [proveniente dos
pesticidas] não são periféricos, e nem teóricos,” diz Peter Jenkins, um
advogado do Centro de Segurança Alimentar e líder do conselho do processo.
“Eles impõem ameaças reais à viabilidade dos polinizadores.”
Os agricultores
americanos vem pulverizando suas lavouras com pesticidas há décadas, ou seja,
as abelhas melíferas – que podem voar mais de 8 km em busca de alimentos – vem
sendo expostas às toxinas muito antes do pico de DCC. Porém, os
neonicotinoides, que foram introduzidos em meados dos anos 90 e se tornaram
amplamente propagados nos anos em que se seguiram, são diferentes. Essas
substâncias são conhecidas como sistêmicas, o que significa que as sementes são
encharcadas neles antes de serem plantadas. Traços dos compostos são
eventualmente transferidas para toda as partes da planta madura – incluindo o
pólen e o néctar que abelhas podem entrar em contato – e podem permanecer por
muito mais tempo do que outros pesticidas. Realmente, não há nenhuma maneira de
prevenir que as abelhas não sejam expostas a alguma concentração dos neonicotinoides
se os produtos forem aplicados por perto. “Nós estamos aumentando as evidências
de que os neonicotinoides podem carregar efeitos prejudiciais, especialmente em
combinação com outros patógenos,” disse Peter Neumann, presidente do instituto
Bee Health da Universidade de Berna, na Suíça.
Ironicamente, os
neonicotinoides são de fato os mais seguros para os trabalhadores rurais porque
podem ser aplicados mais precisamente do que outras classes de pesticidas, que
dispersam no ar. As abelhas, entretanto, parecem ser singularmente sensíveis
aos compostos. Estudos mostraram que os neonicotinoides atacam seu sistema
nervoso, interferindo nas habilidades de voo e navegação sem matá-las
imediatamente. “A literatura científica está agora explodindo em trabalhos
sobre os impactos sub-letais em abelhas,” disse James Frazier, um entomologista
da Universidade de Penn State. Os efeitos tardios, porém cumulativos das
exposições repetidas podem explicar a causa do porque as colônias continuarem morrendo
ano após ano, apesar dos esforços dos apicultores. É como se as abelhas
estivessem sendo envenenadas aos poucos. É inegavelmente atraente culpar os
neonicotinoides pela crise das abelhas. A adoção amplamente propagada desses
pesticidas corresponde bruscamente ao aumento das perdas das colônias, e os
neonicotinoides são, antes de tudo, feitos para matar insetos. Os compostos
químicos são onipresentes – um estudo recente concluiu que o pólen das abelhas
estava contaminado, em média, com nove pesticidas e fungicidas diferentes.
O melhor de tudo, se
o problema é os neonicotinoides, a solução é simples: proibi-los. Foi isso que
a Comissão Européia decidiu fazer esse ano, impondo uma restrição de dois anos
sobre o uso de alguns neonicotinoides.
Mas enquanto a EPA
está planejando revisá-los, a proibição ao estilo europeu é implausível já que
as evidências permanecem obscuras. Os apicultores da Austrália vêm sendo em
grande parte poupados da DCC ainda que os neonicotinoides sejam usados lá, já a
França continua a sofrer com as perdas de abelhas apesar da restrição do uso
desses pesticidas desde 1999. Os fabricantes de pesticidas argumentam que os
níveis atuais de exposição dos neonicotinoides no campo são muito baixos para
serem os principais culpados das perdas de colônias. “Nós lidamos com os
inseticidas há muito tempo,” disse Randy Oliver, um apicultor que executou uma
pesquisa independente sobre DCC. “Eu não estou totalmente convencido de que
essa seja a principal das questões.”
Terreno
hostil
Mesmo que os
pesticidas sejam grande parte do mistério da morte das abelhas, há outros
suspeitos. Os apicultores sempre tiveram que proteger suas cargas de perigos
como o American foulbrood (“o abominável americano das ninhadas”) – uma doença
bacteriana que mata as abelhas em desenvolvimento – e o pequeno besouro das
colmeias, uma praga que pode infiltrar e contaminar as colônias.
A mais sangrenta de
todas é a guerra de muitas décadas contra o Varroa destructor, um ácaro
microscópico que se refugia dentro das células de crias que abriga as abelhas
em estágio inicial. Os ácaros são equipados com uma língua cortante e bifurcada
capaz de perfurar o exoesqueleto das abelhas e sugar sua hemolinfa – o fluído
que atua como sangue nas abelhas. Uma vez que o Varroa pode ser vetor de
inúmeras doenças – eles são equivalentes a uma agulha contaminada para as
abelhas – uma infestação incontrolada dos ácaros pode levar rapidamente uma
colmeia à morte.
A primeira vez que
um Varroa pisou em solo americano foi em 1987 – provavelmente a partir de
abelhas infectadas importadas da América do Sul – e mata bilhões de abelhas
desde então. Medidas de controle usadas pelos apicultores, incluindo acaricidas
químicos, apenas demonstrou uma efetividade parcial. “Quando o Varroa mite fez
as coisas da sua maneira, isso mudou o que tínhamos que fazer,” disse Jerry
Hayes, o líder do trabalho comercial de abelhas da Monsanto. “Não é fácil
tentar matar um pequeno bicho em um bicho grande.”
Outros pesquisados
apontaram o dedo para infestações fúngicas como a do parasita Nosema
ceranae, possivelmente em junção com um patógeno como o vírus iridescente
de invertebrados. Mas novamente, a evidência não é conclusiva: algumas colmeias
atingidas pela DCC mostraram evidências ou de fungos, ou de vírus, ou de
ácaros, e outras não.
Alguns apicultores
estão descrentes que haja absolutamente um problema subjacente, preferindo
colocar a culpa da DCC sobre o que eles chamam de PPB – piss-poor beekeeping
(apicultura de má qualidade), uma falha dos apicultores em manter suas colônias
altamente saudáveis. Porém, enquanto nem todo grande apicultor sofreu com uma
perda catastrófica, o fracasso das colônias vem sendo propagado por tempo o
suficiente que parece ser perverso culpar as vítimas humanas. “Eu venho criando
abelhas por décadas,“ diz Doan. “Não é como se eu subitamente tivesse esquecido
como fazer isso em 2006.”
Há também o simples
fato de que os apicultores vivem em um país que está se tornando inabitável
para as abelhas melíferas. Para sobreviver, as abelhas precisam forragear, ou
seja, visitar flores e espaços selvagens. Nosso sistema agrícola
industrializado conspirou contra isso, transformando a zona rural do país em
vasto cinturões de monoculturas – campos mecanizados de soja e milho que são
como um deserto para as abelhas famintas por pólen e néctar. De acordo com o
Conservation Reserve Program (CRP), o governo aluga terras dos fazendeiros e as
deixam de lado, fora da produção a fim de conservar o solo e preservar a vida
selvagem. Todavia, o preço das commodities como o milho e a soja disparou, os
agricultores descobriram que poderiam fazer mais dinheiro plantando
mesmo que em uma zona periférica do que alugando a terra para o CRP. Nesse ano,
apenas 10,2 milhões de hectares serão destinados ao CRP, menos um terço do pico
de 2007, e a menor área desde 1988.
Primavera
Solitária
Para todos os
inimigos que estão se juntando contra as abelhas, um apocalipse das abelhas
ainda não está perto de nós. Mesmo com as altas taxas de perdas anualmente, o
número de colônias de abelhas melíferas geridas nos EUA permaneceu estável
durante os últimos 15 anos, em cerca de 2,5 milhões. Ainda é significativamente
menor do que as 5,8 milhões de colônias que mantínhamos em 1946, mas essa
diferença tem mais a ver com a competição do mel importado mais barato e com o
despovoamento geral das zonas rurais nos EUA nos últimos 50 anos. O número de
agricultores nos EUA caiu de um pico de 6,8 milhões em 1935 para apenas 2,2
milhões atualmente, mesmo com o aumento disparado da produção de alimentos.
As abelhas melíferas
possuem uma habilidade notável de se regenerar, e ano após ano, os apicultores
que sobraram vem sendo capaz de restabelecer seus estoques após tristes perdas.
Mas o fardo carregado pelos apicultores está se tornando insustentável. Desde
2006, um número estimado de 10 milhões de colmeias vem sendo perdidas, um custo
de US$ 2 bilhões. “Nós podemos repor as abelhas, mas não podemos repor
apicultores com 40 anos de experiência,” diz Tim Tucker, o vice-presidente da
Federação Americana de Apicultura.
Mesmo tão valiosas
quanto são as abelhas, o sistema alimentício não colapsaria sem elas. A coluna
vertebral da dieta mundial – grãos como o milho, trigo e arroz – são
polinizadas por si só. Porém, nossos pratos seriam muito menos coloridos, sem
mencionar que muito menos nutritivos, e sem mirtilo, cereja, melão, alface e
várias outras plantas que seriam desafiadas a crescer comercialmente sem a
polinização das abelhas. Poderia haver substitutos. No sudeste da China, onde
abelhas selvagens morreram graças ao uso em massa de pesticidas, os
agricultores, trabalhosamente, polinizam manualmente árvores de pera e maçã com
pincéis. Cientistas de Harvard estão experimentando minúsculas abelhas-robô que
podem um dia ser capazes de polinizar autonomamente.
De qualquer forma,
nos dias atuais nenhuma solução é tecnicamente ou economicamente viável. O
governo poderia fazer sua parte implantando regulamentações mais rigorosas
sobre o uso de todos os pesticidas, especialmente durante a temporada de
plantio. Há necessidades que precisam ser mais apoiadas pelo CRP também para
acabar com as monoculturas que estão sufocando as abelhas. Uma maneira que
todos nós podemos ajudar é plantando flores amigáveis às abelhas em nossos
jardins e mantendo-as livre de pesticidas. O país, segundo Dennis van
Engelsdorp, um cientista da Universidade de Maryland que estuda sobre a DCC
desde a primeira emergência, está sofrendo de uma “desordem de déficit natural”
– e as abelhas estão pagando o preço.
A realidade é que,
salvo uma grande mudança no rumo em que os EUA produzem alimentos, a pressão
sobre as abelhas não retrocederá. Há mais de 1.200 pesticidas atualmente
registrados para uso nos EUA; ninguém finge que esse número se tornará menor.
Ao invés disso, as abelhas e várias outras pragas deverão se alterar para se
adequarem ao sistema agrícola existente.
A Monsanto está
trabalhando em uma tecnologia de interferência de RNA que pode matar o ácaro
Varroa através da desregulação do modo em que seus genes são expressados. O
resultado seria um mecanismo auto-destruidor para espécies específicas – uma
alternativa muito melhor do que os acaricidas tóxicos e muitas vezes
ineficientes que os apicultores foram forçados a usar.
Enquanto isso, os
pesquisadores da Universidade Estadual de Washington estão desenvolvendo o que
será provavelmente o menor banco de esperma do mundo – um armazém do genoma de
abelhas que serão usados para a obtenção de uma linhagem de abelha mais
resistente a partir de 28 subespécies reconhecidas do inseto ao redor do mundo.
Até agora, os
apicultores comerciais se ajustaram às ameaças que pesam mais sob seus
encargos, gastando mais para fornecer alimentação suplementar para as suas
colônias. A alimentação suplementar aumenta os custos, e alguns cientistas
preocupam-se que a substituição do mel pelo açúcar ou xarope de milho possa
tornar as abelhas menos capazes de combater as infecções. Porém, apicultores
que vivem à deriva em um terreno vazio de nutrientes têm poucas escolhas. O
negócio da apicultura pode muito bem começar a assemelhar-se a indústria de
agricultura industrial que trabalha em conjunto: menos apicultores tocando
operações maiores que produzem rendimentos o suficiente para arcar com os
equipamentos e tecnologias necessárias para estar à frente de um ambiente cada vez
mais hostil. “As abelhas podem terminar sendo manejadas como o gado, suínos e
frangos, onde nós as colocamos em um confinamento e trazemos comida até elas”,
diz Oliver, o apicultor e pesquisador independente. “Você pode fazer um pasto
apícola.”
Isso é algo que
ninguém do mundo da apicultura quer ver. Mas pode ser a única maneira de manter
as abelhas melíferas. Tão longo enquanto houver amêndoas, maçãs, damascos e
várias outras frutas e hortaliças que precisam de polinização – e agricultores
dispostos a pagar pelo serviço – os apicultores encontrarão um jeito.
Então, se as abelhas
melíferas sobreviverem, provavelmente não se assemelhará com o que nós
compreendemos há séculos. Todavia, poderia ser pior. Para toda a recente
atenção voltada sobre as abelhas melíferas comerciais, as abelhas selvagens
estão em situação muito pior. Em junho, após a pulverização de inseticidas por
uma empresa de paisagismo em árvores, 50.000 abelhas nativas em Oregon foram
mortas – o maior envenenamento em massa desse tipo já registrado. Ao contrário
das abelhas melíferas, as abelhas nativas não possuem cuidadores humanos.
Mundialmente, mais
de 100.000 espécies de animais morrem por ano – quase todos eles sem alarde e
aviso. Isso é o que acontece quando uma espécie – que poderia ser a nossa – se
torna tão propagada e tão dominante que se amontoa sobre quase todas as coisas.
Não será a segunda
primavera silenciosa que amanhece; nós ainda teremos o zumbido dos pastos de
abelhas em nossos ouvidos. Porém, os humanos e o punhado de nossas espécies
preferidas poderão achar que todas as estações se tornaram igualmente
abandonadas.
Nota da AENDA:
Traduzido da revista TIME de 19ago2013
Na edição de 19/ago/2013 a revista TIME publicou uma reportagem sobre o chamado Colony-Collapse Disorder – CCD (Desordem do Colapso das Colônias – DCC) que vem ocorrendo com as abelhas nos Estados Unidos.
A reportagem aborda além dos enormes prejuízos causados por esse fenômeno, as possíveis causas:
-- Inseticidas (neonicotinoides ou outros)
-- Ácaro Varroa destructor
-- Bactéria do American foulbrood (Bacillus larvae)
-- Besouro das colmeias (Aethina túmida)
-- Fungo Nosema ceranae
-- Vírus iridescente de invertebrados
Apesar da Europa ter decidido suspender (a partir de dez/2012) os neonicotinoides por 2 anos, as autoridades americanas não tomaram nenhuma atitude, justamente por não terem certeza da causa.
Na Austrália e no Brasil há relatos de acidentes e trabalhos acadêmicos sobre a possível correlação de determinadas causas com esses acidentes. A produção de mel continua normal e, portanto, o fenômeno da DCC, se existe, é numa escala que não está afetando a agricultura ou a apicultura. A reavaliação que o IBAMA está procedendo para alguns inseticidas é mais de cunho preventivo.
Atenciosamente,
Tulio Teixeira de Oliveira
Diretor Executivo
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