Rogério
Arioli Silva *
A
bula do produto ao lado mencionado o recomenda para constipações e
repleção gastrointestinal nos bovinos, equinos, ovinos, caprinos,
suínos e cães. O Google, atual “pai dos burros”, agora
informatizados, ensina que constipação, intestinalmente falando,
nada mais é do que prisão de ventre. Repleção gastrointestinal,
por sua vez, é o conhecido empanzinamento ou timpanismo, ou ainda,
uma distensão do rúmen bovino devido à incapacidade do animal
expulsar os gases produzidos na fermentação dos alimentos. Feitas
essas considerações veterinárias passo a defender, ardorosamente,
a utilização desse produto para certo tipo de seres humanos.
Ao
assistir na semana passada um programa televisivo onde foi promovido
o debate sobre a situação do pré-sal, suas consequências e
desdobramentos ao futuro do país, tive a certeza de que aqueles os
quais ainda defendem o bônus político dessa descoberta devem ser
tratados com o dito purgante. Explico: É oportunista e demagógica a
postura marquetizada de que o Brasil será transformado a partir da
descoberta do petróleo no pré-sal. Segue em curso uma discussão
eleitoreira sobre a aplicação de lucros que, é bom que se diga,
ainda são virtuais, para essa riqueza adormecida nas profundezas da
costa brasileira.
O
ufanismo sempre fez parte do ideário brasileiro. Passando pela
brasilidade do Deus até o gigantismo pela própria natureza, nem
sempre essa mania de grandeza trouxe bons frutos ao país. Ainda mais
quando incentivada pelos próprios governos que, cada um a seu modo,
pela mediocridade dos seus feitos, apelam para esse pseudo “destino
manifesto” tropical. Nesse roteiro, comédia e drama se alternam e,
como dependentes químicos, passamos da euforia à depressão como
num passe de mágica, queimando neurônios que farão falta num
futuro próximo.
O debate ao qual me refiro teve, de um lado, a abordagem técnica dos
altos custos envolvidos na retirada do petróleo em águas profundas
e, do outro, aquele viés nacionaloide que caracterizou (e ainda o
faz) os governos populistas da América Latina. A palavra
“estratégica” apareceu tantas vezes que já nem se conseguia
mais diferenciar qual o seu verdadeiro significado: a representação
de uma importância que transcende o aspecto econômico ou um
conceito abstrato infame, travestido de inconfessável dividendo
político.
Aos
leigos, categoria na qual me incluo sem nenhum tipo de preconceito,
pareceu que a riqueza do pré-sal pode ser maior ou menor dependendo
de como se consolidarem, no futuro, as novas opções de energia
pesquisadas atualmente. O gás de xisto norte-americano pode ser um
divisor de águas importante, assim como a energia eólica, solar e
nuclear para as quais a Europa está se voltando. Também o biodiesel
e o etanol, embora dependentes da disponibilidade de extensões
territoriais, por certo resultarão numa menor demanda por
combustíveis fósseis. Ao saber que o petróleo a ser extraído no
pré-sal somente terá viabilidade econômica com a cotação do
barril acima de U$ 80,00 não existe ainda a garantia de grandes
lucros a quem o explorar. Dependerá do barateamento das tecnologias
geradas para sua extração a viabilidade do negócio. Daí o excesso
de otimismo mostrar-se contraproducente.
Apesar
da minha assumida laicidade (qualidade do que é leigo) aprendi que o
timpanismo também ataca os seres humanos. O abdômen inchado nem
sempre é sinal de sobrepeso, mas também pode ser característica de
quem engole ar, além de outras coisas é claro. Nesse caso, para
aqueles que não conseguem se livrar do excesso de arrogância e
sempre vinculam fatos positivos a essa ou aquela vertente política,
é perfeitamente indicado o purgante salino. O que não é nem um
pouco recomendável, pelo bem da salubridade, é permanecer ao lado
desses cujos, no momento em que o expurgo estomacal vier a
consolidar-se.
De
todo modo, em não havendo viabilidade econômica no petróleo de
águas profundas, certamente haverá abundância de sal, o que, por
si só, já é uma riqueza considerável. Talvez não seja suficiente
para curar todas as mazelas brasileiras alçando-nos ao clube dos
ricos como alguns querem fazer crer, mas certamente promoverá, na
sua associação ao purgante, uma desobstrução intestinal fabulosa
capaz de conferir leveza aos pensamentos arrogantes de muita gente.
*
o autor é Engº Agrº e Produtor Rural no MT
.
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