Admitamos,
o Brasil é o país da hipocrisia. É, mas sempre foi assim. E sempre
nos perdoamos.
Já
tivemos um presidente eleito cujo símbolo publicitário era uma
vassoura, para varrer a corrupção.
Já
ouvimos defesa viral publicitária de outro político, que pedia
votos aos eleitores, explicando que "rouba, mas faz". Gerou
filhotes este mote...
Já
tivemos político eleito presidente com promessa de acabar com os
marajás, ele próprio um marajá que foi depois devidamente
impilchado do poder.
Até
hoje ouvimos nas TVs e lemos nos jornais que houve uma "revolução"
neste país em 1964, como eufemismo para o golpe civil-militar que
durou 21 anos, e a mídia hipocritamente diz que foi uma
"ditabranda".
Admitamos,
o Brasil ama o "me engana que eu gosto". Prostituta tem
orgasmos, e traficante é dependente.
Neste
país, um de nossos heróis mais cultuados é Macunaíma, mau caráter
típico, e confesso.
No
judiciário, juízes condenam sem provas, porque a literatura assim o
permite.
Outro
juiz prende uma agente de trânsito, que o flagrou em delito, acusa a
agente de desacato, e um segundo juiz condena a agente a pagar multa
a título de indenização moral.
Juízes
do STF condenam acusados, sem provas, por "domínio do fato",
pois "tinham de saber".
Neste
país, um ex-condenado por corrupção, liberto de pena porque
atenuada por delação, agora de novo preso por reincidência, faz
"delação premiada" ao mesmo juiz de antes, e sua palavra
vale mais do que a de cidadãos livres.
Neste
país, campeão internacional da hipocrisia, um juiz federal escreve
artigo em jornais preconizando ação de flagrante
inconstitucionalidade, para prender "suspeitos", antes
mesmo de provar a culpabilidade. Não existe mais, conforme a opinião
do juiz, "presunção da inocência". Coitada da
Constituição!
Neste
país, as leis são para todos, menos para aqueles que não são
iguais.
Neste
país, juiz do STF pede "vista" num processo já
parcialmente votado e decidido, em placar parcial de 6 votos a favor
da inconstitucionalidade, e 1 contra, uma ADIN (Ação Direta de
Inconstitucionalidade) para acabar com doações de empresas
corruptas a partidos políticos corruptos, mas o ministro, depois de
1 ano, nem tchum para a corrupção, ou seja, não vota, não
fala nada, esquece que seu voto, diante do placar existente, é
moral. Como ele é contra, e é voto perdido, espera que o Congresso
tome uma decisão por ele.
Agora, a mais nova hipocrisia institucional brasileira: o ministro
Gilmar Mendes, um ex-presidente do STF, é o autor. Travou a votação da ADIN com seu pedido de "vista". Faz mais de doze meses...
Devolve a ADIN, ministro Gilmar, e vote como quiser, aí a gente vai saber se
de fato o seu voto é para acabar com a corrupção, ou se é para
continuar, oficializando a corrupção e a hipocrisia, para que todos nós nos
locupletemos.
Sai
do armário, ministro Gilmar, hipocrisia explícita, não!
.
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