domingo, 12 de abril de 2015

De olho no óleo



Janio de Freitas *
Há 60 anos, ‘O Petróleo é Nosso’ foi mais do que uma campanha, foi uma batalha. Olha aí o século 20 de volta

A pressão para que seja retirada da Petrobras a exclusividade como operadora dos poços no pré-sal começa a aumentar e, em breve, deverá ser muito forte. Interesses estrangeiros e brasileiros convergem nesse sentido, excitados pela simultânea comprovação de êxito na exploração do pré-sal e enfraquecimento da empresa, com perda de força política e de apoio público. Mas o objetivo final da ofensiva é que a Petrobras deixe de ter participação societária (mínima de 30%) nas concessionárias dos poços por ela operados.

Como o repórter Pedro Soares já relatou na Folha, a Petrobras está extraindo muito mais do que os 15 mil barris diários por poço, previstos nos estudos de 2010. A média da produção diária é de 25 mil barris em cada um dos 17 poços nos campos Lula e Sapinhoá, na Bacia de Santos (de São Paulo ao Espírito Santos). Perto de 70% mais.

Não é à toa que, se a Petrobras perde a confiança de brasileiros, ganha a da China, que a meio da semana concedeu-lhe US$ 3,5 bilhões em empréstimo com as estimulantes condições do seu Banco de Desenvolvimento.

O senador José Serra já apresentou um projeto para retirada da exclusividade operativa da Petrobras nos poços. Justifica-o como meio de apressar a recuperação da empresa e de aumentar a produção de petróleo do pré-sal, que, a seu ver, a estatal não tem condições de fazer: “Se a exploração ficar dependente da Petrobras, não avançará”.

A justificativa não se entende bem com a realidade comprovada. Mas Serra invoca ainda a queda do preço internacional do petróleo como fator dificultante para os custos e investimentos necessários às operações e ao aumento da produção pela Petrobras. Mesmo como defensor do fim da exclusividade, Jorge Camargo, ex-diretor da estatal e presidente do privado Instituto Brasileiro do Petróleo, disse a Pedro Soares que “a queda do [preço do] petróleo também ajuda a reduzir o custo dos investimentos no setor, pois os preços de serviços e equipamentos seguem a cotação do óleo”. E aquele aumento da produtividade em quase 70% resulta na redução do custo, para a empresa, de cada barril extraído.

O tema pré-sal suscita mais do que aparenta. As condições que reservaram para a Petrobras posições privilegiadas não vieram só das fórmulas de técnicos. Militares identificaram no pré-sal fatores estratégicos a serem guarnecidos por limitações na concessão das jazidas e no domínio de sua exploração. A concepção de plena autoridade sobre o pré-sal levou, inclusive, ao caríssimo projeto da base que a Marinha constrói em Itaguaí e à compra/construção do submarino nuclear e outros.

Há 60 anos e alguns mais, “O Petróleo é Nosso” foi mais do que uma campanha, foi uma batalha. Olha aí o século 20 de volta.

* Jornalista, colunista da Folha de São Paulo.

Publicado na FSP: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/214736-de-olho-no-oleo.shtml
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11 comentários:

  1. Sempre é bom lembrar que a Petrobrás, presidida pelo general Ernesto Geisel no início da década de 1970, quebrou o Brasil, ao se recusar a acreditar na alta eminente do preço do barril de petróleo.

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    1. Viacava, aquele foi um erro mercadológico, agora seria político, e tiraria qualquer chance futura de evolução do Brasil, pois ficaríamos dependentes das multinacionais. A Vale já se foi, já privatizou-se as telecomunicações (pagamos a mais cara taxas do mundo, para serviços ruins), privatizou-se a energia elétrica (também a mais cara, e pode faltar), vendeu-se a Sabesp, e tá faltando água... É isso que os brasileiros querem?

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  2. Carlos Jorge Rossetto12 de abril de 2015 às 11:02

    Richard
    parabéns mais uma vez. Conte comigo para apoiar seu blog.
    Carlos Jorge Rossetto

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  3. O petróleo nunca foi meu, a PET nunca foi minha, nem mesmo quando tive meia dúzia de PNs.

    Sou contra a flexibilização de contratos e assemelhados.

    Sou, simplesmente, a favor da privatização total desse monstrengo e de muitos outros.

    A PET é somente de sua própria burocracia e dos políticos e burocratas de plantão nos governos da União.

    Infelizmente, esse órgão do governo nunca será privatizado, ao menos no meu tempo de vida.
    E nós, os brasileiros, continuaremos a sustentar tudo isso.
    Desgraçadamente.

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    1. Emerson, sei, sei, vc prefere sustentar as multinacionais... Prefere o BNDEs financiando a venda, o Brasil recebe com moedas podres de valor facial 100% corrigidas, e ninguém vê o dinheiro, só quem vendeu as moedas podres... É por causa desses raciocínios que o Brasil vive aos solavancos...

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  4. Náo sei de nada disso, Richard. Sei que, apesar de vários pesares, só vim a ter o meu primeiro telefone depois da privatização.

    Com relação ao que você falou na resposta ao Viacava: "pagamos a mais cara taxas do mundo, para serviços ruins" - concordo plenamente. Bote aí a tv paga também. Sabe o que há em comum entre esses serviços? A mais alta taxação tributária do planeta! Pago R$ 159,00 mensais para a Sky e desse valor R$ 78,86 são tributos. Buenas, aí não tem jeito, né?

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    1. Emerson,
      nas contas de luz, água, TV a cabo, internet, telefone e gás, em S.Paulo, o ICMS (imposto estadual, né?) não é 25%, mas de 33% - é só fazer as contas do consumo.

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  5. Hélio Casale, S.Paulo12 de abril de 2015 às 18:11

    Boa tarde Richard.
    Se a Petrobrás é uma empresa maravilhosa que consegue extrair mais de 25.000 barris de petróleo do pré sal por que o preço da gasolina e derivados tem de ser tão caros no Brasil?
    Dizer que o Gal. Geisel quebrou o Brasil é o mesmo que dizer que o faxineiro quebrou o Banco de Boston. Mesmo não sendo o mais inteligente dos generais não teve poderes para tanto. Se os petralhas não estão conseguindo quebrá-lo imagine um general.
    Bom domingo e aguardemos pelo melhor, ou seja, todos os participantes das maracutaias, roubalheiras, presos em cadeia comum feitas especialmente para eles no meio do que resta da floresta Amazônica.
    Abraço.
    Casale

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    1. Casale, estamos beirando os 2 milhões de barris/dia, e o pré-sal já produz mais de 45 mil barris/dia. Nossa gasolina só é mais cara que a dos países produtores (Venezuela, países árabes e EUA), e é bem mais barata que na Europa.
      Agora, quem disse que o Geisel, quando presidiu a Petrobras, quebrou o país, foi o Viacava (e eu concordo com ele!), e olha que o Viacava foi ministro interino da Fazenda no governo do Figueiredo, logo após o governo do Geisel, portanto, deve saber das coisas, pois esse tipo de notícia não saia nos jornais durante a ditadura, nem as denúncias de corrupção...
      Vender a Petrobras, porque tinha meia dúzia de corruptos por lá, mas que já estão presos, é a mesma desculpa do marido traído que flagrou a mulher com outro no sofá da sala: vendeu o sofá...

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  6. Richard
    Nao creio que ninguem que seja presidente de um conselho de uma empresa como a Petrobras ou similar possa nao saber de desvios da ordem de centenas de milhoes de USD com implicacoes nos bilhoes, portanto na cadeia de comando ou ha' mentira ou incompetencia ou ambos... Se olharmos para a posicao internacional do pais e vermos o quanto esta' por fazer ao inves de ficar dando tapa nos proprios ombros ou jogando ovo na cara de politicos notaremos que existem varias coisas fundamentais faltando. A elite e' subdesenvolvida e mal informada do ponto de vista de acesso a tecnologias e informacoes mercadologicas internacionais. Boa parte do diagnostico da atual crise podemos dizer que seja devida 'a incompetencia de presidentes (plural - politicos ou em estatais) que se esqueceram do povo brasileiro e das oportunidades internacionais enquanto contemplavam as suas visoes limitadas e as trocas de favores. Ja' se discute isso ha' decadas mas relativamente pouco foi feito. A farra da administracao de grandes empresas no Brasil tais como Petrobras, Eletrobras, Furnas, BNDES, Correios, CEF, Banco do Brasil e tantas outras, deveria ser eliminada com a contratação de gestores profissionais, efetuada de maneira transparente e a cargo de quem sabe fazer isso e nao por nomeacao politica como hoje. Nas atuais taxas cambiais, o novo presidente da Petrobras recebe menos que um jornalista de jornalzinho de bairro em Londres e nao vem nem de background inovador (imagine o BB com sua mentalidade tupiniquim...) nem vai sacudir o barco quanto 'a inovacao nacional ou internacional... Se a empresa e' de energia e se o mercado e tecnologias sao mundiais, a mentalidade deve ser de lideranca mundial tecnologica e mercadologica. Ao inves de reclamarmos que outros querem o "nosso" petroleo, devemos ir atras do "deles" tambem, exportar brasileiros, tecnologia e parcerias. Isso aplica-se para varias das empresas citadas e seus produtos e mercados, mudando a perspectiva de insercao do Brasil no mercado de inovacao e servicos mundiais. Enquanto isso não for feito vamos continuar a pagar a conta dos desmandos de politicos inescrupulosos, corruptos e incompetentes seja a que nivel for ou quem vier a cair de paraquedas nas posicoes chave de tais empresas... So' vai mudar com educacao e tempo mas e' preciso uma mudanca de perspectiva primeiro.
    SDS Gerson Machado

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  7. Gerson,
    a Petrobras tem 140 mil funcionários. O presidente executivo não sabe tudo do que acontece embaixo dos seus subalternos, quanto mais um presidente do Conselho, até porque vc não sabe tudo o que acontece na sua casa com seus filhos, ou na sua família...
    Vale lembrar que os diretores corruptos que hoje estão presos foram demitidos em 2012, e só em 2013 a Polícia Federal começou a concluir as investigações, mas isso a mídia interesseira não divulga.
    Querem privatizar a Petrobras? Não tenha dúvidas, especialmente o pré-sal, que dentro de 8 anos deverá estar produzindo 4 milhões de barris por dia... Talvez por isso o George Soros tenha comprado tantas ações da Petrobras quando os preços baixaram. Nós, no Brasil, ficamos abanando o rabo, tais como vira-latas típico tupiniquim...

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