Richard Jakubaszko
Anos 1980 e 1990, um mínimo de 3 vezes por semana, as vezes 4, minha mulher e eu dávamos uma passadinha na locadora, invariavelmente à noite, depois do trabalho, nos primeiros anos para alugar os vídeos K7, depois DVDs. Em alguns meses do ano, de poucos lançamentos, tornava-se quase uma tortura descobrir um filme (novo ou antigo) inédito para nós. Era uma garimpagem, dava muito trabalho.
Em alguns momentos, descobríamos uma seção nova, como forami a de Óperas ou Documentários, e em poucas semanas a gente já tinha visto quase tudo. Em alguns fins de semana chegávamos a levar 6 ou 7 fitas. Era chato rebobinar as fitas, mas a gente suportava. Devolver as fitas em dia era outra obrigação, caso contrário corria outra diária, mas a alegria de trazer para casa novos filmes superava tudo, até mesmo o trabalho de pegar o carro para ir até a locadora na avenida Paulista, e nova peregrinação pelas prateleiras...
Fechou as portas, neste domingo, a 2001 e os jovens de hoje não têm a mínima ideia do que foi a existência dessa locadora, que chegou a ter muitas filiais espalhadas por São Paulo inteira, com milhares de títulos em sua gigantesa videoteca, de filmes novos e especialmente os clássicos. Algumas lojas eu e minha mulher também visitamos para retirar filmes que estavam indisponíveis na Paulista, pois todos alugados, e não desejávamos esperar tanto tempo para assistir o novo filme.
Do início da loja, que começou lá nos anos 1980 pertinhoo do MASP, e depois se mudou para uma área maior, em frente ao Clube Homs, houve uma evolução. A loja nova tinha até lanchonete, café, drinques, iniciaram-se amizades, e muita conversa jogada fora, troca de ideias e sugestões sobre filmes, histórias mil, ouvidas e contadas, enfim, um hábito e uma tradição que a partir de agora foi interrompida pelo “progresso” da sociedade.
A 2001, como toda locadora, enfrentou barras pesadas como impedimentos e dificuldades: primeiro, havia um intervalo, que parecia uma eternidade, entre o lançamento do filme no cinema e a chegada à locadora. Depois vieram os DVDs e Blu-Ray, aí aliviou a rebobinagem... A fé e a tradição, a alegria de ir até a 2001 era compensada pela volta e a expectativa de assistir lançamentos ou rever antigos filmes, vistos antes no cinema, muitos anos antes, foi assim até mesmo com "2001, uma odisseia no espaço", que deu nome à loja.
Hoje a 2001 fecha, e deixa só boas lembranças. A TV a cabo e a pirataria de DVDs, desde os anos 1990, e agora com novidades de filmes on demand, mais a Netflix, ajudaram a por uma pá de cal na atividade, pois a maoria das locadoras fechou antes da 2001. Não adiantou implantar o serviço do delivery, pois a nova geração de clientes não tinha absorvido o sabor de "viajar" até a loja da 2001. Os hábitos haviam mudado.
O acervo histórico da 2001 está sendo vendido. A informação que tive é de que existem poucos títulos disponíveis, sejam filmes clássicos ou mesmo dos novos. Em casa temos hoje muitas fitas e DVDs de filmes novos e antigos. De hoje em diante, novos exemplares da coleção serão somente os piratas.
Agora, os saudosistas vão passear como zumbis pela avenida Paulista, até que, um dia, quem sabe, vão esquecer, lembrarão ocasionalmente de contar aos filho pequenos, depois netos, quando por ali passarem, que lá havia uma locadora de vídeos K7 (O que é vídeo K7, vovô? Ai, ai, ai...).
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