sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Menor consumo de carne pode piorar o aquecimento global

Ciro Antonio Rosolem *
Boa parte das emissões de gases de efeito estufa tem sido atribuída à pecuária.

Na verdade os números chegam a 15% das emissões totais. Há gente que diz que a pecuária estaria emitindo mais que carros, caminhões e ônibus. Na verdade os dados são baseados em estimativas pontuais, sem levar em conta todo o processo produtivo. Por exemplo, se contabiliza quanto o boi emite, mas não se considera que o boi come capim que fixa carbono. E fixa bastante. Há muitos estudos demonstrando que simplesmente a melhoria da produtividade das pastagens tropicais resulta em maiores estoques de carbono no solo. Uma pastagem melhorada remove aproximadamente 1 tonelada de carbono da atmosfera por hectare por ano, quando comparada a uma pastagem degradada.

Muito bem, pastagem melhorada sequestra carbono, pastagem degradada emite carbono. Isso não é novo.

O que é novo está em um trabalho publicado na revista Nature Climate Change, em janeiro deste ano, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, junto com pessoal da Embrapa. É o trabalho de tese de Rafael de Oliveira Filho. A equipe desenvolveu um modelo matemático muito complexo, que leva em conta todas as emissões de carbono geradas na produção pecuária, mas também contabilizou o carbono sequestrado pelas pastagens que fica no solo. A conclusão foi que, se a demanda por carne bovina aumentar, haverá diminuição da emissão de carbono pela pecuária, desde que o desmatamento seja controlado. Ao contrário, se a demanda, e a produção diminuírem, as emissões serão aumentadas.

A explicação é a seguinte: maior demanda por carne vermelha resultaria em incentivo para aumento da produção e melhoria das pastagens. Pasto melhorado, carbono fixado. Grama bem tratada tem raízes mais fortes e profundas, colocam o carbono lá embaixo. Foi estimado que um aumento de 30% na demanda de carne até 2030 poderia reduzir em 10% as emissões de carbono pela atividade. Mesmo com mais cabeças de gado emitindo gases, a absorção pela pastagem seria maior, mais que compensando esse aumento. Haveria menor emissão tanto por quilo de carne produzida como total. Por outro lado, menor demanda por carne significaria rebanhos menores que precisariam de menos pasto. Demanda menor, preços mais baixos. Isso reduziria a capacidade de investimento dos produtores, assim como o incentivo para manter pastos produtivos. Os pastos se degradariam, o solo perderia matéria orgânica, gerando maior emissão de carbono para a atmosfera.

O trabalho indica ainda que a restauração de pastagens degradadas se constitui na maior oportunidade para atingir as metas traçadas no plano nacional de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. A restauração de 15 milhões de hectares de pastos degradados até 2020, como planejado, se constituiria numa contribuição equivalente a 40% das reduções propostas até 2020.

Os vegetarianos, veganos e que tais que me desculpem, mas um bom churrasco pode diminuir o aquecimento global. É o tal do churrasco ecológico. Tem notícia melhor?
 
* o autor é vice-presidente de Estudos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).


COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Professor Rosolem, vou concordando com algumas opiniões suas e discordando de outras, inclusive do Rafael de Oliveira Filho na revista Nature Climate Change, mesmo sem ter lido o artigo, mas tomando por base sua sinopse conclusiva. Bastaria uma leitura de meu mais recente livro, o "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?" (DBO Editores, 2015 - 288 pgs), para entender as discordâncias, mas que, a título de contribuição, resumo a seguir, pois as ciências não esclarecem, e a mídia mistifica o assunto conforme o interesse pessoal dos meus colegas jornalistas nesta controversa questão do ambientalismo:
1º - não existe aquecimento; já as mudanças climáticas sempre existiram, elas são lentas, demoram décadas; o que temos aceleradas são mudanças climáticas regionais/locais, especialmente em grandes conglomerados urbanos, cheios de asfalto, concreto e vidro, sem vegetação para evapotranspiração;
2 - os gases de efeito estufa (GEE) são uma mentira de interesse econômico e político, para demonizar o CO2, o metano e outros, quando sabemos que a água é um "gás" de efeito estufa  cerca de 6 vezes mais potente do que o CO2;
3 - é mentira mal calculada - intencionalmente - de que o metano precise ser multiplicado por 23 para atingir o status de CO2 equivalente. Isto vale, provavelmente, para a flatulência de bovinos confinados, enquanto o gado criado a pasto emite metano "orgânico", mais facilmente absorvido pela natureza;
4 - árvores, raízes, celulose em geral, a sua mesa em seu escritório, é "CO2 estocado" pela natureza, e somente se transforma em dióxido de carbono se forem queimados;
5 - CO2 ou os demais GEE não provocam aquecimento. Diversos cientistas já comprovaram que a concentração de CO2 aumenta depois que a média das temperaturas aumentam, e não o contrário. Portanto, CO2 em crescimento na atmosfera é consequência, e não causa. Muito menos o CO2 pode ser acusado de provocar "mudanças climáticas", aí é uma piada científica de mau gosto;
6 - um vulcão como o Etna, na Itália de seus ascendentes, emite de GEE, entre CO2, metano, enxofre e outros, durante duas semanas de atividades, o equivalente a emissão de metano de nossos 200 milhões de ruminantes por um ano inteiro.
7 - a natureza emite 97% de todas as emissões de GEE, e as atividades antropogênicas respondem por apenas 3%, incluso nisso as flatulências de nossas vacas, os nossos arrozais irrigados (os asiáticos também...), os nossos veículos de transporte individuais e coletivos, nossas indústrias, e nossos churrasquinhos de fim de semana. Eu diria, adicionalmente, que essas imbecilidades ditas pelos ambientalistas sobre os GEE emitem, por si só, mais GEE do que as negociatas de créditos de carbono.
8 - os ambientalistas que foram a Paris para a COP21 não foram comer churrasco na cidade luz. Consideram-se abençoadas pelo Papa Francisco, mas não saiu "acordo" (ainda), o que pode vir a acontecer a qualquer momento;
9 - se sair o "acordo", alguém terá de administrar essa bagunça mundo afora. Pois eles já têm pronta a solução: vão criar uma Agência Internacional Ambiental, cujas regras serão feitas por eles mesmos, e as críticas que já existiam serão exacerbadas, ou seja, a coisa vai piorar muito.
10 - como nós não cuidamos da Amazônia como eles queriam, vão criar um "corredor ecológico", de 4.500 km, de Leste a Oeste, a ser transformado em área internacional. Brasileiro, pra entrar ou sair de lá, só com passaporte. Na sequência, como algumas queimadas vão continuar acontecendo (pois 50% delas são acidentais, provocadas pela própria natureza, segundo o insuspeitado Imazon), e os causadores das queimadas, e seus beneficiados, são o boi e os pecuaristas, não se surpreenda se eles nos proibirem de exportar carne...
11 - os cientistas precisam desmentir essa falácia aquecimentista, propagada por cientistas que estão a serviço de agendas políticas e econômicas inconfessáveis, como, por exemplo, nos vender usinas de energia nuclear, ou energias eólicas e solares, verdadeiras utopias urbanas e desideratos poéticos. Não precisamos disso, pois temos hidroelétricas, a fonte mais barata e confiável de energia elétrica. A propósito, leia neste blog, sobre "Os 3 maiores problemas da humanidade", artigo de minha autoria que é esclarecedor.
12 - peço aos cientistas reflexão sobre o assunto, e mais do que isso, sugiro debate, pois as pessoas comuns, a mídia e a ciência, estão indo em direção ao "pensamento único", caminho sem atalhos para ditaduras da pior espécie (será o Governo Mundial, que se está semeando?), porque a sociedade anda terceirizando suas ideias e opiniões.

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Um comentário:

  1. Caro Richard.
    Tenho acompanhado esporadicamente seu blog. Acho muito importante colocar suas posições.
    Realmente há toda uma discussão sobre aquecimento ou não aquecimento global. Há tempos, inclusive, escrevi um artigo sobre isso (em anexo). Particularmente, acho que pode até estar ocorrendo algum aquecimento, mas, fui convencido por diversos pesquisadores, de que, se houver de fato aquecimento, este não é antropogênico.
    Bom, o problema é que, como disse, existe toda uma ideologia envolvida. Meu artigo sobre o consumo de carne, mais ou menos que "traduzindo" e emendando um trabalho científico (em anexo), lógico que uso de licenças poéticas, trata de emissão e sequestro de carbono, e não de aquecimento global. O título foi mais uma provocação. Fico contente que provocou! Assim, não vejo a mínima discordância entre nossas posições. Em tempo, o nome do doutorando saiu errado: o correto é Rafael de Oliveira Silva. Assim, não trato no artigo de suposições, crenças, ideologias, posições políticas. Trato de ciência, pois este é nosso papel no Conselho Científico de Agricultura Sustentável. A revista Nature Climate Change é uma das mais importantes sobre o assunto e, para que publiquem um artigo, o mesmo deve passar pelo crivo de, pelos menos, quatro especialistas no assunto.
    Cordialmente
    Ciro A. Rosolem

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