quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O REI ESTÁ NU

Richard Jakubaszko
Como revelado na fábula, o rei está nu. E não se importa com isso.

Canalha! Canalha! Canalha! Falou em plenário da Câmara o então deputado federal Tancredo Neves em 1964. E o senador Roberto Requião lembrou as mesmas palavras ao plenário do atual Senado Federal, e nele estava o neto de Tancredo. Não ficou incomodado, fez que não era com ele também.

O Brasil da história contemporânea teve apenas 5 presidentes, os outros foram depostos por circunstâncias, inclusive golpes.

Nos 126 anos de República, o Brasil teve 36 governantes, mas apenas um terço deles (12) foi eleito democraticamente, além de encerrar o seu mandato, entregando a faixa presidencial. De 1926 até hoje, os últimos 90 anos, portanto, a conta é ainda mais perversa para a democracia: tivemos 25 presidentes, e apenas 5 foram eleitos pelo voto do povo em voto direto, e permaneceram na presidência até o fim: Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, FHC, Lula e Dilma (1º mandato).

Uma vergonha nacional.
Uma história de golpes militares, onde teve suicídio, renúncias forçadas, ou de golpes da elite, apoiados por interesses estrangeiros, como agora, e sempre com apoio midiático, enganando o povo brasileiro.
Definitivamente, o rei está nu.

Se o próprio TCU admite que não houve pedaladas, o que foi que o Senado julgou? Pois foi o Plano Safra, com equalização do Tesouro Federal? Ora, a equalização sempre houve, em todos os governos, em todas as safras. É assunto da alçada do Banco Central, e do Conselho Monetário Nacional. Trata-se da diferença entre o juro subsidiado ao agricultor e o valor da Taxa Selic, coberto pelo Tesouro, não para o agricultor, mas para os bancos.

Pelo visto, definitivamente, acabou o crédito rural subsidiado. Qual será o doido a assinar o próximo? Vão ter de mudar a norma do crédito rural...
Independentemente disso, ouçam Requião no vídeo abaixo, além de falar boas verdades o senador do PMDB/PR ainda leu a Carta de Getúlio ao povo brasileiro.
O rei já estava nu, então. E continua assim, o que manda é a hipocrisia.

Na sequência um vídeo com a brilhante defesa do advogado de Dilma Rousseff no Senado, José Eduardo Cardozo. Foi um ministro da Justiça por demais republicano, que aparentava fraquezas, e que deixou os inimigos agirem do jeito que agiram, mas é um advogado de mão cheia.
Mas o rei ainda está nu, a hipocrisia política é quem manda, conforme suas conveniências e interesses. 



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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Tem coca aí na geladeira...

Richard Jakubaszko
Sabe aquele Senado brasileiro sem moral para julgar a presente Dilma Rousseff? Veja no vídeo, e me diga de quem é a mãozinha do senador nervoso, tudo isto enquanto a presidente dava uma resposta a outro senador. Será que é um papilote de talco? O casaco do senador era azul escuro, e a camisa branca...

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sábado, 27 de agosto de 2016

A unanimidade continua burra

Richard Jakubaszko
Leio estupefato por aí na internet que a Câmara dos Deputados aprovou em plenário dia 12/7 último, por unanimidade, o projeto de decreto legislativo pelo qual o Brasil adere ao acordo do clima proposto na COP21, em Paris. A proposição agora vai ao Senado. Minha estupefação refere-se à aprovação unânime, pois já era esperada a chancela do legislativo.

O projeto tramitava em "regime de urgência" na Câmara, desde maio deste ano. Agora, se for aprovado pelos senadores, vai a sanção presidencial e pode virar lei no Brasil antes da COP22, a conferência do clima a ser realizada em Marrakesh, em novembro próximo.

Para entrar em vigor, em termos mundiais, o acordo precisa um mínimo de 55 ratificações, de países vinculados à ONU e que, juntos, somem 55% das emissões de gases de efeito estufa do mundo. Hoje, e até agora, apenas 19 países ratificaram esse acordo. No entanto, somam apenas 0,18% das emissões globais. Nesse quesito o Brasil toma a dianteira, e assume uma unanimidade burra na Câmara dos Deputados. Países como EUA, China, Rússia, Índia, entre outros, não devem assinar o tal acordo ambiental. A União Europeia ainda discute entre os países membros, e nenhum projeto chegou ao parlamento federativo deles, algo que ainda pode demorar mais uns 2 anos.

Os ambientalistas do IPCC querem ver o acordo do clima em vigor já em 2017, três anos antes do previsto. Depois disso, vão instalar a Agência Internacional Ambiental, que vai "administrar" os compromissos firmados, da mesma maneira que outras agências, por exemplo, a Agência Internacional de Energia Atômica. São organismos com poderes supranacionais, acima da nossa constituição, e que podem até mesmo autorizar intervenções militares nos países considerados em desacordo com as regras a serem criadas por eles.


Cada vez mais somos um cachorro vira-latas padrão "classe internacional", sempre atentos ao chamamento dos países desenvolvidos; aqui, o rabo abana o cachorro, tamanha a submissão aos interesses externos.

Conforme denuncio no livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão  nos enganando?", a aprovação do chamado "acordo ambiental", vai impor aos países signatários inúmeras restrições no campo das emissões dos malfadados "gases de efeito estufa" - GEE, e isso deve provocar, se as metas a que nos comprometemos não forem cumpridas, limitações na exportação de nossos produtos, agrícolas e industriais, como sanções econômicas, sociais e políticas, e que hoje conhecemos como "restrições alfandegárias".

Continuo estupefato com a unanimidade de nossa Câmara dos Deputados, onde nenhum deputado ousou questionar "as boas intenções" dos ambientalistas e suas ONGs. Nem mesmo a tal bancada da motosserra, a FPA - Frente Parlamentar da Agropecuária, que diz defender os interesses da agropecuária. Estão todos passivos, "verdes desde criancinhas", comportam-se como se soubessem o que estão fazendo. E que serão capazes e poderosos para submeter os ambientalistas a derrotas futuras, quando bem entenderem.

Desde já, com a aprovação desse virtual "acordo ambiental", o Brasil se dispõe a pré-reconhecer, no futuro breve, que, se não cumprir os compromissos de redução de emissões dos GEE, os países membros poderão nos impor sanções como proibição de exportar quaisquer de nossas commodities (carne, soja, açúcar, café etc.) a seu bel prazer, ou ainda nos tomar a soberania da Amazônia, aliás, projeto já existente, conforme já denunciei aqui neste blog.

Se você deseja conhecer mais informações a respeito, assista a entrevista que concedi ao programa Agro Papo, da AllTV. O vídeo tem 40 minutos de massacre a que um cético como eu pode suportar. Todas as dúvidas que você tem neste momento me foram colocadas pelo jornalista Ronaldo Luiz, num verdadeiro interrogatório da inquisição contemporânea. Se você ainda permanecer com dúvidas depois de assistir ao vídeo, poste um comentário, este é um blog de debates:


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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Rede Globo: O golpe se vê por aqui


Tatiana Carlott 
no site Carta Maior
Da manipulação ao ocultamento da informação, o Jornal Nacional (JN) resolveu partir para o escárnio na última semana. Do principal jornal do país, em pleno horário nobre, ouviu-se um silêncio “retumbante” frente às delações dos empresários da Odebrecht na Operação Lava Jato.

A delação de Marcelo Odebrecht, estampada no panfleto Veja, apontava R$ 10 milhões em propina, pagos pela construtora ao PMDB, em 2014, a pedido de Michel Temer, o presidente ilegítimo e interino. Na Folha, destaque para as denúncias de um repasse de R$ 34,5 milhões ao caixa dois da campanha de Serra, em 2010.

O timing foi olímpico. As notícias já se misturaram às manchetes sobre os jogos mundiais, de maior apelo entre a população, e desapareceram do noticiário. De qualquer forma, a exposição das delações, por veículos midiáticos nada ilibados, revela as rachaduras entre os golpistas. Em seu xadrez semanal, publicado site GGN, Luis Nassif aponta dois campos de forças do lado de lá:

“O poder mercado, composto pelo mercado propriamente dito, grandes grupos, a mídia e autoridades brasilienses, além do apoio constante dos Estados Unidos”. E “a camarilha dos 6 – Michel Temer, Eliseu Padilha, Geddel Viera Lima, Roberto Jucá, Moreira Franco e o finado Eduardo Cunha - que representa a maioria ocasional no parlamento”.

É neste contexto que, porta voz dos interesses do mercado, dada sua imensa capilaridade na população brasileira, o JN vem criando a atmosfera favorável ao verdadeiro abate dos direitos democráticos e constitucionais que se avizinha. E, claro, naturalizando o golpe do qual a Rede Globo foi uma das principais protagonistas.

"Descalabro petista"
Desde a posse de Temer, em 12 de julho, é notória tentativa de legitimar o impeachment a partir do “descalabro petista”, causador da crise econômica. Esta, por sua vez, é a justificativa para todas as medidas propostas pelo atual governo que ferem, frontalmente, os direitos constitucionais dos brasileiros.

No trabalho minucioso com o pânico em relação ao desemprego e da superficialidade como são apresentadas as questões relativas à economia – aposta-se no desconhecimento geral da população – as reportagens reforçam, noite após noite, o discurso único do neoliberalismo, ocultando outras alternativas para o país.

Em 3 de maio, na mesma edição em que Temer concedia uma entrevista exclusiva ao jornal, outra reportagem incensava a entrega de um programa dos tucanos ao novo governo (JN, 03.05.3016). As condições – destacava o JN – para a colaboração do PSDB eram o combate “irrestrito à corrupção” e a responsabilidade fiscal. Um jogo de cena descarado, como se eles não estivessem envolvidos no golpe.

Dias depois, Henrique Meirelles vinha à público anunciar os objetivos do governo: “mostrar claramente que as medidas que estão sendo propostas e que serão aprovadas muito provavelmente pelo Congresso”, que essas propostas “vão fazer com que a trajetória da dívida pública seja sustentável”, para que os “efeitos sejam mais rápidos”, de maneira que “o risco possa ter reação bem rápida”, que o “investimento e confiança possam voltar com tempo suficiente para que a economia possa reagir rapidamente”. (JN, 05.05.2016)

Registre-se a pressa anunciada no discurso do ministro, acenando a velocidade do ataque e do desmonte em curso no país. Para tal, os golpistas contam com uma cobertura na área econômica repleta de termos econômicos e nada palatáveis à maioria da população. Ao telespectador resta se fiar nos comentários e expressões dos apresentadores do JN.

Um bom exemplo é a cobertura da alta do dólar, no dia 9 de maio, quando o então presidente da Câmara, Waldir Maranhão, apresentou um recurso contra o impeachment da presidenta Dilma. Em meio à enxurrada de reportagens criticando a atuação do parlamentar, o JN destacou:

“Com o anúncio da decisão do presidente interino da Câmara, o dólar subiu quase 5% e a bolsa caiu 3,5%. Depois que o Senado decidiu continuar com o processo de impeachment, a tensão diminuiu. Mas a bolsa terminou o dia queda. E o dólar mais caro, a R$ 3,52” (JN, 09.05.2016).

A “salvação nacional”
O mote da “salvação nacional contra a crise econômica”, bradado por Temer em sua posse, no dia 12 de maio (JN, 12.05.2016), vem sendo trabalhado diariamente. O convencimento de que é preciso reduzir os programas sociais também. Abaixo, a forma como Carlos Aberto Sardenberg explica os gastos públicos do governo e a crise econômica:

“A história começa quando o governo resolve acelerar seus gastos. Gastos no quê? Pessoal, salário, previdência, aposentadoria, programas sociais, obras todo o funcionamento da máquina; enfim, tudo que faz o governo funcionar. Agora, gastar é bom mas quando você tem o dinheiro” (JN,12.05.2016).

Em suma: sem dinheiro não há direitos. O brasileiro passa, então, a ser convidado a participar do combate à crise. Como? Por meio do sacrifício e da fé, muita fé, na equipe econômica do novo governo.

Com uma naturalidade aterradora, Henrique Meirelles apresenta no dia seguinte à posse, as suas propostas para o país. Estamos falando não apenas da retomada da CPMF, sempre criticada quando os proponentes eram os governos petistas, mas de idade mínima de aposentadoria, reforma trabalhista, teto para gastos públicos, revisão das desonerações e dos incentivos para setores da economia.

Espertamente, no final da reportagem, o uso do desemprego para engajar o apoio popular: “Para se criar emprego, é necessário que a economia esteja crescendo”, para tal é preciso “que se estabeleça a confiabilidade das contas públicas e a confiança de que o Estado brasileiro, o governo brasileiro estará solvente no futuro. A partir daí, volta o investimento e a partir daí, em consequência o aumento do emprego”. (JN, 13.05.2016).

Da mesma forma, como necessário ao combate à crise, vem sendo divulgado o teto para o aumento do gasto público, apesar dele incluir mudanças na Constituição afetando, inclusive, repasses nas áreas da Saúde e Educação. Reportagem do JN sobre a questão, construída sobre as aspas de Temer e Meirelles, turbina: “em 10 anos, as despesas públicas aumentaram 70% acima da inflação” (JN, 24.05.2016).

O pavor do desemprego
Não é preciso ser especialista para saber que “gasto público”, ou “rombo nas contas”, são apresentados como um descalabro dos governos petistas e vilões a serem combatidos. No quadro forjado, a via do ajuste fiscal (e das propostas neoliberais) surge como única saída para a retomada do crescimento e da geração de empregos.

Observe a enxurrada de reportagens sobre o desemprego:
Em maio: “Classe média encolheu em 2015, diz pesquisa” (JN, 16.05.2016), apontando a queda do padrão de vida de 1 milhão de famílias brasileiras. “IBGE: Desemprego aumenta em todas as regiões no primeiro trimestre” (JN, 19.05.2016) e “Construção civil sente efeitos da crise e fecha vagas de emprego” (JN, 19.05.2016), com direito à defesa de mudanças nas regras trabalhistas. “Queda no emprego faz aumentar o trabalho por conta própria” (JN, 21.05.2016).

No começo de junho: “Desemprego chega a 11,4 milhões de pessoas no país e é recorde, diz IBGE”. (JN, 31.05.2016). No dia seguinte “Produção da indústria tem cenário similar ao de 13 anos atrás”, apontando que o nível de desemprego voltou dez anos (JN, 01.06.2016).

No final do mês, o tom sobe: “Crise econômica faz disparar número de idosos com nome sujo (JN, 28.06.2016)”. “De março a maio, desemprego no país permanece em nível recorde (JN, 29.06.2016) incensando que, em um ano, mais 3,3 milhões procuraram e não encontraram trabalho” e que “desempregados buscam sobrevivência em abrigos e refeições a R$ 1”.

No mesmo dia, em “Trabalho por conta própria registra queda, diz IBGE” (JN, 29.06.2016), a comparação impactante: “imagine a população da cidade de São Paulo inteira na fila do desemprego. Pois essa é praticamente a quantidade de gente sem trabalho no país: 11, 4 milhões, segundo o IBGE”.

No geral, essas reportagens exploram dramas individuais e contam o comentário de um especialista favorável à linha editorial do JN - leia-se à flexibilização das leis trabalhistas e mudanças de regras na Previdência, entre outras.

Em 20 de julho com a notícia: “Governo pretende mandar ao Congresso até o fim do ano propostas para leis trabalhistas”, em apenas 1 minuto, o JN apresentou apenas os objetivos do ministro Ronaldo Nogueira (Trabalho):

“Aprimorar a proposta que está no Congresso sobre regulamentação do trabalho terceirizado para combater a informalidade e dar garantias aos trabalhadores; ampliar e tornar permanente o programa de proteção ao emprego, sobre a CLT prestigiar as convenções coletivas permitindo a flexibilização da jornada e dos salários, sem mudar direitos como parcelamentos de férias e 13°” (JN, 20.07.2016).

Ironicamente, a mesma reportagem anunciava o reajuste de até 41,5% no salário dos servidores do Judiciário. Tudo sob a plástica de uma falsa objetividade, com um bonito iconográfico e mediante o ocultamento do contraditório às medidas.

Em outros casos, o JN somente dispara índices econômicos como verdadeiros slogans do caos. Em apenas 16 segundos: “o Brasil fechou 91 mil vagas com carteira assinada” e “desde janeiro o país perdeu mais de meio milhão de empregos formais” (JN, 27.07.2016); ou “Desemprego sobe para 11,3% e bate recorde no trimestre de abril a junho”, “são 11,6 milhões desempregados no país”, “em um ano, mais de 3 milhões” (JN, 29.07.2016).

Naturalização do golpe
Quando do anúncio de Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, o JN reforçava a fala de Meirelles sobre o controle de gastos e uso do dinheiro público, criando a contraposição entre eficiência (Temer) e gasto irresponsável (Dilma):

“O governo Dilma reconheceu que esse rombo seria de R$ 96 bilhões. Mas, no Congresso, já se fala em R$ 140 bilhões. Meirelles disse que ainda não decidiu se haverá aumento de impostos”, afirmava a reportagem.

Note como o aumento de impostos é inserido no discurso. Segue a menção ao desemprego com a crítica implícita ao retorno da presidenta: “com a economia em contração como está no momento, e se isso continuasse, o que obviamente não é o caso, o desemprego poderia chegar a 14% ao ano”.

Na sequência, a solução: “Para um controle mais eficiente da inflação, Meirelles disse que o governo vai enviar ao Congresso uma proposta para dar autonomia ao Banco Central na execução da política monetária, mas não garantiu a independência do Banco Central com a fixação de mandatos para os diretores. O ministro da Fazenda voltou a defender a reforma da Previdência. ”

Dois temas cruciais - a independência do Banco Central e a reforma da Previdência – são postos como fato dado, quase óbvios no discurso do jornal. Em outra reportagem, chama-se um especialista para reforçar a tese de que “para conter a inflação, uma das armas do Banco Central é subir a taxa de juros”. Detalhe: “a previsão é que a inflação termine 2016 mais uma vez acima do teto da meta” (JN,17.05.2016).

Rombo
O tema do “rombo” nas contas públicas também foi bastante turbinado: Rombo nas contas públicas para 2016 deve chegar a R$ 200 bilhões (JN, 19.05.2016); Rombo nas contas da União deve ser de R$ 170 bilhões em 2016 (JN, 20.05.2016) – salpicadas pelas medidas anunciadas pelo Governo para recuperar a economia (JN, 21.06.2016).

Apenas às vésperas da votação da meta fiscal, surgem algumas vozes dissonantes: a de Amir Khair destacando a necessidade de que “os R$ 50 bilhões de juros todo mês também tenham limite, coisa que não está na proposta do governo”. E da CUT denunciando que os trabalhadores é que vão pagar as medidas do governo (JN, 24/05/2016).

Aprovado “rombo recorde nas contas públicas”, aparece a crítica do senador Humberto Costa (PT) apontando que o governo superestimou o rombo para aumentar os gastos: “Foi uma grande jogada política e contábil, mas que eu acho que ao longo do tempo vai se desmascarar” (JN, 25.05.2016).

Várias medidas são anunciadas como processos naturais. Em “Moreira Franco que acelerar concessões para atrair investimentos”, cujas prioridades são aeroportos, rodovias e Ferrovia Norte Sul, o teleprompter da Globo destaca apenas a versão do ministro: “só há um caminho: passar para o setor privado serviços que hoje estão em poder do setor público”; “o país projeta para este ano 14 milhões de desempregados, então, nós temos que acelerar o processo” (JN, 17.06.2016).

Em meio a esse caos construído e atribuído ao governo anterior, é possível avaliar o impacto de reportagens como “Perícia conclui que Dilma não participou de pedaladas fiscais”, com o adendo, afinal é a Globo: “decretos suplementares foram resultado de ação direta dela”, conforme afirmam técnicos (JN, 27.06.2016).

De olho no Decorativo
Além de naturalizar o golpe e agenda neoliberal, o JN vem sendo um potente pombo-correio a serviço dos interesses do mercado. São notórios os “puxões de orelha” dados no governo, em horário nobre.

Em 1° de julho, um afago na divulgação da pesquisa Ibope. Com boa dose de camaradagem a pesquisa foi intitulada “Governo Temer é aprovado por 13% e reprovado por 39%, diz Ibope”, sendo que a maioria avaliava o governo como regular, ruim ou péssimo; 53% desaprovavam a maneira de governar de Temer; 25% consideravam sua gestão pior do que a da presidenta Dilma e 44% igual. (JN, 01.07.2016).

Uma semana depois, a bronca: “Na contramão do discurso, o governo elevou os gastos: aprovou o reajuste de servidores do Judiciário e do Ministério Público, fez um acordo para aliviar a dívida dos estados, e deu reajuste para benefícios do Bolsa Família acima do proposto por Dilma Rousseff. Tudo somado: R$ 127 bilhões até 2018.” (JN, 07.07.2016, ver de 0,55”a 1”33”)

Dez dias depois, o ilibado Fundo Monetário Internacional (FMI) acenava, alterando a avaliação a respeito da contração da economia brasileira: ao invés dos 3,8% (previstos em abril), a contração seria de 3,3%. O JN incensava:

“A contração da economia em 2016 vai ser menor do que se esperava”, “pela primeira vez, em quatro anos, estimativas melhoram” e justificava a mudança: “os economistas do FMI dizem que aumentou a confiança dos investidores no mercado brasileiro” (JN, 19.07.2016).

O Governo Meirelles
Em 24 horas, a conta. Ao cobrir a manutenção da taxa de juros a 14,25% pelo Copom, o recado do mercado ao governo no JN:

“Pela manhã, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, chegou a afirmar que o presidente em exercício, Michel Temer, via com bons olhos uma queda nos juros. Investidores se assustaram com o que poderia ser um sinal de interferência política nas decisões do Banco Central. Por isso, antes do anúncio do Copom, Michel Temer declarou numa rede social que o Banco Central tem plena autonomia para definir a taxa de juros - e que o combate à inflação é objetivo central do governo” (JN, 20.07.2016).
Obediente, o governo reiterava uma semana depois: “O Copom reafirma a preocupação com o aumento do preço dos alimentos e reforça a necessidade de uma reforma fiscal.” Na interpretação de economistas o texto indica que o Banco Central não pretende baixar os juros tão cedo (JN, 26.07.2016).

Aos que ainda duvidam sobre o poder do mercado e das elites financeiras no país, a última pérola:

“A gente começa com uma notícia boa para a Petrobras, uma raridade nos últimos anos. A Justiça dos Estados Unidos aceitou um recurso da empresa e suspendeu por tempo indeterminado todas as ações contra ela nos tribunais americanos. Os processos são movidos por acionistas que alegam ter sofrido prejuízos por causa da corrupção revelada na Operação Lava Jato, só uma das ações prevê o ressarcimento de U$S 10 bilhões” (JN, 02.08.2016).

Imagine a rapinagem em jogo para compensar a suspensão dessas ações.

O que está em curso é o pleno obscurantismo que transita, livremente, nos largos vãos deixados pela ausência de uma democracia jamais efetivada no setor da Comunicação.

Isso sim é descalabro.


Publicado originalmente no http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Rede-Globo-O-golpe-se-ve-por-ali/4/36608

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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Parceria Estratégica Brasil-China

Marcos Sawaya Jank *
O Brasil precisa de uma parceria estratégica de longo prazo com a China. Nos primeiros dias de setembro, o presidente Temer vai participar da cúpula do G20, na China.

Trata-se de uma viagem de imensa relevância, durante a qual o novo governo irá interagir com os líderes das principais economias do mundo. No encontro bilateral com Xi Jinping, Temer terá a oportunidade de inaugurar uma nova fase no relacionamento com a China, país com quem já interagiu diversas vezes e conhece em profundidade.

Creio que chegou a hora de apresentar as bases para construir uma verdadeira parceria estratégica de longo prazo com a China, que é, sem dúvida, o país com maior interesse e dependência pelo Brasil.

A China tornou-se o principal importador mundial de commodities e vai precisar do Brasil para atender a sua enorme demanda potencial. Apenas dois produtos — soja em grãos e minério de ferro — já fizeram da China nosso maior parceiro comercial, gerando uma revolução econômica em regiões importantes do Brasil. Ainda que de forma gradual e seletiva, a China começa a se abrir para outras commodities, como algodão, milho, trigo, açúcar e proteínas animais.

A experiência milenar de liderança fez da China um país que sabe estudar e planejar o seu futuro muitas décadas à frente. No Brasil, o planejamento é precário e imediatista, cobrindo meses ou, no máximo, uns poucos anos.

Nas commodities, somos basicamente "comprados" e não sabemos aonde queremos chegar. Nas nossas exportações, quem determina a pauta e a velocidade dos fluxos é a China, e nós temos aceitado o que ela quer sem muita discussão ou planejamento.

Nos investimentos, a China começou a internacionalizar suas empresas estatais, adquirindo terras e empresas originadoras de commodities pelo mundo afora, além de investir pesadamente em infraestrutura. Obviamente o objetivo de longo prazo da China é o controle estratégico das suas cadeias de suprimento.

Uma parceria estratégica de ganha-ganha no longo prazo certamente produziria fluxos de comércio com maior racionalidade e sentido econômico, além de uma pegada de água e energia mais sustentável. Poderíamos organizar adequadamente as cadeias de valor, garantindo a implementação dos investimentos chineses no Brasil e a entrada de produtos com valor adicionado e marca no mercado chinês. O Brasil atrairia os investimentos de que precisa, e a China reduziria os seus riscos geopolíticos e sanitários de suprimento.

Um ótimo exemplo é a questão dos volumes explosivos de exportação de soja e milho para alimentar aves e suínos na China. Se aceitarmos essa lógica passivamente, em breve teremos dificuldades para exportar carnes, pois o papel que a China nos reserva neste momento está no fornecimento de dois componentes da ração animal, e não no valor adicionado dos óleos vegetais e das carnes, em que poderíamos diferenciar produtos e consolidar marcas.

A relação Brasil-China tem sido dominada pelo "pequeno varejo" dos problemas regulatórios diários que impedem o comércio bilateral e a atração de investimentos. Nesse campo, a China sabe posicionar os seus interesses críticos em diferentes momentos e mesas de negociação, navegando com pragmatismo na desorganização estratégica brasileira.

Entendo que a construção de uma parceria estratégica deveria começar com bons cenários prospectivos de oferta e demanda no longo prazo e o entendimento franco dos interesses e restrições de cada parte. Disso nasceria uma agenda bilateral consistente nas áreas de comércio, investimentos, agronegócio, tecnologia, infraestrutura, integração de cadeias produtivas e sustentabilidade, no seu sentido amplo.

Tenho notado que o governo Temer está ciente e engajado nessa direção. É hora, portanto, de lançar as bases dessa parceria estratégica e jogar com time, coordenação e habilidade.

* o autor é especialista em questões globais do agronegócio.

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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Brasília em chamas: Janot chutou o balde cheio de merda...

Richard Jakubaszko
Como se dizia no tempo da ditadura, um passarinho muito bem informado e recém chegado de Brasília me revelou um segredo de cocheira: o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, vai desobstruir durante a madrugada todas as entupidas gavetas de sua mesa. Consta que nelas estavam adormecidas mais de 300 processos de investigação, a maioria de gente emplumada e ainda alguns figurões do governo interino atual.

A súbita e inesperada decisão, é provável, digamos assim, que se trata de uma "resposta" política às críticas feitas desde ontem por um certo falastrão do nosso mundo jurídico.
A conferir amanhã, nas manchetes dos jornalões.
Será que vira o placar no Senado? 
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domingo, 21 de agosto de 2016

Para os jornais daqui e de fora, o Brasil seria incapaz de realizar a Olimpíada

Jânio de Freitas *
Ainda que as palavras não levem a consequências práticas entre os filiados à Associação Nacional de Jornais, seu novo presidente justificou a posse com alguns conceitos apropriados a vários aspectos das transtornadas circunstâncias atuais. Marcelo Rech tratava das relações entre imprensa e internet, e para isso falou dos jornais:

"Devemos ser, os jornais, muito mais que transmissores de notícias. Devemos ser os certificadores profissionais da realidade. Em meio ao caos da abundância desinformativa [da internet], temos o desafio de sermos [...] aqueles que, graças a conceitos éticos e técnicas profissionais, oferecem os atestados de veracidade para a história".

Pois não façam cerimônia. É isso mesmo que esperam receber os que pagam por um jornal. A prova de que não recebem, ou mais uma, está no que o novo mandatário achou necessário dizer. E em termos ainda de um "desafio", de uma resposta em suspenso.

Despido do cuidado político conveniente à plateia, o que Rech formulou fica simples e direto: jornais precisam fazer jornalismo. Se não fosse essa a sua natureza, precisam fazê-lo porque jornalismo é algo essencial que os internautas só podem receber em parte. Por sinal, pequena em comparação com as redes de amadorismo pouco ou nada confiável, mais conduzido por interesses que por seriedade.

A Olimpíada deixa um bom exemplo da situação do jornalismo nos jornais, dispensando discutir o tão notório facciosismo político que deu substância e propagação à crise política, em especial à derrubada de Dilma Rousseff. Por todo o período de organização dos Jogos e da cidade para recebê-los, a campanha de desmoralização não deu trégua. Nenhuma obra ficaria pronta a tempo. O resultado dos trabalhos de organização seria o caos. Os projetos de mobilidade estavam errados e haveria problemas graves de transporte. O Brasil era incapaz de realizar a Olimpíada, e o Rio, muito mais.

Na ocasião da candidatura a sediar os jogos, porém, os jornalistas e os jornais com restrições à iniciativa foram pouquíssimos. Àquela altura, os críticos posteriores apoiavam ou estavam no muro: o governo Lula colhia êxitos e não era esperto ser do contra. O mesmo na fase ainda saudável do governo Dilma.

O sensacionalismo, degradação retomada, que leva as empresas editoras mais sérias a cometerem edições com cara dos "Diários da Noite" de Assis Chateaubriand, projetou-se para o exterior. Os jornais europeus e dos EUA sem interesses, hoje em dia, no Brasil, desancaram o país. As águas da Guanabara, segundo "pesquisa" sem precedente da Associated Press, intoxicariam os velejadores. O lixo quebraria barcos. As águas da lagoa Rodrigo de Freitas eram inutilizáveis, de tão fétidas. E os estrangeiros, coitados, não teriam como viver na cidade em que ninguém fala língua de civilizado.

Os de casa passaram as duas últimas semanas ciscando uma coisinha aqui, o pontinho ruim ali, em um provincianismo ciumento ou na tentativa inútil de se confirmar. Os de fora se esbaldaram em escrachar o país do assalto aos americanos. Até provar-se que são nadadores por esforço e desordeiros por vocação – e o jornalismo de lá dedicou-se, quase por unanimidade, a disfarçar a correção, atribuindo-a só a declarações policiais.

Nenhum evento civil no mundo tem a complexidade e a dimensão de uma Olimpíada. As obras e as disputas que se mostram são uma insignificância em comparação com o que as faz acontecerem.

É uma quantidade assoberbante de planejamento e de execução dos milhões de pormenores que se conjugam, em escolha e treinamento de milhares de pessoas, coordenação de tempos e ações para que tudo seja feito no seu momento, nas competições simultâneas e em lugares diferentes. O abastecimento alimentar dá uma ideia do gigantismo geral: o COB (Comitê Olímpico do Brasil) informa que em um só dia foram servidas quase 70 mil refeições no Parque Olímpico. Foi, este, um desafio com resposta.

Escrevo a 48 horas do encerramento, logo mais. Já se pode ter certeza de que, por sua beleza e organização, a Olimpíada brasileira recompôs muito do que o Brasil perdeu no mundo, nestes tempos de crise. Os jornais correram atrás.

Publicado originalmente na FSPaulo: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2016/08/1805295-para-os-jornais-daqui-e-de-fora-o-brasil-seria-incapaz-de-realizar-a-olimpiada.shtml

* o autor é jornalista

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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Al Jazeera: impeachment é hipocrisia

Richard Jakubaszko
Um caso de hipocrisia?
O jornalista Mehdi Hassan, que faz o programa Up Front, um dos mais populares da TV Al Jazeera, divulgou vídeo neste fim de semana em que fala do impeachment no Brasil e da ausência da presidente Dilma Rousseff nas Olimpíadas.

É como o Brasil tem sido visto lá fora.
O vídeo abaixo está legendado.

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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A pesquisa pública e o fortalecimento da indústria

Maurício Antônio Lopes *
O Brasil convive com extremos de produtividade em dois setores importantes – a agricultura e a indústria de transformação. De acordo com avaliação de José Alexandre Scheinkman, professor de Economia na Universidade de Princeton, nos EUA, mesmo com carência de infraestrutura e um arcabouço legal inadequado, a agricultura brasileira cresceu mais rápido que suas concorrentes globais, em função de ousados investimentos em P&D, de ganhos de escala e da exposição a um mercado internacional competitivo. Experiência que não se registra na trajetória de muitos outros setores industriais brasileiros, que pouco se integraram à economia mundial.

A agricultura, ao contrário da indústria, se beneficiou de políticas públicas que estimularam a pesquisa e a inovação tecnológica, sem proteger os ineficientes. A análise é de Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper, uma das principais escolas de administração de empresas e economia do país. Ele conclui que, na agricultura, os incentivos foram horizontais, não poupando as empresas de baixo desempenho, que, sem competitividade, abandonaram a atividade. Assim, a combinação virtuosa de avanço tecnológico, empreendedorismo dos agricultores brasileiros e performance ditada pelas forças de mercado modelou no Brasil uma agricultura dinâmica e mais afeita à competição internacional.

A lição essencial do desenvolvimento da agricultura brasileira é que não é preciso resolver todos os problemas de uma vez para se obter progresso. O investimento persistente em um sistema de pesquisa e inovação agrícola, de concepção moderna e audaz, foi capaz de provocar profundas mudanças no Brasil em tempo recorde. Apesar dos passivos em infraestrutura e logística e do arcabouço legal e normativo de alcance ainda limitado, o Brasil foi capaz de desenvolver, em apenas quarenta anos, um modelo de agricultura baseado em ciência e empreendedorismo, que lhe garantiu a segurança alimentar e o projetou globalmente como importante exportador de produtos agropecuários e florestais.

O amplo retorno desse investimento público, que está na base da trajetória de sucesso da agricultura brasileira, desbanca o mito de que só o setor privado pode ser eficiente em termos de inovação e empreendedorismo. Mariana Mazzucato, em sua obra O Estado Empreendedor, mostra que investimento público, aplicado de forma inteligente e duradoura, é pré-requisito fundamental para a inovação na sociedade: o setor privado estará mais propenso a investir depois que o Estado empreendedor tiver feito os investimentos mais ousados e de maiores riscos. Ela dá exemplos: a internet, o iPhone, o gás de xisto e as energias renováveis são inovações que estão mudando o mundo, todas nascidas de financiamentos estatais.

Apesar do inconteste sucesso do sistema de pesquisa e inovação agropecuária no Brasil, dois problemas limitam a capacidade da pesquisa pública em seguir dando novos impulsos ao setor. O primeiro é a limitação de financiamento para aprofundamento das pesquisas, em resposta a novos e complexos desafios, como mudanças climáticas, intensificação de estresses, mercados mais competitivos e exigentes, ajustes a rupturas tecnológicas, dentre outros. O segundo está nas restrições impostas às organizações públicas para estabelecer parcerias, o que inibe o compartilhamento de ativos e conhecimentos para busca célere de soluções para os problemas da agricultura. Ainda falta às instituições públicas de pesquisa no Brasil um braço forte de interação com o mercado, que lhes permita estruturar e operar modelos inovadores de associação com o setor empresarial privado e estatal, para desenvolvimento conjunto de inovações e sua comercialização no Brasil e no exterior. Um avanço que poderá contribuir para a superação desse passivo foi a criação da Embrapii, inspirada no Instituto Fraunhofer da Alemanha, para apoio a projetos que nasçam de parcerias entre instituições de C&T e empresas privadas, com foco em inovações tecnológicas estratégicas para o país.

Amparada em sua experiência no mercado de inovação agropecuária, a Embrapa também busca uma solução inédita para ampliar a sua relação com o setor privado. Encontra-se em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei PL 5.243/2016, que autoriza a Empresa a criar uma subsidiária integral, a Embrapa Tecnologias S.A., ou EmbrapaTec, com o objetivo de fortalecer, por meio de parcerias público-privadas, sua participação no mercado de inovações tecnológicas para a agricultura e a bioindústria. O projeto prevê mecanismos que permitirão à Embrapa comercializar ativos tecnológicos de forma mais célere e se associar ao setor privado para o desenvolvimento conjunto de produtos comercializáveis, participando dos ganhos auferidos para reinvestimento na pesquisa.

Mudar a relação da pesquisa pública com as empresas é fundamental para que o Brasil consolide rapidamente um modelo de P&D cada vez mais inspirado nas necessidades da indústria e da sociedade. Como todo país ainda em desenvolvimento, o Brasil convive com a escassez de recursos voltados aos investimentos essenciais. Para justificar o apoio da sociedade, o sistema público de pesquisa e inovação precisará incorporar mecanismos e práticas que fortaleçam sua capacidade de gerar impactos para o progresso do país.


* o autor é engenheiro agrônomo e presidente da Embrapa.
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terça-feira, 16 de agosto de 2016

A "sustentabilidade" está indo pro brejo

Richard Jakubaszko 
Não existe aquecimento, mas a mídia insiste em, diariamente, registrar desgraças nesse sentido, como se estivesse acontecendo. As ameaças são constantes, embutidas até mesmo em eventos como as Olimpíadas, e aparecem de forma explícita ou subliminar, quando se afirma a necessidade de se reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Pelo amor de Deus, eu imploro que você desconfie, pelo menos isso, de que estão nos enganando.

Não existem mudanças climáticas como querem nos fazer acreditar. Qualquer anomalia climática, em qualquer ponto do planeta, ganha status de manchete, e é referenciada como "mudança climática", até mesmo os dias bastante frios que estamos enfrentando neste inverno de 2016 aqui no Sul e Sudeste do país, recebem o rótulo de "mudanças climáticas".

Afinal, o que acontece com o bom senso, com a opinião das pessoas, mesmo que sejam ou estejam jornalistas?

Gravei um vídeo de 7 minutos, há alguns meses atrás, que mostra a enganação existente por trás dos interesses econômicos e políticos do IPCC e das COPs, afora os milenarismos catastrofistas. Quem é que você, leitor, acha que vai administrar o Acordo Ambiental da COP21 depois que ele for ratificado?  O Vaticano? A ONU? Não, os ambientalistas pretendem criar uma Agência Ambiental Internacional, com poderes supranacionais para poder multar e aplicar sanções a quem não cumprir as promessas, assistam no vídeo:

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Documentário "Vida no campo"

Richard Jakubaszko 
Divulgo vídeo que me foi enviado pela assessoria de imprensa da John Deere, e que exibe um interessante documentário com 5 exemplos de pequenos e médios produtores rurais das mais diferentes regiões do Brasil.
O vídeo foi produzido como uma homenagem aos produtores rurais no Dia do Agricultor, comemorado em 28 de julho de cada ano.
Uma justa e necessária homenagem, diga-se.


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domingo, 14 de agosto de 2016

Carros fabricados antes de 1997 não podem mais circular em Paris

Rafael Regiani
Os jornais franceses Les Echos e Aurjourd'hui en France, de 1º de julho último, falam sobre a proibição de circulação de carros antigos em Paris. A medida passou a valer a partir daquela data, com o objetivo de reduzir a poluição no centro da cidade.

Carros fabricados antes de 1997 e motos anteriores a 1999 estão proibidos de circular na área conhecida como “Paris intramuros”, ou seja, apenas o perímetro da cidade, excluindo as cidades da periferia da região parisiense.

A medida vale para dias e horários específicos: de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. A nova lei deve tirar de circulação 10 mil veículos dos 600 mil que circulam diariamente pela capital. O jornal Aujourd'hui en France lembra a seus leitores que, por enquanto, os donos das “latas velhas” não devem se preocupar com multas, porque a fiscalização só começa em outubro.

Alemães com menos carros
O jornal Les Echos aproveita a nova lei para traçar um panorama do papel dos carros elétricos e do uso do carro em geral nos países europeus. Os dados mostram uma surpresa: os alemães, conhecidos por fabricar carros de excelência, são o povo europeu que menos possui veículos.

Entre os lares alemães, 77% possuem carro. Já os vizinhos austríacos são os que mais andam sobre quatro rodas: 86% das famílias possuem carro. Nenhum deles compete com os Estados Unidos, onde 89% dos casas têm carro.

O Les Echos também mostra como existe um abismo entre o número de pessoas que possuem carros nas capitais e no interior dos países europeus, com muito mais veículos no interior. Em Paris, por exemplo, 69% têm carros, contra 83% no índice nacional.

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sábado, 13 de agosto de 2016

Acesso aos mercados


Marcos Sawaya Jank *
Governo e empresários desenham plano para ampliar acesso do agronegócio no exterior.

A Olimpíada do Rio é um belo exemplo de livre acesso de atletas e torcedores do mundo inteiro, que se reúnem em um país, integrando-se para competir no mesmo campo esportivo, sob as mesmas regras. Infelizmente em outros campos nem sempre há livre acesso, regras comuns e competição.

Um dos exemplos mais notáveis é o comércio exterior: tarifas, subsídios domésticos e toda sorte de barreiras não tarifárias (técnicas, sanitárias, burocráticas etc.) dificultam o acesso aos mercados, impedindo a competição leal e prejudicando milhões de consumidores. Além das barreiras comerciais mais visíveis, o acesso aos mercados é também impactado por percepções de clientes e consumidores que têm gerado dificuldades e barreiras de "imagem".

Acesso aos mercados é a capacidade de cruzar fronteiras, entrar no mercado e lutar de forma justa pela preferência do consumidor. No caso do agronegócio, esse é seguramente o tema mais complexo e desafiador do setor, que, se bem conduzido, pode produzir resultados expressivos em comércio e investimentos.

Produtos agrícolas como soja, milho, café verde, celulose e algodão circulam com bastante facilidade pelo mundo. Porém, produtos mais processados como óleo de soja, açúcar, etanol, carnes, laticínios, papel e café solúvel enfrentam maiores barreiras. Além disso, a falta de comunicação adequada sobre a realidade gera percepções de imagem distorcidas e equivocadas sobre quase todos os produtos exportados, principalmente nos temas ambiental (desmatamento, biodiversidade, emissões de carbono) e social (condições de trabalho, questões indígenas).

Não há dúvida de que o tema acesso a mercados depende, em primeira instância, da fluidez e da qualidade do diálogo entre os governos envolvidos. O dia a dia do "acesso" passa pela assinatura de acordos de equivalência sanitária, preenchimento de questionários, trâmite ágil de documentos, missões de inspeção de plantas produtivas, visitas de ministros e autoridades, listas de pedidos e troca de concessões de parte a parte. Eventualmente o acesso passa, também, por negociações mais amplas e formais, em nível bilateral, regional ou multilateral.

Mas a experiência de vários países mostra que o sucesso das ações depende, também, da presença e do comprometimento do setor privado no processo. Afinal, são as empresas, e não os governos, que realizam o comércio e os investimentos.

Ações de suporte ao tema, comumente praticadas por empresas e entidades do setor privado são o mapeamento e o engajamento de stakeholders locais (clientes, associações, mídia, academia, formadores de opinião, ONGs e outros), o entendimento do ambiente regulatório e de políticas públicas do país destino, a montagem de coalizões com grupos locais que tenham visões confluentes e a defesa formal de interesses via ações de lobby nos países em que a atividade é regulamentada.

O trabalho de relações públicas e governamentais oferece um amplo menu de opções, que precisa ser estudado e adaptado a cada realidade institucional. Tais atividades são executadas pelo setor privado, e não pelo governo, e há muitos exemplos de sucesso no mundo, seja na conquista do acesso aos mercados, seja na melhoria da imagem do país e de suas empresas e produtos.

Um amplo esforço de cooperação entre o governo (Ministério da Agricultura, Itamaraty e Apex) e uma dezena de entidades privadas do agronegócio começa a ser desenhado neste momento. Um esforço que chega em ótima hora, num país que precisa desesperadamente se organizar melhor para recuperar o tempo perdido.

* Especialista em questões globais do agronegócio.

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