Participei ontem em São Paulo do 15º Congresso da Abag, cujo tema era Liderança e Protagonismo. Temas eminentemente políticos. De agronegócio, mesmo, quase nada. O que vi, senti e percebi, é que o clima existente no congresso refletiu uma síntese quase perfeita do que é hoje o Brasil, perdido de si, fragmentado, tentando encontrar-se, procurando desesperadamente uma boia, um ancoradouro para atracar e esperar passar a tempestade que se desenrola país adentro. Enquanto isso, se justifica aos outros.
As lideranças empresariais e associativas presentes no Congresso, o da Abag, e mesmo no Congresso Federal, demonstram que estão perdidas, e são conduzidas pelos fatos e acontecimentos registrados de forma distorcida pela mídia, a verdadeira dona da agenda política, e apenas discursam, justificam, depositam fé no futuro, deles e do Brasil. Enquanto as Olimpíadas se desenrolam nada parece que será decidido, mesmo o impeachment, o desiderato comum e mais debatido nos dois congressos.
O tema proposto pela Abag pareceu-me não ter encontrado ressonância entre os porta-vozes presentes, fossem palestrantes ou debatedores, e, pior ainda, entre os próprios congressistas. Na plateia, uma multidão, talvez um dos maiores congressos da Abag em termos de frequência, mas a maioria esmagadora completamente alheia e desinteressada dos temas políticos e ideológicos debatidos no palco das celebridades convidadas ou contratadas para abrilhantar o evento. Nos saguões, ligados em seus celulares, pareciam procurar os monstrinhos do Pokémon. Curiosamente, faltaram as duas maiores estrelas convidadas e confirmadas, os ministros Blairo Maggi e José Serra. Do primeiro, ninguém comentou as razões dadas para a ausência, foi ao Sul do país conhecer uma packing house de maçãs. Do segundo, a informação correu de boca em boca de que uma dor de dente assaz conveniente e oportunista, anunciada domingo, submergia diante da inesperada denúncia milionária de mais uma delação premiada na Lava Jato desde a sexta-feira, e que colocou o governo interino mais uma vez em estado de alerta total.
Como lamentado em eventos anteriores pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, o mundo precisa de líderes. Bom, o agronegócio brasileiro também se ressente disso, fato reconhecido pelos organizadores do Congresso da Abag. E eles não estavam lá. Por isso mesmo, é decepcionante, a todos os eventos que se sucedem, vermos repetidos louvores (merecidos) a Roberto Rodrigues e Alyson Paolinelli, que já estão carimbados como eternos ministros. Como criticou Fernando Penteado Cardoso em entrevista da semana passada, e que está disponível em vídeo aqui neste blog, é decepcionante assistirmos nos eventos, congressos, workshops, todo mundo discutindo sobre o passado e o presente, e ninguém planejando ou construindo o futuro. E isso é coisa para líderes.
Exceto alguma pontual observação, o 15º Congresso da Abag não apresentou respostas, e não deixou um legado, a não ser que o mesmo esteja escondido nas entrelinhas de tantos desencontros de comunicação, com muitos ruídos interferindo nos processos. Uma questão interessante talvez esteja na observação casuística do jornalista Augusto Nunes, um dos moderadores. Apesar de eu discordar dele em gênero e grau, pois tenho severas restrições à sua postura profissional, concordei com ele quando observou que, olhando o agronegócio à distância, o que é o caso dele, que é focado mais em política, diz reconhecer a importância do agro brasileiro, mas que o agro propriamente dito não se dá essa relevância, representada pela notável participação de 1/3 nas riquezas do país e do PIB, ou nos saldos positivos sucessivos das nossas exportações. O agro fica muito mais no chororô e em posturas reivindicatórias ou defensivas, sempre se lamentando quando recebe quaisquer críticas, seja da mídia, seja da sociedade urbana, seja dos ambientalistas, que já adotaram o agro como saco de pancadas.
O que Nunes explicitou, e que eu reinterpreto sob a minha experiência de meio século no jornalismo do agro, é que os líderes do agro não assumem de fato a liderança por receio de ter de assumir essas mesmas responsabilidades em momentos futuros. Nesse sentido, minhas reflexões pós congresso, me levam à conclusão, quem sabe definitiva, e sem nenhum pessimismo, de que é o individualismo e a falta de solidariedade e comprometimento com o coletivo e os dilemas sociais que impulsionam a sociedade, e que nos estão levando ao precipício.
E La Nave vá, tanto no congresso da Abag como naquele que fica lá em Brasília, todo mundo na plateia, ou fora dela, se perguntando sobre o que é que está acontecendo. No palco, os atores discursam e enfatizam suas certezas definitivas, filosofando sobre economia, políticas, ideologias e comportamentos sociológicos atávicos dos brasileiros, reconhecidos gênios consagrados do jeitinho e da corrupção. Lembro, no entanto, o aforismo de Delfim Netto, ator ausente dos atuais debates, de que se você não está confuso é porque está mal informado. Acrescento, apenas, que podem ter tomado posição sob a ótica de premissas equivocadas, mas convenientes para o momento.
Isto porque, quando se exagera nos argumentos, se prejudica a causa.
É assim que a boiada se movimenta, a história da humanidade comprova isso.
Brilhante análise, Richard. Um abraço, Marlene Simarelli
ResponderExcluirParabéns pela analise. É sempre bom ler opiniões críticas e independentes !! Sinto falta dos opostos no congresso da Abag, não sei se por medo, ou por engano dos organizadores...
ResponderExcluirParabéns Richard.
ResponderExcluirBrilhante análise sobre congresso da Abag. E mais uma vez parabéns pela coragem de dizer o que está na cara e não querem ver e reconhecer.
Forte abraço.
Luís Carlos Guedes Pinto
Clap, clap, clap...
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