domingo, 7 de maio de 2017

Agro DBO: o Brasil enferruja.

Richard Jakubaszko  

Circulando desde a semana passada a edição de maio/2017 (nº 88) da Agro DBO, com matéria de capa que é a grande má notícia do ano: a ferrugem asiática demonstra uma capacidade espantosa de estabelecer resistência inicial a todos os fungicidas de última geração existentes.
A matéria de capa da edição é de autoria do jornalista José Maria Tomazela, que ouviu cientistas, pesquisadores, produtores e técnicos das empresas.
No vídeo abaixo dou detalhes desse problema e de outras matérias da edição.



Registrei no editorial:
O que poderia acontecer de pior para a soja já começou: estamos assistindo neste final da safra 2016/17 a uma rápida e preocupante disseminação de focos da ferrugem da China, resistentes aos fungicidas de última geração, em diversas lavouras, em praticamente todos os estados produtores do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, conforme registrado na reportagem de capa da Agro DBO, “O Brasil enferruja”, em texto do jornalista José Maria Tomazela, que ouviu produtores, pesquisadores e consultores, constatando nestes um estado de quase pânico diante do que pode vir a ocorrer na próxima safra.

A história da agricultura registra essa evolução, que deságua no extermínio da cultura com problemas fitossanitários graves. Aconteceu com a batata, nos anos 1850 na Irlanda, quando a Requeima destruiu a principal lavoura do país, levando à morte pela fome mais de um milhão de pessoas, e outro tanto de gente que imigrou, especialmente aos EUA, em busca de conquistar sonhos de sobrevivência com dignidade. Entre os imigrantes irlandeses estavam alguns antecedentes da família Kennedy, que gerou depois, já no século XX, o americano John F. Kennedy, presidente americano de 1961 a 1963. Na Irlanda, os produtores remanescentes deixaram de cultivar a batata por muitas décadas, e jamais a cultura recuperou importância. Há inúmeros exemplos pelo mundo inteiro, mas de menor proporção da fatalidade ocorrida na Irlanda.

No Brasil, nos anos 1970, a Vassoura de bruxa, resistente a todos os fungicidas existentes, praticamente exterminou as lavouras de cacau na Bahia, atividade que jamais voltou a ter a mesma importância do início do século, quando inúmeras famílias enriqueceram com o plantio do cacau. Em São Paulo, nos anos 1970 e 1980 o Bicudo exterminou o plantio do algodão no estado, pela resistência aos inseticidas de então, e pelas dificuldades do seu controle. O algodão migrou para o Centro-Oeste, onde hoje faz sucesso, apesar do pulgão.
Enfim, há históricos registros de situação semelhante à que a soja enfrenta no momento. Por isso, pesquisadores, empresas, governo e produtores devem analisar com urgência e responsabilidade as estratégias a serem implementadas para enfrentar a crítica situação que já na próxima safra pode evoluir e trazer sérios prejuízos para os produtores e para o país. Novos produtos não vão aparecer antes de uma década.

Na entrevista do mês, o engenheiro agrônomo Nery Ribas, reeleito presidente do CESB, analisa os desafios da soja para aumentar a produtividade, e comenta a questão da ferrugem resistente.

É relevante a leitura do artigo “O coração do solo”, do professor Fernando
Andreote (Esalq/USP), que recomenda atenção ao fator biológico dos nossos solos, e não apenas o lado químico ou físico.


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