quarta-feira, 6 de junho de 2018
Dia Mundial do Meio Ambiente: nada a comemorar.
Richard Jakubaszko *
Comemora-se hoje (5 de junho) o dia Mundial do Meio Ambiente, mas na grande São Paulo nada há para festejar considerando o enorme contingente de pessoas que habitam essa gigantesca região (mais de 20 milhões), especialmente no que diz respeito aos bairros que dependem do abastecimento de água do sistema Cantareira, uma das muitas barragens que atendem a população paulista, como zonas oeste, norte e central da cidade, junto aos sistemas de Guarapiranga, Rio Grande e Alto Tietê. Mal começou o período de seca do outono-inverno, o Cantareira já está com 45% do seu volume de capacidade de estocar água, ou seja, quantidade insuficiente para atender o consumo da população durante o período de seca, que é uma característica da época.
Conclusão: nem precisamos fazer cálculos sofisticados, mais uma vez já sabemos antecipadamente que vai haver racionamento de água entre a população que depende do Cantareira, caso não ocorram chuvas no período.
Outra conclusão: a grande São Paulo é um ambiente inóspito para a vida humana, não apenas pela poluição, do ar e da água, mas pelo abastecimento de água, que será sempre insuficiente para atender tanta gente. Durante a seca de 2013 e 2014 foi um drama para a população, chegava-se a planejar racionamento de 2 dias com água e 3 sem. Aos que moram na região central, até hoje (2018) o sistema não chegou ao abastecimento normal, pois de meia-noite até 6 horas da madrugada a Sabesp aplica o regime de pressão mínima, ou seja, zero de água, para reduzir a perda de água tratada pelos encanamentos furados, que não se consegue localizar onde estão. Precisaria furar o centro velho e substituir tudo, a um custo enorme para todas as pessoas, nas residências e no comércio, especialmente bares, restaurantes e hotéis.
No auge de um período de racionamento aparece a velha discussão de limitar o uso da água do sistema Cantareira para irrigação e aos animais, colocando as pessoas como prioridade. E tome multa aos agricultores que querem molhar suas verduras ou dar de beber às suas vacas de leite, galinhas, porcos.
Ora, se a preservação do meio ambiente é uma unanimidade, a água deveria estar no foco da lógica de gestão, como absoluta prioridade. Lamentavelmente não está. A política e a burocracia, mais os interesses dos acionistas da Sabesp, privatizada a partir dos anos 2012/13, não permite boa gestão desse bem público que é a água. Lembro que em 2010 tivemos um verão chuvoso acima da média, e o sistema Cantareira ultrapassou os 95% de sua capacidade de estocar água. Os gestores ameaçavam através da mídia que a qualquer momento teriam de abrir as comportas para soltar aos poucos a água excedente do Cantareira, inundando boa parte da zona norte e central da cidade. Caso contrário as comportas poderiam explodir pela pressão e aí seria muito pior, a água invadiria tudo de uma só vez.
As chuvas amainaram, o sistema Cantareira ficou com seu excesso de água estocado, mas a população ouviu promessas do sortudo governador da época, Geraldo Alckmin, de que teriam de ampliar a capacidade de estoque do Cantareira, para evitar os perigos de inundações. Nada foi feito. Veio a seca de 2013/14 e faltou água, e de lá para cá, mais uma vez, nada foi feito, exceto ligação emergencial de dutos interligando o sistema Rio Grande e outros para abastecer o Cantareira. Mas houve o início de um esquema em que agricultores próximos aos rios Capivari e Piracicaba, pagam para retirar água dos rios e poder alimentar seus rebanhos de aves, porcos e gado de leite, além de irrigação de hortaliças.
No dia Mundial do Meio Ambiente, portanto, nada a comemorar. Vai faltar água no inverno, para a população urbana e para os agricultores, porque houve má gestão, porque não se planejou políticas públicas. A mídia, em manchetes escandalosas, já se pode antever, fará o confronto entre cidadãos urbanos e agricultores, como se fosse fácil a opção entre ter água ou alimento.
Conclusão? Precisamos “conscientizar” os gestores públicos que pratiquem políticas de médio e longo prazo, com base em realidades e necessidades da população usuária, e não na grana disponível do caixa de uma empresa privatizada como a Sabesp, que tenha ou não capacidade para investir. Os acionistas da Sabesp, os fundos de investimentos americanos e as velhinhas aposentadas do Arkansas (EUA), não vão colocar a mão no bolso e reduzir lucros, isso é absolutamente certo. Cobrar água dos agricultores também não resolve, reduz a sustentabilidade e lucro dos produtores rurais, e é bom lembrar que as prefeituras sempre mordem boa parte dessa arrecadação, redundando em quase nada para o sistema gestor de água poder investir.
Aos ambientalistas fica a lição e o ensinamento de que conscientizar a população é uma coisa, alimentar manchetes na mídia é outra, e criar impostos novos é a única coisa que qualquer governante eleito sabe fazer muito bem.
Precisamos comemorar o dia do Meio Ambiente, mas nada disso adianta para dar solução ao problema. Individual ou coletivamente precisamos evitar a poluição, devemos reduzir o desperdício, porque queremos a preservação e a sustentabilidade.
Apesar disso tudo vai faltar água neste inverno aos consumidores do sistema Cantareira.
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Comemora-se hoje (5 de junho) o dia Mundial do Meio Ambiente, mas na grande São Paulo nada há para festejar considerando o enorme contingente de pessoas que habitam essa gigantesca região (mais de 20 milhões), especialmente no que diz respeito aos bairros que dependem do abastecimento de água do sistema Cantareira, uma das muitas barragens que atendem a população paulista, como zonas oeste, norte e central da cidade, junto aos sistemas de Guarapiranga, Rio Grande e Alto Tietê. Mal começou o período de seca do outono-inverno, o Cantareira já está com 45% do seu volume de capacidade de estocar água, ou seja, quantidade insuficiente para atender o consumo da população durante o período de seca, que é uma característica da época.
Conclusão: nem precisamos fazer cálculos sofisticados, mais uma vez já sabemos antecipadamente que vai haver racionamento de água entre a população que depende do Cantareira, caso não ocorram chuvas no período.
Outra conclusão: a grande São Paulo é um ambiente inóspito para a vida humana, não apenas pela poluição, do ar e da água, mas pelo abastecimento de água, que será sempre insuficiente para atender tanta gente. Durante a seca de 2013 e 2014 foi um drama para a população, chegava-se a planejar racionamento de 2 dias com água e 3 sem. Aos que moram na região central, até hoje (2018) o sistema não chegou ao abastecimento normal, pois de meia-noite até 6 horas da madrugada a Sabesp aplica o regime de pressão mínima, ou seja, zero de água, para reduzir a perda de água tratada pelos encanamentos furados, que não se consegue localizar onde estão. Precisaria furar o centro velho e substituir tudo, a um custo enorme para todas as pessoas, nas residências e no comércio, especialmente bares, restaurantes e hotéis.
No auge de um período de racionamento aparece a velha discussão de limitar o uso da água do sistema Cantareira para irrigação e aos animais, colocando as pessoas como prioridade. E tome multa aos agricultores que querem molhar suas verduras ou dar de beber às suas vacas de leite, galinhas, porcos.
Ora, se a preservação do meio ambiente é uma unanimidade, a água deveria estar no foco da lógica de gestão, como absoluta prioridade. Lamentavelmente não está. A política e a burocracia, mais os interesses dos acionistas da Sabesp, privatizada a partir dos anos 2012/13, não permite boa gestão desse bem público que é a água. Lembro que em 2010 tivemos um verão chuvoso acima da média, e o sistema Cantareira ultrapassou os 95% de sua capacidade de estocar água. Os gestores ameaçavam através da mídia que a qualquer momento teriam de abrir as comportas para soltar aos poucos a água excedente do Cantareira, inundando boa parte da zona norte e central da cidade. Caso contrário as comportas poderiam explodir pela pressão e aí seria muito pior, a água invadiria tudo de uma só vez.
As chuvas amainaram, o sistema Cantareira ficou com seu excesso de água estocado, mas a população ouviu promessas do sortudo governador da época, Geraldo Alckmin, de que teriam de ampliar a capacidade de estoque do Cantareira, para evitar os perigos de inundações. Nada foi feito. Veio a seca de 2013/14 e faltou água, e de lá para cá, mais uma vez, nada foi feito, exceto ligação emergencial de dutos interligando o sistema Rio Grande e outros para abastecer o Cantareira. Mas houve o início de um esquema em que agricultores próximos aos rios Capivari e Piracicaba, pagam para retirar água dos rios e poder alimentar seus rebanhos de aves, porcos e gado de leite, além de irrigação de hortaliças.
No dia Mundial do Meio Ambiente, portanto, nada a comemorar. Vai faltar água no inverno, para a população urbana e para os agricultores, porque houve má gestão, porque não se planejou políticas públicas. A mídia, em manchetes escandalosas, já se pode antever, fará o confronto entre cidadãos urbanos e agricultores, como se fosse fácil a opção entre ter água ou alimento.
Conclusão? Precisamos “conscientizar” os gestores públicos que pratiquem políticas de médio e longo prazo, com base em realidades e necessidades da população usuária, e não na grana disponível do caixa de uma empresa privatizada como a Sabesp, que tenha ou não capacidade para investir. Os acionistas da Sabesp, os fundos de investimentos americanos e as velhinhas aposentadas do Arkansas (EUA), não vão colocar a mão no bolso e reduzir lucros, isso é absolutamente certo. Cobrar água dos agricultores também não resolve, reduz a sustentabilidade e lucro dos produtores rurais, e é bom lembrar que as prefeituras sempre mordem boa parte dessa arrecadação, redundando em quase nada para o sistema gestor de água poder investir.
Aos ambientalistas fica a lição e o ensinamento de que conscientizar a população é uma coisa, alimentar manchetes na mídia é outra, e criar impostos novos é a única coisa que qualquer governante eleito sabe fazer muito bem.
Precisamos comemorar o dia do Meio Ambiente, mas nada disso adianta para dar solução ao problema. Individual ou coletivamente precisamos evitar a poluição, devemos reduzir o desperdício, porque queremos a preservação e a sustentabilidade.
Apesar disso tudo vai faltar água neste inverno aos consumidores do sistema Cantareira.
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Um comentário:
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E' Richard, como dizem em Minas o trem ta' feio... se eu morasse em um lugar assim estaria comprando um destes equipamentos extratores de agua da atmosfera e tendo certeza de ter um sistema de energia renovavel (solar/eolica) para alimenta-lo. Ai' ao menos agua para consumo local nao faltaria... ha' sistemas pequenos e grandes, simples e complexos, para uso para consumo e ate' militar...
ResponderExcluirSDS
Gerson