sexta-feira, 8 de junho de 2018

O Inferno, explicado por um estudante de física

Richard Jakubaszko
Recebi por e-mail de Luís Amorim, lá da terrinha do além-mar, onde Camões e Fernando Pessoa em tempos idos sapecavam inteligências e ironias, um saboroso texto que nos remete a questões científicas de análise e reflexão sobre os entreveros das ciências com a religião e o controvertido universo humano, especialmente o feminino; senão vejamos:

O Inferno, explicado por um estudante de física
O que se segue é (alegadamente) uma pergunta que saiu num exame de um curso de Física numa universidade americana. A resposta de certo estudante foi tão criativa que o professor a partilhou por e-mail com vários colegas.

- Pergunta: O Inferno é exotérmico (liberta calor) ou endotérmico (absorve calor)?
A maioria dos alunos respondeu baseando as suas opiniões na lei de Boyle (o gás arrefece quando se expande e aquece quando é comprimido), ou nalguma variante disso. Houve um aluno que, no entanto, deu a resposta que se segue.

Primeiro, precisamos de saber como a massa do Inferno está a variar com o tempo. Portanto, precisamos de saber a taxa a que as almas se estão a mover para o Inferno e a taxa a que o estão a deixar. Acho que podemos assumir seguramente que uma vez que uma alma entra no Inferno ela nunca mais de lá sai. Portanto, não há almas a sair. Para verificarmos qual a quantidade de almas que entram no Inferno, vamos olhar para as diferentes religiões que existem no mundo atual. A maioria dessas religiões afirma que quem não é membro dessa religião vai para o Inferno. Como há mais do que uma dessas religiões, e como as pessoas não pertencem a mais do que uma religião, podemos prever que todas as almas vão para o Inferno. Com as taxas de natalidade e mortalidade atuais, podemos esperar que o número de almas no Inferno aumente exponencialmente.

Agora, vamos olhar para a taxa de variação de volume do Inferno, porque a lei de Boyle afirma que, para que a temperatura e a pressão no Inferno se mantenham constantes, o volume do Inferno tem de se expandir proporcionalmente à medida que são adicionadas mais almas. Isto abre duas possibilidades:

1. Se o Inferno se expandir a uma taxa inferior à da taxa a que as almas entram, então a temperatura e a pressão no Inferno vão aumentar até ele explodir.

2. Se o Inferno se expandir a uma taxa superior à do aumento de almas no Inferno, então a temperatura e a pressão baixarão até que o Inferno congele.

Então, qual das hipóteses é a correta? Se aceitarmos a afirmação da Mary no meu ano de calouro de que “o Inferno vai congelar antes de eu ir para a cama contigo”, e tendo em conta o fato de que eu dormi com ela a noite passada, então a hipótese número 2 deve ser a verdadeira, e, portanto, tenho a certeza de que o Inferno é exotérmico e já congelou.

O corolário desta teoria é que, uma vez que o Inferno congelou, então já não aceita mais nenhuma alma e está, consequentemente, extinto, passando a existir apenas o Céu e provando assim a existência de um ser divino, o que explica porque é que ontem à noite a Mary gritava “Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!”.


Este estudante teve a única nota máxima! 

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5 comentários:

  1. José Carlos Filgueira de Castro11 de junho de 2018 às 12:11

    Parece a mentira do aquecimento planetário, apoiada pelas mudanças climáticas... Pelo menos o físico foi criativo.
    Zé Carlos

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  2. Me pareceu uma lógica lusitana, sem nenhuma ofensa aos amigos de Trás os Montes, porém muito engraçada...
    Ezequiel

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  3. Muito bom! Bom o seu texto, bom o texto do estudante de física e boa a forma como o inferno é cientificamente discutido! Bravo! Bravo!

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