Carlos Eduardo Florence *
Entre o Infinito e o Eco, há uma zona denominada pelos fiéis de Rosa Delicada, figura miúda e delicada, extremamente prestimosa, onde o Sonho prefere habitar antes de se acomodar no Inconsciente e criar as Dúvidas. Isto tudo se justifica relembrar, com carinho, para nós focados em entremear as incógnitas da Melancolia, para confirmar a concretude do Nada e o esplendor do Absoluto. O retroceder do Eco, quando Orcomoi, Criador do Cosmos, estabeleceu o desvão entre a Paranoia e o Equinócio foi à comprovação de que o Nada habita o infinito, mas ele sempre se esconde fora de onde o procuramos. Em consequência lançou a Divindade sua imaginação ao garimpo dos motivos e correlações entre o Paradoxo, Carnificina, Fundamentalismo, o Nascimento e, inclusive, o Pecado. Segundo ele, elementos indispensáveis aos Existenciais. Embora inexplicáveis aos mortais, estes valores são partes relevantes dos dezoito Mistérios e as sete Arrogâncias que compõem o Mundo, a Sátira e o Caos.
Segundo os Arcávoles da Maucária, o primeiro clã que se deu a estar na terra, assim se formou o Cosmos, a Intransigência e o Apetite para justificar a criação do Corpo e da Alma. Orcomoi formatou seus delírios criativos pela Alquimia Espiritual, altamente subjetiva, para acompanhá-Lo no abstrato em que produz, reina e atua. Desdobrou, posteriormente, a partir destes germes primevos, sequências irregulares de alternativas transmutáveis para glorificar, merecidamente, a Si.
Compôs, após, para justificar sua existência, todas de Formas, Cores, Objetivos, intrincados entrelaçamentos Quânticos, elaborou a Fantasia para justificar a Realidade, permitiu-se lapidar com método as Abstrações, os Absurdos, parte como Imprevisto e outra pela Regência dos Astros e a relevância da Menopausa para marcar o Tempo. Realizou, obstinadamente, os Ilimitados complementos existenciais e inexplicáveis dos gêmeos Macro e Micro, a partir do incomensurável, aos ínfimos, quase inexistentes, Prótons, Nêutrons, Neutrinos, instáveis. Para tal moldou, a seu prazer e ganância, a Força para impô-la proporcional a Massa e na Razão inversa à distância. Condensou conjecturas Psicológicas para justificar a Confusão, Psicanálise, o Canapê e a Inconformidade. Em paralelo instituiu o Complexo de Édipo, a Quinta Sinfonia, ao configurar sua imaginação artística, programou metodicamente a Metamorfose, a Bolsa de Valores, o Subterfúgio e o Calote. Elaborou o Existir, o Permanente, na recíproca o Provisório, a Fé e instalou, no entremeio, o Indelével só para Si e seus Preferidos. Marcou em cada substância concreta ou espiritual seu lacre batismal, para que ninguém se esquecesse do Eterno.
Houve no início, épocas de confrontos e escaramuças, entre um Vento a Bombordo, presunçoso e hermafrodito, que se fazia indiferente, e o pensamento Platônico, tanto que Orocomoi, como se registra, acordou certo Milênio Luz, como preferia arrematar seu tempo e espaço, inspirado, bocejou satisfeito e procrastinou, sem saber por que, mandar à Terra, então escolhida por estar na Latitude mais próxima do seu coração, três entes ainda incipientes de provérbios e motivos para se definirem em Usos, Hábitos e Conceitos Pragmáticos. Escolheu, ao acaso, o Soberano, na onipotência da sua autoridade, a Razão, o Ser e o Desejo. Poderia ter optado pelo Sentimento, o Nada e a Dúvida. Mas ao Supremo não se demanda explicações.
Estava a trindade preferida desfazendo-se em preguiça saborosa entre outros indefinidos criados pelo Senhor, em recantos alternados do imaginário sólido do Sobrenatural, autocriado, zanzando pelo Cosmos Celeste, antes dele autorizar a existência ao Tempo, ao Espaço e por último à Vida para justificar e elucidar a Magia, a Paranoia e o Contrafeito. A Vida até então inexistente e só se justificaria para dar provimento a estes entes inferidos pela Divina vontade se atribuída para as suas ordenanças e malbaratadas estripulias. Foi para atender apelos do Desejo, da Razão e do Ser que Orocomoi se deu-Se a criar então a Vida em formas multifacetadas, intrigantes, conflituosas.
A Razão, como se preferia estar, apeteceu acompanhar-se a direita dos desconhecidos pelo Cogito, inflexível e prepotente, para achegar às regiões de confronto, a Terra, lugar de destaque até então no centro do Inexplicável, antes do Senhor idealizar Galileu para deslocá-la a um lugarejo medíocre desmerecido, desprestigiado, nos arrabaldes do infinito. Arrogou-se a Razão o direito de impor, como condição de prestar contas ao Soberano, a prerrogativa de organizar desde o Abstrato, passando pelo Infinitesimal, a Nanociência, coabitando ainda com estas esferas o Método, Samambaia, o Recém-Nascido, Abstinência e a Prostituição.
O Ser preferiu, ao despedir-se do imaginário de Orocomoi para baixar à Terra, trazer consigo o Indelével, a Epistemologia, o Devaneio para levantar celeumas, instigar os Motes, encantar o Absurdo e criar Amor, Ciúmes, o Ódio, Medo e o Olfato. Obediente, não impôs condições ao Mandante, amealhou a primeira Imprevisão que transitava sem esclerose pelo além, se fez vestir de Antagonismo e estremou caminhos para o que “seja o que deus quisesse”.
O Desejo considerou indispensável portar consigo o Perigo, Ambição, a Utopia e, a reboque, convidar sua oponente espiritual, a Satisfação, para também florirem nas instâncias que mais as apraziam e confundirem o imaginário. As coisas divinas não se pautam por sincretismo ou simbiose, mas somente sob a batuta do inextricável, sem jamais permitir desenhar a fragrância do Óbvio e da Clareza, que se acomodam suavemente ao lado do Zodíaco, preferindo sentir o Amanhecer, quando a Ternura não se envolve em atos libidinosos. Isto fica bem mais explicito quando se escolhe o sabor do Obscuro, a fragrância da Latitude Boreal e o ensejo da Latitude Austral para demonstrar como as decisões do Supremo são sempre pautadas por motivos Coerentes e Lógicos. Estas definições vieram por ordens Soberanas, para surtirem os efeitos categóricos, plenamente justificados pela forma bucólica em que nasceram os Irmãos Siameses, o Absoluto e o Nada.
Ao se encontrarem em plagas terrenas os mandados do Soberano, Desejo, Razão e Ser, se puseram a atuar ora em conjunto, quando então os ventos se deslocavam da nascente da Dúvida para o Azul Marinho, e ora separadamente, quando a Sinfonia era Dodecafônica e preferiam em Sincopados e preceitos Individualistas. Foi desta maneira particular e isolada que o Ser se implantou como representante da Mitologia, da Evolução da Espécie e da Divina Comédia. Isto deixou marcas indeléveis na Escolástica e na procriação hermafrodita. Com isto prosperaram as Religiões Fundamentalistas, o Pretérito Imperfeito, Organismos Geneticamente Modificados e a Radioatividade. Sobre estes contingentes criaram-se Sociedades Anônimas, Não Governamentais, Beneficentes, Esportivas e Terroristas para justificarem e adorarem o Senhor.
A Razão se pôs de imediato, seu feitio orgânico, a entrecortar sistematicamente o uso da Clonagem, do Sermão, dos Juros Compostos, Preservativo, Orçamento e das Fakes News. Com isto promulgou indispensável a necessidade da Política, do Centauro, Religião, Inveja, da Matemática, Mentira. Foi neste formato que se permitiu elaborar a miscelânea entre Contradição e Contraditório e promulgar a relação bissexual, preconceituosamente estigmatizada, entre os meandros de Todavia, Hermenêutica e do Quiçá. Esta é a história real dos acontecimentos da criação do Conhecido, do Silêncio e do Porvir, dando origem ao Suposto e a Santa Ceia.
Não há assim dúvida de como se formou o Universo. Aparentemente seriam assuntos alheios, mas sob a ótica do Criador não existem intercorrências isoladas no Cosmos, na Mente e na Fantasia. A criação é Única, Inseparável e Inexplicável. Desta forma a população de Arcováles da Maucária comprova estes fatos com as pinturas rupestres que preservam e adoram nas cavernas em que habitam com os mesmos respeitos, adorações, costumes e valores dos seus antepassados milenares.
Assim profetizou Orocomoi, para dar respaldo aos seus Delírios – “que se instaure em meu reino o Início e o Infinito, desde a inexistência do Nada, até os confins do Absoluto e se desfaça em todo o Caos e se justifique o Eu. Amém”.
* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.
Publicado em http://carloseduardoflorence.blogspot.com/
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