sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Herbert Bartz: vai-se o homem, fica o seu legado

Ondino Cleante Bataglia

Nesta madrugada do dia 29 de janeiro de 2021 temos a triste notícia do falecimento de Herbert Bartz em Rolândia, no estado do Paraná.

Herbert foi um pioneiro na adoção do plantio direto no Brasil que, juntamente com outros companheiros naquele Estado do Paraná, muito contribuíram para esse novo tipo de agricultura hoje praticada em grande parte do nosso país. Pessoalmente, ele buscou na Europa e nos EUA as ideias que levariam a solução de seus próprios problemas na agricultura com criatividade e muita dedicação.

Como dizia nosso saudoso Dirceu Gassen no prefácio do livro "O Brasil possível" - a biografia de Herbert Bartz - “A energia de sua alma, que conduzia a força de seu corpo para realizar, pensar diferente, romper a barreira do convencional, das práticas que todos faziam e eram recomendadas, determinou mudanças profundas na conservação de solos e na evolução da agricultura brasileira”.

Herbert Bartz teve em vida o devido reconhecimento por seu esforço de cultivar o solo sem que as chuvas levassem embora seu precioso patrimônio, mantendo resíduos, não revolvendo, cultivando diversas espécies vegetais, enfim, praticando a nova receita chamada de plantio direto. Não será esquecido nunca por tudo isso.

Fora da sua participação no desenvolvimento tecnológico, quem teve o privilégio de conviver com o Bartz vai lembrar sempre de momentos agradáveis com aquele que se auto denominava “alemão louco” que, na verdade, de louco só tinha um pouco. Tinha mesmo é uma alma viva, vibrante, amiga e dominadora por convencimento.

A Agrisus sempre teve uma forte parceria com ele graças à grande interação do dr. Fernando Penteado Cardoso, seu fundador, e de sua família, apoiando as diversas atividades de difusão promovidas por Bartz durante toda a existência da Fundação, o que sempre trouxe grande orgulho para todos nós que participamos dessas ações.

Nossa homenagem ao grande Herbert Bartz. Vai-se o homem, fica o seu legado.

 

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Por no gráfico em dó maior com outros desaforos e entropias.

Carlos Eduardo Florence *
  

Desde sempre, em que gente me fui por sendo, não prospero acompanhar os pensamentos próprios que me infernizam, saltitam. Aferem e pontuam, em vez do explicito, paradoxos pensantes em colcheias dodecafônicas, pererês-sacis como tresandados e minúcias artimanhas preparadas em alquímicas mentais que se fazem desacopladas, desfeitas ou prematuras, sem que eu entenda o porquê de se darem a se dar. Tudo embola enrolando os ajuntados no voo furtivo mesclado de demências, minhas e em que quando vejo já o era, adeus.

Sei que não é fácil entender, pois para mim é impossível, mas no cangote, como de touro xucro, me excita, apavora, fecunda, implode. Quando devaneio neste vento pela popa em brios e solidões, como agora, acordo sim, e já me fui ao orgasmo do indelével sem sentidos e estou pensando o que não queria pensar e não penso o que desejava. Ontem estava eu hoje fantasiando pedir desculpas pelo que não havia cometido e hoje estou matutando e corrigindo a estupidez que ontem cometi de verdade.

O galopar das minhas imaginações são donas absolutas das estrofes redomonas das prerrogativas do cavaleiro que me pretendo. Sou o que não penso e penso o que não sou. Não ria, ajude-me. Ele, pensar, me dirige, estupra, abusa. E transitam as ideias do meu cosmos emocional caleidoscópico, garimpando detalhes de pepitas fúteis entre sermões ininteligíveis, íntimos, do meu inconsciente fóbico até a esperança de andar nu em Paris ou transcender ao infinito como Monge Cartuxo nos Alpes. É como me descambo em ser um raciocino bruto, sem lapidar, para tentar conseguir esclarecer, sem explicar. Ainda assim sempre perdurou certa dose de petulância por eu pensar que medito o incompreensível do explicável. Impávido idiota, promulgo, prospero, falho sempre. Resta-me, assim, o amém, ermo.

Mentiroso, cínico, um tanto estroina, finjo entender-me e comandar, mas qual o que. Mas isto é detalhe de conversa só com a alma adoidada do fígado meu que nunca escuta as doze badaladas para se desencantar ao ludibriar o caos. Para concluir, não param estes refluxos endiabrados, a título de se dizer pensar, sem começos, mas principiam pelo fim do meu delírio previsto sem sentidos, de preferência por fingir segurança, até sem mais marcas na memória a se fazerem acarinhar, encerrando pelo absurdo predileto que é sonhar acordado, bolinar o inatingível ou mesclar as cores amarelas, azuis e vermelhas que se confundem para sumirem ou brincarem de arco-íris quando agitadas. Desmioladas estas tessituras intimas, dentro destas entropias, põem-me a arrastar para a delícia imponderável ou para o inferno sofrer, onde me perco para sempre nas ideias soltas.

Não atracam, os conceitos, depois de partidos como naus-sem-rumo, sem portos tidos ou tais vezes, para as fantasias que crio, pois transcendem pelas hipérboles imprevisíveis e nem se dão a acostar sequer em algum impenetrável. Tudo então que fique muito claro, para que eu não entenda nada ou continue a chorar. Macon, meu vizinho e parceiro de cachaça, nem ameia há muito o pretérito destas esquizoides inconveniências, acho eu, mas tanto também que nunca desbraguei perguntar. Ele amorfa calado, sem apaziguar mesmo se houvesse uma sutil metamorfose grávida sendo infiltrada em seus desejos carnais e seria capaz de enxamear comigo pelos desnecessários. Calo-me como tanto não escuto, pois não perguntei e assim o advérbio de modo tornou-se peça de antiquário e outras demências afrodisíacas que procrio.

Relembro que estou só falando da reflexão, minha. Mastigo de boca aberta, babando, um pedaço de esperança com dúvida para ver se alguém me acompanha, segue e ou entende como igual. Quem dera. Mas considero que sou normal e outros até me tratam meio assim, ou quase, pois não ouvem meus ruminantes símbolos da cabeça assemelhados a uns pares de roupas velhas que bailam, sem procederes ou rotinas, ficando penduradas em um aleatório inexplicável para eu escutar o som de suas cores sem certeza de que me entenderei comigo antes da alma se despedir. Minto? Para quem? Lógico, só a mim. Azul ou trinca de azes vem à cabeça? Por quê? Todos me desconsideram, me engano ao verberar que me faço entender.

O além se aproxima covarde e traiçoeiro, sequer percebo ou creio, tanto que a sinfonia se tornou inacabada. Escuto o silêncio, ninguém me concede e nem faz sinal para o desvario parar na primeira volta depois da esquina das paralelas pedindo infinitesimais inacabamentos, sofreguidões, antes do nada e eu saltarmos de mãos dadas no vácuo. Pergunto, místico ou alegre, mas como os verbos são mais indecorosos na voz passiva fica melhor abordar o tema com certa relatividade imponderável quântica. Deus me acuda.

A vida, a que eu não pedi para me enloucar em suas entranhas, é mais voltada ao incompreensível, anotei, e um dia morrerei, mas no momento não dá para descer e andar por outras sarjetas tão tropeçadas ou desconhecidas, pois o inexplicável, ainda mais robusto, virá pela retaguarda para me atropelar sorrindo em delírios e solfejos guturais. Peço socorro ao ser, ao consciente, infinito, ao psiquiatra, à mulher grávida, ao faminto que se desarticula com seu desatino, profecia e obrigação de viver, ao dentista, bem como ao engraxate, plataforma do metrô atopetada, mutirão de angústias, aos desatinos. Estendo ainda o interrogar ao coitado que carrega a compra do que sobrou do salário, à criança que morreu de desinteria no cortiço da rua sem esgoto, para uma vela vermelha de Ogum, acesa para enfeitar a superstição ou a mentira, à boa ou má fé, à dúvida da encruzilhada, pão nosso de cada dia que não sei se ganharei jamais. Chega.

Estes simbólicos desencantados somem pelas entranhas do meu pensamento com a mesma porosidade com que eu os crio. Não crês? Sofro ou deliro? Escuto, por hábito ou descuido, a fêmea entrar no cio e eu a desejar, mas ela me enxota. Mereço, logo penso, assim insisto ou desisto? Existo ou penso? Puta merda. Pois só sei que o beija-flor e o Pandêncio, casado com a filha do monsenhor, não se preocupam com estas estrofes minimalistas. Um por ser de sina amorosa pescadora ao ver o rio se estreitar para o além, carregar suas fantasias e aquecer as preguiças e o colibri por delicadeza de mascar o imponderável do invisível entre os perfumes abstratos da sutileza. Pois veja, é assim que a mente escapa para o lado mais incisivo do azul e fica encantada com o choro infantil ensinando a mãe a amá-lo para aliviar os seios e não o descartar do Complexo de Édipo e adjacências.

Freud deveria ter criado o complexo com adjacências. Nunca entendi; por que não o fez? Isto tudo me veio surdinado, de forma muito inútil para eu tirar o melhor proveito, quando acompanhei um dia em Carepá das Agruras os eventos miúdos escalando as paredes preguiçosas dos casarios centenários vendo os melindres furtivos olhando por trás das janelas que se recusavam a mentir. Conto, reconto mesmo a tal não chego satisfeito ao definitivo ou ao recado, mas lanço:

Bem assim se foi como se deu, por não serem santas nem mundanas, embora o azul estivesse em sintonia com o imprevisível dos astros, eram sete as moças casadoiras, lembranças ficaram. A missa fazia-se começar e uma solidão, sem más intenções ou preconceitos religiosos, atravessou a rua subindo no sentido da esperança para encontrar uma senhora pedindo esmola no sopé da escada da Matriz. Não conseguiu ajudá-la, não obstante o sacristão tenha mandado todos se sentarem para compartilharem a solidariedade. As sete moças casadoiras comungaram uma só vez para repor pequenos desejos com os quais iriam infringir a meia virgindade na semana do carnaval. Olhei pela janela e uma mosca mal informada batia-se ao vidro à cata de seu destino entre umas mangas podres caídas ao acaso na calçada fronteira ou morrer no bico de um sabiá, sem metodologia ou preconceito darwinista, tentando seduzi-la.

Encantei- me com a mosca ansiosa e hesitada em seus dilemas existenciais. Sabia manter as asas delicadamente sincopadas entre uma angústia ainda em formação, bipolar, atazanando o vidro que impedia seus desejos. Ocorreu-me, inclusive, se o vidro teria também tanto o desejo de atazaná-la, sadicamente, para tentar uma ejaculação vitral. Metaforicamente esta dialética ocorreu-me no momento, pois trazia como ponto central esta única opção que ofereci e que poderia, fatalmente, sem dúvida, descambar em fatalidade. Como poderia eu dialogar com a exuberância e prepotência do vidro que, indiferente, ironizava a mosca perplexa clamando pelo seu existir em outro abstrato preferido de seu imponderável e futuro.

Mas volto à cabeça idiota para perguntar-me, sem ter resposta, se estes manejos envidraçados do proceder mosqueado entretecido de volteios belos, mas inexplicáveis, estas altivezes melodramáticas da mosca atormentada e atormentando, este vidro prepotente e submisso, são obras reais da criação e da criatura ou desta mente tresloucada que carrego e acredita que existe por que penso, sem me informar se sou a coisa ou o imaginário é que me é? Drama existencial implantado.

Fiz uma análise regressiva de desejos, sublimei dois preconceitos entrosados de linhas lacanianas e kardecistas de um inexplicável passado da complexidade da transferência psicológica e cuja alma, simultaneamente, teve a ousadia de reencarnar como mosca, com a devida perda da memória e das motivações sexuais mais sofisticadas humanoides. Talvez fosse a solução cartesiana mais factível, pois a alma não morre, transmuda de matéria e corpos pelos aléns dos infinitos.

Nisto, o sermão da igreja, voltando ao sopé da escadaria da pedinte, constatou que o demônio fora instruído para ocupar os corpos dos porcos e liberar os loucos para serem aproveitados só mais tarde pela escravidão, pelas cruzes, catecismo, depois pela inquisição e por último pela imprensa livre, a novela e o celular. Voltei à minha existência sadomasoquista, onde a esperança da espiritualização reencarnada da mosca liberta sobre o futuro inexplicável do vidro sádico teria a potência de desestabilizar o infinito, pois eu não teria com que me entreter mais e ficaria deprimido. Como cheguei a este ponto contornando meus delírios, duvidando de meus raciocínios, tomando este café requentado, horroroso, da estação do trem e perguntando; “penso, logo existo, para que existo? Basta, atinei, pensei ou desisti?”

O trem deu sinal de partida e o adeus não conseguiu chegar nas pontas dos pés de uma moça chorando por ... (a palavra fugiu). Os moços se enfeitaram de absurdos, o vento pediu aos telhados e aos silêncios um minuto de loucura para o nada se instalar na minha mente à cata de suas entropias. Corri atrás do meu raciocínio que os lixeiros, enganados, jogaram na caçamba do caminhão. Pedi mais uma pinga, que alegria, estou livre, nunca fizeram falta mesmo as ideias atrapalhadas que sempre foram lixos.

Sábado é dia de ... esqueci! Ainda bem. Livre dos compromissos, dos sisos e dos omissos, suicidei-me.

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos

Publicado em http://carloseduardoflorence.blogspot.com/2021/01/por-no-graficoem-do-maior-com-outros.html

 

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Dieta presidencial inclui leite condensado, chicletes e alfafa?

Richard Jakubaszko  

Degustar pãozinho francês com leite condensado pela manhã, apesar de inusitado e exótico, até dá para entender. É uma idiossincrasia que a gente aceita. Consumir chicletes durante o dia, olha só, mostra muita tensão, né não, afinal, o cargo deve exigir muito autocontrole do ex-capitão, coisa que ele já mostrou não possuir e não sabe controlar bem. Os memes pipocaram ontem nas redes sociais, e até uma lista das compras foi divulgada, que inclui água de coco, bombons, vinhos, pizzas, tudo em quantidades exorbitantes, mesmo sendo para consumo do ano inteirinho de 2020.

As compras, feitas em fornecedores atípicos, com endereços incomuns para empresas que atendem o governo federal em concorrências que a gente imagina serem acirradas, levam a suspeitas de muita treta, até porque, uma lata de leite condensado, no supermercado da esquina daqui de casa, custa algo por R$ 8,00 uma latinha, mas o governo pagou R$ 162,00 por cada uma. Tem treta ou não tem? A Presidência da República que se explique.

Agora, o que será que se faz com tanta alfafa na dieta presidencial? É tudo junto e misturado, ou é consumido de outras formas? Sugestões podem ser colocadas na seção dos "comentários" aí embaixo.



 




 

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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Ciência e cooperação para superar adversidades

Maurício Antônio Lopes *

Poucos sabem da influência da ciência no pensamento político dos líderes que moldaram a maior potência global, os Estados Unidos da América. Os chamados “fundadores” da nação americana consideravam que a ciência era parte integrante da vida - incluindo da vida política. Historiadores nos contam que Thomas Jefferson era um estudioso do legado científico de Isaac Newton, Benjamin Franklin foi um cientista ilustre que se dedicou ao estudo da eletricidade, John Adams teve a melhor educação científica que o novo país oferecia e James Madison, o arquiteto-chefe da Constituição americana, salpicou seus famosos “Artigos Federalistas” com referências às ciências da vida, à física e à química.

Ao se tornar fonte de inspiração que ajudou a moldar a Constituição americana, a ciência ganhou visibilidade e status e certamente marcou a evolução do pensamento, das leis e das instituições que consolidaram aquele país como potência científica e tecnológica - o que ajudou a definir a forma, a evolução e a competitividade da sua pujante economia. Após a Segunda Guerra Mundial, as universidades americanas, estimuladas por financiamento governamental para pesquisa e ensino superior, se expandiram em tamanho, número e diversidade de alunos, produzindo não apenas profissionais bem treinados, mas também um arsenal de novos conhecimentos que deram origem ao mais poderoso ecossistema de inovação do planeta.

O sucesso da ciência americana ajudou também a inspirar o investimento global em inovação e a fortalecer a cooperação científica e tecnológica ao redor do globo. Suas universidades se tornaram referência em capacitação de alto nível, se abrindo para treinar cientistas de todas as partes, incluindo o Brasil. Milhares de pesquisadores da Embrapa, de institutos estaduais de pesquisa e de universidades brasileiras foram treinados nas melhores universidades americanas, onde adquiriram conhecimentos e construíram redes de cooperação que ajudaram o Brasil a superar a insegurança alimentar e a se tornar um grande exportador de alimentos em apenas quatro décadas.

O fato é que os líderes preparados e pragmáticos sabem que aqueles que geram novos conhecimentos e os transformam em inovações tecnológicas são os donos do futuro. O recém eleito presidente americano Joseph Biden tem repetido que sua administração será "construída sobre um alicerce de ciência". E países que almejam posição de destaque no mundo investem em políticas científicas e tecnológicas robustas e de longo prazo, ao mesmo tempo que fortalecem suas estratégias de cooperação. Este é o caso da China, que em poucos anos se tornou um dos maiores produtores globais de conhecimento científico. São países cujos líderes compreendem que a superação de adversidades, como mudanças climáticas, riscos sanitários, poluição e escassez de recursos só poderá se dar com pesados investimentos em ciência, tecnologia e cooperação.

Ainda assim, a última década foi notável por um aumento nas atividades anticientíficas, com destaque para o movimento contra a vacinação - uma das maiores conquistas da saúde pública no século 20. Esse é um dos tristes exemplos da desinformação que ganham força nas redes sociais, trazendo de volta riscos considerados já superados e comprometendo a credibilidade da ciência, em momento em que a sociedade se mostra cada vez mais dependente de conhecimento. É por isso que precisamos de dirigentes esclarecidos, atentos aos riscos da ignorância científica, capazes de compreender e comunicar que vivemos em uma sociedade absolutamente dependente do conhecimento. Impossível não perceber essa realidade, imersos que estamos em uma pandemia, que nos traz exemplos cristalinos do enorme poder da ciência e da cooperação para superação de adversidades.

Exemplo como o rápido sequenciamento do genoma do vírus Sars-CoV-2, na China, em janeiro de 2020, dias após o seu primeiro isolamento. Quando a cidade de Wuhan registrou a primeira morte devido à Covid-19 a sequência genômica do vírus foi rapidamente postada em um site de acesso aberto a cientistas em todo o mundo. As 28.000 letras do código genético do vírus permitiram que universidades e empresas farmacêuticas ao redor do globo projetassem, em poucos dias, diversos protótipos de vacinas, alguns testados com sucesso ao longo do ano. Responder a um novo vírus letal desconhecido com vacinas aprovadas em prazo tão exíguo foi um feito extraordinário que atestou de maneira inequívoca a essencialidade da ciência e da cooperação para o progresso e o bem estar da sociedade.

É por isso que, mais que em qualquer outro momento da sua história, o Brasil precisa cuidar com grande atenção da sua ciência. A falta de planejamento estratégico, de investimento e de formação de cientistas poderá nos colocar em situação de perigo ou nos arrastar para posições de menor importância no cenário mundial. É evidente a emergência de riscos de grande impacto – como as mudanças climáticas e as crises sanitárias, assim como é evidente a reconfiguração nas cadeias de valor globais, cada vez mais intensivas em conhecimento. Por isso o Brasil precisará elevar de forma substancial sua capacidade de resposta a crises, além de ampliar a criatividade e a produtividade da sua economia, o que só ocorrerá com formação de talentos, fortalecimento da capacidade de cooperação e grande investimento em políticas científicas e tecnológicas robustas e de longo prazo.

* o autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa.

 


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

“Terra perde gelo mais rapidamente hoje do que nos anos 1990, indica estudo.”

Richard Jakubaszko  
O UOL publicou hoje matéria sobre mudanças climáticas e aquecimento que foi escrita, com certeza, por um(a) foca (jornalista aprendiz) fora de foco.

A matéria tem por título “Terra perde gelo mais rapidamente hoje do que nos anos 1990, indica estudo.” E ilustra a reportagem com foto de pequenos blocos de gelo boiando à beira da praia, certamente foto de arquivo.

Cheia de atrozes ameaças, a reportagem é um libelo ambientalista e informa que "O derretimento do gelo terrestre - na Antártica, Groenlândia e geleiras de montanha - adicionou água suficiente ao oceano durante o período de três décadas para elevar o nível médio do mar global em 3,5 centímetros"... 

Êpa! O "mar global" elevou-se "em média" 3,5 centímetros? Grande novidade! Merecia o prêmio Pulitzer pelo furo jornalístico!

Mais adiante, sem citar fonte nenhuma, o(a) jornalista engajado(a) afirma que "Ao todo, estima-se que 28 trilhões de toneladas métricas de gelo derreteram do gelo marinho, mantos de gelo e geleiras do mundo desde meados da década de 1990. Anualmente, a taxa de derretimento é agora cerca de 57% mais rápida do que era há três décadas, relatam os cientistas".

Usando a linguagem panfletária dos biodesagradáveis pessimistas a matéria registra que "Usando dados de satélite de 1994-2017, medições do local e algumas simulações de computador, a equipe de cientistas britânicos calculou que o mundo estava perdendo uma média de 0,8 trilhão de toneladas métricas de gelo por ano na década de 1990, mas cerca de 1,2 trilhão de toneladas métricas anualmente nos últimos anos".

Ora, publiquei no livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", 2019, DBO Editores, 384 pgs., 2 edição, de minha autoria, e tendo a participação de vários cientistas, todos os desmentidos sobre essas barbaridades publicadas pela mídia engajada, que tem explícito vício no alarmismo em espalhar o pânico. Dediquei o livro para os jornalistas, especialmente os iniciantes, mas não adiantou nada, a nova geração dos jovens não acredita em nada que não seja um zap, e não lê mais livros, inclusive os jornalistas.

Quem desejar conhecer esses desmentidos terá de ler o livro, o que é bom como cultura geral e também entretenimento nesses tempos de pandemia e reclusão que vivemos. Escreva e-mail para co2clima@gmail.com que enviaremos informações sobre como depositar o valor de R$ 40,00 - incluso taxa de postagem, e você recebe o livro em casa, autografado pelo autor. Se desejar, pode comprar na Amazon, é um dos livros mais vendidos na categoria de livros técnicos / jurídicos / sobre questões ambientais, faz 18 meses, com média de 4,4 estrelas de avaliação por mais de 3 dezenas de leitores/clientes.

Entretanto, apesar das barbaridades publicadas pelo UOL, que sempre me irritam profundamente, a leitura da matéria me proporcionou a alegria de ler 12 comentários, sendo 10 deles absolutamente contrários ao alarmismo, acusando o UOL de fake news. Acesso hoje, 18h00.

Confira outras barbaridades publicadas pelo UOL em:
https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2021/01/25/terra-pede-gelo-mais-rapidamente-agora-do-que-nos-anos-1990-indica-estudo.htm

 

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domingo, 24 de janeiro de 2021

Livro: Climatologia Dinâmica: Conceitos, Técnicas e Aplicações

Richard Jakubaszko   

Intitulado Climatologia Dinâmica: Conceitos, Técnicas e Aplicações, a obra é uma reflexão sobre o estudo do clima nas últimas décadas no Brasil. Segundo Neves, que também foi um dos responsáveis pela produção, “o livro atende a uma lacuna dentro da climatologia brasileira ao trazer conceitos teóricos e algumas técnicas e aplicações das ferramentas”, afirma. Ainda segundo o professor, por se tratar de um material didático, a publicação pode ser utilizada na graduação em cursos que trabalham com a ciência climática.

O prefácio é do físico Luiz Carlos Baldicero Molion, coautor do livro "CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?", junto a este blogueiro e inúmeros outros cientistas.

Link do livro, em formato PDF, para download gratuito:
https://sites.usp.br/climatologia/wp-content/uploads/sites/267/2020/07/CLIMATOLOGIA-DIN%C3%82MICA_Conceitos-T%C3%A9cnicas-e-Aplica%C3%A7%C3%B5es.pdf 

 

 

sábado, 23 de janeiro de 2021

Carta branca para a morte

Janio de Freitas  *
na Folha de São Paulo

O ser imoral que atende por Jair Bolsonaro forçou o jornalismo a deseducar e endurecer a linguagem em referências ao governo e, ainda mais incisiva, sobre o intitulado mas não presidente de fato.

Com os assassinatos por asfixia cometidos pela incúria e o deboche no Amazonas; mais de 200 mil mortos no país entregue à pandemia e à sabotagem, e a patifaria contra a vacinação vital, mesmo a grosseria realista é insuficiente.

Nem a liberação dos chamados palavrões, feita pela Folha e O Globo há algum tempo, soluciona o impasse. Muitos as consideramos aquém do jornalismo e os demais ficariam expostos a inconvenientes legais.

A asfixia é reconhecida como uma das mais penosas formas de morte, acréscimo ao nosso horror com as mortes em campos de concentração nazistas, nas câmaras de gás para condenações passadas nos Estados Unidos, como nas perversões criminosas. Hoje, é aqui que essa morte terrível ocorre, vitimando doentes que tiveram a infelicidade preliminar de nascer no Brasil.

Que considerações valeria tentar sobre esse fato? Seus responsáveis são conhecidos. Um presidente ilegítimo pela própria natureza e pela contribuição para a morte alheia. Um general patético e coautor, sobre os quais apenas vale dizer aqui, ainda, da lástima de que não terão o merecido: o julgamento por um sucedâneo do Tribunal de Nuremberg.

Bebês, 60 bebês, parturientes, operados, cancerosos, infartados, vítimas da pandemia, às centenas, milhares, desesperados pelo ar que os envolve e no entanto lhes falta. Todos diante da morte terrível, não pelo que os internou, mas de asfixia — por quê?

Guardião de 62 pedidos de impeachment de Bolsonaro, Rodrigo Maia enfim dá sua explicação para o não encaminhamento da questão ao exame das comissões específicas: “O processo do impeachment é o resultado da organização da sociedade. Como se organizou contra os presidentes Collor e Dilma”.

Não houve uma pressão “que transbordasse para dentro do parlamento. Não foi avaliar ou deixar de avaliar impeachment, e sim compreender que a pandemia é a prioridade para todos nós”.

O fácil e esperado. Mas os casos de Collor e Dilma nasceram no Congresso, não na sociedade. Foi a mobilização, lá, de parlamentares que gerou e fez transbordar para a sociedade a exigência do impeachment de Collor.

A “pedalada” contábil do governo Dilma nunca passou pela cabeça de ninguém, na sociedade e no Congresso. Foi o pretexto criado já a meio da conspiração lá urdida por Aécio Neves e Eduardo Cunha, símbolos da pior corrupção, a que corrói a democracia pela política. A mídia (sic) levou para a sociedade o golpismo transbordante no Congresso.

Se a prioridade fosse a pandemia, o governo não continuaria entregue aos que a negam e como governo sabotam, à vista de todo o país, tudo o que possa combatê-la. Para isso recorrendo, sem receio, a ações e omissões criminosas. Uma sucessão delas, incessante até hoje.

​Se nas mais de 200 mil mortes houvesse apenas uma induzida pelas pregações e sabotagens de Bolsonaro, já seria bastante para ser considerado criminoso homicida. Mas são muitos os interesses financeiros e políticos a protegê-lo. Na verdade, mais que isso, porque é carta branca que lhe tem sido assegurada, sobre 212 milhões de brasileiros, como sobre o presente e o futuro do país.

 

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Impeachment é tratamento precoce contra a crise de imbecilidade

Richard Jakubaszko   

A proposta é do jornalista Macaco Simão, observador da política brasileira, vejam se ele não tem razão:


 

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Vai faltar vacina, seringa e insumos...

Richard Jakubaszko  
No Brasil de Bolsonaro tudo é possível, vai faltar tudo, porque não há competência, não tem moral, desconhecem gestão, inexistem objetivos, os caras no governo federal nem sabem o que está acontecendo, vão fazer o quê com 4,6 milhões de vacinas num país de 213 milhões de habitantes? Vacina só no Carnaval de 2022...
Eu tô que nem o Bob Marley...



 

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sábado, 16 de janeiro de 2021

Bolsonaro: "Isolamento mata mais do que o Covid".

Richard Jakubaszko  

A patacoada do dia não falha, Bolsonaro soltou hoje mais essa do título aí em cima. De onde a mente perturbada desse ex-militar tirou essa conclusão de ébrio só pode ser debitada na conta do trigésimo copo de cerveja que ele tomou. Ou na forma como foi criado, conforme o meme da web, aí embaixo:



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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Dória: "Bolsonaro é um facínora!"

Richard Jakubaszko   

Ué, quando foi que Dória chegou à essa conclusão? Só hoje, depois de saber que 60 bebês prematuros em Manaus estão sem oxigênio? Ou foi depois que recebeu a notícia de que o governo federal requisitou as 6 milhões de vacinas contra o Covid19 do Instituto Butantan? Não importa quando, parece que caiu a ficha, dele e de muita gente.
É hora, portanto, de cada um se manifestar como for possível, pela saída imediata de Bolsonaro da Presidência da República. Age como um genocida, joga merda para todos os lados, e ainda tenta teimosamente empurrar cloroquina!

O ex-capitão não tem compromisso com os brasileiros. Seu único objetivo é a reeleição em 2022. Enquanto isso a pandemia avança, temos, pelo quarto dia consecutivo, mais de 1.000 mortes por dia. Ele é o maior responsável por esse desastre, conforme informa a OMS/ONU.

Fora Bolsonaro! Qualquer motivo para tirar esse maluco do Palácio do Planalto é bem-vindo, seja impeachment, renúncia, suicídio, golpe, bala perdida, vacina contaminada, qualquer coisa será saudável se livrar o Brasil desse genocida.


 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Qual é a saída para o Brasil?

Richard Jakubaszko  

A saída é pelo túnel... E o presidente administra as crises econômica, política e sanitária no país como se a saída fosse a luz que ele vê no fim do túnel, que ainda não é uma locomotiva na contramão. Briga pela primazia de quem vai aplicar a primeira vacina contra o coronavírus, se ele ou o governador de São Paulo. Mostra a pequenez da mentalidade do ex-capitão, e de seus seguidores no governo.
Simplesmente medíocre.


 

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Bolsominiuns evangélicos não tomam vacina contra Covid

Richard Jakubaszko   

Tá explicada a aversão que os bolsominiuns evangélicos têm contra a vacina contra o coronavírus, eles se baseiam na interpretação literal e conjunta da Bíblia e da ciência:



 

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sábado, 9 de janeiro de 2021

Sobre a vacina: tempos de egoísmo

Richard Jakubaszko 

Como nunca se observou na longa história do homo sapiens, o egoísmo predomina entre os chamados negacionistas das vacinas. Alegam que as vacinas não funcionam. Temem efeitos colaterais, sejam de pequena monta, sejam mais graves, tipo diarreias, coceiras ou dores de cabeça, os eventos mais comuns registrados nas pesquisas de campo, mas de baixa significância estatística.

Como será que esses negacionistas imaginam que epidemias terríveis como varíola, sarampo, poliomielite, coqueluche, apenas para citar algumas, foram vencidas? Ou doenças do gado, como a Aftosa? Pela imunidade espontânea do rebanho? Alguns pais pararam de vacinar contra o sarampo e ele voltou.Triste a ignorância dessas pessoas, o que não é exclusividade dos brasileiros. Existem muitos pelo mundo, não apenas pelo fato de ignorar a ciência. mas de se socorrerem de comentários mentirosos, ou fake news, sobre a eficácia das vacinas.

Acho que é simplesmente egoísmo desses negacionistas das vacinas. Alguns chegam a dizer que vão esperar as vacinações em massa e depois de um ou dois meses decidirão se tomam ou não a vacina. Como temos um governo de plantão que é absolutamente leviano e inconsequente, irresponsável no limite do bom senso, os egoístas ganham aplausos desses poderosos. Acham que estão no exercício de seu livre arbítrio.

Apenas um dado, que a ciência conhece muito bem: tomar a vacina garante não apenas que os negacionistas não sejam contaminados, mas, principalmente, evitará que, mesmo sendo portadores sãos, transmitam a doença aos seus entes mais queridos. Ou os negacionistas não têm mãe, filhos, irmãos?

Apenas pensem nisso, os egoístas distraídos.

 

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Como foi o dia de Reis Magos de Bolsonaro

Richard Jakubaszko   

Completamente alienado do que acontece aqui no Brasil, seja pandemia ou economia, as preocupações do Jair Messias sem noção Bolsonaro voltaram-se para o que se passa nos EUA de Trump, e, no dia de Reis Magos, a web, marvada como sempre, registrou em memes as trapalhadas do mais desmoralizado presidente que já tivemos no Brasil.
Não é exagero repetirmos, sai daí Jair...

 



 

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Fora, Bolsonaro!!!

Richard Jakubaszko  

Faça alguma coisa pelo Brasil, Bolsonaro: renuncie!

Chega de palhaçada! Pare de fazer piadinhas e comentários jocosos, você não é humorista. Agora vai até reclamar? Se o Brasil está quebrado, e se você não consegue fazer nada, vai pra casa e entregue a rapadura para alguém mais competente.

Seria uma enorme alegria aos brasileiros. 

 

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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Brasil de Bolsonaro é case global de como unir incompetência e fanatismo

Igor Tadeu Camilo Rocha

Diante dos avanços na vacinação contra a covid-19 ao redor do mundo, vejo multiplicar-se uma análise que consiste em dizer que a péssima e absurda gestão de Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia no Brasil se deve tão somente a sua inépcia para o cargo, e não tanto a questões ideológicas de sua figura política e de seu governo.

As evidências da tese são mostradas na diversidade de perfis político-ideológicos dos governos de países que já estão adiantados anos-luz de nós em suas campanhas de vacinação contra o novo coronavírus. Vejamos alguns. Hungria, país governado pela extrema-direita, e Argentina ou México, governados por uma centro-esquerda, já começaram suas vacinações, algo que indica que entender a vacina como solução mais factível para o controle da pandemia independe do lugar nessa régua ideológica das democracias liberais. Tampouco o perfil populista iria interferir quanto a isso, já que os Estados Unidos, nos derradeiros dias do governo dito populista de Donald Trump, segue a pleno vapor em sua campanha de imunização em massa.

As crises econômica e política também parecem não explicar por si mesmas a péssima gestão do governo brasileiro, uma vez que países que passam por momentos turbulentos nesse campo parecem já terem se resolvido. A Venezuela, por exemplo, já firmou acordo para vacinar inicialmente 10 milhões de pessoas com a Sputnik V. Já a Bolívia, que passou por um golpe de Estado em 2019 e, depois, por uma tensa eleição em 2020, também já anunciou um acordo para começar a vacinar sua população.

Mesmo países em que o fundamentalismo religioso representa forte peso na sua política interna, como a Polônia, também começaram suas campanhas de vacinação. Da mesma forma, em nações com políticas reconhecidamente autoritárias, como a Rússia, a imunização já é realidade.

Enfim, a cada dia de atraso ou evento com o presidente Bolsonaro reunindo-se com dezenas de pessoas sem máscaras ou distanciamento, a cada polêmica ridícula sobre vacinas, assistimos à transformação do Brasil, país historicamente referência em vacinação, em exemplo internacional de como não agir no meio da pior crise sanitária dos últimos cem anos.

E devemos ser claros. Todo esse atraso acontece por opção do atual governo, com suas ações descoordenadas, omissões, cortes e desmonte da produção científica e no sistema de saúde, assim como uma inexistente gestão logística. Tudo isso indica haver incompetência e creio que isso seja ponto pacífico para a maioria, exceto a base mais fanática de apoiadores de Bolsonaro.

Parece correto dizer que ideologia política não parece ser um fator determinante ao redor do mundo para respostas boas ou ruins à pandemia. Mesmo no Brasil, seguem-se diariamente elogios sobre a gestão da pandemia dirigidos a governadores como João Doria (PSDB) e Flavio Dino (PC do B), de partidos de centro-direita e centro-esquerda, respectivamente. Estes, mesmo quando criticados, nem de longe o são por motivos que passam perto de negacionismo antivacina ou falas em tom de zombaria quanto às vítimas da covid-19. O mesmo pode ser dito do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).

O exemplo de Jair Bolsonaro, dessa maneira, consolida-se como um caso isolado sob qualquer ângulo que se observe na política. Nem mesmo alguns de seus antigos eleitores e apoiadores, como Luciano Huck ou João Amoedo, conseguem mais expressar publicamente qualquer coisa diferente de críticas duras e indignação. Entretanto, devemos tomar cuidado, pois essa leitura pode nos levar a uma análise despolitizada da gestão bolsonarista, sugerindo, incorretamente, que a ruindade do presidente brasileiro nada teria a ver com o complexo emaranhado ideológico que compõe o bolsonarismo como fenômeno político.

Nada mais distante da realidade. A atuação de Bolsonaro na pandemia explica muito sobre a sua figura política construída ao longo de toda a sua trajetória, e também do próprio bolsonarismo do ponto de vista político-ideológico. A pandemia da covid-19 funcionou como uma tempestade perfeita em que variados aspectos de Bolsonaro e do bolsonarismo, que se complementam e os tornam efetivos no debate público e disputas do poder, tornaram-se mais visíveis.

O primeiro aspecto – o que mais salta aos olhos – é a dimensão retórica e performática, que se deu de variadas formas. No início da crise, apareceu forçando a volta da normalidade e, paralelamente, foi voltando sua artilharia contra outros adversários como os governadores e prefeitos, imprensa, até finalmente chegarmos ao antagonismo contra a vacina.

Trata-se da face mais histérica, histriônica e paranoica do bolsonarismo, que compõe uma característica das extremas-direitas de possuírem um hiperidentitarismo, grosso modo materializado na sua constante necessidade de se distinguir. As polêmicas gratuitas e por vezes absurdas, baseadas em negacionismos, distorções da realidade e teorias conspiratórias, fazem parte do amplo escopo de artifícios mobilizados para isso. Também, o bolsonarismo se alimenta da forja permanente de novos inimigos, como se fosse golpeado e sabotado por todos os lados, o que justificaria sua postura autoritária e a constante representação do adversário como um sujeito a ser eliminado.

Esses dois aspectos, além de demarcadores da identidade do bolsonarismo politicamente, também compõem sua narrativa antissistêmica. Bolsonaro e todo o discurso político em torno de sua figura precisam sempre se afirmar como sendo "contra tudo isso que está aí", sem que isso contradiga, no atual momento, a posição de governo.

A crise da covid-19 tem sido um campo dos mais prolíficos para que essa dimensão ganhe diariamente novos contornos, nos seus embates contra a imprensa, com Doria e outros governadores, ou qualquer outro agente que questione sua gestão ou apresente alguma solução diferente das colocadas pelo governo ou apoiadores.

De fato, Bolsonaro apresentou soluções, ainda que elas comprovadamente não funcionassem, sendo o maior exemplo disso a sua constante insistência no tratamento da covid-19 com a hidroxicloroquina. Isso nos leva a um segundo componente do bolsonarismo, que acho adequado chamar de aspecto fundamentalista. Esse aspecto articula identitariamente as mencionadas rejeições e invenções de inimigos com o oferecimento de resoluções, esquemas e verdades "alternativas" para a crise.

Por "alternativas", entendemos aqui soluções como a própria cloroquina apesar de os "inimigos" mostrarem com artigos científicos que ela seria ineficaz contra a covid-19, por exemplo. E a insistência nessa narrativa que constrói um caráter quase religioso no bolsonarismo. Ele oferece sentido ao estado das coisas como estão, e dá forma a narrativas para as quais os fatos sistematicamente devem se curvar.

É necessária uma boa dose de teorias conspiratórias, fake news e a construção de um sistema de crenças no qual faça sentido que os graves problemas mostrados pelos inimigos (como cientistas, imprensa, governadores, prefeitos ou qualquer um que ache terrível chegarmos a 200 mil mortos nos próximos dias) não sejam tão graves assim, ou talvez sejam até inventados para prejudicar o "mito", e que as soluções dadas por ele sejam ungidas como únicas possíveis e autorizadas. Mas é necessário, também, algum vínculo com a realidade mais prática, o que nos leva a um terceiro aspecto que é o fato de Bolsonaro, ainda que aparentemente tenhamos esquecido disso por um tempo, seja um político com quase toda a sua trajetória construída no Centrão. Por esse lado, podemos entender que parte das ações de Bolsonaro no curso da pandemia parece se voltar mais diretamente a evitar qualquer viabilidade de seu impeachment, ou ainda que os escândalos de corrupção envolvendo sua família tenham consequências maiores. Isso tem alguns efeitos práticos, como o fato presumível de que Bolsonaro jamais se sustentaria no poder tendo somente o volátil PSL e sua geração de outsiders de extrema-direita como base. Voltar para o Centrão também viabiliza um jogo constante de Bolsonaro com atores importantes da política brasileira que poderiam vir a pressioná-lo, ao vender uma suposta moderação.

Esse movimento de volta também vincula Bolsonaro e o bolsonarismo a interesses de elites econômicas do Brasil e realçam um quarto aspecto ideológico que baliza suas ações na pandemia: um ultraliberalismo econômico somado a uma ausência permanente de sensibilidade social, o que não deixa de ser uma marca de parte substantiva das elites econômicas de um dos últimos países a abolir a escravidão no mundo.

A narrativa da morte de pessoas x morte de CNPJs (desumanizando os primeiros e antropomorfizando/humanizando os segundos), defendida por Bolsonaro junto a empresários que o apoiam, traz uma materialidade econômica fundamental a esse emaranhado ideológico bolsonarista. Dessa maneira, a chave de leitura aqui pensada não discorda da ideia de que todo o caos gerado pela péssima gestão do governo brasileiro na atual crise se deve à inépcia do presidente e de seu gabinete ministerial, com destaque para o atual ministro da Saúde, que fracassa na compra de seringas.

Porém, mesmo a ruindade do governo Bolsonaro no enfrentamento da covid-19, amparada por alguns setores da sociedade e atores políticos no Brasil, é balizada ideologicamente. Essa incompetência, assim como tudo na política, tem pressupostos, objetivos e formas de pensar a realidade que são circunscritos por ideologias e tradições nos jogos de poder e de formas de ver e fazer a política.

Em suma, a atual tragédia brasileira é uma junção perfeita de coisas que já devíamos ter superado, enquanto país e democracia, há décadas, com problemas inéditos, potencializados por fatores do nosso tempo. É um conjunto de facetas tanto detestáveis quanto bem presentes historicamente na realidade brasileira, todas operando em sintonia na pior crise sanitária do século.

* o autor é doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Publicado originalmente no UOL: https://entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/2021/01/03/brasil-de-bolsonaro-e-case-global-de-como-unir-incompetencia-e-fanatismo/

 

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