quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Entendendo a crise financeira americana...


Richard Jakubaszko
"Essa é uma forma didática de explicar a crise americana."
É assim:
O seu Bilu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele aumenta um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Bilu, um ousado administrador formado, que tem curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo a pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDBs, CDOs, CCDs, UTIs, OVNIs, SOSs ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer, e afinal isso nem é importante.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capítais e conduzem a operações estruturadas de derivativos nas bolsas de valores, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Bilu). Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países. Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e a bodega do seu Bilu vai à falência.
E toda a cadeia "sifu"!!!
Os US$ 700 bilhões do governo americano vai ser pra devolver a grana aos "investidores" que perderam ativos financeiros com as especulações nos derivativos do seu Bilu...
Agora ficou fácil de entender, não ficou?
Hehehehe
PS. Consta que o seu Bilu vai mudar de ramo, agora vai abrir uma agência de propaganda.
Grato pela colaboração da Cleunice Galetti Polezzi, do financeiro da DBO Editores, que simplifica a nossa vida todo dia.

Para entender melhor ainda essa estúpida crise, onde vigaristas, banqueiros e políticos ainda vão levar vantagem e ganhar muito mais dinheiro, veja o quadro de um programa humorístico inglês na TV, que é explícito, além de hilário:

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A encrenca está feita, e não tem associação pra defender a soja.

Richard Jakubaszko 
Recebi em 16 de setembro último o press release da Secretaria da Agricultura de São Paulo. 
O título é bombástico, tenho de reconhecer. 
Ficou bem ao gosto da grande mídia sensacionalista, cujo objetivo parece ser apenas o de vender jornal e gerar audiência: 

(Veja parte do release, os negritos são meus)

Título: "ITAL detecta compostos cancerígenos em óleo de soja". "Pesquisa do Instituto de Tecnologia de Alimentos, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Ital/Apta/SAA), verificou a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) - compostos orgânicos cancerígenos e que podem provocar mudanças no material genético das células - em óleos de soja encontrados no mercado. As análises apontaram a contaminação de todas as amostras coletadas, que pertenciam a diferentes marcas. O ITAL é a única instituição no Brasil a realizar testes de detecção dos HPAs em alimentos”.

O texto esclarecia ainda que "No caso do óleo de soja, os resultados obtidos pela pesquisa - que avaliou 42 amostras coletadas ao longo de um ano - eram esperados. Os HPAs são formados, nesse caso, durante a secagem da soja, pois, no Brasil, ainda se utiliza a secagem pela queima da madeira. Eles se depositam no grão e passam para o óleo bruto. Durante o processamento, ocorre certa diminuição, mas não perde 100%”, diz a coordenadora do trabalho, Mônica Rojo de Camargo. A conscientização e a mudança de postura devem partir da indústria, já que o consumidor não tem como se proteger. Uma das alternativas é substituir o processo de secagem”.

Para complementar a informação havia um detalhe importante: "Os HPAs são gerados na queima incompleta de material orgânico. Essa importante classe de carcinogênicos (compostos cancerígenos) faz parte do dia-a-dia do homem, já que está presente na poluição ambiental e em muitos alimentos e bebidas, tais como hortaliças, carnes, café, chá, óleos e gorduras e grãos. Como conseqüência, sua presença em produtos alimentícios tem sido objeto de preocupação nos últimos anos. Eles oferecem risco à saúde caso sejam inalados, ingeridos ou se houver contato com a pele. Pára o baile! Desejam-se explicações... 

Quer dizer que agora até o óleo de soja está na mira? Sim, está e estará! Sabe por que vai continuar? Porque não tem ninguém pra defender a soja. 
Se houvesse uma associação de produtores de soja, mas representativa dos produtores, haveria uma defesa.

A explicação de toda essa questão feita pelo ITAL, assunto que nem polêmico é, pois está justificado no próprio press release
Lembro aos leitores que apliquei os grifos e coloquei uma cor em cima da própria justificativa dada pela Secretaria da Agricultura. 
Houve exagero da Secretaria da Agricultura? Nem tanto, mas talvez, isso sim, não se tenha dado relevância política, apenas relevância técnica para a notícia, que é espalhafatosa e dramática, até porque a soja deve estar lá pelo 10º lugar no Estado de São Paulo em termos de importância como lavoura plantada. 

Defender interesses técnicos, econômicos e políticos dos produtores de soja seria uma das muitas tarefas de uma associação dos produtores de soja como sugeri nos artigos anteriores (Está tudo errado no agronegócio!), disponíveis aqui neste blog: http://richardjakubaszko.blogspot.com/ 

Enquanto os dirigentes de cooperativas se mantiverem calados – e se fingindo de mortos, pois acham que o assunto não é com eles – a situação vai continuar do jeito que está. A única coisa que podem fazer neste momento, isolada ou coletivamente, é calcular os prejuízos que poderiam advir se houver alguma ação dos consumidores em rejeitar o consumo de óleo de soja por conter os tais compostos carcinogênicos. 

A grande imprensa nem deu bola para o assunto, saiu uma ou outra notinha de rodapé de página, ficou mais como notícia e clipping da grande maioria dos sites ligados ao segmento agropecuário e a um ou outro site ligado aos setores de alimentação. Uma busca no santo Google com as palavras “óleo de soja – carcinogênico – Ital”, me revelou que menos de 30 sites e blogs divulgaram a má notícia, o que já seria motivo para uma associação de produtores de soja vir a público e dar as devidas explicações. 

Não vai ter explicações sobre o problema do óleo de soja porque não tem associação. Mas pergunto: e se fosse algo realmente importante, algo como uma contaminação conforme aconteceu recentemente com o leite e com outros alimentos? O leitor consegue calcular os prejuízos? 

Para fazer uma associação precisa ter união dos produtores, e o caminho é fazer com que as cooperativas o representem, e através das cooperativas se estabeleçam associações, seja de soja ou de milho, para defender os interesses dos produtores, nesses e noutros assuntos relevantes. 
Rezar e reclamar depois do leite derramado sempre dá muito mais prejuízo.
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Conheça antes o seu cliente

Richard Jakubaszko 
Proposta sensata e coerente que me foi enviada por Antônio Augusto Borges, do Portal Agrolink. 

O vendedor de aspirador de pó
Uma dona de casa, num vilarejo, ao atender as palmas em sua porta...  
- Ó de casa, tô entrando! 
Ela se depara com um homem que vai entrando em sua casa e joga esterco de cavalo em seu tapete da sala. 
Apavorada a mulher pergunta: 
- O senhor está maluco? O que pensa que está fazendo em meu tapete? 
O vendedor, sem deixar a mulher falar, responde: 
- Boa tarde! Eu estou oferecendo ao vivo o meu produto, e eu provo pra senhora que os nossos aspiradores são os melhores e mais eficientes do mercado, tanto que vou fazer um desafio: se eu não limpar este esterco em seu tapete, eu prometo que irei comê-lo! 
A mulher se retirou para a cozinha sem falar nada. 
O vendedor, curioso, perguntou: 
- A senhora vai aonde? Não vai ver a eficiência do meu produto? 
A mulher responde: 
- Vou pegar uma colher, sal e pimenta, e um guardanapo de papel. Também uma cachaça para abrir seu apetite, pois aqui em casa não tem energia elétrica! 
Moral da história: - Conheça o seu cliente antes de oferecer qualquer coisa.

sábado, 13 de setembro de 2008

O parto de uma nação

O parto de uma Nação
por Luis Nassif  
7 de setembro de 2008
(Richard Jakubaszko = meu comentário: Tom Jobim tinha certa razão quando dizia que o Brasil era um país de cabeça para baixo: isso se refletia literalmente em nossas lideranças e, inclusive, em nosso mapa geográfico.

Nos anos de 1960 Tom Jobim voltou ao Brasil após mais uma viagem aos USA, depois de cantar com Frank Sinatra. Acabara de recusar um contrato milionário com um estúdio de Hollywood para fazer 3 ou 4 filmes. 
Questionado, e acusado por amigos de insanidade por recusar tanto dinheiro, que daria uma garantia de vida para ele, filhos e netos, de tanto dinheiro em jogo, Jobim alegou que "os USA era um bom país, mas que era uma merda" porque os gringos se achavam os tais. Ou seja, "o país é bom, mas é uma merda". Retrucaram que por isso não, ele estava voltando para o Brasil que "é um país de merda". Ele reconheceu, "é, o Brasil é um país de merda, mas é bom".

Em resumo, no texto abaixo, postado no blog do jornalista Luis Nassif, temos a constatação de que este país, efetivamente, "é uma merda, mas é bom". 

Resta saber para quem é uma merda e para quem é bom. As elites o fazem assim, e nisto se inclui grande parte da mídia. Custa acreditar que a grande mídia, quase em bloco, saiu em defesa do banqueiro Daniel Dantas. Ou seja, não defende diretamente o banqueiro, suspeito de dezenas de maracutaias e ilegalidades, mas coloca em xeque a idoneidade dos juízes e investigadores responsáveis pelo inquérito instaurado. Tudo pela tentativa de tornar suspeitas as investigações, as escutas (grampos), e, com isso, na linguagem jurídica, "contaminar" o inquérito, anulando-o por completo. Mais uma vez se percebe a tentativa de jogar a sujeira para debaixo do tapete.)
 
Ao artigo do Luis Nassif, cujo link está também abaixo:
 
O parto de uma nação 
É extraordinário o que estamos testemunhando nesses tempos de Satiagraha: é o parto de uma Nação. Haverá ainda muita frustração pela frente, muita sensação de impotência, muito ceticismo se o país conseguirá ser alçado à condição de Nação civilizada. Mas a marcha da história é inevitável. 

Está-se em plena batalha da legalidade contra o crime organizado. Os jovens juízes, procuradores, policiais que ousaram arrostar décadas de promiscuidade estão no jogo. Se eventualmente forem calados agora, a decepção geral será o combustível para a reação de amanhã. O país está submetido a duas forças que caminharam em paralelo mas, agora, começam a colidir. 

Uma delas, a consolidação de valores republicanos – não necessariamente de práticas - como a impessoalidade no trato da coisa pública, a transparência cada vez maior, movimento acelerado pelo advento de novas tecnologias de informação, a reação contra a impunidade. 
Ao mesmo tempo, tem-se um país institucionalmente refém de desequilíbrios enormes. A falta de transparência do ciclo que se esgota abriu espaço para amplos abusos em todos os poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário e mídia, grande capital. Criou-se uma enorme Nação de rabo preso em um momento em que a disseminação de valores e de tecnologia definia novos níveis para a transparência. 

Ao mesmo tempo, o mundo (e o Brasil) ingressou em um ciclo de financeirização que permitiu a expansão ampla do crime organizado. Descrevo em detalhes esse processo no meu livro “Os Cabeças de Planilha”. Já tinha descrito esse modelo no meu “O Jornalismo dos anos 90”, no capítulo referente à CPI dos Precatórios. A falta de regulação e controle nos mercados, a existência de paraísos fiscais, a complacência das autoridades reguladoras (e da mídia) criaram uma imensa zona cinzenta onde se misturou a contravenção fiscal com a corrupção política, a simbiose de “figuras notáveis” com o crime organizado. A falta de um regramento adequado e de instituições que combatessem os abusos, permitiu essa promiscuidade ampla. 

Esse é o nó. Agora, as instituições estão aí. Mas há um pesado passivo que não interessa a muitos que venha à tona. O resultado dessa batalha de transição é que definirá os rumos do país: se submetido aos limites da lei; ou do crime organizado.  

Os novos atores Aí entram dois atores. O primeiro, a mídia. Já escrevi várias vezes sobre o tema, e volto a ele. Nesse ambiente promíscuo, parte da mídia passou a se valer da denúncia não como um instrumento de melhoria dos hábitos econômicos e políticos, mas como instrumento seletivo de poder. O esgarçamento dos critérios jornalísticos abriu espaço para os abusos que, agora, chegam a um ponto de alto risco para imagem da mídia. Nesse movimento, papel essencial foi desempenhado pela diretoria de redação da Veja. Graças ao seu amadorismo, conduzindo uma operação de alto risco – os pactos com Daniel Dantas - escancarou um modelo que, em mãos mais hábeis, levaria mais tempo para ser percebido. 

O segundo ator são os órgãos de repressão ao crime organizado, que surgem no início dos anos 90 e se consolidam a partir da gestão Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. A maior parte do dinheiro do crime organizado transita pelo mercado financeiro, através de operações esquenta-esfria, de doleiros, de esquemas em paraísos fiscais, um universo intrincado que passa ao largo da compreensão do cidadão comum. Tenho muito orgulho em ter contribuído de alguma maneira para preparar esse terreno para o combate ao crime organizado. 

No início dos anos 90 passei análises sobre o mercado financeiro para o juiz Walter Maierovitch, o primeiro brasileiro a estudar seriamente o fenômeno do crime organizado. 
No início de 2003, a convite de Márcio Thomaz Bastos dei uma das duas palestras de abertura do Seminário que ocorreu em Pirinópolis, juntando Ministério Público Federal, Polícia Federal, COAF, Banco Central, Secretaria da Receita Federal. 
Juntei as informações e análises que tinha coletado na cobertura da CPI dos Precatórios e dos esquemas de doleiros – que serviram de base para meu livro. Surpreendi-me ao me dar conta da extensão do trabalho que se propunha, essa integração necessária entre os diversos órgãos, a busca de ferramentas de análise, de equipamentos de monitoração, o entusiasmo dos jovens funcionários públicos e as figuras mais velhas, respeitáveis, de Cláudio Fontelles, Paulo Lacerda e Márcio Thomaz Bastos. Montou-se a organização, preparam-se os funcionários públicos e lhes foi conferida uma missão. E eles passaram a seguir o manual. Institucionalizava-se o combate ao crime organizado. E, institucionalizado, passava a se tornar, também, impessoal. Assim como em nações civilizadas, não havia mais intocáveis a serem preservados. Nesse momento, deu-se o choque com o Brasil velho. 
 
O choque do antigo 
No início havia convivência estreita entre os dois poderes: a nova estrutura de repressão ao crime organizado e a mídia. Houve muitos abusos, sim, invasão de escritórios de advocacia, vazamento de peças do inquérito. É possível que abusos continuem a ser cometidos. 

Mas tudo era suportado, defendido pela mídia, na condição de aliada preferencial, tendo acesso aos “furos” e blindagem contra abusos. A convivência prosseguiu enquanto órgãos de mídia entendiam que a aliança lhes garantia salvo-conduto. Explodiu quando se revelou a extensão da Operação Satiagraha. Aparentemente, a Operação Satiagraha flagrou quatro grupos envolvidos com o crime organizado: advogados, juízes, políticos e jornalistas/empresas jornalísticas. 

O que se pretende, agora? Julga-se ser possível varrer o processo para baixo do tapete? Em plena era da Internet, dos blogs, dos sites, do e-mail, julga-se ser possível passar em branco essa monumental manipulação das informações que se vê agora? 

O jogo está no fim. Daqui para diante será esperneio. Continuarão assassinando reputações, promovendo factóides, manipulando ênfases. É possível que destruam Paulo Lacerda, Protógenes, De Sanctis e todos os que ousarem enfrentar esse tsunami. Mas não conseguirão parar a história. Desse lamaçal, vai emergir uma nova mídia, uma reavaliação na qual os jornais sérios entenderão, em algum momento, que não dá mais para se envolver até o pescoço por uma solidariedade corporativista com os que transigiram. 

E não adianta tentar transformar essa guerra em um Fla x Flu, Lula x oposição, PSDB x PT. Não cola. É uma briga da lei contra o crime organizado. Há que se definir limites para evitar abusos. Mas o que está em jogo é a tentativa de desmonte dessa estrutura. Apostar que serão bem sucedidos, será apostar no atraso, na falta de leis, na manutenção dos abusos da mídia e dos grampos ilegais, no império do crime organizado, na promiscuidade entre poderes. 
É esse o país que vamos entregar para nossos filhos? 
É evidente que não.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Está tudo errado no agronegócio! Parte II - Proposta de soluções

Richard Jakubaszko 
Conforme prometido no artigo anterior proponho neste um caminho para que o produtor rural tenha união através de entidades efetivamente representativas com o objetivo de conquistar solidez e sustentabilidade no seu negócio. 

Conforme solicitado, amigos e leitores enviaram e-mails e propostas, provenientes do Brasil inteiro, algumas publicadas no blog HTTP://richardjakubaszko.blogspot.com ou no Portal Agrolink, e em outros sites e blogs que replicaram o artigo. O que se percebe é que, além da revolta com o atual status quo do produtor, de generalizada desunião, as propostas sugerem apenas caminhos específicos, sem uma visão holística ou sistêmica. 
 
Relembrando
Já sabemos que o produtor rural depende única e exclusivamente da sua cooperativa agrícola regional. Estas são “unidas” apenas via OCB, que representa uma gama enorme de outras cooperativas, de crédito, emprego, consumo, agropecuária, e tem atividades limitadas ao cooperativismo. Isoladas regionalmente as cooperativas agrícolas são impotentes para enfrentar o mercado no jogo perverso em que se transformou a economia globalizada. 
Se pretendermos que o produtor rural vá tomar alguma iniciativa, seja individual ou coletiva, para fazer união com seus pares, vai continuar tudo como sempre assistimos, ao Deus dará. Até porque ele não sabe fazer isso. O produtor rural, como acionista da cooperativa regional, é uma figura em três, uma espécie de ornitorrinco, ou seja, é dono e acionista da cooperativa, mas não manda nem quando está em grupo, especialmente nas cooperativas maiores. 
Segue-se o eterno comportamento plácido e cauteloso da maioria. Como acionista, se a cooperativa não se sai bem no campo financeiro, nomeia-se uma diretoria profissional. Aí começam os problemas para as duas outras pessoas do produtor cooperado e acionista: como cliente e consumidor dos produtos e serviços da cooperativa é chamado a “colaborar”, e como fornecedor é também convocado a ser fiel. 

Recebe menos pelo que vende, e paga a mais pelo que compra
A cooperativa melhora sua situação como empresa, já o produtor piora a sua vida e o seu negócio. Evidentemente que há exceções de cooperativas bem administradas pelos próprios cooperados. Mas nem mesmo essas cooperativas, grandes ou não, conseguem transferir aos produtores as garantias de sustentabilidade e de lucratividade para contrabalançar as agruras climáticas ou mercadológicas. 
Por não fazer parte de seus objetivos as cooperativas abdicam e se esquivam de fazer o principal para o negócio do produtor rural cooperado e da própria cooperativa: que é agregar valor, e de regular o mercado (mas a Cooperativa de Cotia sempre regulou o mercado de batata no Brasil), pelo menos regionalmente, influenciar nos preços, analisar, estudar, entender e prever as tendências do mercado comprador e dos consumidores. 
Em outros campos possíveis de atuação temos ainda a necessidade de avaliar como está a concorrência em outros países, de fazer marketing. Mas aqui nos trópicos se pratica a união à brasileira, de forma superficial, e se planta e se cria do jeito que sempre se fez, contando com a sorte e com os bons humores da natureza e do mercado. E depois se reclama do governo. 
 
Tendências 
Se as cooperativas seguissem uma tendência internacional, que é a de diminuir o número de cooperativas, de somar esforços, seja por fusão ou incorporação, teríamos cooperativas estaduais e nacionais efetivamente representativas do produtor rural, e não em caráter regional e até municipal como temos hoje em dia. 
O que predomina é o produtor rural líder de cooperativa que é cabeça de rato quando poderia ser um poderoso e eficiente rabo de elefante se houvessem cooperativas nacionais. Cada cooperativa 'nacional', de soja, milho, arroz, feijão, batata, deveria, em meu modo de entender a questão, praticar e fazer as questões acima como prioridade da sua atividade, sendo o comprar a produção, estocar, beneficiar ou pré-beneficiar os produtos dos cooperados, uma atividade secundária adicional, assim como intermediar a venda de insumos. Foi dessa forma que nasceram no passado as grandes empresas da área alimentícia mundo afora e que lideram o mercado mundial hoje em dia. Foi assim que nasceu a Batavo, lá no Paraná, para agregar valor à produção dos cooperados. 

O que fazer?
Dada a impossibilidade prática de se criar uma 'cooperativa nacional', conforme já proposto anteriormente no livro Marketing da Terra, tenho a sugerir desta feita a criação de associações nacionais específicas para cada cultura importante. 
Crie-se uma associação nacional da soja e outra do milho, para lutar e defender pelos direitos do produtor, para desenvolver oportunidades técnicas, políticas, e, principalmente, econômicas e mercadológicas. Sem dependência e filiação do governo, pelo amor de Deus! Tenho a certeza de que não há necessidade de paternalismos e politicalhas, como diz um amigo “não espere que o Governo faça algo pelo seu setor.... faça você mesmo". 
Estabeleça-se um critério proporcional de contribuições fácil de ser controlado e arrecadado, algo como R$ por tonelada, e pau na máquina! 
Para exercer atividades políticas existem inúmeras entidades, entre as quais CNA, SNA, SRB, além das federações estaduais. Juntas ou isoladamente quase nada conseguem resolver, até porque representam uma enorme pluralidade de interesses, difíceis de serem compatibilizados. Os mais apressadinhos poderão dizer que já existem a APROSOJA e a ABRAMILHO, e ainda a ABAPA (algodão) e também a ABBA (batata). Sim, existem, mas são regionais, inclusive a UNICA. 
Entretanto, por ser associação já representativa dos associados, e por não ter vínculos ou dependência com o governo, a UNICA vem tendo uma projeção nacional e até mesmo internacional na postulação e defesa dos interesses dos associados. Não esqueçamos que os associados da UNICA são usineiros, são da agroindústria, e são poucos, mas dão o bom exemplo aos produtores rurais: união. As outras associações mendigam associadas, não conseguem recursos e não têm representatividade. 
 
Como fazer? 
Simples: união através das cooperativas (como representantes dos produtores) através de uma associação verdadeiramente nacional. Que se dê caráter nacional para a APROSOJA E ABRAMILHO, por exemplo. Isso ocorreria a partir do momento em que as principais cooperativas regionais se juntassem à APROSOJA e à ABRAMILHO, atualizando e reformando seus estatutos e objetivos se isso for necessário, elegendo um conselho de direção, mas profissionalizando (terceirizando) toda a diretoria executiva dessas associações, incorporando e contratando uma gama de profissionais especialistas para tratar de cada área de interesse da atividade. A começar por um Centro de Inteligência (com informação exclusiva para os sócios), e ainda para fazer investimentos em campanhas de marketing, em ações institucionais e políticas, de assessoria ou reivindicatórias, principalmente ao governo, na política agrícola, tarifas de impostos, armazenagem, logística, transporte, política internacional, sanidade, exportação etc. 
É vital a existência de uma associação profissional para orientar a política externa do Governo Federal, ainda mais nesse momento em que nos preparamos para assumir a relevância que sempre sonhamos de ser o país do futuro, o celeiro do planeta. 
Há ainda que se investir e desenvolver novos consumidores e novos mercados de consumo. Tudo para agregar valor aos produtos da terra. A referida associação deveria ter ainda como encargo estudar, analisar e sugerir ações regionais para as cooperativas de como agregar valor aos produtos dos cooperados seja beneficiamento do produto primário, seja para evitar exportação de produtos in natura, seja para importação de alguns insumos. O suporte financeiro para fazer tudo isso aparece de forma rápida se houver a união das principais cooperativas em torno de objetivos bem claros e definidos. 

Se as diretorias da APROSOJA ou da ABRAMILHO não tiverem interesse ou possibilidade de nacionalizar suas associações, de incorporar as cooperativas nas suas diretorias, pois já estão estabelecidas, que as cooperativas instituam novas associações em paralelo, mas que sejam nacionais. 
Por exemplo, a ASSOSOJA e a ASSOMILHO, ou qualquer nome que venham a criar, com presença dos sócios nos conselhos de administração, no caso as cooperativas. E que se nomeiem diretorias executivas, com vínculos empregatícios, profissionais, com missões pré-determinadas. Poderão até mesmo ter atividades políticas, mas ao primeiro sinal de que estariam agindo em proveito próprio, para lustrar vaidades, para plantar e conquistar cargos públicos, substituição imediata. Atrevo-me a sugerir que nenhum diretor ou presidente de cooperativa associada tenha cargo de diretoria executiva na associação nacional. 
Deveria haver uma diretoria técnica e eminentemente profissional, de quem se cobraria resultados face aos objetivos propostos. 
Estou à disposição dos dirigentes cooperativistas para debater o problema a fundo, se necessário. Acredito ainda que não haja necessidade de fazer como nossos hermanos argentinos, ir à greve ou fazer panelaços, mas apenas organizar a extrema bagunça instalada do cada um por si e ninguém por todos. Até porque, para fazer greve também precisa de organização e de lideranças. 

Não é possível continuar no ritmo que estamos, sempre aos trancos e barrancos, safra boa e safra ruim, ano após ano. Caro leitor, se você é produtor rural e cooperado, encaminhe este artigo até o presidente de sua cooperativa e cobre por união em seu nome. Mas deixe aí embaixo sua mensagem, seu comentário de aprovação ou desaprovação dessa proposta. Se os gringos fazem tudo com união, nós também podemos fazer. Igual, ou até mesmo muito melhor.
PS. Se você deseja postar um comentário sobre este artigo, há 3 alternativas:
1 - se tiver "gmail" clique em "comentários". Depois que abrir a janela faça seu comentário e aí coloque seu end. de e-mail no espaço logo abaixo, depois sua senha, assim receberei um e-mail direto aqui no Google e publico o texto.
2 - se não tiver gmail pode despachar um comentário como se fosse "anônimo", mas não deixe de registrar seu nome e cidade, no mínimo, caso contrário não publicarei comentários como "anônimo". Lamento, mas é uma norma que adotei para evitar comentários inapropriados ou sem saber de quem enviou.
3 - mande um e-mail para meu end. no Yahoo, que é:
( richardassociadosARROBAyahoo.com.br ) que está citado na aba lateral deste blog, no rodapé dos textos sobre os livros.
Agradeço a compreensão, é que tenho recebido muitas reclamações de leitores com dificuldades para postar comentários, e não se trata de má vontade minha, mas de inadequação do Google que impõe regras que considero absurdas, como a de ter um end. "gmail" para não ser um "anônimo".