Conforme prometido no artigo anterior proponho neste um caminho para que o produtor rural tenha união através de entidades efetivamente representativas com o objetivo de conquistar solidez e sustentabilidade no seu negócio.
Conforme solicitado, amigos e leitores enviaram e-mails e propostas, provenientes do Brasil inteiro, algumas publicadas no blog HTTP://richardjakubaszko.blogspot.com ou no Portal Agrolink, e em outros sites e blogs que replicaram o artigo. O que se percebe é que, além da revolta com o atual status quo do produtor, de generalizada desunião, as propostas sugerem apenas caminhos específicos, sem uma visão holística ou sistêmica.
Relembrando
Já sabemos que o produtor rural depende única e exclusivamente da sua cooperativa agrícola regional. Estas são “unidas” apenas via OCB, que representa uma gama enorme de outras cooperativas, de crédito, emprego, consumo, agropecuária, e tem atividades limitadas ao cooperativismo. Isoladas regionalmente as cooperativas agrícolas são impotentes para enfrentar o mercado no jogo perverso em que se transformou a economia globalizada.
Se pretendermos que o produtor rural vá tomar alguma iniciativa, seja individual ou coletiva, para fazer união com seus pares, vai continuar tudo como sempre assistimos, ao Deus dará. Até porque ele não sabe fazer isso. O produtor rural, como acionista da cooperativa regional, é uma figura em três, uma espécie de ornitorrinco, ou seja, é dono e acionista da cooperativa, mas não manda nem quando está em grupo, especialmente nas cooperativas maiores.
Segue-se o eterno comportamento plácido e cauteloso da maioria. Como acionista, se a cooperativa não se sai bem no campo financeiro, nomeia-se uma diretoria profissional. Aí começam os problemas para as duas outras pessoas do produtor cooperado e acionista: como cliente e consumidor dos produtos e serviços da cooperativa é chamado a “colaborar”, e como fornecedor é também convocado a ser fiel.
Recebe menos pelo que vende, e paga a mais pelo que compra.
A cooperativa melhora sua situação como empresa, já o produtor piora a sua vida e o seu negócio. Evidentemente que há exceções de cooperativas bem administradas pelos próprios cooperados. Mas nem mesmo essas cooperativas, grandes ou não, conseguem transferir aos produtores as garantias de sustentabilidade e de lucratividade para contrabalançar as agruras climáticas ou mercadológicas.
Por não fazer parte de seus objetivos as cooperativas abdicam e se esquivam de fazer o principal para o negócio do produtor rural cooperado e da própria cooperativa: que é agregar valor, e de regular o mercado (mas a Cooperativa de Cotia sempre regulou o mercado de batata no Brasil), pelo menos regionalmente, influenciar nos preços, analisar, estudar, entender e prever as tendências do mercado comprador e dos consumidores.
Em outros campos possíveis de atuação temos ainda a necessidade de avaliar como está a concorrência em outros países, de fazer marketing. Mas aqui nos trópicos se pratica a união à brasileira, de forma superficial, e se planta e se cria do jeito que sempre se fez, contando com a sorte e com os bons humores da natureza e do mercado. E depois se reclama do governo.
Tendências
Se as cooperativas seguissem uma tendência internacional, que é a de diminuir o número de cooperativas, de somar esforços, seja por fusão ou incorporação, teríamos cooperativas estaduais e nacionais efetivamente representativas do produtor rural, e não em caráter regional e até municipal como temos hoje em dia.
O que predomina é o produtor rural líder de cooperativa que é cabeça de rato quando poderia ser um poderoso e eficiente rabo de elefante se houvessem cooperativas nacionais. Cada cooperativa 'nacional', de soja, milho, arroz, feijão, batata, deveria, em meu modo de entender a questão, praticar e fazer as questões acima como prioridade da sua atividade, sendo o comprar a produção, estocar, beneficiar ou pré-beneficiar os produtos dos cooperados, uma atividade secundária adicional, assim como intermediar a venda de insumos. Foi dessa forma que nasceram no passado as grandes empresas da área alimentícia mundo afora e que lideram o mercado mundial hoje em dia. Foi assim que nasceu a Batavo, lá no Paraná, para agregar valor à produção dos cooperados.
O que fazer?
Dada a impossibilidade prática de se criar uma 'cooperativa nacional', conforme já proposto anteriormente no livro Marketing da Terra, tenho a sugerir desta feita a criação de associações nacionais específicas para cada cultura importante.
Crie-se uma associação nacional da soja e outra do milho, para lutar e defender pelos direitos do produtor, para desenvolver oportunidades técnicas, políticas, e, principalmente, econômicas e mercadológicas. Sem dependência e filiação do governo, pelo amor de Deus! Tenho a certeza de que não há necessidade de paternalismos e politicalhas, como diz um amigo “não espere que o Governo faça algo pelo seu setor.... faça você mesmo".
Estabeleça-se um critério proporcional de contribuições fácil de ser controlado e arrecadado, algo como R$ por tonelada, e pau na máquina!
Para exercer atividades políticas existem inúmeras entidades, entre as quais CNA, SNA, SRB, além das federações estaduais. Juntas ou isoladamente quase nada conseguem resolver, até porque representam uma enorme pluralidade de interesses, difíceis de serem compatibilizados. Os mais apressadinhos poderão dizer que já existem a APROSOJA e a ABRAMILHO, e ainda a ABAPA (algodão) e também a ABBA (batata). Sim, existem, mas são regionais, inclusive a UNICA.
Entretanto, por ser associação já representativa dos associados, e por não ter vínculos ou dependência com o governo, a UNICA vem tendo uma projeção nacional e até mesmo internacional na postulação e defesa dos interesses dos associados. Não esqueçamos que os associados da UNICA são usineiros, são da agroindústria, e são poucos, mas dão o bom exemplo aos produtores rurais: união. As outras associações mendigam associadas, não conseguem recursos e não têm representatividade.
Como fazer?
Simples: união através das cooperativas (como representantes dos produtores) através de uma associação verdadeiramente nacional. Que se dê caráter nacional para a APROSOJA E ABRAMILHO, por exemplo. Isso ocorreria a partir do momento em que as principais cooperativas regionais se juntassem à APROSOJA e à ABRAMILHO, atualizando e reformando seus estatutos e objetivos se isso for necessário, elegendo um conselho de direção, mas profissionalizando (terceirizando) toda a diretoria executiva dessas associações, incorporando e contratando uma gama de profissionais especialistas para tratar de cada área de interesse da atividade. A começar por um Centro de Inteligência (com informação exclusiva para os sócios), e ainda para fazer investimentos em campanhas de marketing, em ações institucionais e políticas, de assessoria ou reivindicatórias, principalmente ao governo, na política agrícola, tarifas de impostos, armazenagem, logística, transporte, política internacional, sanidade, exportação etc.
É vital a existência de uma associação profissional para orientar a política externa do Governo Federal, ainda mais nesse momento em que nos preparamos para assumir a relevância que sempre sonhamos de ser o país do futuro, o celeiro do planeta.
Há ainda que se investir e desenvolver novos consumidores e novos mercados de consumo. Tudo para agregar valor aos produtos da terra. A referida associação deveria ter ainda como encargo estudar, analisar e sugerir ações regionais para as cooperativas de como agregar valor aos produtos dos cooperados seja beneficiamento do produto primário, seja para evitar exportação de produtos in natura, seja para importação de alguns insumos. O suporte financeiro para fazer tudo isso aparece de forma rápida se houver a união das principais cooperativas em torno de objetivos bem claros e definidos.
Se as diretorias da APROSOJA ou da ABRAMILHO não tiverem interesse ou possibilidade de nacionalizar suas associações, de incorporar as cooperativas nas suas diretorias, pois já estão estabelecidas, que as cooperativas instituam novas associações em paralelo, mas que sejam nacionais.
Por exemplo, a ASSOSOJA e a ASSOMILHO, ou qualquer nome que venham a criar, com presença dos sócios nos conselhos de administração, no caso as cooperativas. E que se nomeiem diretorias executivas, com vínculos empregatícios, profissionais, com missões pré-determinadas. Poderão até mesmo ter atividades políticas, mas ao primeiro sinal de que estariam agindo em proveito próprio, para lustrar vaidades, para plantar e conquistar cargos públicos, substituição imediata. Atrevo-me a sugerir que nenhum diretor ou presidente de cooperativa associada tenha cargo de diretoria executiva na associação nacional.
Deveria haver uma diretoria técnica e eminentemente profissional, de quem se cobraria resultados face aos objetivos propostos.
Estou à disposição dos dirigentes cooperativistas para debater o problema a fundo, se necessário. Acredito ainda que não haja necessidade de fazer como nossos hermanos argentinos, ir à greve ou fazer panelaços, mas apenas organizar a extrema bagunça instalada do cada um por si e ninguém por todos. Até porque, para fazer greve também precisa de organização e de lideranças.
Não é possível continuar no ritmo que estamos, sempre aos trancos e barrancos, safra boa e safra ruim, ano após ano. Caro leitor, se você é produtor rural e cooperado, encaminhe este artigo até o presidente de sua cooperativa e cobre por união em seu nome. Mas deixe aí embaixo sua mensagem, seu comentário de aprovação ou desaprovação dessa proposta. Se os gringos fazem tudo com união, nós também podemos fazer. Igual, ou até mesmo muito melhor.
( richardassociadosARROBAyahoo.com.br ) que está citado na aba lateral deste blog, no rodapé dos textos sobre os livros.
Recebi do eng. agr. Odo Primavesi, São Carlos, SP, o seguinte e-mail:
ResponderExcluir"Para se cooperar o pessoal tem que entender (educados) que isso é bom. Do contrário até sociedade em família é fatal.
Odo Primavesi
Caro Richard,
ResponderExcluirA sua proposta faz todo o sentido, porém falta ao produtor a capacidade de compreender o problema e mobilizar-se para solucioná-lo.
Espero que o seu artigo contribua para a mudança cultural do produtor que ainda acha que a solução dos problemas virá do governo ou dos "céus".
Flávio Viegas
Por um "defeito" do sistema Google na administração dos blogs, o comentário acima, proveniente de Flávio Pinto Viegas, diretor da Associtrus, de Bebedouro, SP, sai publicado como "anônimo". Em verdade esse meu comentário é, mais do que um registro, uma reclamação contra a sistemática do Google.
ResponderExcluirRecebi e-mail de um anônimo que não se identificou no texto. Publico o comentário por expressar a média dos comentários que tenho recebido e que não publiquei.
ResponderExcluirDiz o comentário:
"Caro Richard.
Seu artigo é muito bom, a união da classe é fundamental. Entretanto, gostaria de chamar a atenção a um fato grave que ocorre no Brasil. O Estado não funciona. Existem órgãos que são criados para impedir atuação de cartéis, de corruptos, etc. Porém, como tudo aqui, esses órgãos não funcionam. Não cumprem suas finalidades. Nesse sentido, penso que devemos direcionar nossa luta para que órgãos como o Cade, o Ministério Público e outros façam seu trabalho e mostrem resultados. Sem a ajuda do Estado é muito difícil lutar contra cartéis."
Respondo: lamento discordar da opinião. Como coloquei na proposta tudo o que deve ser feito é ficar longe do governo e de qualquer mecanismo que gere dependência, seja política ou de verba. O governo não funciona, já sabemos disso. Por isso a proposta de uma associação de produtores, nas quais as cooperativas, que têm dinheiro, seriam os interlocutores e administradores, inclusive para determinar quais os objetivos devem ter uma associação desse tipo. Nenhum dirigente de cooperativa, até o momento, manifestou-se a respeito, esse é o fato lamentável. Fingem-se de mortos. A solução? Pressionar os dirigentes para que tomem uma posição, caso contrários temos a omissão e a manutenção desse estado de inoperância.
Caro Richard.
ResponderExcluirGostaria de esclarecer que sou contra a dependência, seja política ou econômica do governo. Essa dependência acontece com o biodiseel. Eu falei em Estado, o que é muito diferente. O segredo para qualquer pais ir para o primeiro mundo é, justamente, enquadrar o estado, fazer funcionar e não depender dele. A polícia e o MP tem o dever legal, e não político, de prender e processar quem faz cartéis. A luta contra o Estado caro e ineficiente é de todos. Espero ter esclarecido minha visão.
Ramires,
ResponderExcluiragora sim, vc se identificou. Veja, Estado ou Governo, dá na mesma. No âmbito do Estado teremos a burocracia ineficiente. No governo a política indesejável. Já a associação dos produtores faria o Estado e o Governo funcionarem, é isso. O que temos hoje em dia são associações ditas representantes de produtores também ineficientes, politizadas e não representativas. Quando essas associações pressionam parlamentares a votarem leis de perdão e prorrogação para dívidas dos ruralistas a imprensa cai matando a pau, "é para os mesmos coronéis de sempre!". Além disso, teremos, pela frente, novos cenários, a competitividade no mercado internacional para exportar e a interferência dos ambientalistas na produção. Sem associação especialista, uma para cada cultura, verdadeiramente representativa dos agricultores, nada teremos. O Governo e o Estado não são competentes para isso.
Veja que a indústria tem seus representantes, uma para cada área, são associações que funcionam, defendem os direitos de quem representa, mas os agricultores não.
Caro Richard.
ResponderExcluirConcordo com voce. Devemos nos unir, por isso apóio associações como a Associtrus. Como voce falou, essas associações devem também, através de mecanismos legais, exigir e pressionar o Estado a cumprir suas funções e mostrar resultados. Lembro-lhe a Operação Fanta, onde foi apurado o cartel das processadoras de suco de laranja e, até hoje, passados vários anos, os documentos não foram investigados. Abraços. Ramires