Richard Jakubaszko
Desde que me conheço por gente, e digamos que isso começou a acontecer a partir do início da juventude, aos 12 ou 13 anos, a China exerce em mim um fascínio místico e até mesmo inexplicável, pela característica de ser incontrolável, seja pela sabedoria milenar explícita de seus mais de 5 mil anos de história, seja pelo fato de possuir mais de um bilhão e trezentos milhões de habitantes, com todas as implicações sociais, culturais, políticas e econômicas que isso acarreta.
Com o explosivo crescimento econômico chinês dos últimos anos, em que rapidamente conquistou a terceira posição entre as maiores potências do planeta, pelo critério de ranking do PIB – Produto Interno Bruto, acredito que esse mesmo fascínio ou curiosidade foi despertado entre muitas outras pessoas.
Lembro-me de ter lido nos anos setenta, e que muito me encantou, o livro “A China antes da Coca-cola”, escrito por Henfil. Um dos relatos de Henfil justificava parte deste encantamento com a disciplina chinesa, eis que Henfil explicava que os chineses urinavam e defecavam em gigantescos banheiros públicos nas grandes cidades, e toda essa “matéria prima” era devidamente coletada e aproveitada como adubo em lavouras ao redor das grandes cidades.
Terminei de ler agora no final do ano o livro “Laowai - Histórias de uma repórter brasileira na China”, escrito pela jornalista Sônia Bridi, e ilustrado com fotos de seu marido Paulo Zero (Editora Letras Brasileiras, 2008, em sua 4ª edição, com 384 páginas). Sônia Bridi e Paulo Zero foram correspondentes da TV Globo na China em 2005 e 2006, portanto pioneiros na Ásia como latino-americanos, e o livro é um interessante diário dos bastidores das reportagens feitas pelo casal, além de uma análise da percepção do casal, como profissionais e como turistas, ou apenas residentes temporários.
Assim, hábitos e costumes dos chineses foram descritos com a ótica de uma jornalista ocidental, tanto no campo das tradições milenares, muitas delas praticadas até hoje, como na exótica culinária, na intrincada burocracia comunista chinesa, na corrupção endêmica, nas religiões, no incrível humor chinês, na higiene e até mesmo na cultura de micro-regiões longínquas visitadas para fazer reportagens ou entrevistas.
É divertidíssimo acompanhar a incredulidade e espanto das chinesas ao descobrirem, por exemplo, o tórax cabeludo de Paulo Zero, eis que cabelo nessa parte do corpo humano é, para os chineses, um símbolo de potência sexual, dado o fato de que os homens chineses são quase desprovidos de pelos, e também quase imberbes.
O que não deixa de ser uma contradição, haja vista a superpopulação do país.
Há relatos antológicos da autora, em termos de narrativa, por exemplo, sobre o hábito dos chineses de não usarem cheques ou cartões de crédito, mas apenas dinheiro vivo para comprar e pagar qualquer coisa.
Em paralelo a isso o fato de chinês, apesar de possuir uma invejável disciplina milenar para algumas coisas, não conhecer, ou detestar, aquilo que nós chamamos no Brasil de fila, a democrática fila que gaúchos e portugueses chamam de bicha. Assim, o caos em algumas agências bancárias é constante e não há respeito, deferência ou qualquer privilégio por deficientes físicos.
“Laowai” é um livro pródigo nesses relatos, justos, diretos, objetivos, sensíveis, e alguns com rara finesse humorística.
A China deve ser ultrapassada pela Índia dentro de menos de 10 anos em termos de população. Eles possuem rígidos controles demográficos, o que é ignorado de forma hipócrita pelo resto do planeta.
De toda forma a China avança com seu espantoso crescimento, e deve crescer cerca de 8% este ano, um índice inacreditável por conta da crise financeira internacional que ameaça com recessão a maioria dos países ocidentais. Deve levar a China para o segundo lugar no ranking mundial, superando o Japão dentro de 3 a 5 anos. Quem viver verá. Por enquanto fica a sugestão de leitura de "Laowai", uma agradável, útil e instrutiva diversão.
Desde que me conheço por gente, e digamos que isso começou a acontecer a partir do início da juventude, aos 12 ou 13 anos, a China exerce em mim um fascínio místico e até mesmo inexplicável, pela característica de ser incontrolável, seja pela sabedoria milenar explícita de seus mais de 5 mil anos de história, seja pelo fato de possuir mais de um bilhão e trezentos milhões de habitantes, com todas as implicações sociais, culturais, políticas e econômicas que isso acarreta.
Com o explosivo crescimento econômico chinês dos últimos anos, em que rapidamente conquistou a terceira posição entre as maiores potências do planeta, pelo critério de ranking do PIB – Produto Interno Bruto, acredito que esse mesmo fascínio ou curiosidade foi despertado entre muitas outras pessoas.
Lembro-me de ter lido nos anos setenta, e que muito me encantou, o livro “A China antes da Coca-cola”, escrito por Henfil. Um dos relatos de Henfil justificava parte deste encantamento com a disciplina chinesa, eis que Henfil explicava que os chineses urinavam e defecavam em gigantescos banheiros públicos nas grandes cidades, e toda essa “matéria prima” era devidamente coletada e aproveitada como adubo em lavouras ao redor das grandes cidades.
Terminei de ler agora no final do ano o livro “Laowai - Histórias de uma repórter brasileira na China”, escrito pela jornalista Sônia Bridi, e ilustrado com fotos de seu marido Paulo Zero (Editora Letras Brasileiras, 2008, em sua 4ª edição, com 384 páginas). Sônia Bridi e Paulo Zero foram correspondentes da TV Globo na China em 2005 e 2006, portanto pioneiros na Ásia como latino-americanos, e o livro é um interessante diário dos bastidores das reportagens feitas pelo casal, além de uma análise da percepção do casal, como profissionais e como turistas, ou apenas residentes temporários.
Assim, hábitos e costumes dos chineses foram descritos com a ótica de uma jornalista ocidental, tanto no campo das tradições milenares, muitas delas praticadas até hoje, como na exótica culinária, na intrincada burocracia comunista chinesa, na corrupção endêmica, nas religiões, no incrível humor chinês, na higiene e até mesmo na cultura de micro-regiões longínquas visitadas para fazer reportagens ou entrevistas.
É divertidíssimo acompanhar a incredulidade e espanto das chinesas ao descobrirem, por exemplo, o tórax cabeludo de Paulo Zero, eis que cabelo nessa parte do corpo humano é, para os chineses, um símbolo de potência sexual, dado o fato de que os homens chineses são quase desprovidos de pelos, e também quase imberbes.
O que não deixa de ser uma contradição, haja vista a superpopulação do país.
Há relatos antológicos da autora, em termos de narrativa, por exemplo, sobre o hábito dos chineses de não usarem cheques ou cartões de crédito, mas apenas dinheiro vivo para comprar e pagar qualquer coisa.
Em paralelo a isso o fato de chinês, apesar de possuir uma invejável disciplina milenar para algumas coisas, não conhecer, ou detestar, aquilo que nós chamamos no Brasil de fila, a democrática fila que gaúchos e portugueses chamam de bicha. Assim, o caos em algumas agências bancárias é constante e não há respeito, deferência ou qualquer privilégio por deficientes físicos.
“Laowai” é um livro pródigo nesses relatos, justos, diretos, objetivos, sensíveis, e alguns com rara finesse humorística.
A China deve ser ultrapassada pela Índia dentro de menos de 10 anos em termos de população. Eles possuem rígidos controles demográficos, o que é ignorado de forma hipócrita pelo resto do planeta.
De toda forma a China avança com seu espantoso crescimento, e deve crescer cerca de 8% este ano, um índice inacreditável por conta da crise financeira internacional que ameaça com recessão a maioria dos países ocidentais. Deve levar a China para o segundo lugar no ranking mundial, superando o Japão dentro de 3 a 5 anos. Quem viver verá. Por enquanto fica a sugestão de leitura de "Laowai", uma agradável, útil e instrutiva diversão.
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