terça-feira, 2 de novembro de 2010

O agronegócio tem que se dar importância, porque nenhum estranho vai fazer isso.

Richard Jakubaszko
(Artigo publicado originalmente na revista DBO Agrotecnologia, edição 27, setembro / outubro 2010) 

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Como o agronegócio não tem importância
política, não indica ministro ao MAPA.
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Quando esta edição da DBO Agrotecnologia estiver circulando já teremos um novo presidente eleito. Não importa, neste momento, quem seja o eleito, se Dilma Roussef ou José Serra, para efeito do que desejamos comentar. Irá tomar posse a partir de 1º de janeiro de 2011 e indicará na sequência seus ministros, e entre estes o futuro ministro da Agricultura. O nome do futuro ministro só deve ser conhecido lá pelo final do ano, talvez um pouco antes, mas será alguém da confiança do futuro presidente, ou alguém indicado por um dos partidos políticos da coligação que ajudaram a eleger o presidente.

Em outros ministérios, considerados mais importantes, seja do ponto de vista político ou do montante das verbas disponíveis, a disputa é mais acirrada do que a do cargo no MAPA. O problema que desejamos enfatizar é que este ministério tem sido ocupado, nos últimos 50 anos, mais frequentemente por políticos profissionais, e raramente por especialistas, por gente com origem no agronegócio. Neste tempo, de meio século, foram raríssimos os ministros “do ramo”, como Roberto Rodrigues, Allysson Paolinelli ou Luiz Fernando Cirne Lima. Alguns políticos, reconheçamos, tiveram bom desempenho, como Pratini de Moraes ou Reinhold Stephanes, mas foram exceções à regra. Houve uma longa lista de dezenas de ministros inexpressivos, que quase nada contribuíram, e esta foi a tônica geral desde os anos da ditadura, com exceção de alguns especialistas que esquentaram suas cadeiras por pouco tempo, como Luís Carlos Guedes Pinto ou Alberto Duque Portugal.

A razão de não acontecer a presença de especialistas, ou de gente do ramo, à frente do MAPA, está na falta de importância política do agronegócio, mesmo considerando que a bancada ruralista tenha garantido cerca de 230 votos (ver matéria a respeito, nesta edição, à página 21). Isto porque, é óbvio esperar que o ministro da Agricultura represente os interesses dos produtores junto ao presidente e à sociedade, e não apenas os seus interesses políticos e partidários, ou exclusivamente pessoais.

Nos casos de cargos de ministros da Fazenda, Indústria e Comércio, Minas e Energia, Transportes, Meio Ambiente, e alguns outros, o lobby de cada setor interessado é muito forte, muitas vezes conseguem impor um nome ao presidente, obtendo com isso pelo menos uma voz a ser ouvida nas questões e demandas importantes para cada setor.

Como o agronegócio não tem importância política não indica ninguém para liderar o MAPA, mesmo sendo um ministério técnico e mesmo tendo ainda a responsabilidade estratégica da questão do abastecimento alimentar para a população urbana. Esta, por sua vez, além de ser ingrata com quem a abastece de alimentos, ainda critica o agronegócio de poluir o meio ambiente, de desmatar, e de contaminar alimentos com uso de agrotóxicos.

O agronegócio somente terá importância a partir do momento em que as diversas lideranças políticas do setor se reúnam, estabeleçam quem será o interlocutor e porta voz e indiquem isso ao presidente, por exemplo, através de uma lista tríplice de nomes, de quem deveria ser o futuro ministro da Agricultura.

Fora disso a agropecuária terá sempre políticos como seus representantes no MAPA, um ministro sem força política e sem poder de barganha junto ao presidente e a outros ministérios. Ou ministros burocratas e passivos. Depois, não adianta alinhavar os velhos e repetidos argumentos de que o agronegócio representa quase 40% das exportações, que produz 1/3 do PIB do país, ou de que emprega 1/3 da mão-de-obra.

Para que o agronegócio adquira essa força e presença política junto ao presidente e ao Congresso, e também à sociedade urbana, precisa estabelecer e praticar a união. O agronegócio necessita desenvolver lideranças de peso, e isso somente se consegue através de entidades associativas com efetiva representatividade dos produtores rurais. Mas que sejam entidades sem vínculos sindicais ou políticos, ou liderados por meros representantes de oligarquias desgastadas pelo tempo.
O resto é jogar conversa fora. É pura perda de tempo.
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5 comentários:

  1. Allyson paulineli, é sócio benemérito da AgroPlan-UFV, empresa que você conheceu.
    Todos mandam saudações.
    Ótimo artigo, gostaria de ver lideranças do agronegócio e parlamentares da UDR, seja qual for o partido, pensando desta maneira.
    Richard: você têm informações por que naépoca o ministro R Rodrigues, saiu do cargo?

    abraços e saudações

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  2. Grespan,
    obrigado, saudações a todos aí na gloriosa Viçosa!
    Acho que a UDR nem existe mais, e nem deixou saudades... melhor deixar quieto...

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  3. Marlene Simarelli, Campinas3 de novembro de 2010 às 08:23

    O agricultor desconhece a força e o poder que tem. Minha esperança é que à medida que a formação educacional aumente, ele descubra isto.
    Bom restinho de semana.
    Marlene Simarelli, Campinas

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  4. Caro Richard, bom dia.
    Você tem toda razão: cansei de dizer que ninguém vai nos valorizar se não nos valorizarmos.
    E tem mais: pelo andar da carruagem, muito em breve o MAPA será incorporado pelo MDA.
    Abração,
    Roberto Rodrigues

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  5. Richard, esta história que a Agricultura não tem merecido a real importância é antiga. Por que será hein? O que realmente ocorre com o setor, mesmo sendo ele um dos mais importantes para nosso PIB? Somos uma potência agrícola, sem dúvida, mas a imagem do "Fazendeiro" há décadas é distorcida, incompreendida, tanto que esse profissional foi obrigado a mudar seu substantivo 'de lida' para "Produtor Rural". Hoje, entidades associativas lançam campanhas para melhorar a imagem do setor, mas porque esta marca ficou ruim, sendo o País um grande produtor mundial de 'commodities' agrícolas? São perguntas que não consegui respostas.... A propósito que nomes você cogitaria para o Ministério da Agricultura no atual momento? De preferência gente do meio e não políticos.

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