Rogério Arioli Silva *
Viajar de
carro pelas estradas brasileiras é, antes de tudo, um exercício de
coragem. Com raríssimas exceções a
grande maioria da malha rodoviária brasileira encontra-se em estado precário e,
mesmo com os recursos do PAC I e do PAC II, provavelmente este quadro não se
modificará num lapso de tempo razoável. Há um visível descompasso entre o crescimento da frota de veículos no
país e a necessária ampliação das estradas, de modo a suportar este ingresso
dos novos usuários.
Segundo o
DENATRAN (2011) a frota brasileira de veículos, incluindo automóveis,
caminhões, carretas, ônibus e motocicletas atingiu 70,5 milhões de unidades o
que significa um crescimento de 121% nos últimos dez anos. O incremento no número de motocicletas é
ainda mais espantoso e superou 300% neste mesmo período, onde a população
brasileira cresceu em torno de 12%. A
estabilidade econômica obtida pelo país proporcionou a milhares de pessoas
adquirirem seus veículos graças às parcelas fixas e às inúmeras opções de
financiamentos disponíveis. Melhor para
as montadoras que aproveitaram este bom índice de crescimento e também para o
governo que viu sua arrecadação engordar via ICMS e IPVA, além de todos os
desdobramentos tributários incidentes em peças automotivas, pneus e
combustíveis.
Enquanto a
frota brasileira cresce em progressão geométrica os investimentos na
recuperação e manutenção das estradas crescem em progressão aritmética,
malthusianamente falando. Estimativas do DNIT dão conta de que a demanda de
investimentos na restauração das estradas fique em torno de R$ 16 bilhões por
ano em serviços como prevenção de quedas de barreiras e erosão dos leitos das pistas,
além de tapa-buracos, consertos de ondulações e demais adequações. Importante frisar que se tratam apenas de
investimentos para consertar o que está estragado e não de construir novas vias ou
mesmo duplicar as já existentes.
Dados divulgados pela CNT
(Confederação Nacional dos Transportes) demonstram que o Brasil gasta mais com
os problemas advindos dos prejuízos causados pela precariedade das estradas do
que com a ampliação e modernização das mesmas.
No ano de 2010, por exemplo, o governo gastou R$ 14 bilhões de reais com
as 183 mil ocorrências que resultaram em 8.516 mortos nas estradas
brasileiras. Vejam que mesmo que
estatisticamente a vida humana tenha um valor financeiro, este com certeza
estará sempre subestimado para aqueles afetados pela tragédia do trânsito
brasileiro.
Ao observar a classificação das condições das estradas no
ranking costumeiramente divulgado, verifica-se que apenas 14% das rodovias
estão em situação precária, das quais 11,2% são ruins e 2,8% consideradas
péssimas. Num primeiro momento cria-se a
falsa impressão que o problema não é tão grande assim. Mas e quantas estão
defasadas em relação ao volume de veículos que nelas trafegam? Qualquer leigo
sabe que uma rodovia congestionada torna-se muito mais perigosa do que uma com
fluxo racional. Portanto os dados são incompletos, senão mentirosos.
Os
problemas na qualidade das obras realizadas em rodovias, infelizmente, são
regra e não exceção. A maioria dos serviços executados pelas construtoras não
suporta a primeira vistoria, como foi o caso da rodovia Cuiabá-Chapada e de
inúmeras outras fiscalizadas Brasil afora. Demonstra que os gastos na maioria
das vezes serão em vão o que resulta em perda de tempo e dinheiro. Talvez fosse
o caso de deixar a manutenção da estrada sob responsabilidade da empreiteira
que executou a obra de restauração durante um longo tempo, para que a mesma
arque com o resultado do serviço executado e, assim, comprometa-se mais com a
qualidade da obra.
Como estes problemas de qualidade e defasagem das estradas
brasileiras ainda deverão permanecer por um bom tempo tornam-se necessários
alguns conselhos àqueles que necessitam arriscar-se pelas estradas brasileiras:
não ter pressa de chegar; evitar viagens noturnas; realizar ultrapassagens
seguras; estar em dia com a manutenção do veículo; rezar bastante e, por fim,
fazer um seguro de vida beneficiando seus dependentes.
* O autor é Engº Agrº e Produtor
Rural no MT
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