terça-feira, 28 de agosto de 2012

Competitividade ao largo

Rogério Arioli Silva *
A imagem de dezenas de navios aguardando para atracarem nos portos brasileiros demonstra a vexatória situação por que passa a subdimensionada logística do país. Duzentos e poucos anos após a “abertura dos portos às nações amigas”, efetivada logo após a chegada da família Real ao Brasil, em Janeiro de 1808, parece que ainda segue negligenciado nosso gigantismo pela própria natureza, eternamente adormecido em berço esplêndido, diga-se de passagem.

Como foram vários os portos congestionados, entre eles Santos, Paranaguá, Vitória e Suape, só para citar alguns, cada um dos seus administradores correu à imprensa argumentar que o problema não se tratava de ineficiência na operação portuária e sim na greve da ANVISA, ou quem sabe na falta de caminhões, ou bem poderia ser no excesso de burocracia característico à internalização de produtos no país. Segundo foi noticiado, somente no porto de Paranaguá havia 113 navios aguardando para atracar, dos quais 49 carregados com fertilizantes. O custo médio da diária de cada navio (chama-se demurrage), dependendo do seu tamanho, fica em torno de U$ 30 mil. Em caso de um atraso de 30 dias no desembarque, o que não é fato muito raro, haveria um custo de U$ 900 mil, a serem debitados na conta dos consumidores destes produtos, no caso os produtores rurais.

De fato, muitos navios cederam a sua vez de atracar pelo fato de não haverem produtos a serem carregados no porto, provavelmente graças ao descompasso ocorrido pela limitação nas horas de tráfego de caminhões. Aliás, esta medida num primeiro momento é muito positiva, pois, forçados a viajarem de 12 a 18 horas por dia, muitos caminhoneiros estavam exacerbando seus limites de resistência física, o que acabava colocando em risco outros usuários das já precárias rodovias brasileiras. Resta saber quais as melhorias de condições serão oferecidas a estes profissionais, no que diz respeito à qualidade, segurança e infraestrutura dos locais de descanso entre jornadas.

Durante a safra é comum observar-se filas quilométricas (às vezes mais de cem quilômetros) de caminhões aguardando para descarregar grãos nos portos, o que já é uma demonstração de falhas no sistema. Quando a administração portuária é privada obtêm-se um ganho de eficiência com melhores índices de desempenho. Por outro lado quando esta gestão é delegada a estados e municípios evidenciam-se questões de difícil resolução, principalmente ao entrarem na pauta as exigências dos sindicatos.

Qualquer aumento na quantidade de produto disponível à exportação ou uma maior demanda de matéria-prima importada já são suficientes para instalar o caos na estrutura portuária existente. A exportação de milho poderia aumentar sobremaneira neste ano, como forma de abrir e consolidar mercados que não poderão ser atendidos pelos EUA devido a sua significativa quebra de safra. Provavelmente isto não ocorrerá uma vez que existe uma limitação física na exportação de milho que, segundo alguns especialistas, situa-se em torno de 15 milhões de toneladas.

Se estiverem corretas as previsões da ABIOVE (Associação Brasileira de Óleos Vegetais) na próxima safra o Brasil poderá atingir uma produção superior a 80 milhões de toneladas de soja e, pela primeira vez na história, superar a produção americana desta oleaginosa. Fato histórico e inimaginável há poucos anos atrás. Havendo, efetivamente, a consolidação desta produção é possível que o apagão logístico já pré-anunciado atinja contornos ainda mais dramáticos. No momento em que as obras da rodovia Cuiabá-Santarém estiverem prontas haverá possibilidade de exportação de dez milhões de toneladas de grãos através daquele corredor, que hoje exporta menos de um milhão de toneladas, o que ajudará a desafogar os portos do Sul, principalmente Paranaguá.

Enquanto novas opções de logística ainda fazem parte do futuro, permanece a constatação de que a competitividade brasileira ainda passa ao largo da costa, temendo menos o calado baixo do que a visão estreita da potencialidade latente.

* Engº Agrº e Produtor Rural no MT.
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2 comentários:

  1. Vamos analisar. Queremos todos realizar logo as vendas para aplicar o dinheirinho a bons juros. Então queremos exportar logo e para tanto fretamos navios, contratamos caminhões a fim de cumprir os contratos de venda com pagamento adiantado. Resultado: correria, congestionamentos, gritaria, etc. Nenhum porto do mundo, nenhum meio de transporte de qualquer país consegue movimentar uma safra inteira (no caso a de milho dito safrinha) no prazo de poucos dias. Então estocamos parte da colheita nos veículos, já que não ha silos suficientes nos portos. Um amigo americano que viveu no Brasil me disse que não conseguia traduzir para o inglês nosso termo "bagunça" que ele gostava muito. Talvez seja porque lá, nos Esteites, não exista... Abraço.
    Fernando P. Cardoso

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  2. Se os custos da ineficiencia fossem repassados para a organizacao ineficiente e nao as suas vitimas, digo clientes, rapidamente teriamos ou outra organizacao no lugar da atual ou solucoes ao inves de gente repassando a bola... E' claro que o uso de tecnologia tambem ajudaria, ver varias solucoes internacionais para automacao de logistica e transporte em http://www.netdespatch.com/
    Gerson

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