Richard Jakubaszko
A mídia internacional contesta em bloco os motivos alegados para o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Em especial a mídia denuncia a frágil acusação jurídica e a alegação de que esse processo é democrático, em razão de o estatuto do impeachment "estar na Constituição", conforme afirmam aqueles que são favoráveis ao golpe.
Entretanto, quando a campanha contra Dilma Rousseff encontra apoio na chamada classe média alta, e o afastamento do poder se aproxima com a votação no Senado, a mídia internacional começa a prestar mais atenção ao Brasil e a ter um olhar mais crítico sobre o impeachment, que ameaça jogar o país em uma crise política profunda.
Veja alguns exemplos da mídia internacional:
The New York Times
Um
artigo no NYT na última semana, informa que “Impopular e sob
investigação, o vice-presidente do Brasil se prepara para governar”, e
aponta questões sobre o impeachment como uma tentativa paralela
de acabar com a corrupção. O artigo destaca as acusações de corrupção
que rondam o vice-presidente Michel Temer, que assume a presidência caso
Rousseff seja destituída. O New York Times não afirmou que a tentativa
de impeachment é uma tomada de poder por políticos da oposição,
com apoio do judiciário, mas forneceu informações detalhadas para levar o
leitor a essa conclusão.
“Uma pesquisa recente mostrou que
apenas 2% dos brasileiros votariam em Temer”, registrou o artigo do
jornalista Simon Romero. “Ele está sob investigação em razão de
denúncias que o conectam a um escândalo de valores colossais. Um juiz da
suprema corte brasileira determinou que a Câmara dos Deputados receba a
denúncia e avalie um processo de impeachment contra ele”.
Romero
comentou ainda o absurdo de uma campanha anti-corrupção ser liderada
por uma gangue composta por políticos corruptos. O artigo explica que
Temer confirmou apoio político ao presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha, seu colega de partido (PMBD), “acusado por inúmeros
escândalos” e que será “o segunda na linha de sucessão para a
presidência” caso Temer venha a assumir o cargo.
The Guardian
Após a votação pró-impeachment na Câmara dos Deputados, em editorial, o jornal inglês The Guardian destacou a questão fundamental que sustenta a tentativa de destituí-la pela oposição da presidente Dilma Rousseff: apesar do uso do movimento anticorrupção e da opinião popular para justificar o seu impeachment, mas acentua que ela não está realmente envolvida nos escândalos, não é suspeita e nem está sendo investigada.
"A presidente não está envolvida no escândalo da Petrobras”, afirmou o editorial, referindo-se ao foco das investigações anticorrupção. “Os motivos para o impeachment se referem a manipulação do orçamento, antes das últimas eleições – fato que para a legislação brasileira, não passava de uma pedalada, mas agora o Tribunal de Contas, alterou a concepção legal no meio do jogo, tentando tornar a questão ilegal”.
O editorial destacou que o líder da campanha pró-impeachment, foi acusado de receber propinas multimilionárias. “Porém, todos os envolvidos na coordenação do processo de impeachment são suspeitos de corrupção, inclusive o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha”.
O editorial do The Guardian classifica o processo de impeachment, como hipócrita, e profetiza que esse espetáculo político fará com que o Brasil “sofra consequências por um longo período".
The Economist A revista inglesa The Economist publicou uma lista das razões dadas pelos deputados para votarem em favor do impeachment, indicando que raros deles apontaram as acusações que fundamentam o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. A Economist diz que "'A acusação é que a presidente brincou com a contabilidade do orçamento, escondendo seu estado lamentável”. “Mas raríssimos deputados federais mencionaram essa acusação na estrondosa e feroz sessão especial do Congresso, mostrada ao vivo pela televisão”.
Forbes
A revista Forbes questionou os reais motivos por trás do pedido de impeachment, apontando que o processo objetiva impedir que os políticos corruptos que pedem a saída de Dilma Rousseff sejam depois julgados.
“O motivo é muito simples. É o de terminar as investigações da Lava Jato no Supremo Tribunal”, dia a revista, referindo-se à principal investigação sobre o escândalo da Petrobras. “É para aprofundar os acordos de impunidade, para salvar carreiras políticas. É, em sua forma mais sinistra, para obstruir a justiça”.
“A aprovação do impeachment levanta uma pergunta: Dilma foi condenada por manipular as contas ou porque metade do congresso está desesperadamente tentando se salvar de um linchamento na Lava Jato?”, indagou a Forbes.
O artigo aborda o fato de que políticos corruptos estão usando o discurso anticorrupção como pretexto para evitar serem responsabilizados pela própria corrupção. A revista finaliza que “Essa é a verdadeira razão por trás do impeachment de Rousseff”.
The Globe and Mail O prestigioso jornal canadense The Globe and Mail destacou os motivos políticos e incoerentes do processo de impeachment. Em artigo anterior à votação na Câmara dos Deputados, apontou que Rousseff “não enfrentava acusações de irregularidades financeiras”. O jornal enfatizou que “dos 549 (sic) membros do Congresso que votaram o pedido de impeachment, 318 deles são investigados ou respondem à acusações”.
Em outro artigo, logo após a votação, explicou como a luta contra a corrupção tem sido usada como desculpa para compensar o fracasso dos conservadores nas urnas.
“Rousseff enfrenta o impeachment sob a acusação de ter mascarado as contas, ou que praticou uma pedalada no orçamento federal por meio de empréstimos de bancos estatais, violando a lei de responsabilidade fiscal”, escreveu o articulista. “Ela reiterou na terça-feira que não fez nada que governos anteriores não tivessem praticado rotineiramente, e disse que o impeachment foi usado politicamente como chantagem, por uma oposição que jamais aceitou a perda das eleições de 2014”.
O jornal Globe and Mail sugeriu outro fator pouco abordado no processo de impeachment contra a primeira presidente mulher do Brasil: a misoginia.
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