quinta-feira, 29 de março de 2018

Circo ou hospício?

Richard Jakubaszko
 
O questionamento no título deste post é apenas uma forma de olhar os acontecimentos que estamos assistindo neste ano eleitoral. Fica claro que se usarmos a lona para cobrir o país teremos um circo, mas se cercarmos teremos um hospício.

A situação deve piorar muito mais ainda, na medida em que se aproxima a grande data cívica, pois os políticos e atores participantes andam enlouquecidos, e cada vez mais se travestem de palhaços para chamar a atenção do distinto eleitor, seja através do noticiário da mídia, que é partícipe da hipocrisia que se desenrola no país, seja pelo judiciário, que ocupa todos os espaços. Ambos trazem para o centro do palco políticos desejosos de se elegerem a qualquer custo, colocando os brasileiros em guerras fratricidas entre irmãos. Estamos a poucos passos de tragédias maiores, como a do assassinato da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro. O atentado a tiros contra a caravana de Lula no Sul do Brasil não se consumou, ficou restrito ao campo das más intenções políticas. Se matasse alguém, teria outra dimensão.

Para definir se estamos em modo circo ou modo hospício não basta a leitura de jornais ou assistir os noticiários nas TVs, ou muito menos acompanhar as disputas através da internet, pois todos acusam e agem nas sombras, colocando mais combustível na enorme fogueira que se pretende acender para "iluminar" as próximas eleições. Sempre que um fato novo acontece ou uma fake news é noticiada as turbas das torcidas organizadas do "a favor" ou "do contra" aplaudem ou vaiam, e as insanidades vão se acumulando, até que alguém por aí tome as rédeas do processo e acalme os diletantes. Mas isso só poderá ser feito de duas maneiras: ou eleição ou golpe militar. Há uma alternativa, o cancelamento das eleições, mas isso decide-se depois.

O STF, que deveria ser o gestor desse baile, fazendo cumprir a Constituição, já "legislou" em 2016 sobre a nossa Carta Magna, e firmou nova jurisprudência, alterando de forma inconstitucional e indevida a questão da prisão após decisão jurídica em 2ª instância, pois os constituintes determinaram que prisão somente é possível após esgotados todos os recursos. Existem ADIs (Ação Direta de Inconstitucionalidade) encaminhadas, mas o STF ainda não levou o assunto para debate e votação em plenário, e o tema faz parte das conversas e polêmicas das pessoas, até que o STF restabeleça e coloque em vigor o que determina a Constituição. Mas isso parece utopia, ainda.

Hoje, 29 março 2018, o ministro Barroso determinou a prisão de vários amigos do presidente Temer (entre outros José Yunes, ex assessor de Temer, Cel. Lima ex-policial militar, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi), como ação preventiva para impedir destruição de provas na investigação de portaria assinada por Temer em 2017, e que supostamente beneficiaria uma empresa do Porto de Santos (Rodrimar). Todo esse processo investigativo indica que Temer será colocado no centro do tabuleiro, e permite projetar um novo pedido da Procuradoria Geral da República e do STF ao Congresso Federal para autorizar a investigação. Se a denúncia ocorrer, só resta a renúncia. Mas esse parece ser o pano de fundo, não existisse uma provável chantagem surfando no ar, tipo "ou Temer ou Lula"? Ministros do STF pressionados a mudar votos? Não duvidemos. Foi sintomático o twitter de Janot: "Já começou? Acho que sim". É coisa para entendidos, leitores contumazes de mensagens curtas e cifradas.

Tudo isto coloca como "causas pequenas" a autorização pelo STF de aceitar ou não o Habeas Corpus solicitado pelo advogados de Lula, a ser decidido dia 4 de abril; também é pequena a denúncia feita pelo ministro Fachin de que ele e sua família estão sendo ameaçados, fato interpretado brilhantemente pelo jornalista Luis Nassif como fachin news; menores ainda o bate boca entre os políticos e a mídia sobre se foi atentado político ou não os tiros disparados contra os ônibus da caravana de Lula.

Dentro de dois meses e meio esse debate todo será esquecido pela Copa do Mundo, e só depois começa o ano eleitoral. Por enquanto, os políticos e a mídia só estão fazendo aquecimento, a não ser que uma desgraça maior aconteça. Antes da Copa, já na semana próxima, depois da Páscoa, novas insanidades vão aparecer e a gente nem vai lembrar mais das imbecilidades desta semana.
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