segunda-feira, 6 de abril de 2020

O que há nos sacos de fertilizantes?


Valter Casarin *
Segundo estimativas da FAO, a população mundial excederá 9 bilhões em 2050. Para atender a essa demanda, a produção mundial de alimentos precisará crescer cerca de 70% em relação ao seu nível atual. Uma solução para aumentar a produção de alimentos poderia ser a abertura de novas terras agrícolas. No entanto, muitos estudos evidenciam os efeitos negativos que poderiam resultar no clima do planeta. Assim, precisamos intensificar a produção por unidade de área para evitar de derrubar florestas. Portanto, será mais prático fazer o melhor uso da terra já utilizada para a agricultura.

Para garantir a segurança alimentar, precisamos desenvolver uma agricultura mais eficiente e uma fertilização mais direcionada, com base na moderna tecnologia das plantas.

As terras agrícolas são destinadas ao cultivo. Os produtos colhidos são removidos da área e, com eles, os nutrientes também são retirados. Os nutrientes podem estar presentes no solo originalmente ou ser adicionados por fertilização. Ao mesmo tempo, os nutrientes também podem ser removidos do solo pela erosão, lixiviação ou volatilização. É por esse motivo que os solos requerem um manejo cuidadoso para preservar suas qualidades e potencial produtivo. A adubação correta faz parte deste manejo.

Os fertilizantes minerais visam melhorar a quantidade e a qualidade dos produtos agrícolas.

Qual a composição dos fertilizantes minerais?

Basicamente, os fertilizantes contêm sais de elementos que são nutrientes de plantas e de animais, inclusive nós. Note que fertilizante e adubo são sinônimos e neste texto usamos ambos com o mesmo sentido.

Existe um grande mito em torno dos fertilizantes, principalmente por considerar esse insumo como sendo tóxico. Para um melhor entendimento sobre esse tema, precisamos entender a composição química dos fertilizantes, como sendo a forma mais correta para identificarmos a importância para as plantas, mas também para os animais e humanos.

Para avaliar essa importância, um primeiro passo é conhecer quais são os nutrientes que são essenciais para as plantas e animais. A essencialidade significa que esses nutrientes não podem faltar, pois eles fazem parte de processos vitais e sua carência irá acarretar sintomas sérios para o desenvolvimento das plantas e dos animais.

Nutriente de Plantas: C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn

Nutriente de Seres Humanos: C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn, Na, Co, Si, As, Se, I, V e Cr

Podemos verificar que grande parte dos nutrientes essenciais para o ser humano, também são essenciais para as plantas. Isto permite entender que a falta do nutriente para as plantas irá afetar seu fornecimento para o ser humano. Ao mesmo tempo, devemos entender que o fornecimento de nutrientes para as plantas é feito pelo solo. Isto nos remete a afirmar que o nutriente contido no solo será responsável pela boa nutrição do ser humano. Vamos exemplificar falando de alguns tipos de fertilizantes.

Fertilizantes Nitrogenados
O nitrogênio (N) é o componente das proteínas dos nossos músculos e enzimas que fazem nosso organismo funcionar. As plantas produzem proteínas a partir de formas minerais naturais de N que absorvem do solo. Mas de onde vem o nitrogênio que está sacos de adubo? Do ar! O N compõe cerca de 78% do ar que respiramos e constitui um estoque ilimitado de nitrogênio. Mas, o N no ar está na forma de um gás inerte que as plantas não podem assimilar. Para produzir fertilizantes nitrogenados, é preciso extrair nitrogênio do ar e transformá-lo em amônia, combinando-o com hidrogênio, em um processo industrial descoberto no início do século passado. A amônia é processada e transformada em diversos sais fertilizantes que são absorvidos pelas plantas. Assim, a indústria de fertilizantes e as plantas transformam ar em proteínas que compõem nosso corpo.

A história é um pouco mais longa. Algumas plantas – por exemplo a soja - se associam com bactérias que conseguem capturar o N do ar, como a indústria faz. Há também pequenos depósitos naturais de sais de nitrogênio, de pouca importância no comércio de fertilizantes. Mas, a maior parte do N usado na agricultura é na forma de fertilizante, produzido a partir do ar, como contado acima.

Fertilizantes Fosfatados
Presente em todas as células vivas, o fósforo (P) é um elemento essencial para a vida. O fósforo é encontrado em toda parte do corpo, mas em quantidades mais concentradas nos dentes e ossos. As plantas absorvem o fósforo de sais presentes no solo e os transformam em compostos que nosso organismo utiliza. Os fertilizantes repõem ao solo o fósforo que as plantas retiram. Mas, como o P vai parar no saco de adubo? O que entra na composição dos fertilizantes vem de rochas fosfatadas, encontradas na natureza. Parte dessas rochas é apenas concentrada e usada in natura. Parte a indústria processa para produzir sais de mais alta solubilidade para facilitar sua absorção pelas plantas. Os maiores depósitos de fosfato são encontrados no norte da África, nos Estados Unidos e China. O Brasil também tem jazidas de fósforo. São depósitos naturais formados e acumulados em nosso planeta durante milhões de anos.

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Um pouco de história dos adubos fosfatados: você sabia que no passado os adubos fosfatados, com a fórmula química que ainda hoje empregamos, era feita a partir de ossos?

Fertilizantes Potássicos

O potássio (K) também é encontrado em todos os lugares da natureza e, nos humanos, nos músculos, na pele e no trato digestivo. Para se manter saudável, precisamos de uma ingestão suficiente de potássio; no caso das plantas, essa contribuição vem dos fertilizantes potássicos. Nas plantas, o potássio é usado para fotossíntese, formação de proteínas e uso de água.

O potássio é extraído de corpos minerais naturais por evaporação da água do mar. O potássio é encontrado em minerais que contêm misturas de vários sais, como cloreto de potássio, cloreto de sódio, sais de magnésio. Estes depósitos contêm uma mistura de cristais de cloreto de potássio e cloreto de sódio, também conhecido como sal de cozinha. Após sua extração e separação da mistura, o cloreto de potássio é usado como fertilizante. A maioria dos depósitos de potássio está localizada no Canadá, Rússia, Bielorrússia, Alemanha e Estados Unidos. O Brasil também tem reservas de potássio, mas, elas são pequenas.

O cloreto de potássio, obtido por processos físicos, é um sal praticamente puro contendo alta concentração de potássio. O cloreto de potássio é adequado para todos os solos e para a maioria das culturas.

Assim, o material que está nos sacos de adubo é oriundo de fontes naturais, que por transformações, dão origem aos fertilizantes.

Você sabia que os médicos receitam compostos que algumas pessoas precisam tomar como suplemento mineral e que têm exatamente as mesmas fórmulas dos adubos? Se você examinar os sacos de adubo você verá que eles contêm produtos como ureia, nitrato de amônio, fosfato de cálcio, sulfato de cálcio, cloreto de potássio, sulfato de zinco e por aí. Na próxima vez que você for à farmácia, dê uma olhada na composição dos suplementos minerais nas suas embalagens ou nas bulas. Você vai se surpreender ao achar lá muitos dos compostos químicos que estão nos sacos de adubos. Podemos exagerar e dizer que as pessoas praticamente comem fertilizantes! Não só comem, como passam na pele. Olhe também a composição de alguns cremes que você usa e não se surpreenda se encontrar ureia na lista de ingredientes – exatamente a mesma ureia dos fertilizantes.

Mas, não vá se entusiasmar e comer adubos. Deixe-os para as plantas. Ao contrário dos adubos, os suplementos das farmácias são purificados para consumo humano.

Com objetivo de melhorar a percepção da população em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes, foi estabelecida no Brasil, em 2016, a iniciativa Nutrientes Para a Vida (NPV). A NPV possui visão, missão e valores análogos aos da coirmã americana, a Nutrients For Life. Sua principal missão é destacar e informar a respeito da relevância dos fertilizantes para o aumento da qualidade e segurança da produção alimentar, colaborando com melhores quantidades de nutrientes nos alimentos e, consequentemente, com uma melhor nutrição e saúde humana.

As informações divulgadas pela NPV são baseadas em dados científicos, tanto que a iniciativa tem a participação de renomados cientistas e pesquisadores de importantes centros de pesquisa brasileiro.


* o autor é engenheiro agrônomo.




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