domingo, 24 de maio de 2020

Morre o professor Alfredo Scheid Lopes, aos 82 anos


Richard Jakubaszko  

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) comunicou hoje e lamentou o falecimento do professor emérito Alfredo Scheid Lopes, mais conhecido como Alfredão, em razão de sua altura, de 1,94 metros. O falecimento ocorreu no sábado (23/5) e o sepultamento ocorreu neste domingo (24/5), às 10h, em cerimônia reservada apenas a familiares próximos. O professor, que atuou no Departamento de Ciência do Solo (DCS), foi vítima de um câncer, diagnosticado já em estado avançado.

Alfredão ingressou no quadro de servidores da UFLA em 1962 e aposentou-se em 1990. Realizou o estudo pioneiro em solos do Cerrado brasileiro, nos anos de 1970, que permitiu o aumento da produção agrícola e é considerado uma das maiores conquistas agrícolas do século 20, conforme o também engenheiro agrônomo Norman Bourlag, Prêmio Nobel da Paz. A constatação do professor Alfredo de que era possível e necessário o estabelecimento de estratégias de manejo da fertilidade dos solos no bioma “Cerrado”, para torná-los produtivos, veio durante o mestrado em Ciências do Solo, na Universidade da Carolina do Norte (EUA).

Para chegar a essa conclusão, o jovem professor havia percorrido uma área de mais de 600 mil quilômetros quadrados de solos sob vegetação de cerrado, avaliando 518 amostras, em um estudo completo que ficou conhecido pelo pioneirismo na verificação do grau de “infertilidade” dos solos dessa região. O estudo teve continuidade e aprofundamento durante o doutorado, de 1975 a 1977, na mesma universidade americana, com o resultado publicado em periódicos nacionais e internacionais de referência na época.

Logo após a formatura, em 1962, tornou-se docente, fazendo sua carreira em Fertilidade e Manejo de Solos, área na qual desenvolveu mais de uma centena de trabalhos e é referência, tendo recebido dezenas de prêmios e títulos em todo o mundo. Um deles concedido pela UFLA: o de professor emérito da Universidade desde 1993.

Entre as histórias mais marcantes vividas pelo professor, está a da federalização da ESAL, efetivada em 1963. Na época, a Escola sofreu a ameaça de ser fechada por emissários do Governo Federal. Após uma série de reuniões com docentes, servidores e autoridades lavrenses, a comitiva mudou de ideia e decidiu pelo não fechamento da Escola, defendendo medidas para transformá-la em instituição federal.

De acordo com Alfredão, esse processo não foi fácil e afetou o funcionamento da Escola. “Quando os trâmites tiveram início, éramos 19 professores e 35 funcionários para atender 120 alunos. Durante dois anos nós tivemos que trabalhar sem receber salário algum para que ela não fosse fechada. O que fizemos foi realmente por muito amor à ESAL”, contou o professor.

Mesmo aposentado, continuou ativo e realizando trabalhos importantes na área. Em 2016, foi convidado pela renomada revista Advances in Agronomy para fazer uma releitura de sua tese de mestrado, desenvolvida há 40 anos, quando estudou na Universidade da Carolina do Norte (EUA). Em 2017, traduziu dois livros da área e lançou a quarta edição do Guia de Fertilidade do Solo – a primeira versão data de 1992, ainda em sistema DOS.

Toda a sua produção científica está disponível no site ( www.alfredao.com.br ), no qual também apresenta seus hobbies, como música e artesanato, conquistas no esporte (foi campeão olímpico de salto) e histórias curiosas que se divertia ao contar. É o caso do dia em que enfrentou o jogador Pelé, em 1957, pelo Fabril Esporte Clube de Lavras: “Era a primeira vez que o Pelé jogava pelo Santos em Minas Gerais. Perdemos de 7 a 2, com quatro gols do Pelé. Meus amigos me perguntam se eu ainda estou procurando o jogador. Mas pelo menos consegui fazer os dois gols do meu time”, revelou Alfredão.

Mesmo sem vínculo formal com a instituição, Alfredão era sempre encontrado na UFLA, no DCS, traduzia artigos, esclarecia dúvidas e motivava os alunos. Sobre sua missão na Universidade, era categórico: “Quando me aposentei há 24 anos, senti que ainda tinha condições de produzir e ser útil nas coisas em que acredito, como a formação dos acadêmicos. Às vezes, em uma conversa com o aluno, esclareço uma dúvida e consigo motivá-lo a seguir em frente. A UFLA é para mim um grande amor à primeira vista, que só se perpetuou”.

Nas festividades pelos 111 anos da UFLA, Alfredão contribuiu na série de vídeos "Memórias UFLA". Assista: https://youtu.be/GSnnKl8jHrU

Série completa: http://www.eventos.ufla.br/aniversario/111anos/programacao/2-uncategorised/8

O professor Alfredo Scheid Lopes nasceu em Mindurí, MG, em 19/12/1937, último dos oito filhos de Antonio de Araújo Lopes e Alexandrina Scheid Lopes. Engenheiro Agrônomo pela ESAL (Escola Superior de Agricultura de Lavras) em 1961; Mestrado e PhD pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, Estados Unidos, em 1975 e 1977, respectivamente.

Foi professor de Fertilidade e Manejo de Solos dos Trópicos na ESAL (hoje Universidade Federal de Lavras - UFLA) desde 1962. Autor de 86 trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior, 56 trabalhos publicados em congressos, 9 livros, sendo 3 como coautor e 6 livros como primeiro autor - com destaque para o primeiro livro eletrônico em Ciência do Solo no Brasil (Guia de Fertilidade do Solo - Versão 3.0), duas traduções de livros, 27 capítulos de livros no Brasil e no exterior, 52 boletins técnicos, além da edição de 6 livros de outros autores. Suas duas últimas publicações mais relevantes são o Guia de Fertilidade do Solo, versão 4.0, atualizada e ampliada, agora on-line.

O professor Alfredo Scheid Lopes foi colaborador assíduo da revista Agro DBO, publicação mensal de agricultura da DBO Editores Associados, desde suas primeiras edições, a partir de 2003.

Mais informações em www.alfredao.com.br






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