segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A estupidez russa e ucraniana

Daniel Strutenskey de Macedo

As causas dos conflitos entre Rússia não são étnicas, nem religiosas, pois ambos são russos e de maioria católica e ortodoxa. Não são de origem, pois a Rússia foi fundada por um príncipe viking chamado Russ no ano 900 dc em Kiev. Kiev significa cidade do rei, na época do rei Russ, por isto o nome Ruski dado ao povo desta região.

Então, quais são as causas?

Desde vários séculos anteriores houve disputas comerciais envolvendo o domínio de terras para cultivo, fontes minerais e a exploração dos mercados das cidades russas. Estas disputas envolviam elites das diferentes regiões da Rússia, conflitos e pequenas guerras. Quando o Kublai Khan, filho de Gengis Khan, invadiu a região de Moscou, conhecida como a Grande Rússia, os moscovitas fizeram uma aliança com os mongóis (também chamados de tártaros).

Na região ocidental da Rússia, da Pequena Rússia ou Ukraína, o Rei Danilo, que governava em Lviw (cidade dos Leões, região vizinha à Polônia) não aceitou o acordo proposto pelos mongóis, mas a seguir foi obrigado a aceitá-lo. A partir desta época, ano de 1.200, Moscou, que era ainda pequena, se fortaleceu econômica e militarmente e sua elite passou a dominar o comércio e a exploração das terras e dos mercados. Este domínio prejudicou os interesses das elites que dominavam a Pequena Rússia (a Ucrânia).

A Pequena Rússia ou Ucrânia foi invadida pela Lituânia, mas depois os lituanos deram o controle da região ucraniana para a Polônia. Outra elite, a polonesa, passou a disputar a produção e os mercados ucranianos. Na época a Ucrânia era o maior produtor de trigo, centeio e cevada do mundo. Os poloneses passaram a ser dominados pelo Império austríaco e outras duas elites, a austríaca e a alemã, passaram a explorar a Ucrânia. Vários conflitos e guerras aconteceram entre os ucranianos e os poloneses. Não aconteceram guerras contra os austríacos e alemães, pois os ucranianos se tornaram empregados das usinas de álcool e açúcar de beterraba que os alemães instalaram na Ucrânia. Muitos ucranianos, todos os anos, iam trabalhar nas minas de carvão e outras instalações alemãs semelhante ao que vemos hoje os nordestinos virem para o Sudeste trabalhar nas grandes fazendas. É claro que havia grandes proprietários ucranianos de trigo, centeio e cevada, mas eles dependiam da comercialização feita pelos austríacos e alemães. Como estes ucranianos do ocidente, divisa com a Polônia, estiveram separados de Kiev e de Moscou por vários séculos, a elite ucraniana criou outros laços comerciais e financeiros, tornaram-se aliados ocidentais. O povo ucraniano, todavia, continuou tendo que ir trabalhar nas mineradoras alemãs para ganhar algum dinheiro.

Na Segunda Grande Guerra, a Rússia ganhou a guerra e tomou esta região da Ucrânia de volta. A elite ucraniana ficou em situação ainda mais difícil, pois foi considerada traidora da pátria, já que tinham se aliado aos nazistas e facilitado a entrada dos alemães na Rússia através da Ucrânia. Boa parte do povo ucraniano foi obrigado a seguir os alemães e lutar contra os russos e por isto se tornaram também traidores, foram obrigados a fugir, a emigrar para a América. Os ricos ucranianos, a elite, já tinha depósitos nos bancos europeus e foram viver bem na Europa e de lá ficaram alimentando os que ficaram na Ucrânia a lutarem contra o domínio moscovita.

Parte dos ucranianos, no entanto, aderiram aos bolchevistas, e se tornaram pessoas importantes para os russos administrarem a Ucrânia e por isto Lenin fez da Ucrânia uma república. Ela nunca tinha sido um estado antes, mas apenas uma região da Rússia.

Na perestroika a União Soviética perdeu força e a Ucrânia tornou-se independente pela primeira vez na história. A elite ucraniana não comunista ganhou as eleições, pois o partido comunista não se interessou por elas. Os líderes comunistas acharam que por dominarem o comércio, as indústrias, as escolas e as repartições ganhariam facilmente.

Perderam! A elite ucraniana não comunista se aproveitou do momento e do poder para fazer várias mudanças no sentido de dominar de fato as repartições, o comércio, as indústrias e tudo mais. Mudou até a língua. Todos falavam russo, mas a partir daí foi estabelecido que passariam a falar o russo e o ucraniano. Língua ucraniana que tinha sido inventada por um poeta a partir dos sotaques e algumas palavras regionais, cuja diferença do russo é mínima.

Os comunistas reagiram nas eleições seguintes e devido ao poder comercial e econômico que tinham ganharam as novas eleições, mudando as regras que a elite não comunista tinha estabelecido. Além destas elites, havia e continua a haver a influência das elites europeias, pois durante o regime tzarista vários empresários europeus investiram na Rússia e a Guerra contra a Rússia, a Primeira, se deu porque o Tzar resolveu que devido os altos juros, ele tinha pagado tudo e mais um pouco e assim justificou que não iria mais honrar o que devia contratualmente.

A Ucrânia é hoje, como foi anteriormente, uma região onde os empresários estrangeiros podem investir e explorar. Daí o interesse deles hoje, neste momento, pela independência da Ucrânia. Se ela ficar com a Rússia eles não poderão explorá-la.

Não faz sentido os países europeus incentivarem a Ucrânia a lutar. Menos ainda enviar armas para ela, pois a Rússia responderá com maior força se houver maior resistência e isto destruirá as cidades. O que faz sentido é apoiar a Ucrânia a negociar para que ela consiga uma boa negociação e não fique totalmente refém da Rússia.

Quando a União Soviética colocou armas em Cuba a reação americana foi imediata e com a ameaça de guerra atômica. Agora os EUA colocam armas nos países vizinhos da Rússia e pretendem tornar a Ucrânia uma aliada militar. É óbvio que a Rússia reaja. Um dos motivos da reação russa é que os EUA e a Europa são comercial e financeiramente poderosos e se os russos não impedirem o ingresso dos capitais na Rússia ela será paulatinamente tomada pelos investidores como é o caso do Brasil. Nós brasileiros vendemos a Cica, vendemos a Bom Bril, vendemos as empresas que produziam pistões para motores, vendemos várias empresas de mineração, vendemos a Siderúrgica Nacional, vendemos as empresas de aviação, vendemos a Embraer, vendemos as empresas de produtos de limpeza e outras tantas. Agora pretendemos vender a Petrobras, a Eletrobras e outras. Já somos um país onde a maioria dos produtos com tecnologia são de propriedade de estrangeiros, até um simples hamburger paga royalties. Estamos voltando à época em que importávamos tudo e exportávamos café e açúcar. Agora estamos nos tornando um país exportador de soja, frutas e outras comodities agrícolas. A elite russa sabe que se deixar, a Rússia será, aos poucos, tomada pelos investidores estrangeiros, pois eles têm capitais, eles controlam a moeda mundial, o dólar. Controlam as bolsas de valores. Por isto, a posição dos países europeus não é pela liberdade e pela soberania da Ucrânia, mas, sim, pela conquista de uma nova fronteira a ser explorada.

A ONU faz maioria devido seu número de países filiados, mas se somarmos a Europa, as Américas e alguns países da África, todos juntos somam um terço da população mundial, cuja maioria é formada pela Federação Russa, China, Paquistão, Índia, Indonésia, Vietnã e outros países da Ásia. Atualmente, com o crescimento da China, o mundo asiático passa a ocupar uma posição que ameaça a hegemonia comercial dos EUA. O dólar é controlado por bancos particulares americanos. As bolsas, por empresários americanos. Esta situação desfavorece os preços e as condições de comercialização dos países asiáticos e é obvio que estes pretendem uma mudança, um novo contrato mundial para o comércio e as finanças.

A estupidez da Ucrânia é insistir em lutar com um inimigo muitas vezes maior que ela. A da Rússia é ter permitido que as elites comunistas que se tornaram capitalistas continuassem a explorar os ucranianos, pois se sabia que uma nova ordem teria que ser estabelecida.

Portanto, a guerra atual não diz respeito à Crimeia (que nunca foi ucraniana), nem às regiões separatistas, as quais são de maioria russa. A guerra atual é motivada pelas ambições das diferentes elites capitalistas, as russas, as da Ucrânia, as dos países europeus e dos EUA.

Os europeus nunca ajudaram a Ucrânia. Os ucranianos têm sido vítimas de preconceito nos países europeus, são contratados apenas para serviços de pouca qualificação e baixos salários, as mulheres bonitas e fragilizadas exploradas na prostituição. Nos EUA, onde vivi por algum tempo, a colônia ucraniana sempre foi sistematicamente explorada. Meus tios, que eram profissionais aqui no Brasil, conseguiram apenas serviços de limpeza de escritório durante a madrugada e serviços pesados e perigosos na indústria. Meus primos também não conseguiram progredir profissionalmente, permaneceram operários. Os que ficaram aqui se tornaram médicos, dentistas, advogados, engenheiros, comerciantes. Meus primos ucranianos que ficaram na Ucrânia durante o período soviético se tornaram engenheiros.

A ajuda europeia e americana é uma farsa! Imagine os EUA iniciar uma guerra conosco e os países amigos nos incentivarem a lutar. Seria um absurdo, pois seriamos derrotados. Quanto maior a nossa resistência, maior o ataque do inimigo e maior o nosso prejuízo. Países amigos nos ajudariam a negociar bem e não a arriscar a nossa destruição.

 

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