quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Discurso antológico de Paolinelli na FIESP esta semana

Richard Jakubaszko  
Recebi por zap do amigo Paulo Herrmann o texto abaixo, me avisando que o discurso fora feito pelo maior brasileiro vivo. Leiam, de fato é brilhante a mensagem.
   

Amigos,
Cumprimento inicialmente meu amigo Roberto Rodrigues, nosso anfitrião, o Presidente da FIESP, Josué Gomes da Silva, e através dele nosso caro amigo Jacyr Costa Filho, brilhante coordenador do COSAG e o Vice-Presidente eleito, Geraldo Alckmin, em nome dos quais agradeço a todos os presentes...

Meus amigos e companheiros de vida, muito obrigado pela homenagem que me prestam. Estou comovido. Acompanhei de perto o tremendo esforço feito para que o Brasil fosse laureado com o Prêmio Nobel, que não chegou. Com a Ciência do nosso lado, continuamos a acreditar que podemos transformar o mundo em que vivemos. Vivi fato semelhante quando Norman Borlaug me indicou para o World Food Prize, em 2002. O Conselho de sua Fundação levou 4 anos para entender o significado da criação do Agro Tropical. Só fui laureado em 2006 e, por minha sugestão, indicaram ao mesmo tempo dois cientistas: um embrapiano, outro norte-americano. Mostrava também que nunca fizemos nada sozinhos.

Iniciei muito cedo e antes mesmo de receber o diploma de agrônomo, fui incumbido da missão de lutar pela sobrevivência da ESAL, hoje Universidade Federal de Lavras. Confesso ter sido uma das mais árduas batalhas vencidas, graças à participação de colegas e da sociedade, que percebeu o tesouro que estava sendo jogado fora. Deus nos ajudou. Foram dez anos de luta, mas o sacrifício valeu a pena. Hoje, os milhares de estudantes da UFLA nos enchem de esperança. Eles contribuem para um mundo melhor.

Nunca reivindiquei cargos ou posições. Sempre fui convocado e fazia questão de saber de quem me convocava, se estava certo da minha competência e capacidade de trabalho. Isso possibilitou-me sempre valorizar a competência, seriedade e a capacidade técnica e de trabalho. Por esta razão, sempre tive minhas tarefas facilitadas, pois acima de tudo coloquei a Pátria e os desígnios de Deus. Aprendi com a minha Mãe a só usar o que eu possuía, mesmo que sacrifícios existissem. Respeitar o do alheio e o que não era meu, pois Deus sempre supriria as nossas pessoais necessidades. Daí sempre vivi humildemente para o trabalho que me ensinaram e espero ter falhado o mínimo possível. Muito obrigado minha Mãe. Você foi a base da minha existência.

Sempre respeitei com orgulho os ensinamentos do meu Pai. Suas lições e preceitos. Agora posso avaliar como fui feliz em ouvi-lo. A minha Família, minha esposa e cinco filhos, quatorze netos e já três bisnetos. Vocês constituem a minha única riqueza e felicidade. Meus amigos e verdadeiros irmãos de Fé, Confiança e Trabalho, devo muito a vocês. Que nosso Deus lhes dê a paga que nunca pude fazer. Obrigado, devo meu trabalho a vocês.

Companheiros, este foi o Brasil onde nasci e me criei. Dele me orgulho tanto. Não gostaria que ideias diferentes influenciadas por pitonisas enganosas venham provocar mudanças ideológicas ou políticas que nos nos tire desta direção.

O Brasil está pronto para fazer o futuro chegar novamente. Somos o único País capaz de, em poucos anos, mais do que dobrar a produção de alimentos, sem desmatar uma única árvore, sem destruir um único bioma.
Por isso, é tão urgente depositar um novo olhar, reler o papel do Agro Tropical muito além da sua tradução convencional em bilhões de dólares ou milhões de toneladas.

Temos as respostas rápidas e seguras que o mundo precisa para enfrentar os temas mais críticos, as mais profundas e complexas crises globais da atualidade:

*No combate à fome, a redução do preço dos alimentos, via choque de oferta. Já fizemos uma vez. Não é aventura.

*No enfrentamento da agenda climática, um extraordinário arsenal tecnológico e a visão de que a inclusão social transforma desmatadores em agentes do impacto mínimo da produção de alimentos sobre a natureza.

*Na contenção dos fluxos migratórios forçados, pela geração de renda, emprego e qualidade de vida, em bases sustentáveis, aqui mesmo, na região tropical, de onde ninguém deveria ser forçado a sair se pudesse aqui viver com dignidade.

Essa causa central é a mesma dos jovens, os verdadeiros donos do futuro, com os quais o diálogo passa muito menos pela informação e muito mais pela comunhão de valores. E os valores vêm junto com as entregas reais que fazemos à sociedade. É a causa do Planeta: a natureza é nosso ambiente de trabalho, conservá-lo é uma obrigação. É a causa humanitária, das pessoas, objeto maior do processo civilizatório que nos une a todos. É a causa dos investidores, que buscam a segurança da governança ESG.

Parece um sonho, é verdade. Mas, no Brasil, estamos acostumados a realizar sonhos.
A participação dos jovens nas Reformas é o elemento chave deste sonho. Sem eles, vamos reproduzir o modelo gastador, socialmente injusto, administrativamente desorganizado e economicamente ineficiente que impedem o Brasil de ser um País Desenvolvido.

A primeira reforma tem que ser a Política. Partido tem que ter carta de princípios, respeitá-la, ser alvo da fiscalização pelo eleitor. O partido político não pode se transformar em grupos de assalto ao erário público. A honestidade terá de ser a sua base e o amor a pátria acima de tudo.

A Reforma Administrativa é urgentíssima. A boa gestão eficiente dos recursos humanos já produziria recursos para atender os mais necessitados. Pasmem, sequer fixamos um teto efetivo para os salários de setor público.

A honestidade de um governo começa por aí.
Aqui que precisa ser revisto o papel da Embrapa. Antes, uma empresa com missão definida, autonomia técnica e financeira, hoje, prisioneira de relatórios, de uma burocracia interminável, e tendo pela frente os mais inquietantes desafios globais para resolver, sem recursos financeiros pra executar.

Uma reforma tributária só faz sentido pautada pelas duas primeiras.
Os Países Desenvolvidos descobriram isto há cem anos. Não se tributa em vão. Nenhuma Nação séria, com moeda forte, faz planejamento econômico como se conserta relógio suíço com bigorna e marreta. Definir o quanto o Estado custa é preliminar. O avanço tributarista em cima de quem produz é inaceitável. Ousam imaginar tributar alimentos em meio à crise que vivemos.

Os governantes precisam ser obrigados a comprovar a eficiência no uso do que arrecadam.

Juntas, Natureza e Ciência têm todas as respostas.
Preservar a floresta úmida é essencial. Mas, sem considerar a geração de emprego e renda pela Bioeconomia Tropical, continuarão excluídas da pauta civilizatória 29 milhões de pessoas, só na Amazônia brasileira.

Devemos sim, preservar, regenerar, mas podemos também converter a Amazônia no maior celeiro de produtos naturais do Planeta.

O grande desafio é transferir a força revolucionária do saber do ambiente científico para a realidade, para o “chão de fábrica”, lá onde atuam os produtores rurais.
Conhecer o potencial das nossas tecnologias é uma obrigação. Evita que lideranças, principalmente as que nos governam, façam coro com os que nos criticam por desinformação.

Por isto fizemos o livro “AS TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS QUE VÊM DOS TRÓPICOS – DESENVOLVER SEM DESMATAR”, organizado pelo Fórum do Futuro, com 64 artigos assinados por uma nata de pesquisadores e gestores que exibem nossa capacidade de enfrentar os principais desafios globais. Com prefácio do Banco Mundial e introdução da FAO, a obra demonstra como a Bioeconomia pode levar o Brasil à liderança da oferta global de alimentos.

A humanidade já assistiu a dois grandes saltos na história do aumento da oferta. Estamos preparados para realizar o terceiro, mas isto só será plausível se fizer parte do projeto brasileiro de sociedade; se ingressarmos no imaginário global pelas soluções que podemos construir.

Há 50 anos, os brasileiros pagavam pela comida mais cara do mundo. O choque de oferta decretado pelo ingresso do Brasil no mercado internacional de alimentos, em 1980, baixou fortemente os preços. A família brasileira média que gastava cerca da metade da sua renda só em alimentação. E, os preços de índice 100 começaram a desabar; em 2000, vinte anos depois tinham caído para o mundo em 50%, mas para a família média brasileira para até 30%.
Aqui se pagava a alimentação mais barata do mundo.

Agro brasileiro transborda, vai muito além. Quando assumi o Ministério da Agricultura, 1974, o frango era uma proteína reservada à elite. Consumo per capita nacional; 3,5 kg por ano. O melhoramento genético (Ciência, da Tecnologia e Inovação tropicais), foi então a base de um dos mais vibrantes processos de democratização alimentar da trajetória humana. Hoje, os brasileiros, em média, comem 45 kg de carne de frango a cada ano.

Democratizar o uso de saberes e tecnologias sustentáveis é condição sine qua non. Vamos precisar de uma ferramenta institucional que sistematize o conhecimento existente: crie mecanismos de efetiva transferência e capacitação de produtos e atores na ponta; que promova a “Pesquisa por Missão”. O SIBRATER é hoje uma nova necessidade, seja ele promovido pelo governo e pela iniciativa privada que seja capaz de motivar esses jovens que entram na produção realizem ou se organizam para fazer aquilo que é necessário e que governos populistas rejeitaram.

A ignorância do produtor extrativista (seja ele pequeno, médio ou grande), faz a sua miséria. Isto passa pela melhoria da Educação, com a ajuda da iniciativa privada. Se só o Brasil são 4,5 milhões de famílias de excluídos tecnológicos, e, no mundo tropical, centenas de milhões de pessoas.

É esse EXÉRCITO DOS SEM FUTURO que engrossa as intermináveis colunas de migrantes forçados a deixar a sua casa, a sua gente.

Um país com essa História com a capacidade de reescrever o futuro das Nações, não tem o direito ao desalento. Não obstante, acreditar e ser otimista, não quer dizer subestimar o cenário inquietante, uma inédita coincidência de crises diversas, complexas e profundas.

O mundo volta à geopolítica bipolar, onde o Brasil é prisioneiro de uma encruzilhada diplomática e comercial. Somos parte do mundo ocidental, do seu ambiente de negócios, praticamos os seus valores; ao mesmo tempo, dependemos comercialmente do mercado asiático.

Esse quadro desafiante pode ser também uma gigantesca janela de oportunidades para o Agro empreendedor, tecnológico, inteligente, sustentável, organizado, cooperativado, inclusivo, obediente aos termos da Constituição da República e contrário a todas as ilegalidades.

Estas são as balizas da visão de País que precisamos pacificar para instruir a construção de um Novo Pacto Global, com base na governança dos nexos Alimento, Águas e Energia.

Estamos prontos a fornecer a contrapartida social e ambiental que o mundo espera, mas precisamos de ajuda. Hoje, ninguém faz mais nada sozinho.
O Pacto Global do Alimento é um processo ganha-ganha. Os países ricos precisam parar de focar nas consequências e passar a operar a solução dos problemas, lá onde eles se encontram.

No lugar de muros e barreiras, vamos construir pontes do conhecimento, promover a inclusão tecnológica e social de pequenos e médios produtores.
É uma oportunidade histórica para o Brasil, para os povos tropicais, para o mundo. Nossa tarefa é conciliar uma narrativa comum, que seja a expressão da proposta que a sociedade brasileira oferece à comunidade global.

Somar agendas comuns (Estado, Ciência, Iniciativa Privada e Sociedade) acende um novo ciclo de expansão econômica no Brasil – depois de 40 anos – e no mundo.

Insegurança alimentar é uma grave ameaça à Paz. Garantir comida para 200 mil novas bocas que a cada dia se somarão à demanda global, até 2050, e cumprir a agenda da sustentabilidade, não é ofício simples.

Vamos precisar de um diálogo franco com a sociedade. Comunicar de uma maneira contemporânea é negociar, é compartilhar causas com os eventuais adversários de hoje que queremos converter em parceiros de jornada. É oferecer produção social de sentido, materializar significados perante formadores de opinião.

Os jovens, os agricultores, os cidadãos que trabalham a favor da racionalidade econômica, precisam estar unidos para evitar que se jogue fora mais uma oportunidade do Brasil.

Esta mobilização é um sinal de que a classe política não pode mais tergiversar. A nossa Nação honesta e realista está nascendo agora perante o mundo. Vamos em frente, meus jovens. 

Esta é a hora.

Allysson Paolinelli

 

 

 

 

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