quinta-feira, 17 de setembro de 2020

O tamanho do Brasil

Richard Jakubaszko    
Tem gente que não tem noção do tamanho do Brasil. Olha só nesse mapa fictício quantos países cabem dentro do Brasil. Considerando que tem 212 milhões de brasileiros dentro do mapa, imagine só a dificuldade de administrar esse país...
 




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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A revolução silenciosa do transporte de cargas agrícolas


Marcos Sawaya Jank *
Corrigindo um erro de nove décadas, ferrovias estão chegando com força ao Centro-Oeste.

Será o fim dos gargalos?
O Brasil adentra ao século XXI

Inaugurada por dom Pedro II, em 1854, a primeira operação intermodal de cargas do Brasil foi a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, um ousado empreendimento do incrível barão de Mauá, o maior empresário do Império.

De 1854 a 1930 o Brasil construiu 30 mil km de estradas de ferro cobrindo a região litorânea do País, com destaque para as malhas das regiões do sul e do sudeste. Nesse período acompanhamos pari passu o exemplo de grandes nações que investiam em ferrovias e hidrovias de longa distância, como Rússia, Índia, Canadá, Austrália e Estados Unidos.

Lamentavelmente, tomamos a direção errada a partir da Presidência de Washington Luís, quando o lema passou a ser “governar é abrir estradas”. Desde então, sucessivos governos passaram a privilegiar longas rodovias e caminhões, em detrimento de soluções multimodais.

Felizmente, esse enorme erro estratégico começa a ser corrigido. Na década de 1970 o Brasil foi o berço da principal revolução tropical agrícola do planeta, que combinou tecnologias inovadoras com empreendedorismo de agricultores arrojados que migraram para os cerrados do Centro-Oeste. Mas a logística de transporte ferroviário não seguiu as novas fronteiras da agricultura e continuou sendo majoritariamente litorânea e estruturalmente precária nas ligações rodoviárias de longa distância do País.

Nos últimos anos, particularmente no governo atual com a excepcional gestão de Tarcísio de Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura, as novas opções multimodais estão produzindo uma “revolução silenciosa” no transporte de cargas agrícolas do Brasil.

O principal beneficiário da mudança de modais é Mato Grosso, Estado que lidera a produção agropecuária nacional – com destaque para soja, milho, algodão e pecuária de corte – e se caracteriza como a área que forma o preço marginal da soja no mundo. Situado a mais de 2 mil km dos principais portos, Mato Grosso foi altamente prejudicado pela precariedade das estradas e pelo alto custo do frete rodoviário, que representa entre 15% e 45% do valor da soja no mercado internacional.

Agora as ferrovias estão chegando com força ao Centro-Oeste. A Rumo já carrega em seus trens o equivalente a 1.700 caminhões por dia na Malha Norte (volume de Mato Grosso), que levam menos de 85 horas para descer até Santos, o principal porto agrícola do País. Até o ano que vem a companhia vai operar trens de 120 vagões. Cada trem desses retira 240 caminhões bitrem das estradas.

Após mais de 30 anos de espera, a Ferrovia Norte-Sul, agora operada pela Rumo e pela VLI, estará operacional no segundo semestre de 2021, interligando os portos de Itaqui (MA) e de Santos (SP).

Em paralelo, a conclusão da rodovia BR-163 permitiu a concretização da saída bimodal pelo Arco do Norte, com os grãos do Centro-Oeste sendo enviados por caminhão até o porto fluvial de Miritituba, no Pará, e em seguida por barcaças até os portos próximos a Belém. Essa saída segue o pioneirismo da hidrovia do Rio Madeira, que há mais de 20 anos liga Porto Velho (RO) ao Oceano Atlântico. As novas opções multimodais já permitiram uma redução de 15% nos fretes de cargas agrícolas de Mato Grosso.

O próximo passo da “revolução silenciosa” é a chegada das ferrovias ao coração da produção de soja, milho e algodão de Mato Grosso. Três projetos estão sendo propostos nesse momento: 1) a extensão de 650 km da Ferronorte entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, que será construída pela Rumo para movimentar cargas até o porto de Santos; 2) a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que vai na direção oeste-leste, podendo futuramente chegar ao porto de Ilhéus; e 3) a Ferrogrão, que pretende alcançar os portos do Arco do Norte, complementando a saída pela BR-163.

Três ferrovias levando grãos do Centro Oeste para o norte, o leste e o sudeste do País constituem um novo paradigma inimaginável de desenvolvimento para a agricultura brasileira. É hora de concretizá-lo, sem pestanejar, pois só depende de leilões ou aprovações do governo.

Vale lembrar que entre granel e contêineres essas ferrovias transportam grãos, açúcar, fertilizantes, etanol, algodão, celulose, café, carnes e muitas outras commodities. Ademais, a opção pelos modais ferroviário e hidroviário traz muitos outros benefícios para o País, se comparados à alternativa rodoviária de longa distância: redução de emissões de gases de efeito estufa e de poluição atmosférica, maior eficiência energética, menor consumo de diesel por quilômetro percorrido, maior segurança e redução de desgastes e acidentes nas estradas, gerando economias importantes para a saúde pública e o meio ambiente.

Temos de aproveitar essa chance de realizar grandes investimentos privados em sistemas multimodais que demandam apenas concessões e autorizações do poder público. Em tempos de tantas notícias ruins por causa da pandemia global, poder corrigir nove décadas de dependência exclusiva e arriscada do transporte rodoviário em apenas uma década é uma oportunidade fantástica. Ela vai beneficiar não apenas o produtor rural brasileiro, mas, principalmente, o consumidor global.


 * o autor é professor de agronegócio global do Insper.

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domingo, 13 de setembro de 2020

A nota de R$ 200

Richard Jakubaszko  
Já saiu e está circulando. Esperemos para ver quando teremos uma em mãos. Até porque, imagine o seguinte...


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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Arroz tá mais caro que...

Richard Jakubaszko 
Não é que espalhou-se por aí a notícia da alta do preço do arroz e já tem gente usando criativamente o arroz pra faturar os tubos?



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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Calvin, o ambientalista malvado...

Richard Jakubaszko  
Considerando que o governo federal fez um vídeo pra se defender dos ataques sobre o desmatamento da Amazônia, das queimadas, e, entre outras coisas, deu como exemplo positivo que a população do mico Leão Dourado está saindo do perigo de extinção, é oportuno informar aos descuidados e desinformados que o bioma Amazônia não possui nenhum mico Leão Dourado como integrante de sua imensa fauna. O referido mico é habitante natural da Mata Atlântica, especialmente a parte que é chamada de subtropical, ou seja, do nordeste de São Paulo, mais Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais até o sul da Bahia.

Independentemente disso, o personagem Calvin mostra abaixo como pensa a geração verde e jovem, que hoje em dia nem quer estudar, mas adora defender o meio ambiente, adota o modo vegano de ser.
 


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terça-feira, 8 de setembro de 2020

Sete semânticas e seus contrastes.

Carlos Eduardo Florence *  

Por onde começar? Era, recordo, véspera de malhação sabatina de Judas e estava precavido, pois no ano anterior fui surpreendido com a vizinha pendurando suas calcinhas na janela do cortiço para me provocar e as crianças quiseram me envolver no contexto. Descrevo sem subterfúgios os acontecidos, pois prefiro não reconsiderar a minha coerência lógica, mas explicá-la a quem tem dificuldade na assimilação. 

Talvez expondo com métrica e pronunciando acentuadamente as proparoxítonas as hipóteses das metáforas fiquem mais objetivas para vosmecê. Confesso, sem pejo, que a memória poderá falhar em alguns pontos por aceitar, sem precaução, como testemunhas duas falcatruas lésbicas e um artefato hipócrita desconhecido. Mas não alteram os pontos nevrálgicos e vamos objetivamente aos fatos que me obrigaram a rever se existiria sentido pragmático entre as ambivalências de concordar, isoladamente, com o projeto de incentivo à pesquisa para a aceleração da menopausa precoce ou optar pelo imperativo lúdico de desfrutar, com prudência, dos milagres minimalistas das orações gregorianas.

A academia não se pronunciou, em tese, pois houve um ponto especifico de inflexão sem que o jasmim, com tendência homofóbica, se declarasse comprometido com o porvir. Pelo ritmo da apoteose poderia surgir um fato novo ou seria a confirmação dos resultados práticos do que me empenhara há muito que se esclareceriam só com o tempo? Explico melhor, isto é, sequenciaria o contraditório da teoria da insuficiência da fé para conter o efeito das marés montantes no aleitamento do capricórnio ou garantiria, no sentido realmente tautológico, a probabilidade da certeza de ganhos permanentes em jogos de azar? Esclarecido ponhamo-nos a caminho.

Embora de formas não heterodoxas eram estes os pensamentos que me acossavam durante o período que deixei a porta da Igreja do Barroquinho de Ancalás, andando pela Alameda da Vergália, até atravessar o Viaduto Urcão do Redentor. A alma de Zeferão da Zinca, que desencarnara com uma navalhada do capoeira Quebaldo Ruca no último outono, fez questão de me acompanhar até a porta do Grupo escolar Professor Tamberte. Ali constatei, sem dúvida, que a solução fora inconclusiva, como salientei, razão das crianças do jardim da infância se desajustarem alegremente, incorporarem Netuno e passarem a brincar de Santa Ceia e Pilatos. Lembrei que Rauâ, meu guru, não pontificara sobre estas hipérboles. Determinou ele não ser parte das gêneses de suas preocupações sobre o futuro, tanto como a megalomania e muito menos pontos aderentes ao Protocolo dos Sábios do Sião, que não o haviam comovido de forma alguma.

Neste sentido meu profeta reconfirmou estar em alfa, sem perspectivas de definir valores morais sobre métodos contra conceptivos para os gambás, frise-se, indiferentes, e pensando em retornar aos estudos de sânscrito como inspiração espiritual para a profilaxia da pesca não predatória. Sendo terreno espiritual conflitivo, entre a esquizofrenia e a previsibilidade dos tarôs para estimar a colheita de fantasias das ninfas de Albadén, optou ele por transferir o protocolo para uma Igreja Pentecostal Maronita e usar escalas jônicas nas suas partituras.

Mereceríamos repouso depois deste estafante trabalho de análise transacional. Meditei com toda prudência, embora constatando certo sentimento paranoico que a lagartixa do teto esquerdo da latrina imunda do Cortiço do Mandega, onde morava então, estivera, irritantemente, a me espionar, de forma agressiva, com ares de quem exigia certezas e valores absolutos sobre as interrogações canônicas dos milagres do Beato Alcadim e a garantia de que a imprevisibilidade crônica das tonalidades furta-cores do fim do veranico fossem poupadas do aborto obrigatório estatal. Precisaria frieza, sem entrar no mérito da questão, para resolver a equação imposta pela circunstância.

No hiato dei-me ao direito de decidir, convicto, que entre uma samambaia, ainda que imatura nos seus valores emocionais e um colibri a cirandar pela janela das minhas fantasias, por mim escancaradas para ele sugar as ansiedades e poupar os deleites, a melhor opção seria tangenciar a inclinação emocional da lua, àquela hora se desfazendo elegante entre duas nuvens caladas e a minha desilusão. Conclui que as propostas não se contradiriam, tanto que uma delicada fase rosada dos reflexos dos meus pensamentos sobre o espelho quebrado da parede sem reboque transcorreu suave, aguardando a brisa mansa regar meus sonhos.

Poderia vestir o pijama e dar-me ao direito do repouso depois destas exaustivas apreciações criteriosas sobre o imprevisível. No entanto escutei nítida, indiscutível, a insinuação irônica da luz forte de uma teoria materialista sobre a evolução das espécies. Esta, de forma pragmática, reluziu ainda mesmo sem ter tido oportunidade de menstruar pela tenra idade, sentar-se dialeticamente sob o cavaco de primeira linha do vizinho músico e expressar-se com um poema educado, suave, impúbere, procurando não uma solução do problema dodecafônico, mas, nas circunstâncias, optou pela paixão da sílfide da escala de fá. Desta forma o tempo propiciaria a procria de colcheias em bemóis e sustenidos em semicolcheias, além das pausas. O sonho seria, de ambos, somente ordenharem as libélulas e os arco-íris para amamentarem as adoradas criações.

Não sucumbira eu até então, malgrado as incertezas. Descobri, incontinente, a partir daquele momento, que comandava o universo somente com meu equilíbrio emocional e o raciocínio lógico. Transmudava as suposições obedientes entrecortadas a meu bel prazer em formas longitudinais, provérbios instigantes, melodias irrefutáveis. Obrigava, altivo e senhorial, os movimentos calados a se transformarem em objetos e estes eu os estilhaçava em simples efeitos sonoros, desconsiderando, por último, interpretá-los, eu mesmo travestido em saltimbanco, em seus papeis de despedaçados remorsos humilhados de nada. Sentia a gloria beijar meus testículos como o fazem os colibris em suas fainas singelas.

Por fim, eu esculpia meticulosamente, a partir do fundo subjetivo das minhas elucubrações, eloquente eu, sempre auto centrado e só, como comandava a minha superioridade, e endeusava os restantes dos nadas, obedientes e inúteis, com os quais embalava as sensuais gotículas de orvalho descendo pela janela para refletir os afagos doces com que as minhas fantasias acarinhavam o próprio ego em seus seios maternais. Neste exato ponto do enredo, que eu compusera em minha euforia, senti a presença de Édipo passeando altivo e vingativo em meus meandros como se fosse mestre sala do inconsciente ou menestrel vegetariano.

Se compensavam as suposições entre o instinto de maternidade e o arraigado espírito ontológico de prevaricação da classe abastada. Com estas colocações esclarecidas restaria encerrar a pauta evitando a prolixidade. Não havia realmente mais nenhuma dúvida oscilando entre as metáforas e as figuras de sintaxe, esperando-me depois daquela vírgula inútil antes do final do parágrafo. Era claramente visível, a intenção desta pontuação atrevida, como se tivesse a intenção de sujeitar-me à mesquinhez de alguma parábola ou propensa a convencer-me de que a aceitação do resultado do exame psiquiátrico me traria mais sentido pragmático.

Meu raciocínio, além de brilhante, era perfeito, assim conclui modestamente. Rememorei todos os detalhes. Volto aos fatos, para aclarar os acontecidos. Confirmo com saudades, como assistia enternecido, que há anos descia uma simbiose, em formação ainda, de melancolia com pé-de-moleque do outeiro de Rantaso, sempre que esta situação se plasmava. Era um alerta a figura da simbiose. Com isto posto, automaticamente, uma pétala fugidia do arco-íris se acomodava na parede da varanda onde o sol vinha descansar ao meu lado. Ali cantava o astro chamando a brisa para embalá-lo antes de se retirar para o poente. Eu o ouvia cerimonioso, sem interferir, nas suas cantilenas gostosas, longas, para não o perturbar.

Lembrei-me, isto é fundamental no contexto, que possuía ainda a mesma caneta Parker que fora de Jongoinho, meu avô. Por temperamento ou tradição estava a Parker relutante em anotar o que eu ordenava, mas os fonemas se comportavam dóceis e convencidos da necessidade de ocuparem os espaços vazios, ortogonais, disponíveis entre a indecisão das orientações metódicas que eu lhes impunha e um preconceito de gênero que atravessava o zodíaco sem solucionar suas incertezas psíquicas. O vão entre a demanda de carinho e a indefinição sobre a síntese metódica do pecado original foi suficientemente intransigente a ponto de propor-me conceitos conflituosos. Na dúvida não rejeitei nem considerei que o azul seria a cor preferida para ir a quermesse de Santa Ruíta. Sabia e, modestamente, aproveitei todos os conflitos, impondo-me penitências sucessivas para suportar metodicamente vários pleonasmos arrogantes e intransigentes durante a quaresma que se seguiu. A Parker foi extremamente compreensível neste período exaustivo. Não sei se me fiz claro, embora ela tenha desaparecido.

Não desisti, mesmo tendo seguido com olhar cativo o beija-flor à janela ao desviar-se da primeira camélia que se ofereceu, até ver nitidamente o vitral da sala ser cortado por uma cigarra ofegante pedindo para ser aproveitada como soneto alexandrino. Caso não ocorresse esta metamorfose monocromática, pediria eu ao Cônego Vicatinho escusas por não participar da comunhão dos abstêmios da sétima ceia na catedral em louvor ao imponderável. Mudei de espaço psicossomático e retornei ao Bar do Rigado onde o garçom limpou o silêncio, esclareceu que o tempo era uma questão de ponto de vista, metamorfoseou um subterfúgio em dó sustenido, fantasiou usar seu melhor pigarro para ser convincente ou trocaria as incertezas de que dispusera até então para confundir o futuro. Não me permitiu escolher entre um salmão sem tempero e uma moça vistosa que se sentou à mesa em frente ao caixa, com um decote delicado e atraente.

A partir deste instante não consegui atinar com alguns dos detalhes que me impuseram as circunstâncias. Não entendi porque o policial armado entrou pelas portas do fundo enquanto sua companheira, saindo de uma ambulância, moça até educada, ofereceu-me a camisa branca com tiras sobrando e que adoravam se entrelaçar dos meus quadris às costas, apalparem meus mamilos, beijarem-me até o pescoço. Gritei independência ou morte em homenagem a Tiradentes, pois me senti um ícone de mãos atadas, lindo como peça descomposta em pedra sabão pelo Aleijadinho nos outeiros das Gerais.

Me pus calmamente em tormentas e adjacências desmerecidas. Imagine eu, com o meu acervo intelectual e artístico de saltimbanco consagrado, poeta, instrutor de marimba e filho de Ogun Lele naquela postura de irreverência junto ao público que continuava sendo devorado pelos seus apetites incontidos, pratos circulando, garçons gritando, apogeu do destempero. Mas enfim dos males o menor, fez-se e faz-se o tempo. Daqui escrevo, este santuário de solidão, pois ouço agora, muito compreensível, só a angústia desta pobre jabuticabeira ao meu lado, que reservou em particulares sussurros a mim, a pouco, que não tem ideia do que fizeram com o mamoeiro geneticamente modificado, que a acompanhava apaixonado e de mãos dadas nos passeios das manhãs.

Acredita ela, agoniada, que uma ONG ambientalista o sequestrou. Escutei-a chorar, por último, enquanto a moça de branco e mandante, ciumenta da jabuticabeira que me acarinhava e apetecia, puxava-me pelas mãos e sugerindo a tomar pílula de sonhos ou dos delírios. 

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Argasmo

Richard Jakubaszko  
Definições peculiares que aparecem todo dia na internet em forma de neologismos: não é que a gente concorda?


sábado, 5 de setembro de 2020

O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão

Richard Jakubaszko  
O velho Chico está chegando em Fortaleza...
O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão, conforme profecia de Antônio Conselheiro lá no século 19.



Lula, em viagem ao Nordeste, em abril de 2003, prometeu água aos nordestinos, através da transposição do rio São Francisco. "O projeto existe desde 1847. Se houver transposição neste país será no meu governo, pois eu sei o que é a seca", disse ele. Por diversos motivos as obras atrasaram. Teve até greve de fome de uns padres, protestos de artistas...

Mas as obras do Lote 1 estão no fim, e beneficiarão moradores, pequenos agricultores e criadores de algumas regiões do interior Estado, além da área metropolitana de Fortaleza, a partir de setembro de 2020.

A Construtora Passarelli finalizou as obras do Lote 1 do primeiro trecho do Cinturão das Águas do Ceará (CAC). Graças a isso as águas do rio São Francisco abastecerão os moradores, pequenos agricultores e criadores de algumas regiões do interior do Estado e da área metropolitana de Fortaleza, no Ceará.

O lote 1 é considerado a principal etapa do projeto do Cinturão das Águas no Ceará, pois concentra-se na área que receberá as águas do rio São Francisco, a partir do município de Jati, no Ceará. Possui 38 km de canais e túneis construídos para suportar uma vazão de 30m³ de água por segundo, o equivalente a uma piscina olímpica a cada minuto e meio - o suficiente para abastecer uma cidade três vezes maior do que Fortaleza.


As águas devem começar a ser transportadas pelos canais assim que a barragem de Jati estiver cheia, e a expectativa é que, no final de setembro, a região do Cariri já receba as águas do Velho Chico. Em seguida, as águas devem chegar ao Açude Castanhão e, posteriormente, na região metropolitana de Fortaleza.
 

O empreendimento tem como objetivo assegurar água para consumo humano e para projetos agropecuários e industriais no interior, perenizando rios e garantindo o suprimento permanente para as populações do semiárido, além de garantir o abastecimento de Fortaleza e do Porto do Pecém.
 

O projeto, quando finalizado, levará água para 93% do Ceará e permitirá a adução das águas transpostas para a maioria do território cearense, inclusive para as regiões mais secas do estado, bem como para aquelas com potencial turístico e econômico.
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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Fachin e o direito da perversidade

Fernando Brito *  
O senhor Luiz Edson Fachin tem, com toda a certeza, um lugar na galeria das almas mesquinhas.

É que não lhe falta conhecimento para compreender a monstruosidade jurídica que está propondo ao sugerir o sobrestamento (vale dizer, a paralisação) das ações a serem julgadas nas Turmas do STF quando faltar – por vacância ou licença – um dos juízes e o resultado apontar um empate entre os presentes.


Fachin é, de fato, um pontapé em todos os princípios desde que, na Grécia, 500 anos antes de Cristo, o dramaturgo Ésquilo figurou o ato de inteligência de Minerva, a deusa da sabedoria, dando o voto pela absolvição de Orestes no julgamento, até então empatado, sobre a morte de Clitemnestra.


Apolo, o deus do Sol, defende Orestes; as Fúrias – Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Inominável) – querem sua condenação e Minerva, a sábia, decide que, igualadas as razões para condenar e absolver, seu dever era o de praticar o que viria a ser o quase universal princípio do in dubio pro reo,/em>: havendo dúvida, prevalecia a inocência do acusado.


Fachin, de uma só tacada, pede a violação de dos princípios constitucionais: o da presunção da inocência e o da duração razoável do processo, porque a justiça que se atrasa é, ela própria, violadora do que é justo.


Ao propor que se pare um julgamento – e julgamentos já levam intermináveis meses e anos para acontecer – à espera que se complete um colegiado com alguém “terrivelmente punitivista” (exceto, claro, contra queirozes e wauntrábios) – a proposta do ministro que um dia já foi combatido por ser “advogado do MST” renega o inciso LVII do artigo 5° da Constituição e, aproveitando que já está avacalhando a Carta Magna, salta para espezinhar o inciso LXXVIII, que estabelece a duração razoável do processo como princípio da prestação jurisdicional.


Traduzindo, como li num comentário feito em um site jurídico, temos um novo princípio – in dúbio, “pau” no réu, que se é réu boa coisa não é – e um novíssimo dispositivo processual: deixa este cara mofando aí que depois a gente decide.


Bem, claro que Fachin toma o cuidado de excluir de sua proposta o habeas corpus, para não se poder argumentar com o fato de que sua proposta significaria manter alguém preso por meses ou até anos a fio esperando que uma vaga no STF fosse preenchida ou que um ministro voltasse de um hospital.


Mas não é a prisão a única restrição de direito que sofre quem está lutando contra uma sentença que considera injusta ou contra um processo que se desenvolve com flagrantes violações.


Já que andei falando em mitologia grega, Fachin – que foi levado ao Olimpo por Dilma e pelo pensamento jurídico garantista, talvez devesse se interessar pela história de Íxion – o primeiro homem a derramar o sangue de um parente – que trai seu benfeitor, Zeus, e quer sua mulher, Hera. Íxion, depois de seduzir um nuvem, que Zeus fez passar por Juno, tem como maldição voltar à Terra e ser pai de filhos centauros, metade homens, metade cavalos.


Ah, sim, em “segunda instância”, Íxion, por gabar-se de sua felonia, acaba lançado no Tártaro, poço onde o crime encontra seu castigo, a sofrer numa roda de fogo.


* o autor é jornalista e editor do blog Tijolaço.
Publicado em https://tijolaco.net/fachin-e-o-direito-da-perversidade/


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