Richard Jakubaszko
Sem medo de errar é possível afirmar que antigamente a gente quando ainda era bem jovem queria ser alguma coisa em nossa futura vida de adultos, e a nossa intenção era mudar o mundo. Na juventude a gente quer mudar tudo, consertar os problemas e o que está errado. Chama-se a isto de ideal, na maioria das vezes.
Quando a gente amadurece vai podando os exageros e arroubos da inexperiência, na forma de como queríamos fazer esses ajustes, mas o ideal de ser, de aprender, de saber, este permanece para sempre. A gente nunca cansa de aprender. Como cantam e declamam os poetas, o viver é um aprendizado permanente. Nesse sentido, o importante seria a trajetória, a caminhada que é a vida, e não o chegar lá, nalgum lugar ou situação, imaginário e desejado. O divertido é a viagem e não o chegar ao destino final.
Pensando nessas questões cheguei à conclusão que as últimas gerações de jovens, muitos deles já adultos hoje em dia, mas já a partir da década dos anos setenta e oitenta, esqueceram o ideal de querer ser, de saber, de conhecer o mundo, e trocaram pelo ter. Ter o automóvel, ter um notebook, um celular, um cargo, ter roupas de grife, ter objetos que os tornam diferentes e “superiores” a outros, apesar de torná-los iguais a uma minoria. Minoria privilegiada, evidentemente.
É verdade que a velocidade e o tamanho do conhecimento humano assumiu proporções absurdas, e ficou cada vez mais difícil ser e saber sobre o todo. Temos versões parciais, os chamados especialistas, e raros generalistas. As novas tecnologias, as "novidades" da informática, desconstruíram o saber, e entende-se – ou convencionou-se – que conhecer a novidade tecnológica é mais importante para arrumar um emprego do que o saber verdadeiro. Mas a ideologia do ter continua, e é um massacre, para não dizer que é apenas perversa.
A TV, a mídia de uma forma geral, inclusive cinema, estimula o ter, desafiam a todos para o consumismo. Se você não tem é porque não é, e não vale nada aos olhos dos outros, não tem valor. Volta e meia, em contatos profissionais, alguém me pede o número do meu celular. Respondo de forma educada que não sou um ET, mas causo indisfarçáveis espantos generalizados ao informar que não uso e não gosto dessa geringonça, verdadeira máquina de fabricar neuróticos nos processos de comunicação. Uso, eventual e raramente, um celular corporativo, quando estou a trabalho da empresa e em viagem. Devolvo aliviado, pondo fim a um pesadelo quando a viagem termina.
Usei um na Agrishow, em abril último (moderno, xique-no-úrtimo), levei-o não pelo fato de ser celular, mas por ser também máquina fotográfica digital, pois tira fotos em alta resolução. Mais parece um pato, ou melhor, o pato é ave e põe ovos, mas não voa. Sabe nadar, mas não é peixe, ou seja, não faz nada bem feito. Em raros momentos consegui fazer ou receber ligações com o celular, e me explicaram que se devia à altíssima concentração de celulares por metro quadrado no espaço da feira.
Nas poucas vezes que usei o tal objeto de desejo ouvi manifestações do tipo "pô, que legal, é iPod?, óh!, que legal, tampa deslizante, nossa... , quanto custa esse?, posso ver?".
É, a mídia massacra, a publicidade estimula o ter, e os que nada conseguem se frustram, se tornam impotentes. Daí que, para que uma geração pudesse ultrapassar a fase do ser para a fase do ter foi um pulo. Apesar do que o mundo sempre foi assim, não nos esqueçamos. Mas, para sair da fase do ter foi um passo menor ainda, pois as crises dificultam cada vez mais o ter, pela falta do emprego, pela redução dos salários, e aí se entrou na fase do "aparentar", aparentar que se é algo, aparentar que se tem alguma coisa.
Com as crises sucessivas, e para facilitar aos consumidores que continuem consumindo, o mercado vendedor financia carros em 72 meses. Quando o sujeito termina de pagar, 6 anos depois, pagou de 2 e ½ a 3 carros em forma de juros, e terá um carro velho e quase sem valor. Se desejar atualizar a novidade a cada 2 anos, a despesa com juros vai para a estratosfera.
Atualmente, até aparentar que se tem é difícil. O que gera multidões de frustrados, angustiados e neuróticos. A maioria com altíssimas dívidas nos cartões de crédito e no cheque especial. Se tivéssemos um indicador social de felicidade humana que fosse aceito por todos, não seria difícil medir esse índice de (in) felicidade. A questão é que muitas vezes a gente nem percebe, mas existem esses indicadores, chamam-se tóxicos, alguns legalizados, e outros não, pois há bebida alcoólica, crack, cocaína, maconha, LSD, Viagra (porque impotentes), ansiolíticos, calmantes, Prozacs, estes últimos legalizados e a maconha, agora a pedidos e por passeatas, por legalizar, etc. e etc. E muita neurose.
ET. O texto de Facundo Cabral, que postei logo a seguir, neste blog, “Uma reflexão extraordinária”, de certa forma mostra o outro lado dessa questão, que também é humano. No meu texto fiz uma análise mais “sociológica”, e também sem a interferência de fatores ideológicos ou políticos.
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Sem medo de errar é possível afirmar que antigamente a gente quando ainda era bem jovem queria ser alguma coisa em nossa futura vida de adultos, e a nossa intenção era mudar o mundo. Na juventude a gente quer mudar tudo, consertar os problemas e o que está errado. Chama-se a isto de ideal, na maioria das vezes.
Quando a gente amadurece vai podando os exageros e arroubos da inexperiência, na forma de como queríamos fazer esses ajustes, mas o ideal de ser, de aprender, de saber, este permanece para sempre. A gente nunca cansa de aprender. Como cantam e declamam os poetas, o viver é um aprendizado permanente. Nesse sentido, o importante seria a trajetória, a caminhada que é a vida, e não o chegar lá, nalgum lugar ou situação, imaginário e desejado. O divertido é a viagem e não o chegar ao destino final.
Pensando nessas questões cheguei à conclusão que as últimas gerações de jovens, muitos deles já adultos hoje em dia, mas já a partir da década dos anos setenta e oitenta, esqueceram o ideal de querer ser, de saber, de conhecer o mundo, e trocaram pelo ter. Ter o automóvel, ter um notebook, um celular, um cargo, ter roupas de grife, ter objetos que os tornam diferentes e “superiores” a outros, apesar de torná-los iguais a uma minoria. Minoria privilegiada, evidentemente.
É verdade que a velocidade e o tamanho do conhecimento humano assumiu proporções absurdas, e ficou cada vez mais difícil ser e saber sobre o todo. Temos versões parciais, os chamados especialistas, e raros generalistas. As novas tecnologias, as "novidades" da informática, desconstruíram o saber, e entende-se – ou convencionou-se – que conhecer a novidade tecnológica é mais importante para arrumar um emprego do que o saber verdadeiro. Mas a ideologia do ter continua, e é um massacre, para não dizer que é apenas perversa.
A TV, a mídia de uma forma geral, inclusive cinema, estimula o ter, desafiam a todos para o consumismo. Se você não tem é porque não é, e não vale nada aos olhos dos outros, não tem valor. Volta e meia, em contatos profissionais, alguém me pede o número do meu celular. Respondo de forma educada que não sou um ET, mas causo indisfarçáveis espantos generalizados ao informar que não uso e não gosto dessa geringonça, verdadeira máquina de fabricar neuróticos nos processos de comunicação. Uso, eventual e raramente, um celular corporativo, quando estou a trabalho da empresa e em viagem. Devolvo aliviado, pondo fim a um pesadelo quando a viagem termina.
Usei um na Agrishow, em abril último (moderno, xique-no-úrtimo), levei-o não pelo fato de ser celular, mas por ser também máquina fotográfica digital, pois tira fotos em alta resolução. Mais parece um pato, ou melhor, o pato é ave e põe ovos, mas não voa. Sabe nadar, mas não é peixe, ou seja, não faz nada bem feito. Em raros momentos consegui fazer ou receber ligações com o celular, e me explicaram que se devia à altíssima concentração de celulares por metro quadrado no espaço da feira.
Nas poucas vezes que usei o tal objeto de desejo ouvi manifestações do tipo "pô, que legal, é iPod?, óh!, que legal, tampa deslizante, nossa... , quanto custa esse?, posso ver?".
É, a mídia massacra, a publicidade estimula o ter, e os que nada conseguem se frustram, se tornam impotentes. Daí que, para que uma geração pudesse ultrapassar a fase do ser para a fase do ter foi um pulo. Apesar do que o mundo sempre foi assim, não nos esqueçamos. Mas, para sair da fase do ter foi um passo menor ainda, pois as crises dificultam cada vez mais o ter, pela falta do emprego, pela redução dos salários, e aí se entrou na fase do "aparentar", aparentar que se é algo, aparentar que se tem alguma coisa.
Com as crises sucessivas, e para facilitar aos consumidores que continuem consumindo, o mercado vendedor financia carros em 72 meses. Quando o sujeito termina de pagar, 6 anos depois, pagou de 2 e ½ a 3 carros em forma de juros, e terá um carro velho e quase sem valor. Se desejar atualizar a novidade a cada 2 anos, a despesa com juros vai para a estratosfera.
Atualmente, até aparentar que se tem é difícil. O que gera multidões de frustrados, angustiados e neuróticos. A maioria com altíssimas dívidas nos cartões de crédito e no cheque especial. Se tivéssemos um indicador social de felicidade humana que fosse aceito por todos, não seria difícil medir esse índice de (in) felicidade. A questão é que muitas vezes a gente nem percebe, mas existem esses indicadores, chamam-se tóxicos, alguns legalizados, e outros não, pois há bebida alcoólica, crack, cocaína, maconha, LSD, Viagra (porque impotentes), ansiolíticos, calmantes, Prozacs, estes últimos legalizados e a maconha, agora a pedidos e por passeatas, por legalizar, etc. e etc. E muita neurose.
ET. O texto de Facundo Cabral, que postei logo a seguir, neste blog, “Uma reflexão extraordinária”, de certa forma mostra o outro lado dessa questão, que também é humano. No meu texto fiz uma análise mais “sociológica”, e também sem a interferência de fatores ideológicos ou políticos.