É um caso verídico. A transcrição abaixo foi obtida no arquivo da Seguradora e está também nos autos do processo que o operário impetrou na Comarca de Cascais, em Portugal.
À Cia. Real Seguros, Sub Sede de Cascais.
Exm°. Srs.
Em resposta ao pedido de informações adicionais, tenho a explicar o que segue:
No quesito 03 de minha participação a V.S.as. do acidente que sofri, mencionei "Tentando fazer o trabalho sozinho" como a causa do acidente.
Disseram na vossa carta que eu deveria dar uma explicação mais pormenorizada, pelo que espero que os detalhes abaixo sejam suficientes.
Sou assentador de tijolos. No dia do acidente, eu estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício novo, de 06 (seis) andares.
Quando acabei o trabalho, verifiquei que tinham sobrado 350 quilos de tijolos. Em vez de os levar a mão para baixo, decidi colocá-los dentro de um barril, com a ajuda de uma roldana, a qual estava fixada num dos lados do edifício, no sexto andar.
Desci, atei o barril com uma corda, que eu havia passado pela roldana, puxei a corda para içar o barril para cima. Quando o barril chegou na altura de onde estavam os tijolos, amarrei a ponta da corda a uma pernamanca e fui para o telhado. Coloquei os tijolos dentro do barril e voltei para baixo.
Desatei a corda e segurei-a com força, de modo que os 350 quilos descessem devagar. (De notar que no quesito 11 indiquei que meu peso é de 80 quilos).
Quando a corta foi desatada, eu não consegui segurar o peso do barril cheio de tijolos e, devido a minha surpresa, por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda.
É desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar eu trombei com o barril que vinha a descer. Isto explica a fractura no crânio e a clavícula partida. Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos das mãos estarem entalados na roldana. Felizmente que eu já tinha recuperado a presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar-me novamente a corda.
Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu ao chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava 25 quilos (refiro-me novamente ao meu peso indicado no quesito 11, de 80 kg). Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente. Próximo ao terceiro andar, encontro novamente o barril que vinha a subir. Isso justifica a natureza dos tornozelos partidos, das lacerações nas pernas, bem como da parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminui a velocidade da minha descida o suficiente, o que minimizou os meus sofrimentos quando cai em cima dos tijolos e felizmente só fracturei 3 vértebras.
Lamento no entanto informar que, enquanto me encontrava caído em cima dos tijolos, com dores, incapacitado de me levantar e vendo o barril acima de mim, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais do que a corda e então desceu em cima de mim, partindo-me as duas pernas.
Espero ter dado a informação solicitada do modo como ocorreu o acidente e ainda explicando que não posso assinar esta, pois ainda me encontro com os dedos engessados.
Hilariante, mas inverossímel...
ResponderExcluirJoão Carlos