Derli Dossa
Agropecuária brasileira: a produção é sustentável
A Tabela abaixo mostra alguns indicadores econômicos e tecnológicos da nossa agricultura nos período 1960 até 2010, permitindo uma comparação em período de 50 anos, durante os quais a agricultura brasileira passou por uma extraordinária mudança em função de seus ganhos de produtividade.
Entre 1960-2010 a população cresceu de 70 para 190 milhões de pessoas. Houve crescimento de área e de produção de grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo) nesse período, de 116% e da produção mais 774%. A área de grãos cresceu de 22 para 47,5 milhões de hectares. A produção de grãos cresceu 774% saindo de 17,2 para 150 milhões de toneladas. A área de pecuária cresceu 122 para 170 milhões de hectres. O rebanho de bovinos e bubalinos cresceu de 58 para 204 milhões de cabeças aumentando 251% enquanto a área cresceu de 39%.
Os padrões tecnológicos mais comuns nos anos 60 mostravam baixíssimos índices de utilização das técnicas modernas e do uso insumos disponíveis: prevalecia uma adubação orgânica de dejetos dos animais, resíduos agrícolas e compostagem; os agrotóxicos eram naturais ou, então, fórmulas fortemente agressívas em termos de toxicidade; as sementes eram crioulas ou grãos de baixa germinação, com defeitos mecânicos ou contaminados, e era normal a mistura de grãos provenientes de diversas origens, com impurezas (ervas daninhas). Conforme a Tabela, a produtividade média alcançada em 1960 foi de 783 kg/ha, ou seja, apenas 247 kg/per capita ano. Em relação aos equipamentos existentes, eram muito rudimentares e o uso do animal de tração uma prática na maioria das propriedades da época. O Censo de 1960 apurou que existiam apenas 56 mil tratores na agricultura brasileira, e todos eles importados, porque não eram ainda produzidos no Brasil, significando, muito provavelmente, que parcela importante poderia estar sem utilização, em face da dificuldade de manutenção e reparos.
Em 2010, a tecnologia dominante na agricultura é aquela adaptada pela pesquisa e o que permite obter, em média, 3.173 kg/ha. Os destaques são para as sementes adaptadas às adversidades climáticas; sementes modificadas que permitem resistir ao uso de herbicidas; utilização de agrotóxicos específiccos para combater pragas e doenças; a adubação ocorre através de sofisticado conhecimento químico que disponibiliza fórmulas adaptadas a diferentes tipos de solos; máquinas e equipamentos ajustados ao plantio diretos em diferentes climas e solos, entre inúmeras outras técnicas e amplo conhecimento científico que está disponível aos produtores. Este novo contexto permite maior eficiência do uso de solo, das máquinas e dos equipamentos, standards de plantas mais uniformes, entre outros diversos aspectos que ampliam a eficiência geral do setor agropecuário.
A pecuária dos anos 1960 apresentava uma produtividade de 0,41 cab/ha; os animais eram produzidos extensivamente; pouco se conhecia sobre a alimentação recomendada; o manejo do rebanho era deficiente; raramente ocorria a vacinação contra febre aftosa, brucelose, e os animais, normalmente, eram abatidos após 36 meses de idade. Com a tecnologia de hoje se consegue animais para abate com 24 meses, uma produtividade por área de 1,20 cab/ha. É muito incomum se perder o cio das fêmeas ou animais serem mortos por doenças.
Na área de produção de grãos, se fosse usada a tecnologia do passado (1960) se necessitaria de uma área agrícola de 192 milhões de hectares para se obter a produção alcançada em 2010. No setor de carnes a área necessária para produzir os 204 milhões de cabeças atuais chegaria, com tecnologia dos anos 60, ao espantoso número de 430 milhões de hectares. Logo, o Brasil, se mantivesse a tecnologia dos anos 1960, para ter a produção de hoje, grãos e carne bovina, precisaria de 612 milhões de hectares em vez dos atuais 217 milhões hectares. Isto mostra que foi evitado o desmatamento de 400 milhões de hectres, ou seja, preservamos 47% do país, graças ao desenvolvimento da pesquisa e as novas técnicas adotadas pelos produtores.
A produção de leite, que em 1960 ordenhava 6,4 milhões de vacas e produzia 3,7 bilhões de litros (578 l/vaca/ano) em 810 mil propriedades, passou a observar quadro completamente distinto em 2010: a ordenha de 13 milhões de vacas, com a rprodução de 30,5 bilhões de litros (2.351 l/vaca.ano). A produção cresceu 727%, agora em 1,4 milhões de propriedades.
O Brasil, que era importador de alimentos em 1960, passou a produzir para o consumo interno de 190 milhões de pessoas, além de exportar para quase 190 países do mundo gerando uma receita de 76 bilhões de dólares (2010).
O modelo atual da agricultura, portanto, é sustentável e um dos mais competitivos do planeta. Além disso, a agricultura vem contribundo crescentemente com tecnologias de Baixa Emissão de Carbono na agricultura, com a implantação do Programa ABC. Estes dados demonstram que a história recente da agricultura se traduz em muitos benefícios para o país: geração de mais empregos, maior contribuição ao desenvolvimento brasileiro, mais riqueza produzida e compromisso com o meio ambiente, servindo como contra-fator das ameaças produzidas pelas mudanças climáticas.
Tabela 1
Área, produção, produtividade da produção de grãos
e pecuária bovina no período 1960-2010
| Grãos ( * ) |
Especificação | 1960 | 2010 |
Área (ha) | 22.050.309 | 47.537.894 |
Produção ( t ) | 17.266.964 | 150.842.182 |
Produtividade (Kg/ha) | 783 | 3.173 |
Variação área (%) |
| 116 |
Variação produção (%) |
| 774 |
Área com tecnologia de 1960 | 192.646.465 |
|
Área evitada desmate (ha) | 145.108.571 |
|
População residente | 70.000.000 | 190.000.000 |
Variação população 2010/1960 - % |
| 171% |
Produção per capita (Kg/ano) | 247 | 794 |
Disponibilidade diária Kg/hab | 0,676 | 2,175 |
Variação Disponibilidade (%) |
|
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| Bovinos |
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Especificação | 1960 | 2010 |
Área pastagens (ha) | 122.335.386 | 170.000.000 |
Efetivos (cabeças ) | 58.041.307 | 204.000.000 |
Produtividade (cabeças/ha) | 0,47 | 1,20 |
Variação Área Pastagem (%) |
| 39% |
Variação do número cabeças (%) |
| 251% |
Área com tecnologia de 1960 | 429.976.857 |
|
Área evitada desmate (ha) | 259.976.857 |
|
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|
Área total evitada desmate no Brasil |
| 405.085.428 |
| Leite |
|
Especificação | 1960 | 2010 |
Estabelecimentos | 810.824 | 1.390.000 |
Vacas ordenhadas | 6.403.791 | 13.000.000 |
Leite produzido (1000 litros) | 3.698.260 | 30.567.625 |
Variação 2010 /1960 (%) |
| 727 |
Leite produzido/vaca/ano (litros) | 578 | 2.351 |
Variação da produtividade do rebanho(%) |
| 307% |
Prezado Richard
ResponderExcluirGostei muito do artigo do Derli pois contra fatos não há argumentos.
Aproveito a oportunidade para lhe enviar um rascunho de um pequeno trabalho na mesma linha de raciocínio que estou escrevendo. A idéia é que ele seja assinado por um grupo de pesquisadores, professores e consultores que compoem o Mosaic Conecta Consultores e se faça uma ampla divulgação. Gostaria da sua opinião sobre o texto;
Envio também link do meu site que lançei essa semana disponibilizando algumas publicações, palestras, cursos (ainda não está completo) que, acredito, será bastante útil para os estudantes de solos e profissionais ligados a essa área. Coloquei também, algumas coisas pessoais dos meus hobbies. Só não vale me chamar de Jacques Leclair pelas bolsas que faço, de Cauby pelas músicas que toco violão e canto e rir das minhas músicas no piano pois são de ouvido.
Tem até uma foto do Santos e do Fabril de Lavras que foi a primeira partida do Pelé em Minas Gerais, então com 16 anos, creio que em 1957. O jogo terminou 7 a 2 para o Santos, o Pelé fez quatro gols e os meus "amigos" dizem que até hoje eu estou 'procurando' o Pelé. Mas eu fiz os dois gols do Fabril (Rs! Rs! Rs!).
Fiquei feliz em lançar esse site pois nada mais gratificante para um professor, pesquisador e extensionista é poder divulgar seu trabalho que possa ser útil para a nova geração.
Um grande abraço e Feliz Páscoa
Alfredão
Site: www.dcs.ufla.br/alfredao