segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sustentabilidade de verdade é isso

Derli Dossa
Agropecuária brasileira: a produção é sustentável
A Tabela abaixo mostra alguns indicadores econômicos e tecnológicos da nossa agricultura nos período 1960 até 2010, permitindo uma comparação em período de 50 anos, durante os quais a agricultura brasileira passou por uma extraordinária mudança em função de seus ganhos de produtividade.

Entre 1960-2010 a população cresceu de 70 para 190 milhões de pessoas. Houve crescimento de área e de produção de grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo) nesse período, de 116% e da produção mais 774%. A área de grãos cresceu de 22 para 47,5 milhões de hectares. A produção de grãos cresceu 774% saindo de 17,2 para 150 milhões de toneladas. A área de pecuária cresceu 122 para 170 milhões de hectres. O rebanho de bovinos e bubalinos cresceu de 58 para 204 milhões de cabeças aumentando 251% enquanto a área cresceu de 39%.

Os padrões tecnológicos mais comuns nos anos 60 mostravam baixíssimos índices de utilização das técnicas modernas e do uso insumos disponíveis: prevalecia uma adubação orgânica de dejetos dos animais, resíduos agrícolas e compostagem; os agrotóxicos eram naturais ou, então, fórmulas fortemente agressívas em termos de toxicidade; as sementes eram crioulas ou grãos de baixa germinação, com defeitos mecânicos ou contaminados, e era normal a mistura de grãos provenientes de diversas origens, com impurezas (ervas daninhas). Conforme a Tabela, a produtividade média alcançada em 1960 foi de 783 kg/ha, ou seja, apenas 247 kg/per capita ano. Em relação aos equipamentos existentes, eram muito rudimentares e o uso do animal de tração uma prática na maioria das propriedades da época. O Censo de 1960 apurou que existiam apenas 56 mil tratores na agricultura brasileira, e todos eles importados, porque não eram ainda produzidos no Brasil, significando, muito provavelmente, que parcela importante poderia estar sem utilização, em face da dificuldade de manutenção e reparos.

Em 2010, a tecnologia dominante na agricultura é aquela adaptada pela pesquisa e o que permite obter, em média, 3.173 kg/ha. Os destaques são para as sementes adaptadas às adversidades climáticas; sementes modificadas que permitem resistir ao uso de herbicidas; utilização de agrotóxicos específiccos para combater pragas e doenças; a adubação ocorre através de sofisticado conhecimento químico que disponibiliza fórmulas adaptadas a diferentes tipos de solos; máquinas e equipamentos ajustados ao plantio diretos em diferentes climas e solos, entre inúmeras outras técnicas e amplo conhecimento científico que está disponível aos produtores. Este novo contexto permite maior eficiência do uso de solo, das máquinas e dos equipamentos, standards de plantas mais uniformes, entre outros diversos aspectos que ampliam a eficiência geral do setor agropecuário.

A pecuária dos anos 1960 apresentava uma produtividade de 0,41 cab/ha; os animais eram produzidos extensivamente; pouco se conhecia sobre a alimentação recomendada; o manejo do rebanho era deficiente; raramente ocorria a vacinação contra febre aftosa, brucelose, e os animais, normalmente, eram abatidos após 36 meses de idade. Com a tecnologia de hoje se consegue animais para abate com 24 meses, uma produtividade por área de 1,20 cab/ha. É muito incomum se perder o cio das fêmeas ou animais serem mortos por doenças.

Na área de produção de grãos, se fosse usada a tecnologia do passado (1960) se necessitaria de uma área agrícola de 192 milhões de hectares para se obter a produção alcançada em 2010. No setor de carnes a área necessária para produzir os 204 milhões de cabeças atuais chegaria, com tecnologia dos anos 60, ao espantoso número de 430 milhões de hectares. Logo, o Brasil, se mantivesse a tecnologia dos anos 1960, para ter a produção de hoje, grãos e carne bovina, precisaria de 612 milhões de hectares em vez dos atuais 217 milhões hectares. Isto mostra que foi evitado o desmatamento de 400 milhões de hectres, ou seja, preservamos 47% do país, graças ao desenvolvimento da pesquisa e as novas técnicas adotadas pelos produtores.

A produção de leite, que em 1960 ordenhava 6,4 milhões de vacas e produzia 3,7 bilhões de litros (578 l/vaca/ano) em 810 mil propriedades, passou a observar quadro completamente distinto em 2010: a ordenha de 13 milhões de vacas, com a rprodução de 30,5 bilhões de litros (2.351 l/vaca.ano). A produção cresceu 727%, agora em 1,4 milhões de propriedades.

O Brasil, que era importador de alimentos em 1960, passou a produzir para o consumo interno de 190 milhões de pessoas, além de exportar para quase 190 países do mundo gerando uma receita de 76 bilhões de dólares (2010).

O modelo atual da agricultura, portanto, é sustentável e um dos mais competitivos do planeta. Além disso, a agricultura vem contribundo crescentemente com tecnologias de Baixa Emissão de Carbono na agricultura, com a implantação do Programa ABC. Estes dados demonstram que a história recente da agricultura se traduz em muitos benefícios para o país: geração de mais empregos, maior contribuição ao desenvolvimento brasileiro, mais riqueza produzida e compromisso com o meio ambiente, servindo como contra-fator das ameaças produzidas pelas mudanças climáticas.

Tabela 1
Área, produção, produtividade da produção de grãos
e pecuária bovina no período 1960-2010

Grãos ( * )
Especificação 
1960
2010
Área  (ha)
22.050.309
47.537.894
Produção ( t )
17.266.964
150.842.182
Produtividade (Kg/ha)
783
3.173
Variação área (%)

116
Variação produção (%)

774
Área com tecnologia de 1960
192.646.465

Área evitada desmate (ha)
145.108.571

População residente
70.000.000
190.000.000
Variação população 2010/1960 - %

        171%
Produção per capita (Kg/ano)
247
794
Disponibilidade diária Kg/hab
0,676
2,175
Variação Disponibilidade (%)



Bovinos

Especificação
1960
2010
Área pastagens (ha)
122.335.386
170.000.000
Efetivos (cabeças )
58.041.307
204.000.000
Produtividade (cabeças/ha)
0,47
1,20
Variação Área Pastagem (%)

        39%
Variação do número cabeças (%)

       251%
Área com tecnologia de 1960
429.976.857

Área evitada desmate (ha)
259.976.857




Área total evitada desmate no Brasil

405.085.428

Leite

Especificação
1960
2010
Estabelecimentos
810.824
1.390.000
Vacas ordenhadas
6.403.791
13.000.000
Leite produzido (1000 litros)
3.698.260
30.567.625
Variação  2010 /1960 (%)

727
Leite produzido/vaca/ano (litros)
578
2.351
Variação da produtividade do rebanho(%)

         307%

Um comentário:

  1. Alfredo Scheid Lopes, Lavras, MG22 de abril de 2011 às 21:50

    Prezado Richard
    Gostei muito do artigo do Derli pois contra fatos não há argumentos.
    Aproveito a oportunidade para lhe enviar um rascunho de um pequeno trabalho na mesma linha de raciocínio que estou escrevendo. A idéia é que ele seja assinado por um grupo de pesquisadores, professores e consultores que compoem o Mosaic Conecta Consultores e se faça uma ampla divulgação. Gostaria da sua opinião sobre o texto;
    Envio também link do meu site que lançei essa semana disponibilizando algumas publicações, palestras, cursos (ainda não está completo) que, acredito, será bastante útil para os estudantes de solos e profissionais ligados a essa área. Coloquei também, algumas coisas pessoais dos meus hobbies. Só não vale me chamar de Jacques Leclair pelas bolsas que faço, de Cauby pelas músicas que toco violão e canto e rir das minhas músicas no piano pois são de ouvido.
    Tem até uma foto do Santos e do Fabril de Lavras que foi a primeira partida do Pelé em Minas Gerais, então com 16 anos, creio que em 1957. O jogo terminou 7 a 2 para o Santos, o Pelé fez quatro gols e os meus "amigos" dizem que até hoje eu estou 'procurando' o Pelé. Mas eu fiz os dois gols do Fabril (Rs! Rs! Rs!).
    Fiquei feliz em lançar esse site pois nada mais gratificante para um professor, pesquisador e extensionista é poder divulgar seu trabalho que possa ser útil para a nova geração.
    Um grande abraço e Feliz Páscoa
    Alfredão
    Site: www.dcs.ufla.br/alfredao

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