Rogério Arioli Silva *
Em atitude de extremo bom senso e responsabilidade a
Advocacia Geral da União (AGU) editou a portaria 303 que visa colocar um fim aos
conflitos indígenas patrocinados pela FUNAI e demais ONGs ligadas ao
pseudo-indigenismo brasileiro. Tentando
frear e, sobretudo, racionalizar a postura irresponsável e demagógica destas
entidades, a AGU simplesmente pretende consolidar as condicionantes já
decididas pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Terra Indígena
Raposa-Serra do Sol, entre elas a necessária presença dos índios nas terras por
ocasião da data da promulgação da Constituição.
De fato, já
é passada a hora de uma atitude neste sentido, pois a serem atendidas as
pretensões da FUNAI as terras indígenas brasileiras seriam ampliadas dos atuais
14,7% para 20% do território nacional. Esta ampliação vem ocorrendo sistematicamente através de uma
interpretação maliciosa feita pelas entidades que se dizem defensoras dos
indígenas, pelo fato da Constituição de 1988 referir-se à regularização das
terras existentes de acordo com a tradicionalidade da sua ocupação. Na visão malfazeja e irresponsável da FUNAI a
tradicionalidade da ocupação indígena não teria data específica, podendo ser
considerada, quem sabe, o ano de 1500, quando Cabral por aqui aportou. Assim entendido, todo o território brasileiro
deveria ser devolvido aos indígenas, inclusive as cidades, irregularmente
ocupadas pelos caras-pálidas intrusos, nos quais se enquadram 99,6% da
população brasileira.
Aproveitando-se
desta situação a FUNAI permanece fomentando estudos de identificação de novas
áreas, patrocinados pelo radicalismo de antropólogos comprometidos com
interesses internacionais, que sequer ouvem a vontade dos próprios indígenas,
infelizmente usados como massa de manobra no processo. O avanço de novas reservas sobre áreas
ocupadas por produtores acontece sistematicamente, independentemente das mesmas
haverem sido adquiridas legalmente há muitas décadas, inclusive através de
títulos emitidos pelos próprios governos estaduais. Para atingir seus espúrios objetivos a FUNAI
se vale de diversos estratagemas, entre os quais “a descoberta” de novas
etnias, além da arregimentação, sem nenhum critério, de pessoas que se
auto-declaram indígenas e, portanto, também credores do seu quinhão. Para isto, a entidade age usando
prerrogativas dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) formando
um governo paralelo dentro do próprio governo, ao qual parece não dever
obediência nem muito menos respeito. Alojam-se indígenas e desalojam-se produtores rurais, sem que estes
recebam qualquer indenização pelas terras adquiridas legalmente, de boa fé, sem
nenhuma espécie de conflito.
A FUNAI,
por ser um órgão público, patrocinado pelos contribuintes brasileiros, precisa
dar satisfação de seus atos. Precisa
mostrar o que tem feito pelos índios já proprietários de mais de 110 milhões de
hectares de terras, pois esta quantidade significa mais do que o dobro de toda
área utilizada com a agricultura no país. Precisa dizer em alto e bom som porque quer dar mais terras aos índios,
pois aqueles que já as possuem ainda não conseguiram evoluir social e
economicamente, com raríssimas exceções. Também precisa justificar porque ainda defende a tutela e dependência da
população indígena impedindo-a de explorar economicamente suas enormes
extensões de terras, como bem retratou a revista Veja algumas semanas atrás.
Quanto se
fala em discussões sobre direitos dos indígenas imediatamente a FUNAI e suas
organizações parceiras invocam a ONU e a OIT enveredando para um denuncismo
antropológico apelativo e infantil. É
certo que as ONGs indigenistas devem queixar-se aos patrões lá de fora, pois são
eles quem pagam seus salários. Mas o que
a FUNAI tem a ver com isso? Quem paga
sua folha somos nós, brasileiros contribuintes. Por que então choramingar para as organizações internacionais? Além disso, o que europeus e americanos têm a
ensinar ao Brasil sobre seus primevos habitantes? Quem no restante do mundo “civilizado”
destinou tanta terra aos seus povos indígenas?
A portaria
303 da AGU deve, portanto, ser apoiada pela população brasileira, pois objetiva
apagar este barril de pólvora aceso em várias localidades do território, colocando
em conflito irmãos brasileiros. Qualquer
pessoa esclarecida e bem intencionada quer a melhoria das condições de vida dos
indígenas brasileiros. O Marechal
Rondon, um dos grandes heróis brasileiros, também sempre defendeu este
ideal. Mas, é preciso que se diga que
esta melhoria não passa pela ampliação das atuais reservas e sim pela
possibilidade de inclusão destes indígenas na sociedade, respeitando suas
crenças e tradições e invocando o sentimento pátrio esquecido pelos
fomentadores de conflitos.
* O autor é Engº Agrº e Produtor Rural no MT
.
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