quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Código florestal: consequências da imbecilidade...

Richard Jakubaszko
Como alguém notoriamente sábio já falou (será que foi o Barão de Itararé?), "as consequências surgem depois". Olha só a imbecilidade: o Código Florestal deve ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff a qualquer momento. Contenha ou não vetos, no momento isto não é o mais importante, terão de ser protegidas e devidamente cercadas as margens de rios para efeito de APPs. Algum gaiato burocrata que gosta de estatística, me alerta lá de Brasília o colega jornalista Tito Matos, andou calculando que temos, no Brasil, cerca de 1.380.000 km de rios, riachos e córregos que deverão ser cercados dos dois lados, ou seja, serão 2 milhões e 760 mil km de cercas.

Pensei com meus fervorosos neurônios: vai faltar mourão, arame, e não vai ter dinheiro para toda essa imbecilidade!

Se não, vejamos: considerando que um mourão esticador deve ser instalado a cada 100 ou 140 metros de distância, e que a cada 4 ou 5 m tem de colocar uma lasca (os mourões menores), teremos a necessidade, por baixo, de 27 milhões de mourões esticadores e 100 milhões de lascas, mais 5 milhões e 520 mil km de arames, considerando que sejam apenas dois fios de arame...


Se a gente calcular que cada mourão esticador feito de eucalipto custa R$ 45,00 e cada lasca idem custa R$ 13,00 já temos uma conta salgada, nacional, superior a R$ 18 bilhões de reais sem considerar os custos com arame e mão de obra. Ai, ai, ai, quem vai pagar essa conta? O produtor rural, é claro, que já foi devidamente confiscado em 20% de sua área de terras...

Quem vibra com isso? Os fabricantes de arame, e, claro, os vendedores de mourões. A situação piora se a gente sabe que, faltando mourão de eucalipto (que dura no máximo 10 anos), teremos de usar mourão de aroeira, e estes custam R$ 120,00 o esticador e R$ 38,00 cada lasca, mas duram 100 anos se a madeira for tratada. Restam os mourões de concreto, que custam R$ 22,00 cada um equivalente a lasca, ou os mourões de plástico, que já existem, custam menos, e amanhã mesmo acho que vou até o BNDES me inscrever para conseguir um financiamento e instalar uma fábrica de mourões de plástico...

Esperando ansioso a sanção presidencial está o amigo Claudemir, da Madeireira Aroeira, lá de São José do Rio Preto, que me forneceu os preços dos mourões. Ele vende mourões de eucalipto e de aroeira, estes vindos da Bolívia, todos certificados, pois o Brasil não possui mais aroeiras. Concluí de nossa conversa que vamos exterminar as aroeiras da parte amazônica bolivariana...

Tudo isso me leva a pensar sobre a imbecilidade ambiental inconsequente que se observa hoje em dia, os biodesagradáveis preocupados com a flatulência bovina esquecem da própria flatulência, são tão politicamente corretos que nem peidam. Por isso é que não se deve tentar segurar a natureza, pois quando a gente segura um petardo gasoso este pode entrar pela coluna cervical, sobe ao cérebro e daí nascem as ideias de merda, tipo esse Código Florestal, excrescência máxima do servilismo brasileiro, aprovado com sorrisos irônicos indisfarçados da comunidade internacional.

Será que o Código Florestal já se candidata a ser mais uma dessas leis nacionais que nunca pegam? O tempo dirá..

COMENTÁRIO ADICIONAL DO BLOGUEIRO:
Recebi e-mail do Dr. Fernando Penteado Cardoso
Richard,
Trata-se exigência inexequível concebida na lei desde 1965. Por 47 anos não foi cumprida, mesmo nos próprios públicos: parques, estações experimentais, reservas, etc.
Gastaram-se horas e horas de nossos representantes discutindo o impossível. Será que eles não sabem distinguir o que é factível?
Refiro-me às discussões estéreis entre ditos ruralistas e ambientalistas, guerreando-se por diferenças de metros, quando o tema real é: dá ou não dá para fazer? E adianta alguma coisa? Uns e outros parecem que andam no mundo da lua.
Abaixo excerto de entrevista sobre o tema, concedida para o Canal Rural.
Grande abraço
Cardoso
ENTREVISTA AO CANAL RURAL-31.08.2012
Sérgio Braga: Bom, a sua experiência sem dúvida nenhuma é de grande valia para todos que nos acompanham, inclusive para a gente que está aprendendo cada vez mais, quando o senhor participa conosco nestas entrevistas. Dr. Fernando: nós temos aí esse Código Florestal discutido, rediscutido e uma vez mais colocando em dúvida aquilo que o pecuarista deve fazer. O Senhor acha que realmente essa exigência de plantar árvores, reflorestar a beira de rios, isso vai pegar realmente, é possível ou não?
F. Cardoso:

É praticamente impossível e nunca vai ser realizado em grande escala. Poderá ser realizado por alguns produtores, porque a pecuária é uma atividade de muito pouca mão de obra e essa mão de obra nunca será suficiente para construir cercas na beirada do rio, matar formiga na beirada do rio, comprar mudas, plantar as mudas, capinar para não haver concorrência das invasoras, fazer o replantio. Isso tudo é muito acadêmico. É uma discussão entre um grupo de ruralistas e um grupo de ambientalistas, os dois grupos mais num ambiente de ar condicionado. O pecuarista mesmo não está lá na discussão, porque está trabalhando nas suas fazendas.
 
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10 comentários:

  1. nao pode ser verdade! isto é muito idiota e vai acabar com as paisagens!
    Incrivel, no lugar de conscientizar o povo cercam os epaços
    lamentavel!

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  2. Parabéns, Richard!
    Acabei de mandá-lo para um monte de gente, recomendando a leitura.
    Mais tarde vou colocar no facebook também.

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  3. Caro Jakubaszko, vi em seu blog o artigo Código florestal: consequências da imbecilidade... Tive a ousadia de repassar para vários amigos e tirar uma cópia que li, em voz alta, para todos daqui da Frente Parlamentar da Agropecuária. Ao final da leitura uma queixa só: todos estavam com a barriga doendo, doendo de tanto rir. Um texto verdadeiro, sincero, irônico. Claro, sendo de sua lavra não poderia ser diferente. Nossos efusivos parabéns. Estou postando em nosso site para que os mais de mil visitantes diários possam também apreciá-lo. Foi mesmo o nosso Barão de Itararé que disse: as consequências vêm sempre depois. Você que é um colega perspicaz sabe me responder o porquê do produtor rural brasileiro ser tratado como vilão por aqui? Olha que o setor produtivo rural é o mais exitoso da nossa economia.E se não fosse, os produtores seriam presos? Outra dúvida: podem ser considerados "quinta-coluna" aqueles que, ao lado dos nossos concorrentes, fazem de tudo para deter os avanços do agronegócio brasileiro? Estava pensando em promover uma campanha tipo aquelas dos anos 60, dos tempos idos e vividos de estudante: Greenpeace, go home; WWF, gome home! Posso contar com a sua ajuda? Você nos apoia? Permita-me oferecer-lhe um pequenino verso que decorei nos tempos do jardim de infância: o Brasil é muito grande, não cabe neste salão, mas trago todo inteirinho dentro do meu coração! Gostou?
    Cordialmente,
    Tito Matos

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  4. Caro Richard
    Pode ter certeza que o seu blog faz parte da minha assídua leitura.
    Forte abraço
    Celso Fajardo
    Diretor Comercial
    Grupo Galvani

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  5. Gilson Gespel, Cascavel, PR18 de outubro de 2012 às 00:32

    Richard,
    saiu a notícia agora à noite de que a presidenta Dilma vetou 9 itens do Código Florestal.
    O seu texto é digno de ir pra uma placa de prata!
    Gilson Gespel, Cascavel, PR

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  6. Prezado Richard,
    MUITO bem levantado !
    Para se ter uma idéia da falta de visão destes grandes "imbecis"...
    Excelente provocação !
    Forte Abraço,
    Roney Honda Margutti

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  7. Eu sou favorável a uma atitude simples dos proprietários: entregar as APPs para o MST e sem tetos e similares - porque assim o poder público decreta as áreas de interesse social para fins de regularização fundiária ou outra besteira do CONAMA e tudo se resolve.

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  8. Frente Parlamentar da Agropecuária
    Promovendo o desenvolvimento com sustentabilidade
    Assessoria de imprensa, 18 de outubro de 2012.

    Nota à imprensa
    A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) vem defendendo o fortalecimento do setor produtivo nacional desde a sua criação em 1995. Ao longo desse período, dedicou-se com entusiasmo a diversas causas, entre elas a implementação de uma legislação ambiental sustentável que trouxesse segurança jurídica para todos aqueles que vivem no campo e dele vivem.
    Era impraticável conviver com o velho Código Florestal, em vigência desde l965, e de outras tantas leis, portarias, resoluções e decretos que trouxeram angústia aos produtores rurais. É bom lembrar que essas normas (cerca de 16 mil), foram elaboradas sem que o Poder Legislativo fosse ouvido ou delas participasse. Uma inquietação se espalhava pelos quatro cantos do País. Apesar disso, a agropecuária brasileira batia recordes e mais recordes de produção, produtividade e exportações, além da geração de empregos e crescimento do PIB. E os nossos concorrentes se assustando cada vez mais com os nossos êxitos.

    Foram muitos os espaços de discussão com especialistas, ambientalistas, sociedade civil, governo, entidades de pesquisa, academia, quando foram visitados todos os biomas brasileiros. Mais de 60 audiências públicas foram promovidas até mesmo no mais longínquo rincão. Sugestões das entidades que se interessaram em participar desse trabalho foram acolhidas. Desnecessário dizer das diferenças encontradas entre os produtores que atuam na Caatinga, na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e no Pampa. Tamanha complexidade, de diversas realidades sujeitas à mesma legislação, só poderia ser contemplada por um Código Florestal moderno massivamente estudado, avaliado e debatido de forma transparente e democrática. O Poder Legislativo era o fórum adequado, assim sempre se posicionou a FPA.

    Apesar dos nove vetos da presidente Dilma, a legislação florestal agora é uma realidade. Pelo menos temos uma nova legislação que poderá trazer segurança jurídica aos heróicos produtores brasileiros. Com certeza, não foi a ideal. Não foi a dos sonhos dos produtores, nem dos membros da FPA. Até certo ponto, ela é positiva. Pode-se considerá-la um razoável avanço para esse segmento que convivia diuturnamente ameaçado pelos agentes públicos. Neste aspecto, o produtor brasileiro pode ter motivo para comemorar a existência de uma lei que norteará as suas atividades, sem aquelas malfadadas e diabólicas normas que tanto infelicitou e criminalizou o homem do campo.

    A FPA entende que a publicação do Decreto n° 7.830 não representa o capítulo final deste embate. Resta perplexidade no que tange à decisão da Presidente da República, que não soube valorizar o exaustivo trabalho realizado pelo Congresso Nacional, ainda mais por se tratar de um governo que sempre teve como bandeira a luta pela democracia. Tal gesto traz desconforto a todos que dedicaram a este projeto, que também teve a participação da própria base governista. Um desrespeito. Mas esse é um outro capítulo que será devidamente avaliado pelos integrantes da FPA nos próximos dias. Diante disso, não se elimina a possibilidade de se recorrer a instrumentos outros pela valorização do Poder Legislativo.

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  9. Parabéns pelo texto e pelo raciocínio, além da sagacidade que lhe é peculiar. Adorei os trechos mais ácidos.
    Um abraço.
    Anderson Passos

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  10. Caro Richard.
    Essas considerações sobre o novo Código Florestal são de uma lucidez espetacular.

    Gostei das consequências com os gastos. Quantos ha de floresta, de eucaliptos, serão necessários para fornecer só a madeira? Bateu no ponto fraco meu amigo. Parabéns.

    Gostaria de ler no seu blog que o Código premiasse também as beiras de rios da cidades e que estas fossem também obrigadas a recuperar as margens dos rios que serpenteiam por dentro delas. Aí sim casas de alguns ecologeiros de plantão seriam derrubadas e a chiadeira mudaria de lado.
    Casale

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