Rogério Arioli Silva *
Apesar do orgulho que sinto em ter nascido no Rio Grande do
Sul, na próxima encarnação (se vier a acontecer) tenho o indisfarçável desejo
de nascer carioca. Aquele marzão no
horizonte, sol à vontade, cerveja gelada, futevôlei, garotas de Ipanema, samba,
carnaval, mulatas e aquele jeito despreocupado de se levar a vida. Ou ser levado por ela como diz o poeta. Definitivamente o Rio não parece Brasil. É
muito melhor. Parece, talvez, o Brasil
em férias.
Todos os
grandes eventos são destinados para lá. Para lá se dirigem boa parte dos turistas com seus dólares, euros,
ienes, pesos e outras tantas moedas dispostas a serem gastas nas belezas e
atrações múltiplas que a cidade oferece. A gastronomia, a hotelaria, os eventos culturais como museus, teatros e
shows disponíveis aos cariocas ou a quem os visita são incomuns em outros
locais do país. Trata-se de realidade
semelhante aos países mais desenvolvidos do mundo, embora ainda existam ilhas
de exclusão. Graças a isso não é comum
encontrarem-se cariocas fora do Rio de Janeiro. Sair pra que, se tudo de bom acontece por lá?
Fatos ocorridos
recentemente confirmam como o Rio é diferente. Como exemplo evidencia-se a polêmica da divisão dos royalties do
petróleo, na qual o estado tem se beneficiado amplamente nos últimos anos e nem
pensa em abrir mão dos recursos amealhados. Dinheiro ganho é dinheiro gasto e, normalmente, esta ordem inverte-se
quando se trata de despesa pública. Como
diria um conhecido economista, o estado possui a mesma lógica dos bebês: engole
muito de um lado e não tem nenhuma responsabilidade no outro. Resulta disso o desespero estampado pelo
governador carioca, quando informado que sua fonte royaltiana deverá minguar
com a nova divisão proposta pelo Congresso.
Semana passada,
após a visita da Presidente Dilma ao Vaticano, o Papa Francisco confirmou sua
vinda ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude que ocorrerá no
mês de julho, onde mesmo? Logicamente na cidade
maravilhosa, onde mais poderia ser? Ao
Papa deve ser oferecida a prerrogativa de estar próximo do paraíso, no caso o
Rio, do que adentrar-se pelo inferno interiorano que, por exemplo, tornou-se
Cuiabá após as obras copamundescas. (nababescas=ostentatórias).
E o Rock in Rio então? O maior festival de música do mundo, que já foi até internacionalizado, começou naquela cidade e prepara-se este ano para sua 13ª edição sendo a quinta no Rio. Uma cidade do rock construída dentro de outra cidade, para receber os ícones mundiais da música, agradando seus fãs em meio a shoppings e todo o conforto oferecido nos seus 250 mil m2 disponíveis. Coisas do Rio.
Também não é
por acaso que o “maior show da terra”, o carnaval, seja celebrado no Rio de
Janeiro. Luxo, beleza, dinheiro à
vontade, gente bonita, famosa e, indispensavelmente, engajada nos padrões
ambientalmente corretos da atualidade. Mas a parte ambiental deixe-se para o restante
do país, o Rio não precisa preocupar-se com ela, a não ser, logicamente, como
motivo carnavalesco.
Durante a tumultuada retirada dos indígenas do
antigo Museu do Índio, localizado ao lado do estádio do Maracanã, que havia
sido invadido por uma dúzia deles no ano de 2006, evidencia-se ainda mais a
existência de dois brasis. Não houve
nenhum acordo com os silvícolas e seus simpatizantes que foram expulsos a
baionetas e gases de efeito moral, dando lugar ao novo projeto arquitetônico, em
harmonia com o reformado estádio. No
restante do Brasil são os produtores rurais que são expulsos a pontapés para
assentarem-se indígenas que, usados pela Funai e ONGs associadas, são
apresentados como museus humanos, fatos que rejeitam cada vez mais. Mas no Rio é diferente: saem os índios e
assunto encerrado. No Brasil real pouco
importa se produtores são jogados na beira de estradas e perdem suas terras sem
direito à indenização. Não interessa se
a realidade mostra que índios já possuidores de milhões de hectares vivem na
mesma penúria do que aqueles que não as possuem. No Rio é diferente. No Rio parece que as leis funcionam e que o
respeito à propriedade resta preservado.
É por isso que
se pode afirmar sem nenhum receio, assim como fez o compositor Gilberto Gil que:
“O Rio de Janeiro continua lindo”. Aos
outros brasileiros, entre eles os produtores rurais, despejados pela insana
política indigenista, resta acalentar, guardado no fundo do peito, o desejo de,
na próxima, nascerem cariocas.
* O autor é Engº
Agrº e Produtor Rural no MT
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