sábado, 2 de março de 2013

Em breve, “Habemus Papa”.


Richard Jakubaszko
Vai começar nos próximos dias o conclave para a eleição do novo Papa, secreto como requerem os trâmites e a tradição de um evento desse tipo. Em verdade, semanas à frente teremos dois papas: o novo, sobre o qual hoje apenas podemos especular, e aquele que pediu demissão, renunciou e agora viverá em absoluta clausura, e de quem, provavelmente, só teremos notícias eventuais sobre problemas de saúde ou de sua morte. Ao invés de “cardeal Ratzinger”, seguirá sendo chamado de “Bento XVI”, agora Papa Emérito.
Teremos dois sumos pontífices, um emérito, sem ser jubilado, sem poderes de decisão, mas eterno enquanto viver, que provavelmente terá influências poderosas e inéditas, e outro que de fato irá conduzir os fiéis a um novo tempo, jogando para debaixo dos centenários tapetes do Vaticano a sujeira de uma corrupção evidente.

Constata-se uma explícita decadência da fé entre os fiéis, esquecidos das mensagens cristãs. Agora, encontram-se envergonhados e respingados com pitadas de pedofilia explícita, sexo, chantagens, poderes em disputas e manipulações perversas, rasteiras manifestações humanas praticadas dentro de um espaço que se define como a casa do representante de Deus.

Entretanto, é inegável reconhecer que o Vaticano é a única instituição humana que permanece em pé, mesmo depois de dois mil anos de existência, amparado por inúmeros dogmas incrustados em forma de conceitos numa fisolofia monolítica, ao qual se agregaram idiossincrasias humanas polêmicas e centenárias, como a obrigatoriedade do celibato, entre outros.

Ratzinger é agora um peregrino, deixou de usar a capa papal em seus ombros (a esclavatina), não exibe mais o anel do pescador, tampouco a faixa com o escudo de armas (a fascia), ou as sandálias (na verdade, sapatos Prada) vermelhas do pescador, que simbolizam o sangue de Cristo. De agora em diante seus sapatos serão da cor marrom. Ratzinger teve um papado tumultuado e conflituoso, sem carisma junto ao povo, especialmente italianos, mas também entre os brasileiros.
O Vaticano, e também o novo Papa, deverão digerir sem nunca explicar a razão de os documentos terem sido roubados dos cofres do papa, e se faziam parte de um jogo de chantagens. Claro, tudo tem algo a ver, são muitos fatos interligados, como a recente excomunhão de inúmeros padres acusados como pederastas, a demissão de diretores do Banco do Vaticano, e a aposentadoria compulsória de alguns cardeais que protegiam padres e bispos praticantes da pederastia, cardeais que não mais estarão presentes como eleitores e também candidatos no conclave a ser iniciado nos próximos dias, isolados dentro da Capela Sistina.

Teremos um novo Papa, talvez antes do final deste mês de Março.

Antes de se retirar para a clausura em Castel Gandolfo, Ratzinger fez uma faxina providencial no clero, mas ninguém sabe se foi extensa o suficiente para que possa determinar novos rumos para a ainda poderosa Igreja Católica Apostólica Romana.

Ratzinger é rotulado como um intelectual de sólida formação, um pastor político e ardiloso, e especula-se que sua renúncia, planejada há meses, reuniria forças e estratégias para, à distância do poder, desmanchar a intrincada e poderosa teia de corrupção e malfeitos armada à sua volta. De outro lado ele é também acusado de ser um farsante reacionário, cúmplice indireto e até mesmo avalista de toda a corrupção e pederastia que está instalada há séculos dentro da igreja. A omissão, no caso, implicava em não reconhecer a existência dos problemas, para evitar indenizações milionárias, que levariam o Vaticano à bancarrota. Ao mesmo tempo, há até quem diga que sua saída do poder deveu-se ao aparecimento de alguns sinais indicadores e inequívocos do Mal de Alzheimer.

Indiscutivelmente, há um silêncio sepulcral que envolve a Santa Sé, há uma indisfarçável sensação de que por detrás da renúncia houve algo escandaloso e comprometedor, que exala um cheiro fétido de chantagem. Nada mais político, portanto, do que uma inesperada e bombástica renúncia, pois um Papa sujeito a chantagens não possui os predicados adequados para liderar a Igreja, bem como o de ser o paradigma do mito da infalibilidade e de exercer
ainda a função de porta-voz do Divino. Como já se disse em tempos remotos, fica a imagem de um Papa que desejou mover certas peças do xadrez e acabou por derrubar o tabuleiro, eis que estaria fragilizado. Ou então, que chutou o pau da barraca, um ato humano e político, inteligente, premeditado, tendo sido este o seu principal lance, profundo e surpreendente.

Afinal, qual a verdade desta intrincada batalha que a imprensa nos traz em forma de notícias, sempre trabalhando com hipóteses? Cada um de nós pode construir uma teoria conspiratória, muitas delas encherão os futuros livros de história, e nenhuma hipótese será comprovável. Tudo ficará secreto e insondável conforme registra a história, de Pedro até Bórgia, e de Bórgia a Bento XVI.

Após o conclave para a eleição do novo Papa retomar-se-ão os debates sobre o próximo evento do fim do mundo, conforme mostrei no post anterior, eis que São Malaquias se apresenta redivivo em sua profecia secular de que o próximo Papa será o último, antecedendo o início do fim dos tempos. Leia o post e assista o vídeo neste link
: http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2013/02/papa-bento-xvi-vai-se-aposentar.html
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2 comentários:

  1. José Carlos Arruda Corazza2 de março de 2013 às 16:35

    Richard,
    seu texto é primoroso com uma excepcional análise da complicada questão política da Igreja.
    Sou católico e tenho tido vergonha de explicar aos meus filhos, de 12 e 14 anos, o que é essa vergonhosa ação da pederastia dos padres.
    Parabéns!
    José Carlos

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  2. Maria Conceição Prestiak7 de março de 2013 às 22:40

    Sou católica, e crítica, em relação ao comportamento de alguns padres, mas pelo amor de Deus! Não julguem, e nem condenem, é injusto, a instituição Igreja Católica, por causa de 50 ou 100 padres pedófilos, mundo afora, que sejam 1.000, é uma ninharia perto dos mais de 250 mil padres (cálculos oficiosos...) existentes no mundo.
    Maria Conceição Prestiak, Ponta Grossa-PR

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