Rogério Arioli Silva *
Um dos
assuntos mais comentados pelo país nos últimos dias é, sem dúvidas, o preço do
tomate. Chargistas e humoristas
aproveitaram a indignação dos consumidores para divulgar nos principais meios
de comunicação piadas e charges sobre a considerável alta deste importante
componente alimentar das mesas brasileiras. Uma das melhores sacadas mostra um rapaz declarando seu amor através do
oferecimento de um tomate à namorada, ao invés do tradicional anel. Piadas à parte, o aumento de mais de 150% no
preço desta solanácea (botanicamente o tomate chama-se Solanum lycopersicum) é
fato incomum, porém previsível.
Acontece
que, a maioria dos produtos originários do campo possui como
característica a inelasticidade da oferta, ou seja, sua restrita capacidade de,
em curto espaço de tempo ser ampliada. Este fato pode desencadear momentos de escassez e de superoferta de
produtos dependendo do resultado das safras, este, invariavelmente ligado às
condições climáticas ocorridas. Foi o
que aconteceu nesta safra. Chuvas demais
nos estados do sul e a maior estiagem das últimas décadas nos estados do nordeste. Sobrou para o tomate, estuário
da ira dos consumidores indignados.
Além do
componente climático, outros fatores influenciaram a inflação tomatiana,
segundo o economista do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) André Braz,
foram eles o aumento dos custos da mão de obra e a alta do óleo diesel que
impactaram diretamente na cadeia produtiva. Some-se a isto uma diminuição de 17,5 % na área plantada neste ciclo em
relação à 2011/2012 e o aumento no aparecimento de doenças bacterianas
depreciando a qualidade dos frutos. Acrescente-se ainda excesso de chuvas em algumas regiões produtoras, que dizimou lavouras inteiras. E o comércio atacadista, mais o varejista, que especularam à vontade, em busca do lucro fácil. Os tomateiros mesmo, nem viram lucros, ou não tinham quase nada para vender ou estão plantando a próxima safra, mas os preços já estão caindo.
Embora
ninguém goste de pagar mais caro por um produto cada vez que vai às compras, é
importante que se tenha em mente o fato de que nem sempre o resultado das
colheitas revela o esforço e a tecnologia aplicada pelos produtores. Indústrias são capazes de programarem sua
produção sem sobressaltos, pois não estão sujeitas às intempéries nem aos caprichos
da natureza. A atividade agrícola é
diferente, condicionada que está a chuvas e trovoadas, além de outros estigmas
não menos comuns, como pragas e doenças de difícil controle. A produção de soja deste ano aqui na região é
mais um exemplo das irregularidades climáticas, pois deve ficar pelo menos 10%
abaixo do esperado. Seca no plantio,
chuvas na colheita, pragas novas e de difícil controle, aumento nos danos
causados por nematoides, são alguns dos fatores que influenciaram negativamente
o desempenho da cultura.
Muitas
vezes os consumidores urbanos tendem a responsabilizar os produtores rurais
pelas altas nos preços dos produtos originários do campo, o que é uma visão
equivocada da realidade. Geralmente, quando as quebras de produção acontecem, quem primeiro sofre suas consequências
é justamente o produtor que vê sua renda deteriorar-se, pois, invariavelmente não
possui nenhum seguro de safras e muito menos de preços. Em geral os setores mais organizados que
intermediam as negociações entre produtores e consumidores são os que
aproveitam estes momentos de escassez, incrementando seus lucros.
Foi-se o
tempo em que se podia mostrar desprezo e indignação jogando tomates naqueles
que decepcionavam pela sua postura indecorosa e desonesta. Nestes tempos de tomates caros esta prática
ficou inviável. Melhor opção é usar a
antiga e consagrada vaia, que pelo menos não custa nada e também provoca
vergonha àqueles que ainda a possuem.
* O autor é Engº Agrº e Produtor Rural no MT
COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
A blogosfera, esta semana, enlouqueceu de vez com os preços do tomate. Como a grande mídia (TVs e jornalões) toma o caminho de culpar o governo pelo fato sazonal-climático, os blogueiros de esquerda simpáticos ao governo tomam a defesa, e aí vemos abaixo, em dois exemplos, como se processa a crítica da grande mídia e a ironia da blogosfera. E la nave vá!
É ridículo e imbecil todo esse circo, até porque os preços do tomate já começaram a baixar. O povo deu o troco, reduziu o consumo... Será que as pessoas não podem ficar 15 ou 30 dias sem comer tomate? Precisa do licopeno? Coma melancia!
Revista Época radicaliza na defesa de juros altos e
desemprego
Em sua capa desta semana, a revista semanal das Organizações
Globo anuncia que o governo Dilma faz tudo errado no combate à inflação e diz
que a presidente e o ministro Guido Mantega pisaram no tomate; autorreferente,
a Globo usa declaração da global Ana Maria Braga, que disse usar uma joia ao
pendurar um colar de tomates no pescoço, para afirmar que a inflação hoje
assusta os brasileiros; nunca é demais lembrar, no entanto, que, nos dois
governos FHC, a inflação foi substancialmente maior do que a agora, sem disparar
o mesmo alarme; será síndrome de abstinência de juros altos ou de ter amigos no
poder?
Brasil 247 - Nunca é demais relembrar os dados de inflação
dos últimos governos. Na primeira gestão FHC (1995-1998), a taxa média foi de
9,7% ao ano. Na segunda (1999-2002), de 8,8%. Com Lula, os índices foram mais
civilizados, sempre dentro da meta e, agora, com Dilma, a taxa média é de 6,2%.
No entanto, nunca o alarma dos veículos de comunicação tradicionais soou tão
alto como agora.
Em sua capa desta semana, a revista Época, das Organizações
Globo, afirma que a presidente Dilma Rousseff e seu ministro Guido Mantega
pisaram no tomate – produto que simboliza a alta de preços recente. Anuncia
ainda que o governo federal faz tudo errado no combate à inflação – como se, por
exemplo, iniciativas recentes, como a desoneração das contas de luz não tivesse
a menor importância.
Autorreferente, a Globo usa uma declaração da apresentadora
global Ana Maria Braga, a de que estava usando uma joia, ao pendurar um colar
de tomates no pescoço, para indicar que a população brasileira estaria
apavorada com a inflação. Detalhe: quem será que pediu para Ana Maria Braga
fazer sua piadinha ridícula?
Com a capa desta semana, Época, na verdade, apenas acentua
sua cruzada contra o governo Dilma e, a um só tempo, alia interesses políticos
da Globo a interesses econômicos seus e de apoiadores. Os dois objetivos
principais são derrotar o PT nas próximas eleições e garantir o início de um
ciclo de alta de juros. No fundo, trata-se de uma síndrome de abstinência de
juros e também um sintoma da falta de amigos no poder.
Outro blog, o Sintonia Fina, repercute também a revista
Época:
.
Acho que a 'indignação dos consumidores' é estimulada pela mídia de direita, que torce e tenta forçar a barra para que a desoneração dê errado para darem mais chances ao Aécio. Se fosse o nabo, não daria certo - tem que ser um produto que cause impacto. Algo que toda dona de casa esteja habituada a usar pra montar os pratos, e o brasileiro a comer. Eu fico tranquilamente sem comer tomate, mas parece que agora não se pode viver um mês ou uma semana sequer sem ele, já que o comércio aproveita a onda e mete mesmo a mão. A idéia de criar uma onda inflacionária geral, por algum tempo (digamos, até passarem as eleições de 2014) é que é safadeza da mídia.
ResponderExcluirMas, será o Benedito? Tudo nesse país vira uma disputa "ideológica", que de ideia não tem nada, é só interesse comercial, ter lucros, puxar a brasa pra sardinha própria, alavancar o grupo político a que se pertence, espinafrar o oponente...
ResponderExcluirQuanta mediocridade!
Parabéns, Richard, por colocar as coisas como são.
Claudio