O horror que é proibir que se leia livro por mais de duas
horas na Papuda
por Paulo Nogueira
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Papuda: não pode ler livremente |
É a reprodução, bovina e automática, de um texto do Estadão.
Bem, quais as regalias?
A resposta mostra, ao mesmo tempo, a estupidez do Estadão e
o desapreço que existe no Brasil pelo hábito da leitura.
A grande regalia subtraída é, acredite, poder ler. Segundo o
Estadão, os presos do PT agora só poderão ler duas horas por dia, e na
biblioteca.
Isso quer dizer que os presos na Papuda – não estou falando
de Dirceu e Delúbio – estão submetidos a um regime no qual lhes é proibido ler
além de duas horas, e não na cela.
Não se incentiva a leitura. Ela é cerceada como uma coisa
má.
Que idiota estabeleceu aquela regra? E por que os editores
do Estadão – e todos os demais que replicaram a perda das “regalias” – não
denunciaram esta violência do Estado?
É tão grande a preocupação do Estadão em construir uma
imagem monstruosa de Dirceu que se agarra a uma desumanidade – pois que outra
coisa é proibir ler? – como se fosse um ato de justiça exemplar.
Visitei, na Noruega, o presídio de Bastoy, em que os
detentos são tratados como seres humanos. Moram em chalés decentes, recebem
familiares todo final de semana, têm à sua disposição um campo impecável de
futebol, andam a cavalo quando querem – e podem ler 24 horas, caso desejem.
Conversei em Bastoy com assassinos, traficantes,
estupradores. Estão lá, confinados dignamente, para cumprir suas penas. A
lógica em Bastoy, como em toda a Noruega, é recuperar as pessoas.
Anders Breivik, o assassino de dezenas de jovens, não está
em Bastoy. Mas vi, em detalhes, suas acomodações. Ele está num apartamento de
dois cômodos. Tem um laptop para escrever e aparelhos de ginástica para se
exercitar. Pode ler todos os livros que quiser, na hora em que desejar.
Isto se chama civilização.
Na Papuda os presos só podem ler duas horas? E a mídia não
fala nada? E quando descobre, por acaso, não percebe a monstruosidade disso?
Pobre do país que tem uma mídia tão ruim.
Outra regalia, ficamos sabendo, é possuir livros. Isso quer
dizer que os “mensaleiros” são coagidos a doar seus livros para uma biblioteca
cujo uso é estritamente limitado.
Vai demorar para sermos a Noruega, se é que um dia seremos.
Mas não temos que ser o oposto. Não há razão para tratar os presos da Papuda –
ou de qualquer outra prisão – como animais.
Daqui a pouco podem impor limites para a respiração, ou para
o uso de banheiro.
Um dia, vamos olhar para trás – para a mídia e para as
condições a que são submetidos os presos da Papuda, se é verdade o que o
Estadão deu – e vamos nos perguntar: “Deus, como isso pode ter acontecido?”
Triste o povo que não conhece sua história. Torna-se refém dos manipuladores. Pune-se com a repetição dos fatos históricos, e acaba desejando outra ditadura...
Será que o Brasil tem solução?