sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Marina: incógnita, ou terceira via eficiente?

Richard Jakubaszko
No velório, selfies para uns e sorrisos mil a todos...
Menos de uma semana depois de ser indicada substituta de Eduardo Campos como candidata a presidente pelo PSB, Marina Silva decolou nas pesquisas e passou por Aécio Campos como um buscapé, chegando ao segundo lugar. Mais do que isso, ainda conforme as mesmas pesquisas, no segundo turno ela ganharia de Dilma Rousseff, agregando para si votos de Aécio e de outros candidatos.

Tem muita coisa mal explicada em todo esse processo, seja nas pesquisas, seja no tabuleiro de xadrez onde se desenrola a disputa eleitoral.

A questão, para mim a mais importante, é que se Marina Silva não conseguiu até o início deste ano agregar 500 mil assinaturas para fundar a Rede de Sustentabilidade, que seria o seu partido, como teria agora obtido mais de 26 milhões de votos, assim, de repente, como um passe de mágica?

A julgar pelas teorias sociológicas e políticas que circulam, Marina recebeu votos "emocionais" dos eleitores de Campos, como decorrência da tragédia ocorrida, e a estes votos agregou os seus votos de 4 anos atrás, além de ter somado votos de eleitores descontentes com Dilma (que perdeu pouco) e mais ainda de Aécio Neves, cujos índices despencaram. Não convence. E por essa ótica de raciocínio as pesquisas estão ou foram distorcidas.

Não acredito nesse sucesso eleitoral supersônico, apesar de acreditar parcialmente no fenômeno emocional de alteração dos votos em virtude da morte de Campos. A razão é simples, em termos de lógica: se Marina não levou para Campos os seus 20 milhões de votos de 2010, por que estes retornariam agora para ela, acrescidos dos votos que Campos já tinha, e ainda tirou votos de Aécio e até de Dilma, além de reduzir os números dos eleitores que iriam votar em branco? Tem macaco manipulando essa estatística malandra!

A conta lógica não fecha. As próximas pesquisas é que deverão apontar a tendência dos eleitores. Em caso positivo de as intenções de votos se confirmarem, Marina estabilizaria dentro da margem de erro, mas para baixo, sem nenhuma chance de crescer ainda mais. A maior possibilidade é de que não apenas o uso mal explicado do avião acidentado, cujo dono ainda não apareceu, mas a enorme ofensiva da grande mídia, que já partiu para desconstruir Marina como a candidata capaz de construir um novo Brasil, acabe por fazer muitos eleitores mudarem de ideia.

Nesse primeiro momento, já ficou claro que as intenções de votos amealhados por Marina nas pesquisas foram destinados para na condição emocional da tragédia, e pelo fato de que ela sempre foi uma estilingue, crítica do governo, e idealista pelo fato de ser uma verde biodesagradável radical.

Já na condição de candidata, que tem de dar explicações sobre os malfeitos na atual campanha, ou de se justificar como candidata radical, por ser portadora dos votos dos evangélicos - o que a contrapõe contra católicos e todas as outras religiões -, de ser contra o casamento entre homossexuais, de ser contra as pesquisas de células-tronco, e ser líder dos ambientalistas ecochatos, e também por ser messiânica e desagregadora, mas que deseja, mesmo assim, ganhar os votos das classes A e B, prometendo Giannetti e outros como economistas para "resolver" o Brasil economicamente, além de agregar um ruralista gaúcho, ex-militante do PT, mas lobbysta das indústrias de armas, vai chover problemas de todos os lados, e as intenções de votos devem mudar de destino. Neca Setúbal, a herdeira do Itaú, nesse sentido, só tem dinheiro para contribuir, pois em sua condição elitista de apoiadora pode tirar mais votos de Marina do que a de arrumar novos eleitores. Com Marina, viriam aí juros altos, desinvestimento, desemprego, inflação...

A mudança e perda futura de votos de Marina tende a se redistribuir, em minha opinião, mais para Dilma, que começa a fazer uma boa campanha presencial e também pela TV, e menos para Aécio, que ainda não explicou o aeroporto do titio, e cujo partido tenta um rejunte dos cacarecos, perdido e dividido, assim como a mídia, todos em secretas discussões de mea culpa, por si só estéreis, por terem estimulado Campos como terceira via para permitir a realização de um segundo turno na campanha, pois sem Campos ou outro candidato de peso Dilma faturaria a eleição no primeiro turno.
O PSDB vendeu a crise, a ameaça de que o Brasil está quebrando, o não vai ter Copa, vendeu a inflação galopante que se aproximava, do desemprego, do caos iminente, o vai ter apagão, vendeu o medo...

Como o Brasil não vai quebrar, como a Copa do Mundo de Futebol foi um sucesso, apesar de não termos ganho o hexa, como o desemprego não acontece, como a inflação desacelerou, e o caos não chegou, e o medo existe só no discurso, cada dia para a frente e mais próximo das eleições é ponto para Dilma, desânimo para o PSDB de Aécio, e vamos ver para quem serão destinados os votos que Marina terá de descartar em virtude das explicações sobre todo os problemas que a cercam nesse momento.

Já as promessas e propostas de Marina, de um novo jeito de fazer política, "com verdade e transparência", mas ao mesmo tempo agregando para si o que tem de pior na política brasileira, como os Bornhausen, os Serras e Felicianos, e outros, só vai reduzir intenção de voto. Com esses Marina só agrega rejeição. Entretanto, Marina terá ainda de explicar as acusações que pesam sobre seu marido, de quando ela ainda era ministra do Meio Ambiente, que dão conta que ele vendeu muita madeira de origem duvidosa.

Ou seja, o figurino da candidata esforçada e honesta que Marina tenta vender ao eleitor, que se alfabetizou aos 16 anos, mas já contabiliza malfeitos durante a campanha, esses comprometem. Na verdade, Marina ainda não completou o Mobral da política, o que indica que nem aprendeu a ler direito.

Como conclusão, vejo que Marina é a terceira via do desespero tucano, ação desesperada do anti-petismo, assim como foram lançados os terceiras vias Jânio e Collor, eles ganharam, mas não levaram, e deu na merda que foi. São episódios recentes de nossa história contemporânea que se iniciou com D. Pedro I, obrigado pela elite a abdicar, depois a derrubada do império, deportando D. Pedro II, e golpes ou pilantragens repetitivas da nossa politicalha, que se reproduziram inclusive com Getúlio, 60 anos atrás, e foi mais uma entre tantas, e que se repete agora com Marina.

Será que a incógnita Marina, a terceira via, vai colar?
Eu duvido, e muito! 
Falta cacife político, falta proposta, falta projeto de  governo, falta carisma, falta credibilidade, e vai sobrar plumagem tucana, ainda que verde, ainda que os eleitores confirmem Pelé, de que o brasileiro não sabe votar, basta ver nosso histórico, de Tiririca até Cacareco, o rinoceronte eleito vereador de São Paulo nos anos 1960.
Na falta dos olhos azuis, por vingança, vota-se em quem faz o contraponto.
O Brasil não tem esquerda, só direita. Oportunistas, aliam-se tal e qual muletas. Não é possível entender certas alianças, de qualquer um dos principais candidatos.
O Brasil não merece isso, minha gente.
.

6 comentários:

  1. José Carlos Arruda Corazza, BH29 de agosto de 2014 às 14:14

    Richard,
    agora fiquei na dúvida: afinal, vc é um cara de esquerda, de centro, da direita, ou o quê?
    José Carlos

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  2. José Carlos, nem uma coisa e nem outra. Mas se vc quer colar em mim um rótulo, diga que sou humanista. Não acho que basta nascer para ter direitos. Ou todos os direitos. Deve ter deveres, para todos, e deve existir mérito, sem sacanagens, com os mais ricos pagando imposto.
    abs
    Richard

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  3. Borges - BH
    MArina, aoa se enamoara com Serra está se vendo nele. Explico: se for eleita será um Collor de saias, se perder será mais um J. Serra da vida. Com este estigma neste vôo de galinha não ganha nem pra pipoqueira na porta do Zoo de BH! (com minhas desculpas aos pipoqueiros!)

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  4. Richard, concordo com você em grau, gênero e número, pois em nenhuma democracia do mundo, nem mesmo a dos Estados Unidos, se governa sem conchavos, muito menos no Brasil. Duvido muito que qualquer Presidente consiga governar sem fazer concessões, e não vai ser a Digníssima com essa pose toda de prepotente e arrogante quem vai alcançar tal façanha. Eu venho sempre colocando em meus comentários que já vi esse filme, eu tinha 11 anos, com Jânio Quadros que entrou para varrer toda corrupção do Planalto e deu no que deu.

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  5. Nem incógnita, nem 3ª via – é sabidamente uma PÉSSIMA opção para o Brasil.
    Carla C. Salomão

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  6. Luiz Fernando Ferraz Siqueira1 de setembro de 2014 às 10:16

    Bom dia.
    Perfeito o artigo.
    A que ponto chegamos Richard.
    Verdade é que ficamos sem escolha boa e digna a fazer.
    Que País é esse ?
    Um abraço.
    Luiz Fernando Ferraz Siqueira
    Diretor Agrícola
    Usina São Fernando
    Dourados, MS

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