Richard Jakubaszko
Reproduzo abaixo a entrevista publicada na Agro DBO, de agosto último, quando a revista presta homenagem ao brasileiro Fernando Penteado Cardoso, que comemora hoje, 19 de setembro 2014, seu primeiro centenário.
100 anos de paixões!
O sucesso profissional geralmente acontece para quem está com a camisa
molhada e com foco nos interesses da sociedade.
O engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso completa seu centenário
em 19 de setembro próximo e se encontra na expectativa da rara efeméride. O que
mais impressiona a todos que o conhecem não é a conquista dos 100, mas a sua
lucidez, de um lado, e, especialmente, o entusiasmo pela vida, que se poderia
definir como uma juvenil paixão pelo futuro, pela construção de paradigmas para
melhorar o desempenho da agricultura e da produção de alimentos.
Cardoso pertence à elite paulista, há várias gerações ligadas ao
agronegócio. Formou-se em 1936, pela gloriosa Esalq, Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (USP/SP), sendo hoje o “uspiano mais antigo”.
Fundou a Manah em 1947, a qual presidiu por mais de 50 anos, e tem obsessão
pela fertilidade dos solos.
Na entrevista para Agro DBO, conduzida por Richard Jakubaszko,
editor-executivo, Cardoso confessou acanhamento em tratar de assuntos pessoais.
Revelou que procura evitá-los, “deixando que terceiros falem sobre mim se assim
lhes aprouver”. Abriu exceção para Agro DBO, da qual é leitor e articulista
esporádico desde as primeiras edições, enfatizando que “lembro o presente em
função do passado, pois essa é a regra: o jovem cuida do futuro, o idoso do
passado”. Entretanto, Cardoso não deixou de falar sobre o futuro, assim como da
agronomia, da agricultura, do plantio direto, da Manah e da Fundação
Agrisus-Agricultura Sustentável, iniciativa da família de Cardoso para
incentivar pesquisas e estudos sobre fertilidade dos solos, e ainda do
ambientalismo, algumas das muitas paixões visionárias que pontuam sua longeva e
produtiva vida.
A presente entrevista foi feita passo a passo, ao longo de quase seis
meses, onde o mestre apresenta suas linhas de pensamento e conduta, de forma
objetiva e apaixonada.
Agro DBO – De qual água milagrosa o Senhor bebeu para, às vésperas de completar
100 anos, estar tão lúcido, atualizado, e pensando na humanidade, no proveito
coletivo? Qual o seu “leit motiv”.
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Legenda: foto 1 (ver abaixo) |
Cardoso – Anos atrás meu médico brincou que eu chegaria aos 100 pela boa
genética: sem diabete, sem pressão alta e sem colesterol. É pura sorte, não
mérito. Acho que o “leit motiv” deve-se à paixão pela agronomia e a filosofia que
adoto sobre o trabalho e a vida. Em meu discurso com 22 anos, ao plantar um Pau
Mulato como a árvore da turma de 1936 da Esalq, eu disse: “O indivíduo que
trabalha, que é útil, que produz, está agindo dentro da sua própria natureza,
está cumprindo os predicados supremos comuns a todas as espécies vivas”.
Magníficas as palavras de Alberto Torres neste sentido: “É o homem antes de
tudo um animal ativo, um produtor de coisas e ideias, um procriador de seres e
de energias. A necessidade que o impele é de gerar e produzir; o estimulo que o
conduz: o imperativo do movimento, da ação, da novidade, da conquista. O objeto
da vida é a produção, não a conquista; seu fim a conquista, não o gozo da
conquista. O imperativo do trabalho e da produção é o móvel da vida psíquica, a
fonte verdadeira da alegria. O trabalho, a produção, a atividade, dignificam o
homem e são mesmo os atos que garantem a felicidade na terra”.
Agro DBO – Segundo o dito popular, devemos nos arrepender não do que
fizemos errado, mas daquilo que não fizemos. O que o Senhor se arrepende de não
ter feito?
Cardoso – Nunca pensei sobre isso. Sempre agarrei as oportunidades que
se apresentaram e me empenhei por elas dando tudo de mim, dentro dos princípios
em que acreditava. É certo que muitas vezes, de tanto me concentrar, eu também
criava oportunidades...
Agro DBO – Na sua ótica, qual é o seu legado para as gerações mais
jovens?
Cardoso – Em minhas palavras como paraninfo da turma de 2005 na Esalq,
eu recomendei: “Arregacem as mangas e vão em frente. Não se intimidem, nem se
sintam diminuídos, se tiverem que começar pelo começo. Estudem sempre, a vida
toda, para manterem-se em dia com a ciência, com a tecnologia e com a economia.
Tenham sempre disposição para mudar. Não se deixem fossilizar. Os vários patamares
do sucesso se condicionam sempre à dedicação ao trabalho, ao esforço, à
honestidade de propósito, ao estudo, e especialmente à pertinácia. A perseverança
deve prevalecer em todas as iniciativas, por mais modestas e primárias que
sejam. A sorte na vida, fator que não pode ser relegado, acontece geralmente para
quem está com a camisa molhada. Raramente ocorre em ambiente de sombra e água
fresca”. Essas recomendações podem traduzir um exemplo de vida que seria meu
legado.
Agro DBO – O Senhor é um homem de fé?
Cardoso – Fui educado sob forte influência católica da família de minha mãe.
Tornei-me um praticante até os 18 anos. Depois, pelas aulas de ciências exatas,
a concepção de Deus foi se distanciando cada vez mais até se situar no evento
do big-bang e aí se identificar com o ato da criação. As práticas religiosas se
diluíram com o tempo, mas a ética e a moral do cristianismo perduraram. Porque
o homem, um ser consciente e pensante, é parte da criação, sempre foi para mim
um mistério, uma parte do ato divino da criação.
Meus pais eram muito firmes quanto aos preceitos da ética e da moral
cristã, as quais passaram a fazer parte do meu ser, de minha fé. Eram severos e
consistentes. Passaram aos filhos normas de comportamento em que acreditavam: dever,
força de vontade, aceitar contrariedades, ser honrado, respeitar a palavra
dada, respeitar os mais velhos, respeitar a propriedade alheia, cumprir as
obrigações, ser perseverante, ter disposição para mudar, não gastar mais do que
se ganha. Certa vez simulei doença após cometer falta que eu mesmo julgava grave.
Meu pai me bateu de cinta para não ser mentiroso nem fingido. Nunca me esqueci
do fundamento da sova, o qual esteve presente durante toda a vida.
Agro DBO – E no que acredita?
Cardoso – Minha fé está no homem como um ente superior preso à coletividade
de seus pares. Meu pequeno discurso ao plantar a árvore da formatura manifestou
minha crença no trabalho como uma das finalidades da vida. Aceito que me definam
como um “sujeito esforçado”. Fui crescendo, aprendendo e observando. Notei que
a criatividade e a expressão da genialidade se condicionavam à liberdade de iniciativa.
Convenci-me de que os esforços e sonhos humanos estavam ligados ao direito de
serem donos. Enxerguei que a liderança se consolidava quando acompanhada do
respeito ao ser humano, não havendo espaço para os déspotas. Aprendi que a lida
com outras pessoas exigia a delegação de poderes. Então, passei a seguir os princípios
da liberal democracia representativa. A experiência da vida mostrou ser
impossível viver isoladamente, pois dependemos uns dos outros. Assim, passei a aceitar
as obrigações para com a coletividade que nos envolve, ou seja, a sociedade. No
campo da organização econômica, passei a respeitar e a conciliar os direitos do
acionista proprietário, do consumidor, do empregado e da sociedade, chegando à
conclusão de que é preferível um capitalismo equilibrado ao socialismo igualitário,
que pretere o mérito, desperdiça valores e convive com a mediocridade.
Agro DBO – Quais foram seus heróis na vida, pessoal ou profissional?
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Foto 4 |
Cardoso – Não me lembro de ter ídolos durante a vida. Sempre admirei, e admiti
como modelos, as pessoas que tiveram sucesso na atividade que exerciam. É certo
que a poesia “IF” de Kipling sempre me ajudou nos momentos de dúvida e de
desânimo. Bem tarde, já na terceira idade, passei a reconhecer a plenitude da
força e da grandeza humana nas pessoas de Antônio da Silva Prado, Hugh Bennett,
Winston Churchill e de Norman Borlaug.
Agro DBO – O que o levou a dedicar-se pela conservação de solos?
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Foto 3 |
Cardoso – Desde menino ouvia a conversa de meu tio com o administrador da
fazenda de minha avó. Falavam dos talhões de café com baixa produtividade,
porque a terra estava vidrada e lavada pelas enxurradas. Ao mesmo tempo, nos fundos
da casa dos empregados, os cafeeiros estavam frondosos pelo lixo e dejetos que
eles depositavam por lá. Era preciso estercar com adubo dos currais onde o gado
era trazido para dormir sobre forragem de capim. Mas o esterco não dava para
todo o cafezal e o assunto era interminável e muito me impressionava. Já na
juventude, a mesma discussão ocorria na fazenda herdada por minha mãe e
prolongou-se por anos seguidos, quando cursava a Esalq. Eu lia uma revista dos
EUA chamada Country Gentleman e lá estava a discussão do mesmo problema, então
confiado ao Serviço de Conservação de Solo dos EUA, dirigido pelo grande Hugh Bennett. Nas férias, eu acompanhava
os serviços na fazenda da família. Lutava-se para restaurar a terra dos
cafezais pouco produtivos com sulcos em nível para cortar as águas, com
forragem de capim gordura. Logo depois de formado, organizamos pequena firma de
serviços rurais e construímos terrações de base larga em Campinas, seguindo as normas dos ianques. Demarquei em Bragança (SP) pomar de citros em curva de nível, uma novidade na época. Essa luta,
essa preocupação, o problema em seu todo, ficaram gravados em meu inconsciente
e a conservação do solo passou a ser uma constante em meu comportamento
profissional, evoluindo para se tornar uma profissão de fé e um ideal de ajudar
a agricultura do país.
Agro DBO – A Manah tem história na agricultura brasileira, é inegável, e
como fundador da empresa, o que o Senhor acha que deveria ser lembrado no
futuro sobre a história da empresa?
Cardoso – O slogan “Com Manah adubando dá!” e a marca Manah, registrada
como notória pela ampla difusão, seguramente estão vinculados ao conceito de
produto confiável, de recomendações adequadas, de empresa honesta e de gente
séria e responsável. Passaram-se já 14 anos da vendada Manah,
mas a imagem persiste. Confio que no futuro esse exemplo estimule outros empresários
a segui-lo, a fim de consolidar os princípios da liberdade de iniciativa. Ademais,
poderá ser também um exemplo de sucesso pelo caminho trilhado de começar pelo começo,
de perseverar e de lutar sempre para conciliar os interesses dos acionistas,
dos empregados e dos consumidores, confiando sem cessar no futuro do país.
Agro DBO – Qual a razão de o Senhor ter vendido a Manah para a Bunge?
Impossibilidade de concorrer com as multinacionais?
Cardoso – No decorrer da década de 1990 constatamos uma tendência crescente
de vinculação da venda financiada do fertilizante com a compra antecipada da
produção a ele vinculada. Havia uma espécie de troca de adubo por soja, por
milho ou outro. Vimos que as grandes exportadoras (traders) de grãos tinham uma
vantagem real e crescente nas vendas de adubo ao consumidor final.
Adicionalmente, em janeiro de 1999, ocorreu uma dramática desvalorização do
real perante o dólar que veio a elevar muito nossos compromissos de moeda
estrangeira. Esses dois fatores nos levaram a procurar uma associação acionária
com firma exportadora de grãos. Relatórios completos e realistas foram apresentados
e discutidos, mas para grande surpresa apareceu uma interessada na aquisição do
controle acionário e não em uma associação através de aumento de capital. As
negociações foram condicionadas à igualdade de condições na transferência das
ações com direito a voto, entre os acionistas fundadores e outros por eles
influenciados. Todos receberam por suas ações idêntico valor unitário.
Agro DBO – A Agrisus surgiu depois da venda da Manah, para coroar o
sonho da conservação dos solos? Através do plantio direto, ou com ele também?
Cardoso – A Manah sempre promoveu e financiou pesquisas nos campos da
conservação do solo e da nutrição mineral das plantas. Entre os projetos destacaram-se
as pesquisas sobre a movimentação dos íons em solo indeformado (IAC, 1953) e a
movimentação do cálcio do gesso na mesma condição (UFL–Lavras, anos 1980).
Foram pesquisas objetivando conhecer o melhor aproveitamento dos adubos e dos
corretivos. Sempre nos preocupou evitar o desperdício do adubo pela erosão. Por
anos seguidos pensamos em criar uma fundação paralela à Manah para gerenciar
esses trabalhos. A Agrisus foi uma iniciativa que deu continuidade a esse
esforço. Vem se dedicando à educação agrícola, a pesquisas variadas e à difusão
do plantio direto como procedimento inigualável para conservação do solo. Até o
final do ano de 2013 recebeu 1.271 consultas, das quais 640 foram aprovadas como auxílios,
bolsas de estudo, participação e organização de eventos e projetos de pesquisa
agronômica, dos quais 50% são relacionados a instituições públicas. Deve-se à
Agrisus as avaliações anuais desde 2006 do Estado da Arte do Plantio Direto,
analisado em 4 regiões climáticas diferentes.
Além destas, foi realizado o mais importante levantamento até hoje feito
no país sobre o estado da fertilidade do solo protegido pelo plantio direto.
Por iniciativa e financiamento da fundação foram coletadas 2.342 amostras de
terra, de 1.171 locais distribuídos pelas regiões das grandes culturas.
A interpretação das análises das terras, agrupada em 4 regiões
climáticas e em 3 classes de textura, resultou em dois relatórios inéditos na
história da agronomia do país, um tratando da situação do fósforo, outro das
bases trocáveis, sejam potássio, cálcio e magnésio, O estudo se baseou em um
banco de dados com 63 mil informações que estão disponíveis para estudos adicionais
pelos especialistas (ver em www.agrisus.org.br ).
Agro DBO – Como cético das questões ambientais, diante do propalado
aquecimento e mudanças climáticas, como o Senhor vê a humanidade em termos de
se prover de alimentos no futuro breve (10/20 anos)?
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Foto 2 |
Cardoso – Meu ceticismo decorre dos exageros e demagogia que por vezes
maculam as questões ambientais que possam prejudicar a segurança e o bem-estar do
homem, dentre eles a floresta Amazônica como condicionante do clima, por
exemplo. Na história da agricultura como produtora de alimentos, a cobertura
vegetal sempre foi alterada pelo homem em benefício próprio. Não se tem notícia
de algum desastre climático decorrente dessa alteração. Ganhou a produção
agropecuária e, consequentemente, ganhou a espécie humana ao sobreviver pela
abundância alimentar. A prevalecer o sistema climático atual, disporemos de
áreas agricultáveis em situação de clima favorável. As condições apontadas
propiciam uma vegetação alta que chamamos de floresta, a qual inibe a produção vegetal
por vedar a incidência de luz responsável pela fotossíntese. A alimentação de
uma população crescente, tanto em número como em anseios, vai exigir um
acréscimo de área a plantar, a qual está localizada na região equatorial.
“Admiro a plenitude da força e da grandeza humana
de Antônio da Silva Prado, Hugh Bennett, Churchill e de Norman Borlaug”.
Agro DBO – Até quando a humanidade terá resistências ao uso do solo amazônico
para a prática da agricultura? Quando a fome apertar?
Cardoso – A produção de alimento vai requerer a eliminação da sombra
onde chove, tem luz e faz calor, além de altitude conveniente. Quando houver
risco da falta de alimentos nos países ditos desenvolvidos, então, as
exigências da sobrevivência vão superar a atual regra deles de “fazendas aqui,
floresta lá”, uma concepção acanhada de produtores do hemisfério Norte com
vistas aos interesses da produção de hoje. Na situação futura do planeta Terra
com 9 a 10 bilhões de habitantes, as restrições ambientais atuais serão
repensadas.
Agro DBO – O que o produtor rural faz de errado em termos coletivos? Falta
de associativismo, com representatividade no setor?
Cardoso – A expansão da nossa produção nos revela que os produtores vêm
fazendo mais coisas certas do que erradas. Lamentavelmente, o associativismo padece
da dispersão geográfica e também da multiplicidade de atividades na mesma
unidade produtiva, as quais dificultam a solução de problemas comuns. Acrescente-se
a essa desvantagem nossa teimosa tendência em achar que o governo deve tudo fazer,
sem que os interessados se mobilizem para cuidar de parte de seus anseios. Esse
comportamento levou a um centralismo excessivo dos poderes da nação, vindo a
desestimular a ação direta para solucionar problemas locais. Herdamos esse
sistema, essa maneira de agir, do absolutismo dos reis de Portugal e do exemplo
conceitual da Igreja católica.
Agro DBO – Por que um jovem deveria pensar em cursar faculdade de
agronomia?
Cardoso – Pelas perspectivas futuras oferecidas pelo país no médio e no
longo prazo. O acréscimo de produção mundial de alimentos vai requerer o
aumento da área cultivada no Brasil, pela razão básica de que aqui temos condições
para essa expansão: chuva, calor, sol, topografia e vias fluviais, além de recursos
humanos.
Na situação futura do planeta Terra, com 9 a 10
bilhões de habitantes, as restrições ambientais atuais serão repensadas.
Agro DBO – Aos que já cursaram agronomia, o que devem fazer em prol da
profissão?
Cardoso – Repito aqui a receita enunciada em discurso como paraninfo na
Esalq, em 2005: “exercer uma profissão é praticá-la conforme nossa preferência,
mas sempre com interesse, dedicação, garra e responsabilidade.
Ser profissional é também ter o foco voltado para os interesses da
sociedade como um todo, em todos os seus níveis, e, ao mesmo tempo, zelar para
que o ambiente que nos cerca seja favorável à vida, praticando a cidadania em sua
plenitude. Vale lembrar que o sucesso nem sempre é representado por números e
cifrões. Não que os números não tenham valor. São importantes para reforçar argumentos,
evitando a tentação de se apoiar somente no raciocínio, por vezes de lógica
ilusória, prática costumeira tachada de “achismo”. Alguns dotes genéticos ou
adquiridos – como a criatividade, a liderança sobre pessoas e o tino comercial
– ensejam voos mais altos. Daí os exemplos de presidentes, ministros,
banqueiros e homens de negócio renomados, que tiveram formação técnica, por
vezes agronômica.
Mas fiquem certos de uma coisa: os vários patamares do sucesso se condicionam
sempre à dedicação ao trabalho, ao esforço, à honestidade de propósito, ao
estudo, e especialmente à pertinácia. Dificilmente acontece também quando é
desprezado o conselho dado pelo lembrado professor Piza, como paraninfo da turma de 1955: cuidem mais das questões de
honra, do que dos problemas técnicos de sua profissão. Portanto, arregacem as
mangas e vão em frente. Não se intimidem, nem se sintam diminuídos se tiverem
que começar pelo começo. Estudem sempre, a vida toda, para manterem-se em dia
com a ciência, com a tecnologia e com a economia. Tenham sempre disposição para mudar. Não se deixem fossilizar!”.
Agro DBO – Afinal, paixão pelo que se faz é fundamental, ou só gostar um
pouco já é suficiente?
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Foto 5 |
Cardoso – Nada melhor do que as palavras de Steve Jobs, criador da
Apple, como paraninfo em Stanford: “Seu trabalho irá preencher uma grande parte
de sua vida, e a única maneira de você sentir-se verdadeiramente satisfeito é fazer
o que você acredita ser um trabalho relevante. E a única maneira de executar um
trabalho relevante é amar o que se faz. Se você ainda não encontrou esse
trabalho, continue procurando. Não desanime. Como acontece com todos os
assuntos sentimentais, você perceberá quando o encontrar. E, como qualquer relacionamento
importante, ele se torna cada vez melhor com o passar dos anos. Assim, continue
procurando até que o encontre. Não desanime”!
Bom humor, a fonte
da juventude.
Fernando Penteado Cardoso expressa sua juventude no bom humor. Em 2012,
ano pródigo em lhe provocar contratempos e tristezas, demonstrou essa aptidão:
primeiro, uma cirurgia na cabeça, para retirada de um coágulo, “fruto de uma
cabeçada em local inadequado”. Dois meses adiante, perdeu Magdalena, fiel e
doce companheira de 70 anos de vida em comum, que lhe deu 6 filhos, e gerou uma
prole de 20 netos e 34 e meio bisnetos, “pois mais um está a caminho”, ainda
para este ano. Depois, já no final de 2012, quebrou a tíbia em uma queda,
“atividade inapropriada a nonagenários”, o que exigiu nova cirurgia e colocação
de uma placa e parafusos de titânio, além de se submeter a uma cadeira de rodas
por semanas. Por e-mail, depois do incidente, questionado se estava livre da
cadeira, respondeu: “tenho apenas a enorme curiosidade de poder ver a cara dos
amigos e parentes durante a futura cerimônia de cremação, eis que essa deve se
prolongar além do normal, por culpa do indestrutível titânio”.
Noutro momento, quando uma gripe renitente o acometia, recebeu por
e-mail “receitas infalíveis” para minimizar seus efeitos. Respondeu: “agradeço as
dicas, mas notei falta da recomendação de uma boa dose de scotch Black Label
todas as noites antes do jantar. Garanto-lhe que ou cura, ou dá prazer, ou ambos”.
A memória de Cardoso continua intacta. Nascido em 1914, Cardoso recorda
de dois fatos importantes quando tinha 4 anos, ao final da I Grande Guerra, em 1918:
a espantosa invasão de gafanhotos que assolou a capital paulista, e jamais se
repetiu. E ainda da gripe espanhola, que levou sua mãe a queimar folhas de
eucalipto no portão da rua e a pendurar no pescoço dos filhos um saquinho de
alho moído que cheirava muito.
Legendas
FOTO 1 - Cardoso agregou ao nome a expressão R100, desde o ano passado, quando completou 99. Significa “Rumo aos 100”. E questionava: chegarei lá? Dizia que a bisneta Luíza (a continuidade do seu DNA), também estava curiosa por saber.
FOTO 2 - Pilotando uma provisória cadeira de rodas, e com a tíbia parafusada, Cardoso recebeu homenagens pessoalmente da diretoria da ala jovem da SRB – Sociedade Rural Brasileira, em 2012.
FOTO 3 - Na sede da Agrisus, em sua sala de trabalho, Cardoso concorda com o aforismo de Voltaire: “O trabalho nos livra de 3 coisas: o tédio, a pobreza e os vícios.”
FOTO 4 - Cardoso conviveu com o Nobel da Paz, Norman Borlaug, de quem foi amigo, e juntos plantaram árvores e exemplos.
FOTO 5 - Diploma de Honra ao Mérito da Esalq, um de seus grandes orgulhos na vida. Apenas 12 esalqueanos receberam erra honraria em quase um século de história.
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Oi Richard,
ResponderExcluirIncrível a entrevista com Penteado... precisa ser multiplicada, especialmente, para mais e mais JOVENS...
Abs
Dandinha
Jornal da Cooabriel - São Gabriel da Palha, ES
Richard,
ResponderExcluirfiquei impressionado com esse brilhante entrevistado, o engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, comprovando que a profissão proporciona longevidade, que ninguém tenha dúvidas disso.
Parabéns, grande ensinamentos!
Deoclécio (Clécio) Rodrigues Silva
Rondonópolis, MT
Amigo Richard:
ResponderExcluirParabéns pela entrevista com o sr. Cardoso e parabéns também pela matéria da última edição sobre o transverso marketing europeu.
Abraços e muito bom fim de semana.
Secco
Boa noite Richard.
ResponderExcluirDe volta à casa depois de uma longa semana leio essa sua publicação sobre o Dr. Cardoso.
Você foi muito feliz nas perguntas e ele muito mais feliz nas respostas. Respostas de um verdadeiro gênio que dedicou sua vida inteira à agricultura visando o bem estar da coletividade.
Estão vocês dois de parabéns.
Orgulho de tê-lo como amigo.
Abraço
Casale